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terça-feira, 16 de março de 2010

O regresso dos teólogos de mercado

Pedro Guerreiro na sua crónica de hoje no Jornal de Negócios, começa por admitir que a EDP, a Sonae e a Novabase já tinham aderido voluntariamente à boa prática da transparência sobre os rendimentos dos seus gestores, para depois dizer - com recurso a explicações rebuscadas - que há outras empresas cotadas que ainda recorrem a um expediente da CMVM para ocultar esses rendimentos através das cortinas de fumo em que permitimos tornarem-se as redes de subsidiárias e as holding.

A crónica vira-se depois contra o estado, em tom algo ressabiado, para confundir uma difusa crítica aos "boys" (relevante), com uma assumpção implícita da injustiça - ou do perigo - da transparência agora exigida pela CMVM a todas as empresas cotadas em bolsa (tentando contudo ensaiar o tom de quem defende a coisa).

O objectivo velado de Guerreiro parece ser a certa altura ser o de exercer uma pressão opinativa sobre a CMVM, para que se reflicta sobre algum afã regulador...

A Pedro Guerreiro escapa-lhe o essencial: que essa transparência - que, já agora, deveria ser exigida a todas as empresas, cotadas ou não, públicas ou privadas - destina-se a proteger as próprias empresas e os seus accionistas (e muito bem).

Esse tipo de regulação é nada menos que essencial para travar aquilo a que há muito vimos assistindo, com a conivência simplista da imprensa económica, via fulanização: um sequestro progressivo e coordenado de muitas empresas pelos seus gestores, frequentemente mais em benefício próprio do que das empresas, dos seus trabalhadores e dos seus accionistas.

Acredito que os accionistas e a gestão são elementos que devem existir com separação clara de funções e papéis, mas isso não significa que ache que as empresas tenham de cair no extremo oposto e se transformar em meros instrumentos de culto de personalidade, como vimos assistindo desde meados dos anos 80 a esta parte, também em Portugal.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

EUA: Igreja Católica a favor dos cuidados de saúde universais


cartoon de David Horsey/Seattle Post-Intelligence

Agora é que os aduladores portugueses de Bush (ultimamente na toca) vão ficar baralhados... Ora leiam:

"WASHINGTON, quinta-feira, 23 de julho de 2009 - A Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos exortou os legisladores a reformar o sistema de saúde para proporcionar uma assistência acessível a todos, e respeitosa para com a vida humana.

Os bispos realizaram o pedido através de uma carta dirigida aos congressistas norte-americanos com data de 17 de julho e assinada pelo presidente do Comité para a Justiça Interna e o Desenvolvimento Humano, o bispo William Murphy da diocese de Rockville Centre (Nova Iorque).

A carta pede uma “política de saúde realmente universal e que respeite a vida e a dignidade humana”. Também “o acesso para todos, com uma especial preocupação pelos pobres e pela inclusão dos imigrantes em situação regular”.

O acesso a uma assistência à saúde de qualidade “não deve depender do nível de vida, do facto dos pais trabalharem, do que ganhem, de onde se viva ou de onde se tenha nascido”, afirmam.

“A Conferência Episcopal acredita que a reforma do sistema de saúde deve ser realmente universal e realmente acessível”, diz a carta."

domingo, 19 de julho de 2009

Caritas in Veritate: uma lição para a CIP


Bento XVI, apesar de líder de uma instituição compreensivelmente conservadora, parece decididamente progressista ao pé de personagens como Manuela F. Leite (MFL), ou mesmo revolucionário ao pé de outras como F. van Zeller.

Tive oportunidade de ler a pequena crónica de MFL a propósito desta nova encíclica Papal, publicada pelo Expresso no passado 11 de Julho.

Como de costume, MFL mostrou-se mais preocupada em tentar passar uma aparente e superficial compreensão do tema, do que em contribuir para uma muito necessária transposição portuguesa da mensagem explícita do Papa.

Ficou-me da leitura da sua crónica meio-amorfa uma vaga impressão de que MFL terá chegado a horas à mesa, revelando-se porém incapaz de saborear a sopa com alegria; parecia antes fingir engoli-la apressadamente, para a regurgitar adulterada noutra ocasião.

Há contudo pelo menos três pontos importantes na Caritas in Veritate que não é demais frisar, ainda que tenham sido menos merecedores da reflexão de MFL (ela optou por focar a necessidade por "novos estilos de vida"...):

O primeiro, sendo um lugar comum, não deixa de ser importante: o texto propõe que o principal capital a ser salvaguardado e valorizado seja a pessoa humana na sua integridade, vendo o Homem como o autor, o centro e o fim de toda vida económica e empresarial. Por outras palavras, a economia deve estar ao serviço do Homem, e não ao contrário; a economia enquanto meio, e não como fim.

Um segundo ponto foca directamente as questões de falta de ética que o modelo económico actual não anula e antes promove, por intermédio de abusos individuais e institucionais que vinham sendo cada vez mais tolerados. Por outras palavras, é urgente a regulação do colectivo sobre certas partes da economia, q.b., e uma justiça social mais equilibrada e envolvendo todos, empresas incluídas, para além dos "mínimos éticos".

Por último, a encíclica alude ainda directamente ao progressivo distanciamento humano entre os chefes de empresa e aqueles que para si trabalham, naquilo que constituí uma alienação desumana e perigosa. Afirma que “É fácil desvincularem-se quando não têm um contacto diário com as equipas de colaboradores e se esquecem que o capital humano é formado por pessoas com nome e apelido, com aspirações, potencialidades, famílias e sonhos e cuja contribuição para o seu trabalho diário é único e valioso. Para que uma empresa seja altamente produtiva, tem que ser também plenamente humana e socialmente responsável”.

De volta à realidade, atente-se no recente e mau exemplo da CIP, quando se pronunciou a propósito dos problemas levantados por uma eventual pandemia de gripe. Foi sobretudo a forma literal e radical como colocou a questão, ingnorando propositadamente a Lei, mas sem que se notasse a mínima preocupação de chegar a um compromisso socialmente justo com o Governo, que revelou a falsidade da sua "responsabilidade social".

Falou em responsabilidade social?


Os resultados provisórios do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (EU-SILC) do Instituto Nacional de Estatística (INE) realizado em 2008 revelou que se considerássemos apenas os rendimentos do trabalho, de capital e transferências privadas, “41% da população residente em Portugal estaria em risco de pobreza”, em vez dos 18% actuais.

Num momento em que é sabido que alguns neoliberais se dedicam à discussão da "responsabilidade social", era bom que respondessem o que seria desses 41% de portugueses sem um estado social. Ou será que as suas conferências e seminários não passam de re-edições de feiras de vaidades?

AIG em conversações com Obama


A seguradora AIG esteve esta semana em contacto com a Casa Branca. O assunto de conversa foi a nova onda de bónus que a empresa se preparava para pagar aos seus executivos de topo. Eram 250 milhões de dólares (37 milhões de contos na moeda antiga, ou cerca de 185 milhões de Euros).

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Contradições neoliberais


A variante mais "selvagem" do capitalismo, defendida pelos neoliberais, está pejada de contradições completamente absurdas:


- Defende o mérito, mas é falha na sua avaliação concreta

- Promove a ascensão social através do trabalho, mas cultiva a estratificação social

- Propagandeia valores, mas não se importa com o dumping social Chinês ou Indiano

- Exige lealdade, mas pouco se importa quando gera desemprego e instabilidade social

- Defende a flexibilidade, mas é avessa a praticamente todas as formas de regulação social

- Baseia-se a priori na eficiência da gestão, ao mesmo tempo que defende pára-quedas dourados

- É contra (quase) todas as formas de Estado, excepto quando precisa dele desesperadamente

- Abusa da palavra inovação, ao mesmo tempo que olha com desdém a actividade intelectual

- Pretende moldar o público ao seu gosto, mas nem sempre convive bem com a democracia

- É a favor da liberdade de expressão, desde que não haja manifestações contra as suas negociatas

- É a favor da concorrência, mas esforça-se sobretudo para consolidar monopólios

- Afirma-se como um garante da liberdade de escolha, se for ela a definir essa escolha

- Queixa-se da qualidade da educação, ao mesmo tempo que pugna pelo efectivo isolamento de quem não a pode pagar

- Quer discernimento nas famílias, mas é a primeira a procurar os beneficios do seu endividamento

- Quer famílias maiores e fortes, mas exige que caminhemos para semanas de trabalho de 65 horas ou mais
...


Sempre que entra pelo abuso e pela destruição de valor social, o mercado não tem razões para existir e mina os fundamentos da sua própria continuidade libertária.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Accionistas Fortis

Hoje, numa assembleia geral do Fortis, 2.300 accionistas passaram-se dos carretos e decidiram atirar sapatos contra a mesa da sua Administração.

"Se querem o respeito dos accionistas aceitem o nosso voto", terá dito Mikael Modrikamen ao CA Fortis.

É um sinal dos tempos...

domingo, 26 de abril de 2009

Inglaterra: O Preço da Fantasia Neo-liberal

As mais recentes estimativas do Tesouro de Inglaterra prevêem uma contração económica de 3,5% no produto, a prolongar-se por 2010 adentro.

O chanceler Alistair Darling viu-se constrangido a subir os impostos sobre o rendimento para 50% e a acrescentar taxas ao consumo de combustível, alcóol e tabaco (e isto, perto de um período eleitoral, fala por si).

A dívida pública Inglesa vai atingir ou ultrapassar 80% em 2013/14... e o salvamento da Banca Inglesa já vai num montante que supera em valor o produto de toda a economia.

Suponho que seja nesta altura que os Ingleses terão o secreto arrependimento de não terem nascido Franceses.

Tornaram-se em mais um produto do pensamento obcessivo, maniqueísta, outrora "pensamento único", de "tudo o que é privado e desregulado é bom, tudo o que é público é sempre mau"...

Um pensamento de "monarcas degenerados", indigentes políticos fora de século, gente obcecada e triste, que no seu íntimo pensa que lançar impostos públicos seja sempre equivalente a roubar (a excepção não faz a regra); mas lançar tributos feudais seja muito mais aceitável, sobretudo quando reverte a favor dos próprios...

O que são certos pseudo-monopólios senão isso?...

sábado, 11 de abril de 2009

O "milagre" Irlandês


Seria bom que em Portugal se reflectisse no "milagre" Irlandês, bem como em todos os mais recentes "milagres" (incluindo o de Espanha) que afinal puseram a nu todos os defeitos da teoria económica neo-liberal.


A imagem vem na edição corrente da Economist.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Texas style

Fica uma tradução livre minha de um comentário do Presidente Republicano Americano Dwight Eisenhower, feito a 8 de Novembro de 1954:

"Caso algum partido tente eliminar a segurança social, o subsídio de desemprego, ou as leis de trabalho (...), não se ouvirá mais falar sobre esse partido na nossa história.

Existe um pequeno grupúsculo, claro, que acha que essas coisas se podem fazer. Entre eles estão uns quantos milionários Texanos, e uns quantos políticos e homens de negócios.

O seu número é negligível e é gente estúpida."

Dwight D. Eisenhower foi presidente dos EUA entre 1953 e 1961 e comandante supremo das forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial, a partir de 1943.

Uma verdade

Roubei a citação aos "ladrões de bicicletas", mas é mesmo assim:

Joan Robinson: «estudar economia não serve para aprender respostas prontas, mas sim para não se ser enganado por economistas».

segunda-feira, 2 de março de 2009

Eles andam aí...

Para os que ainda dúvidam que sequer exista uma corrente neo-liberal (que nada tem a ver com o liberalismo económico e político original, e que é mais neo-conservadora do que outra coisa), vão os meus excertos preferidos da muy recente última crónica de Miguel Angel Belloso para o Diário Económico.

O que vão ler não foi escrito em 1998, ou em 2003 nem mesmo em 2006, foi escrito em Fevereiro de 2009:

"Apenas... até breve!

(...)
Em todos os textos que escrevi, o meu objectivo final, para além do tema do mesmo, foi a defesa sem rodeios, rotunda e por vezes deliberadamente exagerada, do liberalismo e da economia de mercado.

(...) Sou dos que pensam que a única possibilidade para que o mundo prospere e melhore, principalmente para os mais pobres, assenta no capitalismo puro e duro. Mas também sou dos que refutam a ideia – que a esquerda tão bem conseguiu vender em nome da rentabilidade sobre a base do vitimismo –, de que estamos inundados pelo neoliberalismo.

(...) Espanha e Portugal são pacientes do pensamento socialista. Na minha opinião, ambos precisam de uma imersão no liberalismo caso pretendam desempenhar algum papel de destaque no panorama internacional durante os próximos anos.

(...) Para que vejam como sou imparcial dir-lhes-ei que tudo o que digo acerca de Portugal se aplica, em boa parte, a Espanha. Neste momento, o meu país atravessa uma situação crítica. E a minha opinião já é mais do que conhecida: os quatros anos de Zapatero foram, pura e simplesmente, nefastos."

Comentar, para quê?

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Chernobyl económico

Existe algum fanatismo neo-liberal a soldo, irredutível no seu laissez-faire coute que coute, que vê o mundo a preto e branco: ou escolhemos a sociedade "livre" de Estado e de qualquer seu resquício para além de um exército, que nos querem ainda impingir, ou tudo o resto será alguma espécie de escolha esquerdista de socialismo-comunismo.

No fundo, a proposta desses indivíduos não anda longe da escolha induzida de um novo tipo de totalitarismo: o dos preços livres acima de tudo e não importa como, incluindo acima do valor da vida humana (que alguns deles defendem como verdadeiros fariseus).

Às vezes imagino que a espécie humana estará a dividir-se em duas, ou então que essa malta talvez tenha algum chip instalado atrás da orelha.

É que soam tão absolutamente convictos - mesmo face ao desastre completo das suas proposições - que me fazem lembrar os comunistas mais ferrenhos do Politburo Central Soviético pós 89.

Antigamente existiam as cassetes, agora é mais o blue ray... Como diria S. Agostinho, dai-nos Deus paciência para tolerar o que não conseguimos entender.

Reparem que quando se fala a essas pessoas do que acham da intervenção do Estado quando estão em maus lençóis, elas respondem: "É para isso que serve o Estado". Nem um pingo de má consciência...

Vamos então a uma analogia simples.

Imagine-se que a economia é como um reactor nuclear. Aquilo que queremos de um reactor nuclear é que produza calor, o calor aquece água, e essa água faz mover turbinas, que por sua vez geram electricidade.

O que produz o calor num reactor nuclear?

Os átomos que servem de combustível nuclear possuem uma dimensão que fica no limiar da estabilidade atómica. Ocasionalmente desprendem-se partes desses átomos (neutrões) que, quando embatem em átomos parecidos nas vizinhanças originam a sua cisão, libertando-se mais neutrões e muita energia, numa reacção em cadeia que gera bastante calor e que, se não for controlada, pode resultar em explosão.

Um reactor nuclear é uma explosão em potência mas a reacção no seu interior, alimentada por combustível atómico, ocorre a velocidades mais moderadas, para que não descambe nessa indesejada explosão.

O que modera essa velocidade de reacção são outros grupos de átomos capazes de absorver parte dos neutrões livres, por exemplo grafite. Imagine-se estes como sendo a regulação dos mercados.

Agora imaginemos que essa capacidade natural de cisão de átomos instáveis equivale ao volume de trocas económicas. Aprecie-se a curiosa analogia:

1. Economia planificada, de baixo débito de produto (como na antiga URSS): equivale a um reactor muito sub-aproveitado, onde imperam os elementos moderadores da reacção (o Estado, a burocracia, outros).

2. Economia de mercado com estado social (mais ou menos o que tínhamos na Europa até há uns quinze a vinte anos atrás): provavelmente o mais próximo a uma reacção equilibrada donde se extrai calor por muitos e longos anos, quase sempre em segurança.

3. Reactor sobre-aquecido: equivale à economia pouco antes de regredir, nomeadamente por falta de moderadores (regulação); antes da explosão tudo "parece" ir bem, com elevada produção energética, um número de neutrões livres sempre a crescer, muitíssimo mais calor até que... cabum!

Foi o que aconteceu à economia americana-europeia-japonesa: é uma história parecida com a galinha dos ovos de ouro em que os mais gananciosos pegaram numa doutrina relativa, fizeram dela conhecimento absoluto e praticamente indiscutível durante 25 anos ,e contagiaram todo o sistema para produzir mais, e mais depressa, sempre a aquecer, prego a fundo, sem regras, "sem mãos, sem pernas" e agora... sem dentes!

Seria bom abandonar essa ganância implícita nos modelos de maximização de crescimento per si e voltarmos a economias mais estáveis, que caracterizaram as fundações dos Estados Social, mesmo com os devidos ajustes relativos à demografia.

É essa a confiança que os cidadãos precisam de ganhar para voltarem às compras.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Os lobos que uivam

Agora que o negócio vai mal nos EUA, temo que iremos assistir ainda mais intensamente ao ataque dos lobbies - por via de alguns partidos e personagens políticas nacionais - ao Serviço Nacional de Saúde, ao Ensino Público e também na questão energética.

Tratam-se de chorudos negócios em globalização e por isso interessa passar a ideia de que estariam ao melhor serviço de todos se fossem privados. Puro engodo, porque a questão deles não é a de apurar verdadeiramente como e até que ponto podem constituir melhor opção pública as opções que defendem mas meramente a de como fazer mais dinheiro, mais rapidamente, para meia dúzia de indivíduos que se calhar nunca cá puseram os pés.

Na saúde fazem o gentio Xerox perguntar "mas porque é universal o sistema se poderia ser apenas dirigido aos mais pobres?". Há um problema nesta retórica. É que ela não acaba nesta pergunta. De forma ingénua e meio cínica tenta mostrar uma evidência apelativa, mas populista.

O que impedirá mais tarde os mais ricos e os mais egoístas de voltar a perguntar "e porque é que eu, que pago seguro de saúde e me trato em clínicas privadas, tenho de descontar tanto para os mais pobres?".

A sucessão de questões deste tipo, na Saúde, no Ensino, e algumas outras áreas, é um processo de individualismo refinado e progressivo que, camuflado pela "opção da escolha" (para quem pode, claro) oferece a miséria que podemos apreciar nos sistemas da América Latina e nos EUA, onde 47 milhões de pessoas não possuem qualquer cobertura de saúde e uma prótese simples pode custar qualquer coisa como 12.000 Euros.

É por isso preocupante que alguns portugueses, a soldo ou não, vejam exclusivamente nos privados o reino dos Céus, a chave para a esperança da melhoria de vida dos seus compatriotas, acenando com a bandeira simplória de menos impostos (na verdade trocam os impostos sobre os quais ainda temos algum poder de reivindicação, por preços arbitrários e à mercê da lógica única do lucro). Alguns são os mesmos que acreditaram que o objectivo de Bush era levar a democracia ao Iraque.

Uma coisa é a complementaridade de sistemas, outra é a estrada que nos leva à destruição dos sistemas de apoio sociais que ainda funcionam por coisas que apenas se sabe funcionarem mal. Fantasias mal explicadas cujo móbil é a ganância e o enriquecimento contínuo de um pequeno punhado de gente que nem sequer dá a cara.

Vejam a questão energética e recordem-se dos defensores da opção nuclear que, mesmo não sendo isso o que fazem na vida, juram a pés juntos não terem dúvidas de que se trata da melhor opção.

Por mim, sempre desconfiarei de quem não tem dúvidas e raramente admite o erro.


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Warren Buffet

O bilionário em conversa com Obama:

"O mercado livre é o melhor mecanismo jamais concebido para dar aos recursos o uso mais eficiente e produtivo. O governo não é particularmente bom a fazer o mesmo. Mas o mercado já não é tão bom a distribuir com justiça e ponderação a riqueza produzida. Alguma dessa riqueza tem de ser reinvestida em educação (...), para manter infra-estruturas, e garantir algum tipo rede de segurança para aqueles que perdem com a economia de mercado. (...) Faz todo o sentido que nós, que mais beneficiámos com o mercado, paguemos uma parte maior".

Quando Obama o questionou sobre o que pensavam outros "colegas bilionários" respondeu:

"Eles acham que é "o dinheiro deles" e que merecem ficar com tudo até ao último cêntimo. O que não contam é com todo o investimento público que lhes permite viver como vivem. Eu sou um exemplo: calhou ter talento para aplicar capital. (...) Se tivesse nascido numa tribo de caçadores este meu talento de pouco valeria."

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O neo-liberalismo não é uma fatalidade

O neo-liberalismo, aliado ao conservadorismo extremo de costumes de que o regime Bush foi apogeu, não é nenhuma fatalidade, como tanto se esforçaram por nos fazer crer os media durante décadas a fio.

É bom que se diga que nos termos da ciência económica existem, já existiam, visões alternativas, outras escolhas.

À ala neo-liberal de Milton Friedman ou George Stigler, da chamada "escola de Chicago", e à sua "ditadura de mercado" contrapõem-se pesos pesados da actualidade como Samuelson, Stiglitz e Krugman, da "escola do MIT (Massashussets Institute of Technology)".

Enquanto que a escola de Chicago advoga que as economias de mercado do mundo real produzem resultados em grande medida eficientes, que as políticas públicas nunca melhoram, a escola do MIT defende que as economias do mundo sofrem de falhas nos mercados, tais como concorrência imperfeita e monopólios, entre outras, que apenas a intervenção pública pode equilibrar.

A virtude estará algures "no meio", sendo que esse "meio" corresponde essencialmente à escola do MIT.

É simplesmente mentira que não existam soluções para a crise, sendo antes verdade que aquilo que é necessário fazer implica uma boa dose de mudança face aos laxismos que entretanto fomos desenvolvendo e importando.

O climax da crise

O que vivemos e aquilo a que assistimos é também o desastroso resultado da aplicação de duas décadas e meia do chamado "Consenso de Washington" (expressão de John Williamson), um conjunto de medidas que viriam a ser adoptadas por vários governos ocidentais destinadas a expandir o papel dos mercados e a restringir o do estado.

E mesmo com a catástofre à vista havia quem defendesse (na mais recente campanha presidencial americana) mais cortes drásticos de impostos, ou seja, mais do mesmo do que veio a causar a profundíssima crise norte-americana.

As alternativas ao MBA

Por enquanto ainda não são muitas, mas já existem:

European Masters in Management (Universidade de Lyon, Lancaster e Munique)

Os culpados desta crise?

Porque existem e não são poucos, é preciso falar deles.

Filosoficamente, são todos aqueles que pegaram em Milton Friedman e endeusaram as suas teorias. Materialmente, os lobbies norte-americanos, boa parte de Harvard e do partido Republicano, governantes de todo o mundo ocidental interessados nos favores do Tio Sam, e imensas cabeças de grandes grupos económicos internacionais. Seguiu-se a "carneirada" que aceitou sempre, sem sequer duvidar e os media, que nos embalaram em "Marés Vivas".

Todos juntos, emprenharam e pariram este desastre. Os pioneiros foram Reagan e a senhora Tatcher. A alternativa? Bom senso. Regresso a Bismark. A outra "alternativa"? Ditadura. Podemos ter de passar pela segunda antes de regressar dolorosamente à primeira.

Revisitemos ainda Mintzberg, mesmo se em 2004:

"Trata-se dos efeitos promovidos há muito tempo por economistas como Milton Friedman".