sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Chernobyl económico

Existe algum fanatismo neo-liberal a soldo, irredutível no seu laissez-faire coute que coute, que vê o mundo a preto e branco: ou escolhemos a sociedade "livre" de Estado e de qualquer seu resquício para além de um exército, que nos querem ainda impingir, ou tudo o resto será alguma espécie de escolha esquerdista de socialismo-comunismo.

No fundo, a proposta desses indivíduos não anda longe da escolha induzida de um novo tipo de totalitarismo: o dos preços livres acima de tudo e não importa como, incluindo acima do valor da vida humana (que alguns deles defendem como verdadeiros fariseus).

Às vezes imagino que a espécie humana estará a dividir-se em duas, ou então que essa malta talvez tenha algum chip instalado atrás da orelha.

É que soam tão absolutamente convictos - mesmo face ao desastre completo das suas proposições - que me fazem lembrar os comunistas mais ferrenhos do Politburo Central Soviético pós 89.

Antigamente existiam as cassetes, agora é mais o blue ray... Como diria S. Agostinho, dai-nos Deus paciência para tolerar o que não conseguimos entender.

Reparem que quando se fala a essas pessoas do que acham da intervenção do Estado quando estão em maus lençóis, elas respondem: "É para isso que serve o Estado". Nem um pingo de má consciência...

Vamos então a uma analogia simples.

Imagine-se que a economia é como um reactor nuclear. Aquilo que queremos de um reactor nuclear é que produza calor, o calor aquece água, e essa água faz mover turbinas, que por sua vez geram electricidade.

O que produz o calor num reactor nuclear?

Os átomos que servem de combustível nuclear possuem uma dimensão que fica no limiar da estabilidade atómica. Ocasionalmente desprendem-se partes desses átomos (neutrões) que, quando embatem em átomos parecidos nas vizinhanças originam a sua cisão, libertando-se mais neutrões e muita energia, numa reacção em cadeia que gera bastante calor e que, se não for controlada, pode resultar em explosão.

Um reactor nuclear é uma explosão em potência mas a reacção no seu interior, alimentada por combustível atómico, ocorre a velocidades mais moderadas, para que não descambe nessa indesejada explosão.

O que modera essa velocidade de reacção são outros grupos de átomos capazes de absorver parte dos neutrões livres, por exemplo grafite. Imagine-se estes como sendo a regulação dos mercados.

Agora imaginemos que essa capacidade natural de cisão de átomos instáveis equivale ao volume de trocas económicas. Aprecie-se a curiosa analogia:

1. Economia planificada, de baixo débito de produto (como na antiga URSS): equivale a um reactor muito sub-aproveitado, onde imperam os elementos moderadores da reacção (o Estado, a burocracia, outros).

2. Economia de mercado com estado social (mais ou menos o que tínhamos na Europa até há uns quinze a vinte anos atrás): provavelmente o mais próximo a uma reacção equilibrada donde se extrai calor por muitos e longos anos, quase sempre em segurança.

3. Reactor sobre-aquecido: equivale à economia pouco antes de regredir, nomeadamente por falta de moderadores (regulação); antes da explosão tudo "parece" ir bem, com elevada produção energética, um número de neutrões livres sempre a crescer, muitíssimo mais calor até que... cabum!

Foi o que aconteceu à economia americana-europeia-japonesa: é uma história parecida com a galinha dos ovos de ouro em que os mais gananciosos pegaram numa doutrina relativa, fizeram dela conhecimento absoluto e praticamente indiscutível durante 25 anos ,e contagiaram todo o sistema para produzir mais, e mais depressa, sempre a aquecer, prego a fundo, sem regras, "sem mãos, sem pernas" e agora... sem dentes!

Seria bom abandonar essa ganância implícita nos modelos de maximização de crescimento per si e voltarmos a economias mais estáveis, que caracterizaram as fundações dos Estados Social, mesmo com os devidos ajustes relativos à demografia.

É essa a confiança que os cidadãos precisam de ganhar para voltarem às compras.

"Falar verdade aos portugueses", no Facebook?


"Neste momento, tenho 122 amigos no Facebook. São muitos, são poucos, serão verdadeiros ou falsos? Ainda não percebi. O que sei é que, para já, tenho mais amigos que não conheço no Facebook do que alguma vez tive na vida real. A minha média actual de amigos verdadeiros na vida real é de sete ou oito e meio, um número que estará dependente das prendas que ainda conto receber este Natal. No Facebook estou farto de receber prendas e bolas de neve virtuais.

Ao contrário das parolices infantis tipo Hi5 onde os miúdos comunicam através de iniciais, diminutivos e neologismos com a letra K, o Facebook é uma coisa séria, digna e um pouco snob que reune profissionais do meio, independentemente do meio e do fim dos respectivos profissionais (dizem-me que a maioria só quer ir para a cama uns com os outros, mas lamentavelmente ainda não recebi nenhuma proposta indecente).

O Facebook é uma rede social na internet composta por amigos que não se conhecem mas gostariam de passar a não se conhecer melhor. O que será preciso fazer para qualquer um de vocês participar? Basta receber um convite ou inscrever-se. Se ainda não recebeu nenhum convite na sua caixa postal é porque ninguém no Facebook quer saber de si. O que não é necessariamente uma má notícia.

Se desejar inscrever-se sem ter amigos que possam partilhar este seu interesse virtual, o melhor é fazer como todos nós e fingir-se entendido ou deveras interessante. O primeiro passo da mentira é a fotografia. A minha fotografia do Facebook, por exemplo, reproduzindo um momento muito sexy em que eu fui apanhado atrás da câmara de filmar em St Malo, há uns anos, contraria uma das principais regras assumidas (mas não pronunciadas) pela comunidade, que é o de revelar o rosto - daí o nome, Facebook, “capisce”?"

(...)

in Jornal Metro, Dezembro de 2008

E por aqui podemos ter uma ideia de como vão as estratégias presidenciais... ou talvez não.



A brisa que paira no ar...

A empresa quase-única que nos colecta as portagens anunciou uma quebra de lucros de 41,5%, só tendo alcançado 151,8 milhões de Euros em resultados líquidos... (coitadinhos).

Para além de serem quase monopolistas, obrigarem os automobilistas a pagarem portagem mesmo quando estão congestionados, acidentados ou em obras, se atrasarem no cumprimento de obrigações legais respeitantes ao alargamento do número de faixas em função do tráfego médio, terem parca sinalização e alguns pisos completamente desadequados à chuva, será que nos preparam para mais (crise)
...despedimentos?

O que acontecerá a todas aquelas pessoas nas caixas de portagem logo que o Estado nos obrigue de facto a comprar o chip de matrícula (um eufemismo para aquela caixinha branca no interior do pára-brisas)?

Com o desemprego a disparar é caso para pensar: que raio de sentido de timing!

De uma penada e à pressa, os "imperialistas do alcatrão" conseguiram fazer decretar a sua aparentemente única mas muy badalada inovação (sim, refiro-me aquela caixinha branca outra vez) como uma obrigatoriedade para todos os automobilistas portugueses.

Ah... você não queria aquela coisa no pára-brisas? Pois olhe, vai ter de a mamar...e não é de borla.

Você não utiliza auto-estradas porque no distrito de Bragança elas não existem? Olhe, pague e não bufe...

A lição é dura, mas a moral é esta: enquanto nos acenam com a "liberdade de escolha" pode ser isto a que se referem
: eles escolhem o preço, o onde e o como, e nós pagamos sem questionar.

Crise? Qual crise?

Assim será também na saúde, no ensino, nas águas e na energia, se lhes deitarem a mão entidades tão altruístas como as que comandam estes oligopólios.




O momento da verdade?

O primeiro-ministro Húngaro acaba de apelar à União Europeia para um apoio adicional de 230.000 milhões de dólares para os países e empresas da Europa de Leste.

Agora vamos talvez perceber se o projecto Europeu é para se manter ou não... podemos estar a assistir ao momento mais grave da Europa desde a ponte aérea para Berlim.

Apertem os cintos e respirem fundo...

Euro: apocalipse now?

Acaba de sair na Bloomberg uma notícia aterradora sobre vaticínios de desmembramento da região Euro:

Euro Area Risks Breakup on Bank Woes, Subprime Bear Hayman Says


http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=email_en

Desde Dezembro que os "spreads" sobre as emissões de dívida pública dos países do Sul da Europa têm sido significativamente mais altos que os homólogos relativos à emissão de dívida pública Alemã.

Também é conhecida a opinião de alguns investidores de que a união monetária dificilmente sobreviverá a pressões políticas que resultem em heterogeneidades significativas e problemáticas.

Na base disto, o que sabemos todos à muito tempo: a Europa ainda não passa de um casamento de conveniência, muito contratual (burocrática) mas pouco sentimental (desunida).

Sem uma união política devidamente consolidada (federação) e harmonia fiscal verdadeira pode muito bem ser esta a crise que o Euro não precisava.

Para um país como Portugal, a saída do Euro - ou o seu fim nalguma outra variante - seria catastrófico. Não só o regresso a uma moeda nacional a faria desvalorizar vertiginosamente como ao mesmo tempo todas as nossas dívidas disparariam, por estarem denominadas em Euros.

Numa questão de dias ficaríamos verdadeiramente sul americanizados...

Aquilo a que assistimos acontecer na Islândia, ou mais para trás no tempo na Argentina e mesmo na Rússia, não é impossível cá.

Segurem-se pois, ó bravos... e cuidado com os baixios. É preciso manterem-se serenos, mas de olhos bem abertos.

Nuclear: sim, mas...

Se é verdade que a opção do nuclear pode reduzir a dependência das contas nacionais das importações de combustíveis fósseis, é igualmente correcto que é enganoso afirmar que se trata de uma energia barata (basta que se integrem os custos de tratamento de resíduos para constatar isso; se para mais juntarmos os custos de criação de todas as instituições necessárias veremos que se trata no caso português - 1 central ? - de uma energia potencialmente muito cara).

Por outro lado, o facto de ocuparmos um território com um risco sísmico significativo, atira para a província de Trás-os-Montes (?) a eventual construção de uma central em território português, fazendo pender sobre uma das regiões naturais mais belas, vastas e preservadas do país, com um potencial de turismo longe de esgotamento, os riscos de um tal empreendimento.

O nuclear deve pois, na minha opinião, constituir uma opção de último recurso. Estamos num país com acesso de excepção ao sol, ao vento e ao mar, fontes inesgotáveis de potecial energético cuja exploração ainda mal deu os primeiros passos.

A ser considerada a opção nuclear poderia fazer sentido uma abordagem Ibérica: utilizar (e pagar) os recursos e parte do know-how espanhol para aí investir num conjunto de centrais exploradas pelos dois países.

Os espanhóis já têm os técnicos, as escolas, as instituições, as leis, um território mais vasto (per capita) e todo um conjunto de condições que lhes permitiria encetar novos projectos nucleares com maior rapidez; por nosso turno teríamos a ganhar na economia sobre os custos de aprendizagem e de arranque inerentes, em tempo de desenvolvimento, bem como parcialmente na formação de instituições de regulação e técnicos.

Perderíamos eventualmente na "propriedade" o que poderíamos ganhar em redução dos riscos e custos, o que me parece fazer sentido para um pequeno país como o nosso (que perante um acidente poderia ficar inutilizável durante séculos a fio, é bom não esquecer).

Acerca dos riscos, que muitos menosprezam, será importante fazer notar que a competição do nuclear com outras fontes actuais de energia está provavelmente na origem das cada vez mais frequentes deficiências de manutenção e incidentes (2008) causados pela necessidade de contenção de custos e maximização de lucros das empresas que operam centrais nucleares.

O ano de 2008 foi profícuo em episódios de risco, alguns bem perto de nós, em Espanha e França (algumas fontes referem uma média de 900 incidentes em França por ano, alguns dos quais com fugas radioactivas).

Em Espanha, também em 2008, chegou a dar-se um incidente com uma fuga radioactiva que foi ocultada das autoridades durante algum tempo, contaminando águas e solos; e isto numa empresa de controlo estatal (imagino o que poderia acontecer sob total controlo privado numa situação desse tipo; a avaliar pelo que tem sucedido nos bancos não esperaria milagres...).

Poder-se-ia dizer que apenas sucedem problemas com centrais mais antigas, mas isso está por provar pela passagem do tempo em relação às de última geração...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Latifundios solares

A provável evolução da tecnologia de painéis solares e foto-células, com resultados positivos de incremento do seu rendimento, combinada com novas concepções que a poderão articular com utilizações agrícolas específicas representam uma oportunidade de desenvolvimento para o baixo Alentejo.

Dispondo de cerca de 1.900 KWh por metro quadrado/ano, o Alentejo apresenta-se como um recurso inexplorado ao nível das energias alternativas e um possível elemento importante no combate à dependência energética portuguesa.

O Estado pode estar em posição priviligiada para consolidar propriedades, atrair investidores e lançar projectos pioneiros à escala Europeia.

Com essa espécie de "petróleo" à nossa espera, porque não se fala no assunto? Entretanto a crise faz pesar na dívida também o nosso défice comercial, boa parte dele ligado precisamente à nossa dependência energética.

Emigrante +

Como forma adicional de captação de capital necessário ao financiamento da inovação económica poder-se-ia considerar o lançamento, através das principais entidades bancárias portuguesas, de produtos de investimento ligados a bolsas de capital de risco, dirigidos à diáspora portuguesa.

Isto teria talvez mais efeitos práticos do que as mensagens a la mode no facebook para pessoas de estrato social elevado com pouco que fazer, que dão um bocadinho a entender que esses portugueses que estão lá fora são de primeira categoria, face aos que começaram do nada lá fora ou ainda aos que cá decidiram ficar a lutar por isto (para os "filhinhos de papá" dão-se prémios de inovação, para os que estão cá dentro apela-se a que não baixem os braços).

Parte da nossa diáspora empreendedora e trabalhadora conseguiu prosperar em condições adversas. Não servem para "business angels"?...

Espero que os nossos "business angels" não se resumam a quase-monopolistas de mercado de nome comprido e fortuna fácil que querem apenas um pouco mais de espaço nos media para se entreterem durante os jantares de amigos e em conferências de la Palisse.




Revisitando a reforma da educação

Por meritória que tenha sido a tentativa de levar a avaliação (e suas consequências) às escolas, será mais ou menos unanime o sentimento de que os métodos escolhidos na execução não foram nada sensatos.

Suspeito que a razão para isso reside na ordem de prioridade da reforma: ainda antes de tentar introduzir as avaliações teria sido necessário reformar... a 5 de Outubro e seus apêndices a la Kafka.

Já houve houve uma Ministra que disse off the record que "abaixo do 10º andar não se sabe quem lá manda". Se o leitor duvida sugiro-lhe que escolha uma dúvida qualquer legítima e tente directamente e em pessoa que o esclareçam.

Parece-me que sucede assim:

  • Às indagações por escrito respondem tarde e más horas - infringindo a lei - e quando lhes apetece.
  • O site é confuso e omisso no que é fundamental, quase parecendo desenhado para fazer desistir pela fadiga.
  • Se decidir lá ir pessoalmente desde já o aviso: esteja preparado para que o mandem a 3 ou 4 endereços diferentes, e isto se conseguir passar pelo segurança (privado) para ser legitimamente atendido.
  • Quando entrar, dificilmente deixará de notar a estranha profusão de nomes de família longos que por ali há (nalguns sítios). Pronto, somos de brandos costumes... pelo menos até que a mostarda nos chegue de novo ao nariz...
  • O chá das 5 e os contínuos de corredor são realidades vivas; os últimos leêm a "Hola" ao mesmo tempo que nos impedem de bater à porta do "Doutor" ou da "Doutora", talvez a medo que lhes peguemos a gripe...
  • Os "peritos em eduquês" são mais do que muitos mas professores, hum?
Escrevo isto sem prejuízo dos milhares de funcionários competentes e profissionais que defendem o bom nome a que a instituição tem direito, ou do trabalho desenvolvido no ensino público desde 1974, digno de nota.

Mas no fundo, suspeito que aquilo precisasse hoje em dia de uma espécie de Jack Welch durante uns bons 12 meses...

Nas escolas, ao contrário das filosofias que temos importado (pergunta: se só fazemos copy-paste, e mal, para quê tantos "peritos de eduquês") sem atenção ao facto do país se chamar "Portugal", há aspectos essenciais em que claramente se falhou. Talvez se devessem corrigir, antes ainda de introduzir as avaliações:

Em primeiro lugar era conveniente voltar a fazer da sala de aula um lugar de respeito, mesmo de alguma disciplina, conferindo para isso mais poderes disciplinares a professores e escolas.

Em segundo lugar, passar um pouco mais das palavras aos actos com a autonomia, ou então manter a centralização mas reformular para melhor a organização e acção do poder central.

Em terceiro lugar, discernir que as políticas do "eduquês" centradas no aluno, devem em última instância servir os cidadãos que esses alunos hão-de ser daqui a 15 ou 20 anos, e não as meras estatísticas Europeias, ou as birrinhas desses alunos no aqui e agora.

Ibetek: uma ideia para as economias Ibéricas

Uma das vantagens das bolsas de valores é a de dispersarem o risco da inovação por inúmeros investidores, o que é especialmente necessário no lançamento de novos empreendimentos.

O exemplo clássico disso foram os caminhos de ferro norte-americanos, que dificilmente alguns bancos isolados poderiam ter suportado, e que foram pagos muito através da valorização dos seus projectos em bolsa.

Ora a economia Ibérica enferma de um problema crónico que está na base da sua falta de capacidade para criar valor acrescentado sustentável: um fraco apreço pela inovação, e um conservadorismo por parte dos bancos que também a não favoreçe.

Uma forma de contornar isso seria o lançamento Ibérico de uma bolsa de valores exclusivamente dedicada ao financiamento de projectos inovadores, tendencialmente de base tecnológica, nas várias áreas económicas.

Acredito que poderia funcionar e proporcionar uma melhor igualdade de oportunidades para jovens empresários, técnicos e cientistas do que as actuais sociedades de capitais de risco público mais ou menos opacas ou os prémios de "inovação" atribuídos aos amigos do papá (o leitor sabia que o AICEP tem participações financeiras numa série de empresas privadas? e porquê essas e não outras?).

Tradicionalmente assentes nos bancos, as economias Ibéricas poderiam impulsionar a inovação económica e tecnológica se aceitassem considerar a formação de economias de escala para o funcionamento deste tipo de intermediários financeiros.

Fica a ingénua sugestão para o nome desta bolsa de financiamento de inovação: Ibetek.

Sobre o imposto "Robin dos bosques"

Na altura em que o preço de petróleo rondou os 150 USD/barril, o governo anunciava uma medida quase copiada ao senhor Berlusconi, o popularmente designado imposto "Robin dos bosques".

A ideia ainda me parece má, e passo a explicar porquê:

O lançamento de impostos adicionais sobre os "lucros" (ok, diferenças de valorização de stocks) pode vir a ser usado como argumento para as petrolíferas limitarem os investimentos em capacidade de produção, bem como na pesquisa e desenvolvimento de energias alternativas.

A médio prazo, o imposto pode constituir um incentivo à subida de preços médios dos combustíveis, se for encarado como um factor de custo adicional e incorporado, ainda que temporariamente, como elemento a ter em conta na formação de preços. Pela mesma razão o imposto pode potencialmente travar a descida dos preços de combustíveis face à descida de preço da matéria-prima principal.

A prática pode vir a estimular, nalguns exercícios, o planeamneto fiscal agressivo, precisamente algo que a Administração Pública se empenha em combater, pelo menos teoricamente.

Por ter o Estado como intermediário, não é líquido, sempre que a receita desse imposto for positiva, qual o impacto social (dificilmente saberemos onde e quando essas verbas serão aplicadas com rigor).

O que é pior - embora disto não tenha a certeza - em anos de queda de preço da matéria-prima (e portanto de desvalorização dos stocks), as petrolíferas podem ser incentivadas a apresentar menos valias, reduzindo a zero uma receita pública que seria doutra forma provavelmente positiva.

Aquilo que verdadeiramente importaria tentar seria, por via fiscal ou não, criar incentivos para que os preços dos combustiveis estivessem em linha com a inflação, i.e. promover a estabilidade de preços nos combustíveis (isso requereria provavelmente o envolvimento alargado da UE, mas não seria impossível de considerar, pelo menos temporariamente como "amortecedor").

Mas enfim, ideias à Berlusconi... levaram a melhor por agora.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

As universidades que nós não temos

Aqui mesmo ao lado, em Espanha, a interpretação do papel social da Universidade na cadeia da criação de valor e na inovação vai já bem mais longe do que no nosso país.

Cito o reitor da universidade de Huelva (publicado na "h economia", nº31, de Julho-Agosto de 2008), Francisco José Martinez: "o nosso objectivo é fazer da universidade de Huelva uma universidade moderna. As universidades modernas têm 3 grandes objectivos: transmitir conhecimento, fazer investigação e transferir conhecimento (...)"

"Graças a um novo projecto que se chama Neurona, vamos visitar todas as empresas de Huelva, uma a uma, para lhes explicar onde pode a universidade de Huelva ajudá-las"

"100% dos alunos vai ter a obrigação de adquirir algum tipo de prática nas empresas, durante os cursos"

Os comentários parecem-me escusados...

A obsessão do curto prazo...e seus resultados

O fomento desregrado de crédito ao consumo alimentou durante anos uma insustentável procura interna, que agora rebenta lentamente, promovendo a instabilidade social, a insegurança e o alastramento da pobreza.

No processo, boa parte dos rendimentos têm fluído para os bancos, com lucros fabulosos durante alguns anos (o curto prazo...), e outra parte para o estrangeiro, onde os banqueiros se endividam.

O actual estado económico mundial e a volatilidade da confiança e dos agentes conducentes a um sistema de crédito mais apertado e caro, são factores que tendem a eliminar as margens de manobra temporais para essa questão nacional, tornando-se portanto urgentes medidas de regulação mais atentas ao médio prazo.

É difícil imaginar como vai ser o Portugal que emergirá depois desta imensa tormenta. Aquilo que se sabe é que existe alguma probabilidade de ficarmos com uma enorme dívida pública, a acrescentar a um défice comercial já grande, provavelmente uma situação de desemprego elevado persistente, desvalorização de activos imobiliários, maior criminalidade, uma percentagem maior de população abaixo do limiar de pobreza, custos de manutenção de infra-estruturas públicas a tender para o insustentável, degradação de serviços públicos base, etc...



terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Prego a fundo

Nestas duas décadas e meia de neo-liberalismo económico desenfreado os países ocidentais conseguiram levar os seus cidadãos a ignorarem o conceito de poupança.

De modo geral, hoje em dia, a poupança é mais elevada nos países do sudoeste Asiático, para onde se dará a transferência de riqueza em curso com esta crise. É claro que para o grande capital isto não tem muita importância, pois não existem fronteiras para ele, mas para os estados infiltrados pelas suas formas mais radicais, pode vir a ser desastroso.

Na Europa apenas os franceses - vistos como bichos raros por se oporem parcialmente ao neo-liberalismo anglo-saxónico - têm taxas de poupança aceitáveis.

Nos EUA, mesmo antes da crise elas tinham descido a 0,6% dos rendimentos, reduzindo os americanos à dependência mais radical do consumo desmedido.

Em Inglaterra, até há bem pouco tempo - e também por cá, nalguns casos - os bancos emprestavam até 125% do valor de uma casa, assim contribuindo simultaneamente para a especulação imobiliária e para o consumo.

Entre nós, números de 2008, os níveis de poupança desceram aos valores que tinhamos em 1961, cerca de 5,5% do PIB, mas é de presumir que com o desemprego que aumenta, os níveis reais possam vir a ser menores do que isso.

Nas minhas notas de Junho de 2008, escrevi: "O processo de globalização em curso, mal regulado, já fez algumas vítimas mas ainda não proporcionou catástrofes sócio-económicas a escalas nacionais (...). Nada nos garante porém, à velocidade actual dos acontecimentos, que tal seja impossível."

Não suspeitava na altura o que viria a acontecer à Islândia.

Estes acontecimentos não podem mais ser assacados a meia dúzia de exageros perigosos, mas antes a políticas e acções deliberadas, tomadas a larga escala e anos a fio sem atenção às consequência de longo prazo.

E agora, Europa?

Parte dos poderes influentes em Bruxelas, incluindo poderosos lobbies comerciais, tentavam fazer passar há bem pouco tempo, quase de pantufas, a possibilidade da semana laboral se extender às 65 horas.

Mais um exemplo absurdo da busca do crescimento económico como fim, em vez de meio. O que se supõe por detrás disso é a necessidade de competir com a China, onde a exploração humana é uma realidade e o progresso se pavimenta de ossos humanos, como os dos quase-escravos dos seus navios-fábrica.

Enquanto o Ocidente se mantém no fio da navalha, procurando agradar aos Chineses para conquistar parte do seu imenso mercado e abrindo as fronteiras aos seus bens, milhões de trabalhadores na Europa e nos EUA soçobram à competição com a quase-escravidão, sem que isso pareça importar grandemente os nossos caros governantes.

A possibilidade da semana das 65 horas foi apenas um recente exemplo. Uma tentativa sorrateira de traição a milhões de Europeus quase digna de um Hitler.

Sim à globalização, mas não à globalização de qualquer maneira, sem valores, sem dignidade e sem escrúpulos. Esta crise ainda nem chegou, mas será mais grave que a actual quando vier, porque boa parte dos governantes europeus do presente, neo-liberais, colocam o curto-prazo e a ilusão da conquista temporária de mercados à frente dos valores humanos mais básicos e de qualquer visão social para a Europa.

Que diriam Bismark, Churchill ou Roosevelt desta pouca vergonha desinteligente e desonrosa?

Os lobos que uivam

Agora que o negócio vai mal nos EUA, temo que iremos assistir ainda mais intensamente ao ataque dos lobbies - por via de alguns partidos e personagens políticas nacionais - ao Serviço Nacional de Saúde, ao Ensino Público e também na questão energética.

Tratam-se de chorudos negócios em globalização e por isso interessa passar a ideia de que estariam ao melhor serviço de todos se fossem privados. Puro engodo, porque a questão deles não é a de apurar verdadeiramente como e até que ponto podem constituir melhor opção pública as opções que defendem mas meramente a de como fazer mais dinheiro, mais rapidamente, para meia dúzia de indivíduos que se calhar nunca cá puseram os pés.

Na saúde fazem o gentio Xerox perguntar "mas porque é universal o sistema se poderia ser apenas dirigido aos mais pobres?". Há um problema nesta retórica. É que ela não acaba nesta pergunta. De forma ingénua e meio cínica tenta mostrar uma evidência apelativa, mas populista.

O que impedirá mais tarde os mais ricos e os mais egoístas de voltar a perguntar "e porque é que eu, que pago seguro de saúde e me trato em clínicas privadas, tenho de descontar tanto para os mais pobres?".

A sucessão de questões deste tipo, na Saúde, no Ensino, e algumas outras áreas, é um processo de individualismo refinado e progressivo que, camuflado pela "opção da escolha" (para quem pode, claro) oferece a miséria que podemos apreciar nos sistemas da América Latina e nos EUA, onde 47 milhões de pessoas não possuem qualquer cobertura de saúde e uma prótese simples pode custar qualquer coisa como 12.000 Euros.

É por isso preocupante que alguns portugueses, a soldo ou não, vejam exclusivamente nos privados o reino dos Céus, a chave para a esperança da melhoria de vida dos seus compatriotas, acenando com a bandeira simplória de menos impostos (na verdade trocam os impostos sobre os quais ainda temos algum poder de reivindicação, por preços arbitrários e à mercê da lógica única do lucro). Alguns são os mesmos que acreditaram que o objectivo de Bush era levar a democracia ao Iraque.

Uma coisa é a complementaridade de sistemas, outra é a estrada que nos leva à destruição dos sistemas de apoio sociais que ainda funcionam por coisas que apenas se sabe funcionarem mal. Fantasias mal explicadas cujo móbil é a ganância e o enriquecimento contínuo de um pequeno punhado de gente que nem sequer dá a cara.

Vejam a questão energética e recordem-se dos defensores da opção nuclear que, mesmo não sendo isso o que fazem na vida, juram a pés juntos não terem dúvidas de que se trata da melhor opção.

Por mim, sempre desconfiarei de quem não tem dúvidas e raramente admite o erro.


O que eles não viram

For the record: a decisão de invasão do Iraque foi também uma demonstração de que a paranóia colectiva existe ao se associar, com a benção dos media, essa guerra ao combate ao terrorismo sem que (quase) ninguém com peso pestanejasse, à época.

Hoje adivinham-se melhor as verdadeiras razões, que alguns encrustados de extrema direita ainda não conseguem admitir:

1. O desejo de produzir um show militar mediático para uma opinião pública americana culturalmente carente de uma resposta rápida e em força ao 11/09 (shock and awe, lembram-se?)

2. A necessidade de focalizar a opinião pública americana num inimigo externo concreto (o ditador Iraquiano em vez dos Taliban sem rosto) para implementar uma agenda conservadora tenebrosa (entre muitas aberrações, ensinar o criacionismo nas escolas, lembram-se?)

3. A necessidade de estabelecer uma ameaça regional a outros estados do médio oriente produtores de petróleo (be good or else...).

4. Provavelmente a necessidade de manter um mercado de petrodólares intacto e de fornecer aos lobbies imensos negócios de "reconstrução".

5. Forçar no pentágono a adesão a uma nova doutrina de intervenção (special forces + minimum deployment) por oposição à "doutrina Powell" (overwelming force deployment): uma aposta evidentemente errada mas que visava domar o único bastião capaz de fazer frente às opções arbitrárias da Administração, o ramo militar.

País em estado de CITIUS

Se dúvidas havias, sinto-me cada vez mais inclinado a pensar que o país caiu nalguma espécie de esquizofrenia colectiva, a começar por alguns media.

A diferença entre os pequenos casos de pacotilha e as parangonas alarmantes a respeito do CITIUS fazem adivinhar uma nação completamente avessa a qualquer tipo de inovação.

Se em qualquer empresa com uma fracção de dimensão do Ministério da Justiça a implementação de um novo sistema informático leva entre 6 meses a 2 anos a consolidar (quando corre bem) não percebo o espanto. Há problemas? É claro que sim! A questão é se têm ou não resolução num quadro normal de implementação de um novo sistema.

Preferem as pilhas desordenadas de processos, os atrasos e as perdas de papéis em vez de tentar fazer alguma coisa para melhorar? Pobre país este... pobre de espírito.

E a multa irrisória de 5.000 Eur a um corrupto comprovado. Isso já acham normal, é?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Combate à óleodependência

Algumas sugestões:

1. Incentivar o associativismo e optimização do transporte privado de cidadãos (evitar 1 automóvel para 1 pessoa).
2. Fomento de redes de mobilidade colectiva de doentes, idosos e crianças, de natureza pública ou privada.
3. Facilidades de abertura e diversificação do mercado de distribuição de combustíveis.
4. Aceleração da capacidade de produção e refinação nacional.
5. Reforço de investimento para a modernização e articulação das redes de transportes públicos.
6. Oferta de condições especiais para a fixação de empresas dedicadas à I&D automóvel.

Biodiesel

Pode produzir-se biodiesel a partir de um processo pouco oneroso que emprega óleos vegetais usados no sector alimentar, uma matéria-prima disponível que é um resíduo da hotelaria e restauração.

Apesar disso não existe ainda um quadro legal que favoreça algum empreendedorismo civil nesta matéria.

E a pergunta volta a ser: estamos à espera de...?

Investir nas pessoas

É bom estarmos a investir mais em ciência mas ainda são curtas as ligações entre isso e a inovação, porque é difusa a estratégia de investimento em recursos de I&D.

Triste é que não se apoie ao menos com a mesma força melhor formação em gestão. O país bem precisa de melhores gestores e bons quadros mas existe apenas um única universidade - privada - com prestígio no campo da gestão.

É um sinal dos tempos da decadência académica portuguesa mas também um resultado de escolhas públicas muito pouco visionárias.

Para além do mérito que a referida universidade privada tem sabido conquistar com esforço e trabalho ao longo do tempo, era interessante e necessário aumentar a diversidade de escolha neste campo, por forma a introduzir maior igualdade de oportunidades.

Para mais a boa gestão precisa de variedade na abordagem, não de formatação ou estereotipos sociais.


Crooks and liars

"Todas as patologias que examinámos - as mentiras, a opacidade, a política do medo, o apelo a uma "cruzada" e a substituição do conhecimento e da lógica pelo poder puro e simples - estão bem patentes nas nossas políticas [EUA] (...)

O mesmo instinto de enganar, que todos agora sabem ter sido um elemento importante da decisão de invadir o Iraque, também esteve patente na forma como a Casa Branca retirou a crise climática da sua lista de problemas a resolver, imediatamente a seguir à tomada de posse do Presidente.

Agora sabemos que durante as primeiras semanas do mandato da nova Administração, o vice-presidente (Dick Chenney) começou a reunir-se com a sua task force para a energia e a informar em segredos os lobistas dos poluidores que a Casa Branca não iria tomar quaiquer medidas em relação ao aquecimento global. Em seguida [veja-se o cinismo] pediu-lhes que elaborassem um "plano voluntário" [de redução de emissões] totalmente inútil."

in "The Assault on Reason", de Al Gore

Warren Buffet

O bilionário em conversa com Obama:

"O mercado livre é o melhor mecanismo jamais concebido para dar aos recursos o uso mais eficiente e produtivo. O governo não é particularmente bom a fazer o mesmo. Mas o mercado já não é tão bom a distribuir com justiça e ponderação a riqueza produzida. Alguma dessa riqueza tem de ser reinvestida em educação (...), para manter infra-estruturas, e garantir algum tipo rede de segurança para aqueles que perdem com a economia de mercado. (...) Faz todo o sentido que nós, que mais beneficiámos com o mercado, paguemos uma parte maior".

Quando Obama o questionou sobre o que pensavam outros "colegas bilionários" respondeu:

"Eles acham que é "o dinheiro deles" e que merecem ficar com tudo até ao último cêntimo. O que não contam é com todo o investimento público que lhes permite viver como vivem. Eu sou um exemplo: calhou ter talento para aplicar capital. (...) Se tivesse nascido numa tribo de caçadores este meu talento de pouco valeria."

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Barack Obama sobre os "novos reis"

Num dos seus livros mais ou menos recentes, Barack já tinha expresso o seu sentir relativamente à questão de compensação exagerada de executivos:

"Quando se trata de enfrentar problemas culturais, os conservadores têm os seus pontos fracos. Por exemplo, a questão dos salários dos executivos. Em 1980, um CEO médio levava para casa um salário 42 vezes maior ao de um trabalhador pago à hora. Em 2005, o rácio era de 262 para 1. Os media conservadores, como o editorial do Wall Street Journal tentam justificar considerando-os necessários para atrair melhores talentos (...).

Só que a explosão de salários dos CEO teve pouco a ver com melhoria de desempenho. (...) Os CEO do país mais recompensados na última década foram responsáveis por enormes quebras de rendimento, despedimentos em massa e sub-financiamento [um eufemismo...] dos fundos de pensões dos seus colaboradores."

in "The Audacity of Hope", Barack Obama

Potencial trans-fronteiriço

Dos vários projectos de auto-estradas, existe um que pouco ou nada se discute em Portugal e é muito necessário: a ligação da A23, portuguesa, ao nó de Plasencia em Espanha. Seriam poucos quilómetros que despoletariam facilmente mais dormidas em Portugal e maiores trocas económicas entre as beiras e a extremadura espanhola.

Agora que se lembraram de fazer cimeiras de cooperação trans-fronteiriça, era bom que pensassem em construir esta auto-estrada (seriam precisos menos de 50 Km).

É impensável que num país relativamente longo (uns bons 700 Km), e com apenas um vizinho Europeu existam somente duas ligações oeste-leste com importância (Elvas e Vilar Formoso).

Quando queremos, sabemos mesmo pensar pequenino...

O neo-liberalismo não é uma fatalidade

O neo-liberalismo, aliado ao conservadorismo extremo de costumes de que o regime Bush foi apogeu, não é nenhuma fatalidade, como tanto se esforçaram por nos fazer crer os media durante décadas a fio.

É bom que se diga que nos termos da ciência económica existem, já existiam, visões alternativas, outras escolhas.

À ala neo-liberal de Milton Friedman ou George Stigler, da chamada "escola de Chicago", e à sua "ditadura de mercado" contrapõem-se pesos pesados da actualidade como Samuelson, Stiglitz e Krugman, da "escola do MIT (Massashussets Institute of Technology)".

Enquanto que a escola de Chicago advoga que as economias de mercado do mundo real produzem resultados em grande medida eficientes, que as políticas públicas nunca melhoram, a escola do MIT defende que as economias do mundo sofrem de falhas nos mercados, tais como concorrência imperfeita e monopólios, entre outras, que apenas a intervenção pública pode equilibrar.

A virtude estará algures "no meio", sendo que esse "meio" corresponde essencialmente à escola do MIT.

É simplesmente mentira que não existam soluções para a crise, sendo antes verdade que aquilo que é necessário fazer implica uma boa dose de mudança face aos laxismos que entretanto fomos desenvolvendo e importando.

O climax da crise

O que vivemos e aquilo a que assistimos é também o desastroso resultado da aplicação de duas décadas e meia do chamado "Consenso de Washington" (expressão de John Williamson), um conjunto de medidas que viriam a ser adoptadas por vários governos ocidentais destinadas a expandir o papel dos mercados e a restringir o do estado.

E mesmo com a catástofre à vista havia quem defendesse (na mais recente campanha presidencial americana) mais cortes drásticos de impostos, ou seja, mais do mesmo do que veio a causar a profundíssima crise norte-americana.

As alternativas ao MBA

Por enquanto ainda não são muitas, mas já existem:

European Masters in Management (Universidade de Lyon, Lancaster e Munique)

Sair do buraco...

No nosso caso sair do "poço" dificilmente será rápido. As condições necessárias:

a) Maior produtividade: via maior concorrência, formação e sobretudo melhor gestão.
b) Inovação: ligando melhor os recursos às necessidades.
c) Investimento externo: clusters de micro-empresas tecnológicas externas sedeadas em Portugal.
d) Melhor turismo e imagem externa nacional
e) Uma justiça funcional, mais rápida

Por ora tudo isto parece pouco mais que miragem...

Os culpados desta crise?

Porque existem e não são poucos, é preciso falar deles.

Filosoficamente, são todos aqueles que pegaram em Milton Friedman e endeusaram as suas teorias. Materialmente, os lobbies norte-americanos, boa parte de Harvard e do partido Republicano, governantes de todo o mundo ocidental interessados nos favores do Tio Sam, e imensas cabeças de grandes grupos económicos internacionais. Seguiu-se a "carneirada" que aceitou sempre, sem sequer duvidar e os media, que nos embalaram em "Marés Vivas".

Todos juntos, emprenharam e pariram este desastre. Os pioneiros foram Reagan e a senhora Tatcher. A alternativa? Bom senso. Regresso a Bismark. A outra "alternativa"? Ditadura. Podemos ter de passar pela segunda antes de regressar dolorosamente à primeira.

Revisitemos ainda Mintzberg, mesmo se em 2004:

"Trata-se dos efeitos promovidos há muito tempo por economistas como Milton Friedman".


Quem vos avisa...

AInda para citar Mintzberg:

"Em anos recentes temos assistido a uma glorificação do interesse individual talvez sem igual desde os anos 20. A cobiça tem sido elevada a uma espécie de vocação superior, as empresas são incitadas a ignorar responsabilidades sociais (...).

Pode ser difícil imaginar uma sociedade desprovida de egoísmo, mas uma sociedade que glorifica o egoísmo só pode ser imaginada como cínica e corrupta (...).

Precisamos tanto do económico como do social, mas estamos cada vez mais dominados só por um dos dois"

Isto foi escrito em 2004. Na altura era praticamente herético, mas agora... é a realidade exposta.

Liderança é diferente de chefia II

"Na liderança não se trata apenas de tomar decisões importantes e fechar negócios (...). Trata-se de estimular outras pessoas a tomar boas decisões e fazer coisas melhores (...). Trata-se de ajudar a libertar a energia positiva que existe naturalmente dentro das pessoas. A liderança efectiva inspira, estabelece novos contactos, demonstra."

in "Gestores, não MBA", D. Quixote, 2007

Os novos "reis"

Henry Mintzberg já o sabe há muito tempo:

"O poder das empresas ficou assim centralizado à volta dos CEO num grau não visto durante décadas, reminescente dos capitães de indústria de um século antes. Claro que toda a retórica continuou a ser sobre a descentralização ou sobre dar mais poder aos empregados, trabalhadores do conhecimento e organizações em rede. Mas a prática tem estado a cavar um fosso entre os chamados líderes, sentados no topo dos seus pedestais, distantes e generosamente compensados, e todos os outros ansiosamente à espera da próxima e dramática movimentação.

in "Gestores, não MBA", de H. Mintzberg

Invistam na nossa saúde

O investimento público está a ser apontado como solução para mitigar o colapso económico.

Está certo, mas então porque existem serviços de cirurgia que acabam de ver limitados os tempos de funcionamento?

Não se pode investir na saúde dos portugueses?

Tudo na boa...

Alguns dos juristas que participam na elaboração de matéria legislativa são aparentemente os mesmos que exercem funções para grandes grupos privados, naquilo que constitui um potencialmente grave conflito de interesses a funcionar quase permanentemente nas nossas costas.

Ouvem falar do assunto? Eu também não... será do Guaraná?

E não são só juristas: sigam o percurso de alguns altos responsáveis da administração pública e suas passagens pelo mundo empresarial. Não vão estranhar que abram empresas com finalidades específicas antes mesmo das leis que eles ajudaram a passar (ou de que tinham conhecimento irem passar) estarem em vigor.

É uma festa! Assim é fácil ser empreendedor.

A coisa pública não é o circo. Deveriam existir regras de nojo muito rígidas sobre potenciais conflitos de interesses.

Liberais... mas não muito...

Porque é que não há jornalistas que se interroguem sobre isto:

Primeiro, o responsável da Autoridade da Concorrência é substituido.

Quase de seguida a concentração da distribuição aumenta (um fenómeno que claramente não beneficia a concorrência de preços).

Nada de estranho, se isto não acontecesse num país onde os preços dos bens de supermercado fossem qualquer coisa com o 20% a 30% mais caros que em Espanha...

Logo depois, a resistência a pressionar as gasolineiras existe e não é nula. Hum...




sábado, 21 de fevereiro de 2009

A globalização vista por Stiglitz

Fica o url de um podcast de Joseph Stiglitz (Nobel 2001 da Economia e professor da Columbia University) sobre o tema da globalização. Entre outras coisas é interessante perceber como a propriedade intelectual tem sido abusivamente utilizada por grandes grupos farmacêuticos e sectores agrícolas ocidentais a desfavor dos seus próprios cidadãos.

http://www.timesonline.co.uk/tol/audio_video/podcasts/mba/


O prefácio de Parthasarathi do "Wealth of Nations"

De leitura obrigatória para neo-liberais cabeçudos:

"The Wealth of Nations é certamente uma celebração da moderna economia de mercado, mas não como um fim em si mesma. Antes enquanto meio através do qual objectivos mais altos de liberdade individual e de ordem social podem ser atingidos. Para Smith, a sociedade comercial não era um sistema perfeito, mas simplesmente superior às alternativas disponíveis (...).

(...) Smith, em oposição a muitos dos seus mais recentes apóstolos, tinha em grande atenção os conflitos sociais, as desigualdades, e outros efeitos deletérios inerentes às sociedades comerciais; e neste aspecto Smith diverge claramente de muitos defensores modernos do capitalismo.

(...) Para Smith, a deformação dos seres humanos causada por tarefas tediosas e repetitivas constituía um dos aspectos mais perturbadores da sociedade comercial, o que representa a segunda diferença maior entre ele e os seus discípulos de início de século XX. Sobretudo nos discipulos mais recentes, é rara esta preocupação profunda com os custos humanos do capitalismo.

The Wealth of Nations dedica vários capítulos de reflexão sobre o impacto da sociedade comercial nos trabalhadores e propõe várias medidas de mitigação desses efeitos. A mais importante é um sistema de educação público universal.

Adam Smith não era um opositor dogmático das interferências do governo no mercado. (...)"

A abertura das políticas governamentais ao serviço dos perdedores do capitalismo não é hoje, sem dúvida, do agrado dos novos discípulos de Smith.

Tradução livre de parte do prefácio de The Wealth of Nations, edição da Barnes and Noble.

Para uma economia mais verde

Vários são os países europeus que reduziram impostos sobre o rendimento, transferindo-os para a ecologia:

- A Suécia desviou em 1991 1,9% dos impostos sobre rendimento para emissões de dióxido de carbono e enxofre.
- A Dinamarca desviou em 1994 2,5% dos impostos sobre rendimento para o consumo de combustível, electricidade e água.
- Em 1996 a Dinamarca voltou a reduzir os impostos sobre rendimento em mais 0,5% para taxar emissões, pesticidas e solventes à base de Cloro.

Existem mais exemplos: Espanha, 1995; Holanda, 1996; Reino Unido, 1996; Finlândia, 1996; Alemanha, 1999; Itália, 1999; Holanda, 1999, França, 2000...

Então e nós?

As causas da pobreza

C.K. Prahalad, professor de estratégia da Ross Business School, tem uma teoria interessante sobre as causas da pobreza: diz que está correlacionada a problemas de arbitragem de informação (intermediarização de informação).

Se pensarmos um pouco, encontramos facilmente exemplos portugueses:

1) A plataforma de partilha de informação da Administração Pública relativa à adjudicação de contratos é confusa e labirintica mas um grupo de cidadãos decidiu transformá-la em algo super simples e de livre consulta, por uma imensa fracção do preço. É lícito supor que maior transparência neste domínio traria maior exame público, que assim agiria como um dissuasor à corrupção. A falta de transparência, clareza e simplicidade em tantos sites da administração pública são um exemplo de má arbitragem de informação.

2) A recente medida de reduzir as deduções da "classe média-alta" (sim, é um eufemismo), em favor da classe média é outro exemplo: se o Executivo quer realmente beneficiar a classe média será mais rápido e eficaz reduzir directamente as suas contribuições em vez de as intermediarizar em compassos de espera incertos...

Bandeiras verdes!

Damos muita atenção ao lazer, mas ainda muito pouco aos locais onde passamos tanto tempo nas nossas vidas.

Se as praias menos poluídas dispõem de bandeiras azuis, também as empresas com menores percentagens de acidentes de trabalho deveriam possuir bandeiras verdes.

Salários dos presidentes

"Não podemos [entidades reguladoras] contornar o imperativo da actual estrutura empresarial [modelo do "CEO todo-poderoso"]. Podemos, porém, certificar-nos de que os presidentes executivos com maus resultados são afastados, se não pelos accionistas, então facilitando as aquisições. Um passo nessa direcção seria atenuar as regras de acesso às listas accionistas [também aplicável a empresas não cotadas], agora quase sempre controladas pela administração em exercício. Aqueles accionistas que pretendem o anonimato podem ser protegidos nas listas por nomes fictícios. Fusões, aquisições e criação de empresas independentes são uma parte vital da concorrência (...).

Um maior controlo por parte dos acionistas limitaria sem dúvida a possibilidade dos administradores defenderem "para-quedas dourados" [altos valores de rescisão definidos pelos próprios], ou o seu próprio salário, frequentemente desajustado, bonús gigantescos, pré-datação de opções de compra de acções e regalias pós-emprego actualmente concedidas a expensas do accionista [para não mencionar o contribuinte...]."

in "A Era da Turbulência", de Alan Greenspan (cap. XXIII).

A propósito do caso português: porque é que é tão difícil encontrar os relatórios de contas de certas empresas?

A mão invísivel...

"O que é a economia de mercado? É a lei da selva, a lei da natureza. E o que é a civilização? É a luta contra a natureza."

Édouard Balladur a Alen Greenspan

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O derradeiro negócio...

Assistimos, com esta enorme crise global, ao desembocar de uma época que elevou ao estatuto de semi-Deus o crescimento económico. Um objectivo tão absoluto que foi permitindo a ruína das boas práticas, da honestidade, da confiança... Já se sabia que se tratava de uma obsessão que não mobilizava o homem comum, ainda assim mil vezes repetida de manhã à noite, de forma absurda, oca, desumana. Para o bem de quê ou quem? De que serviu afinal aquele crescimento "acima da média" norte-americano? Em que resultou? Num défice comercial que não pára de aumentar, em mais de 6% de défice orçamental, na ruína da classe média (que não sente os benefícios do "espectacular crescimento" há mais de uma década) e em qualquer coisa como 47 milhões de americanos sem qualquer cobertura de saúde.

É hora de deixar de endeusar o crescimento económico per si, fora de cada contexto nacional onde ocorre. É preciso reflectir sobre o grau de risco que compete a cada agente suportar. Acabamos de passar o climax de uma sociedade de individualismo induzido e de natureza quase totalitária (embora exista quem lhe chame "liberdade"). Deu mau resultado e, se não formos fanáticos, temos de reflectir sobre a causa destas coisas.

Mais evasão fiscal...

Alguns administradores criam empresas em nome individual e transferem parte dos custos da empresa que gerem e custos pessoais para lá, para se tornarem eles próprios "fiscalmente mais eficientes". Um problema que merece ser investigado e travado.

Formação em gestão

A evolução da produtividade do país vai depender nalguma medida do crescimento da qualidade da gestão. A gestão é a acção crítica que transforma conhecimento e recursos em riqueza. Até agora tem sido relativamente fácil aceder a bolsas para as ciências duras, contudo existem menos bolsas para estudar gestão. E a pergunta é "porquê?", se existe uma relação entre o investimento que temos de fazer nesse tipo de recursos e a acção de que depende a nossa produtividade.

Anacronismos

Se o Estado deve dar o exemplo, sugire-se que em toda a Administração Pública se passem a tratar as pessoas - interna e externamente, por escrito e oralmente - por "Sr." ou "Sra." em vez do abusivo recurso ao "Doutor" ou "Doutora" para quem não é, de facto doutorado, mas tantas vezes apenas licenciado. Este é um dos anacronismos que nos distingue da dianteira Europeia e não... não é um pormenor sem importância.

Porque enquanto este simples "pormenor" não mudar, viveremos em tempo de reverência a eminências pardas...

Ainda a evasão fiscal

Para além das empresas com recursos e finanças que lhes permitem aquilo que o Governo designa por "planeamento fiscal agressivo", existem em Portugal muitas PMEs que fogem ao fisco. As formas são várias, mas uma das modalidades dos "artistas" é apresentar facturação inferior à real, possuindo uma parte da actividade (incluindo pagamentos ao pessoal) submersa por via da acumulação de "créditos por receber", normalmente de clientes externos. Quando neste caso os pagamentos caem em contas particulares fica aberto o caminho da desnatação e da falência fraudulenta. Isto pode afectar entre 20% a 30% do PIB... que assim está oculto. Querem crescer? Que tal começar por fazer vir à tona de água esse imenso submarino?

Liderança é diferente de chefia

A liderança só se reforça e cresce se também tiver uma base moral e ética que a alimente... O cidadão / colaborador sabe-o por instinto, a isso respondendo com maior ou menor envolvimento, maior ou menor motivação e produtividade.

Aos portugueses "ofuscados" pelas maravilhas da mão invisível (um conceito interessante mas relativo e sem dúvida uma óptima desculpa para a falta de planeamento e desorganização), ficam dois recados: o primeiro é que leiam o segundo capítulo de "Wealth of Nations", precisamente de Adam Smith, que discute a importância da especialização de funções e da experiência, e o segundo é que por amor a Deus aprendam alguma coisa com empresas não-nacionais. Vejamos a política explícita de uma, relativamente aos seus colaboradores:

Cada colaborador...

...tem o direito de saber o que lhe é exigido nas suas funções e como é avaliado o seu trabalho pela gestão...
...tem o direito de aceder a toda a informação relativa a eles mesmos, de forma mais transparente possível, directamente bem como através dos seus representantes...
...tem o direito de saber o que a empresa antecipa para a sua carreira e trabalho, a definir a direcção da sua carreira em conjunto com a gestão e, nesse ontexto, a beneficiar de um ambiente de aprendizagem, nomeadamente através do acesso ao treino necessário para assegurar o seu desenvolvimento profissional...
...tem o direito a ver os seus bons resultados reconhecidos, sem descriminações, bem como a conhecer a razão de más avaliações...
...não será abandonado sozinho em face de dificuldades...

Sempre que falem da baixa produtividade dos portugueses não se esqueçam que é à gestão que compete organizar e formar os recursos disponíveis, daí sacando a produtividade necessária. As razões para a baixa produtividade portuguesa radicam essencialmente na má qualidade de gestão que grassa em território nacional.

Se querem mesmo "falar verdade aos portugueses" (o que duvido), têm de falar também nestas coisas.

It's time to change!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Aeroporto

Vamos a uma pequena comparação embaraçosa: a Bulgária, membro recente da União Europeia é, sob muitos prismas o mais pobre e atrasado país na Europa... e no entanto... Adivinharam: Sofia possui um moderno novo aeroporto internacional. Não... não é especialmente bonito nem foi desenhado pelo Calatrava, mas é limpo, moderno, racional, amplo e... funciona! Tem um ambiente perfeitamente digno e aceitável, ao contrário da "estação de camionagem" da Portela. Espero que nos dediquemos, como o novo aeroporto, à funcionalidade, e não à tola e pretenciosa mania das grandezas. Não estamos em França e a década não é a de 50. Olhem para Sófia, para Madrid ou Munique e ofereçam-nos um aeroporto que funcione, de preferência rapidamente. É tudo.

Formação profissional

Apesar de alguns avanços, é ainda desolador o panorama relativo à formação profissional em Portugal. Os sindicatos pouco se mexem para que a lei seja cumprida com qualidade, como que ignorando que disso depende o aumento da produtividade de médio e longo prazo. Os empresários, uma larga maioria, continuam a escolher a inevitabilidade do curto prazo (ignorância), ainda sem visão de modernização do capital humano ao seu dispor.

As entidades de fiscalização pouco apertam, contribuindo para perdurar o problema.

Entretanto a lei não se cumpre e ninguém fala disso. A direita cala-se, conivente. A esquerda relega para segundo plano... Até onde teremos de descer para entender que apenas pela qualificação da população activa poderemos ter uma hipótese séria de aumento de produtividade a curto e médio prazo com relativa estabilidade social?

Reabilitação urbana mais acessível

Já se simplificou a burocracia relativa a obras domésticas, mas porque não desincentivar a evasão fiscal e incentivar a munutenção do património reduzindo a 5% a taxa de IVA incidente sobre obras em habitação própria e permanente? Estamos à espera de...?

Porto do Graal

A falta de espaços e tempos de debate públicos desinteressados e tendencialmente construtivos, o relativo deserto de ideias e lideranças nas oposições, a exasperante superficialidade de análise e falta de curiosidade e rigor dos media, a anemia corporativa de boa parte dos intelectuais e o conservadorismo anacrónico de vastos sectores da sociedade portuguesa, são factores que merecem uma resposta democrática mais dinâmica, algo que se insira na inevitável renovação daquilo que são as forças "vivas" da sociedade portuguesa contemporânea.

Este será pois um blogue de opinião, debate de ideias e propostas para acção política, que procurará antes de mais alinhar-se ao bem comum e ao pragmatismo de pensamento e acção.

Será apenas um pequeno grão de areia nas engrenagens da vasta praia lusitana, talvez. Mas ainda assim um pequeno grão de areia que não se resignará ao sol nem às vagas salgadas.

Antes de chegar a quaisquer certezas, procurá colocar as questões, pois é delas que o caminho é feito.

Avaliações de doutorados

Sendo de elogiar a tentativa de reactivar a carreira de investigador e a incorporação de milhares de jovens doutorados em diversas instituições universitárias e de invstigação seria igualmente consequente proceder à avaliação de resultados decorrentes, rejeitando a "igualdade da excelência". Como em tudo, há bons e maus - idem aspas para os professores universitários de carreira - e é preciso separá-los para guardar apenas os melhores. Para quando resultados acessíveis ao público? Para quando uma responsabilização consequente com meritocracia?

As micro empresas de base tecnológica

Depois de muito se ter falado de "empreendedorismo" e "mudança do tecido industrial" por forma a integrar mais empresas de base tecnológica, estava na altura de apreciar que resultados têm dado as inúmeras start-ups associadas a capitais de risco de base pública e privada, bem como aquelas que foram sendo incubadas por várias universidades.

Sou da opinião que embora esse seja um caminho a seguir, os canais de sustentabilidade desses empreendimentos e a sua baixa capacidade de conexão aos mercados de produto e informação mundiais diminuem seriamente a sua taxa de sobrevivência.

Tal como os nado-vivos requerem cuidados especiais, assim se encontram essas "empresas". Se os pormenores do desenho dos incentivos e conectividade a bases de negócio mais globalizadas falham, poderá criar-se a ideia errada que tal tipo de empreendimentos está condenado ao insucesso, o que fará mossa no futuro...


Era por isso altura de deitar contas aos resultados, buscar causas de falhanços, compreender os casos de sucessos e pontos de melhoria, e fazer do termo "I&D" algo mais permanente e muito menos "de moda", como tem sucedido no nosso rectangular país...

E o Brasil aqui tão perto....

Poucos portugueses saberão que o nosso país irmão do outro lado do Atlântico possui taxas aduaneiras insuportáveis para muitos produtos portugueses. Parece uma imbecilidade, e é: num tempo em que acolhemos tantos cidadãos brasileiros e em que a economia do Brasil prospéra e tem em Portugal um aliado para a dinamização da sua imagem e mercados na Europa, fica-nos vedado o contrário... E sabemos todos como precisamos de exportar. Apesar de algumas iniciativas do Governo Sócrates esta questão, que devia ocupar grau de prioridade no MNE e no debate público, permanece docemente adormecida. Será que o MNE não podia pensar em utilizar a opinião pública portuguesa para acelerar a resolução desta questão? Ou será falta de imaginação? Será do Guaraná?