segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Serôdios e Seráficos

Se a probabilidade de Portugal ser atingido por tempestades tropicais de efeitos devastadores tem aumentado nos últimos anos, como parece ser o caso, porque razão não existe no IMG ou na Protecção Civil um acompanhamento online permanente dedicado a esse tipo de fenómenos, que disponibilize informação rigorosa e atempada ao público?
É normal que levemos com duas tempestades tropicais em cima no espaço de 15 dias? É normal que tenhamos de suportar - quase sempre sem aviso prévio digno desse nome - ventos de 150 ou 200Km/h entre Outubro e Abril, com regularidade anual desde há pelo menos 3 ou 4 anos?
Está-se bem e não é preciso mudar nada no IMG ou na Protecção Civil? Continuarão a apostar, como noutros tempos, nalgum resquício de ignorância generalizada? Serão irresponsáveis ao ponto de julgar que tudo isto é ainda "fumo sem fogo"? É falta de meios? É falta de jeito? É o quê?

Avançar Portugal

Temos observado que a oposição ao Governo, ao mesmo tempo que critica o despesismo, parece apostada em fazer passar várias medidas - algumas de mérito duvidoso - conducentes ao aumento da despesa pública e ao agravamento do défice.

É notório o descontentamento do PM perante uma Assembleia que vagueia ao sabor das conveniências daquilo que se vem designando por "coligação negativa".

Contudo, creio que seria um erro tremendo, agora e sobretudo tão cedo, ceder perante uma suposta ingovernabilidade ou tentativas sucessivas de atascamento político (que têm efectivamente acontecido). Ao invés, o Governo e o PS devem fortalecer-se, em vez de cair na tentação de cederem. O eleitorado não perdoria nem a Sócrates nem ao PS (mais) um caso de desistência por suposta "ingovernabilidade".

O Governo deve apostar em continuar o seu rumo, tal como o apresentou ao país, não só para prosseguir com as reformas necessárias como para corrigir aquelas que foram menos bem desenhadas ou pior implementadas. Deve fazê-lo com a Assembleia, bastando que assuma uma posição de pragmatismo político, e uma postura de comunicação regular com os portugueses sobre o que vai acontecendo e porquê (sem que o faça pela comunicação em si...).

O que não pode acontecer - e que tem sido uma tendência recente - é o PS provocar o aborto da sua própria governação na conjuntura que o país enfrenta. Deve, ao contrário, viver e fazer pela vida do país, com determinação, flexibilidade e convicção.

Será isso que os portugueses irão avaliar: a boa fé, e os resultados, de (querer) fazer Portugal avançar.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Alerta!

Esta é a previsão de ventos da Intellicast para daqui a 12 horas (mapa de ventos a 12.000 metros de altitude; previsão até 29 de Dezembro às 12 horas; zona vermelha com velocidades de cerca de 270 Km/h).

Porque razão não ouvimos nenhum alerta especial do IMG? Pouco adaptada à "guerra climática, a política de alertas do IMG roça o ridículo - do tipo "é capaz de não ser nada" somado a "já passou"; peca claramente por moleza de costumes e, pior, por omissão de informação que permita acautelar melhor pessoas, bens.


Idem - ou quase - para a Protecção Civil (ANPC); estão em alerta "azul"... O IMG apresenta por seu turno algumas zonas do país com alerta "amarelo". Sem mais comentários...

Há 3 coisas que os deviam motivar a agir: a) péssimo tempo na Madeira (já foi), b) Previsões internacionais de ventos acima de 150 Km/h (que existem) e c) Descida de temperaturas a Noroeste (que já se registam).

"Cautela e caldo de galinha, nunca fizeram mal a ninguém"

Se quer estar informado, consulte http://www.intellicast.com/ e www.ssd.noaa.gov./PS/TROP/trop-atl.html .

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Manuela, a Pia


Sempre muito preocupada com os portugueses (yak!), a Senhora vem reiterar o seu argumento de sempre perante a hipótese de casamento dos homosexuais. Trata-se, segundo a própria em alusão indirecta, a mais um "ataque à família".

O mesmo argumento hipócrita foi utilizado antes e após a lei do aborto e aquando da nova lei do divórcio (aí com melhor fundamento, diga-se).

Mas que fez ela, ou alguns dos que como ela pensam, pela defesa da família? A que "famílias" abstractas se referem?

Cuidaram de assegurar direitos especiais para as mães grávidas de famílias sem recursos? Preocuparam-se em criar apoios sociais de relevo para as mães solteiras? Defenderam investimentos públicos de monta em creches e infantários, ou sequer uma política de alojamento familiar condigna para famílias carenciadas? Incentivaram os lares de idosos ou as institituições de acolhimento de idosos de famílias sem outros recursos? Criaram alguma vez uma linha de primeiros socorros a abortos que correram mal? Alguma vez perseguiram quem os promovia, na sombra, matando fetos e mães?
Que fizeram, do alto da sua tribuna? Da tribuna em que pensam existir para apenas perguntar e nunca responder?

"The reports of my death are greatly exagerated"

Apesar de ser notório o desejo geral de fim da crise - atentem aos títulos de certos jornais económicos na sua ânsia pelo aumento das taxas de juro - é bom que não se esqueçam de olhar às taxas de desemprego.

Para além disso, ainda há poucos dias o Governo Austríaco teve de salvar mais um banco.

Ears Wide Shut


Soubemos recentemente que o BCE não irá ajudar a Grécia a ultrapassar a crise nas suas finanças nacionais.

Que outra coisa se poderia esperar deste BCE?...

Portugal, que futuro?

Era bom que se entendessem sobre alguma coisa. A não ser assim, o despiste - dos dois - é absolutamente inevitável.

Nem Sócrates deve procurar o buraco da estrada que lhe permita escapulir-se da motoreta, nem Cavaco deve continuar a fingir ser bom condutor.

Acordai!

No sense of direction

Aparentemente, a Comissão Europeia avança... sem saber para onde. A Croácia e os representantes da UE realizaram recentemente mais uma "conferência de adesão", que prevê a entrada da Croácia na UE em 2012 (se nessa altura ainda existir UE...).

O mandato de Barroso tem sido pródigo em deitar mão a novos mercados (e até aí, tudo bem). O problema é que pouco ou nada tem sido feito em prol da união política que a UE precisa. A entrada em vigor - atribulada - do Tratado Europeu, uma espécie de constituição hiper-densa e mais ou menos impenetrável, parece ser a excepção que confirma a regra.

Porque ao nível fiscal, por exemplo, tudo continua (quase) na mesma. Tenho a sensação que a Comissão ainda se move como se estivéssemos em 2006 - construindo pontes sem cuidar de colocar os devidos pilares - mas estamos já quase em...2010.

Em vez de ser gerida como um bloco, a Europa é ainda um continente de capelinhas... que corre sérios riscos de esfrangalhamento a partir de dentro, com Barroso à cabeça.

Para onde emigrará ele nessa altura?

Tornados e Neve

Uma semana após a terra ter tremido, o país foi sacudido na madrugada de 23 de Dezembro por ventos entre os 140 Km/h e, nalguns pontos, os 200 Km/h (!!). Fenómeno invulgar - mas cada vez mais recorrente em Portugal - que causou desta vez milhões em prejuízos um pouco por todo o país, sobretudo na região Oeste e Centro.

Entre outras coisas foram derrubadas 22 torres de alta tensão da Rede Eléctrica Nacional que deixaram dezenas de milhares de pessoas sem electricidade durante mais de 24 horas.

Ao mesmo tempo, nevões sucessivos atingiram toda a região de Trás-os-Montes, isolando lugares e impedindo o tráfego rodoviário em várias vias principais durante horas.

Natal Chique

Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.

Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado...
Só esse pobre me pareceu Cristo.

Poema de Vitorino Nemésio

sábado, 19 de dezembro de 2009

Sismo, III

Mapa de atenuação da intensidade em função da distância ao epicentro (fonte USGS, a partir de dados recolhidos do sismo de 17 de Dezembro passado).

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Sismo, II

Sentido em todo o país e arredores.

Sismo, I

Já dormia quando fui sobressaltado pelo ruído das janelas a serem sacudidas e pela cama a vibrar e deslocar-se ligeiramente. Foi pela madrugada de hoje, à 1:37 da manhã. Não o senti durante muito tempo - talvez 3 ou 4 segundos - mas foi o suficiente para me levantar da cama.

A magnitude terá sido entre os 5,5 e os 6,9 na escala de Richter (USGS, INMG), mas à distância a que me encontrava do epicentro (330 Km) a magnitude sentida, atenuada da distância, terá sido cerca de 3,4. Um pouco assustador, mesmo assim.

Foi o sismo mais forte sentido em Portugal Continental desde 12-02-2007, e o primeiro que senti dentro de casa.

O site do US Geological Survey disponibiliza informação muito completa (na forma gráfica, pelo menos), ao contrário da disponibilizada pelo Instituto de Metereologia e Geofísica.

Na foto, o mapa de perigosidade sísmica apresentado pelo USGS.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A Gaiola da Loucas

Podia ser uma uma expressão alternativa para aquela que já pegou para descrever o PSD actual (o "saco de gatos"), mas é afinal o título do mais recente espectáculo de Filipe La Féria.

Ora se fosse uma rábula política da S. Caetano à Lapa aí sim, tinhamos arte pop da boa em estilo agent provocateur, topas Francisco?

P.S. - Fui recentemente supreendido - mas não muito - quando percebi que o conceito de PSD "à portuguesa" já se internacionalizara e que certo belo país Europeu possui um partido que também dá pelo nome de PSD, e também é dominado por uma espécie de aglomerado viscoso de oportunistas de interesses privados, na verdade ex-comunistas recém-engravatados e bem vestidos, muitos deles ligados ao extinto aparelho geopolítico da URSS; um bando com gente de poucos escrúpulos e muita falta de vergonha, grandes amigalhaços de oligarcas de nordeste e verdadeiros entreguistas. Felizmente, lá como cá, perderam as eleições.

Cores para um ditador de pretos e brancos


A ideia de Francisco Moita Ferreira e dos seus bustos coloridos de Salazar foi enfiada num conceito artístico agent provocateur à mistura com alegado estilo pop art, diz ele.

A coisa evoca o fenómeno dos santinhos de Fátima (que Deus me perdoe), e fico um bocado curioso em perceber que raio de clientes terá o Francisco - serão dos que frequentam a Moda Lisboa, a colecção Berardo, será malta das juntas de freguesia de Santa Comba, talvez nostálgicos da S. Caetano à Lapa, o Filipe La Féria, a Paula Bobone, quem?
Cada um é pimba como lhe apetece, e eu sou a favor da liberdade de expressão. A minha curiosidade tem a ver apenas e somente com o estudo de comportamentos de consumo.
O Francisco parece que disse ao "Público" que a coisa tem sido um corropio e que os bustos até fazem uma rica prenda de Natal - eu também acho que sim, e se fossem acendalhas, ainda era mais divertido...sempre dava para atear a lareira! Fica a sugestão.
atelierdofmf.blogspot.com

How big is "too big to fail"?


Há algumas evidências de que podemos aprender alguma coisa sobre assuntos mundanos com a natureza.
Os dinossauros tiveram a sua grande época e extinguiram-se, tal como os mamutes, os sabres e muitos outros animais de grande porte. A natureza parece querer dizer que "grande" não equivale sempre a "melhor". Na verdade "grande", no reino animal, tem sido frequentemente significado de enormes necessidades "energéticas", e isso não é bom porque tende a ser instável num mundo de fauna diversificada em que existe competição por recursos limitados.

Na Europa, três dos grandes bancos que não precisaram de dinheiro dos contribuintes para se aguentarem - segundo a Bloomberg - possuem hoje activos próprios de valor igual ou superior ao PIB dos países onde se situam as respectivas sedes (mesmo descontando o valor das carteiras de activos que entretanto desvalorizaram, esses bancos e muitos outros aproveitaram para ir às compras e crescer ainda mais).

Os casos mais destacados são o Barclays PLC, o Santander e o BNP Paribas.

Talvez seja bom saber que houve bancos que se aguentaram sozinhos perante a maior tormenta financeira das últimas décadas, mas imaginar todas as trocas económicas dum grande país europeu como a França a decorrer durante um ano a fio, e somá-las a todas para chegar à conclusão de que valem menos do que o conjunto de activos de uma única instituição bancária, é uma evidência que deveria suscitar algumas questões pertinentes (nomeadamente sobre quem governa quem e como, na realidade, ou se não estaremos a permitir a germinação das sementes de novos problemas económicos de ainda maior dimensão).

Ainda assim, uma larga maioria de "teólogos de mercado", não vê nisso nenhuma luz de alarme...É espantoso.

Das torres e dos camelos


Para uma parte do empresariado português e do meio político, o Dubai também era, ainda até há bem pouco tempo, um mercado exuberante e de fazer salivar, um expoente dos "milagres económicos" do grande capital. Tal como a Irlanda, e a Espanha...
Descoberta afinal a causa das coisas, desfaz-se o encanto e muda-se o discurso - esses grandes milagres económicos resultaram, tal como o primeiro deles todos (o milagre Alemão) quase inteiramente duma só coisa: construção até cair para o lado e...muitas dívidas.

Envoltos no tradicional misto de burrice pomposa, mania de "ter mundo" e abundante falta de curiosidade verdadeira, preferiram a forma e, em geral, o que ia de modas para formar opinião - não era infrequente ouvi-los desejar, planear ou contar histórias de visita a esse "maravilhoso" altar de mercado rodeado de camelos.
O mais intrigante nem é a falta atroz de percepção de existência de algo de profundamente esquisito no crescimento exuberante dum país como o Dubai; é que alguns deles são capazes de ser os mesmos que, cá em casa, gostariam de ver Sócrates crucificado por andar a sonhar com um túnel no Marão e pouco mais de 200 Km de vias ferroviárias de alta velocidade.
Se isso não é provincianismo, o que será?

Dubai: era uma vez +1 "milagre económico"

Era uma vez uma torre que ajudou a consumir um país, fundos de investimento e, quiçá, vizinhos próximos e outros nem por isso tão próximos.

Nas histórias de Astérix "os Romanos são loucos"... Mas... o que dizer destes Árabes, hum?
São... 818 metros de provável insanidade mental !
Como não podia deixar de ser a AICEP tem um centro no Dubai, ou melhor, um "Portuguese Trade Center". Sempre gostava de saber se aquilo que para lá vendemos dá para pagar a renda da coisa...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Uma Vida (texto de António Gomes Mota)


Texto de António Gomes Mota


"O Manuel era, aos 12 anos, meu colega no 3º ano do liceu, um bom companheiro e um bom aluno.Fez por estes dias 40 anos que o pai, escriturário numa empresa de transportes se suicidou. E o Manuel saiu da escola. O gesto do pai cortara qualquer hipótese de pensão à mãe, doméstica e, tendo apenas uma irmã mais nova, ele arcou com as despesas da casa. Empregou-se como ajudante numa mercearia, entregando cabazes volumosos das compras da clientela. Foi com o sorriso que me contou a novidade, já tinha salário e até lhe sobravam uns trocos para ir ao futebol.Dois anos depois conseguiu entrar para paquete de uma pequena empresa comercial. Teve um aumento de ordenado e um horário certo o que o levou a pensar voltar à escola, à noite, ideia que o 25 Abril num ápice matou, com a falência da empresa.Teve sorte e logo se empregou, com pior salário e horário mais duro, numa carpintaria. E, aos 16 anos, apaixonou-se pelas serras, pelo polimento e pelo verniz. Sentia que nascera para aquilo. E ali ficou 10 anos, no fim dos quais já era o braço direito do patrão, até que este aceitou uma proposta de compra da carpintaria. O Manuel depressa percebeu que o preço passara a comandar tudo e o seu saber deixara de contar. Saiu. Entretanto, a irmã licenciara-se em História, iniciando-se como professora de liceu, o Manuel casou-se e a mãe ficou a viver com ele.Na década seguinte, teve vários empregos, dois filhos, recuperou o sonho de voltar à escola e completou, já na linguagem de hoje, o 9º ano. Há 10 anos ingressou na secção de armazém de uma multinacional, onde ainda está hoje. Foi progredindo até chefe de secção e mudou-se para uma pequena vivenda, para lá de Loures, onde foi construindo na garagem, a troco de prescindir de ter carro, pelo espaço e pelo dinheiro, a sua carpintaria.Hoje tem como maior aspiração chegar ao dia em que, reformado com pensão completa, passe todos os dias na sua carpintaria, à volta dos móveis, o que já faz nas horas vagas trabalhando para os amigos, incapaz de cobrar preços decentes, mas sentindo-se feliz sempre que entra na garagem.Há 40 anos que desconta para a Segurança Social e terá de continuar a trabalhar para ter a reforma completa e assegurar que os filhos terminem os estudos.O Manuel foi solidário com a família, quando mais ninguém o foi, ofereceu sem uma queixa, o final da sua infância, a adolescência e juventude. Seria justo que pudesse em breve ter o tempo para realizar um sonho tão simples, o de entrar todos os dias, com um sorriso aberto, na sua garagem.Terá que esperar, porque na parte final da sua vida tem de ser outra vez solidário, trabalhar e descontar mais tempo, para outros viverem melhor. Há leis e reformas que, sendo necessárias, deveriam respeitar nas entrelinhas a vida de pessoas como o Manuel."

(Im)paridades noutros tempos