segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Serôdios e Seráficos

Se a probabilidade de Portugal ser atingido por tempestades tropicais de efeitos devastadores tem aumentado nos últimos anos, como parece ser o caso, porque razão não existe no IMG ou na Protecção Civil um acompanhamento online permanente dedicado a esse tipo de fenómenos, que disponibilize informação rigorosa e atempada ao público?
É normal que levemos com duas tempestades tropicais em cima no espaço de 15 dias? É normal que tenhamos de suportar - quase sempre sem aviso prévio digno desse nome - ventos de 150 ou 200Km/h entre Outubro e Abril, com regularidade anual desde há pelo menos 3 ou 4 anos?
Está-se bem e não é preciso mudar nada no IMG ou na Protecção Civil? Continuarão a apostar, como noutros tempos, nalgum resquício de ignorância generalizada? Serão irresponsáveis ao ponto de julgar que tudo isto é ainda "fumo sem fogo"? É falta de meios? É falta de jeito? É o quê?

Avançar Portugal

Temos observado que a oposição ao Governo, ao mesmo tempo que critica o despesismo, parece apostada em fazer passar várias medidas - algumas de mérito duvidoso - conducentes ao aumento da despesa pública e ao agravamento do défice.

É notório o descontentamento do PM perante uma Assembleia que vagueia ao sabor das conveniências daquilo que se vem designando por "coligação negativa".

Contudo, creio que seria um erro tremendo, agora e sobretudo tão cedo, ceder perante uma suposta ingovernabilidade ou tentativas sucessivas de atascamento político (que têm efectivamente acontecido). Ao invés, o Governo e o PS devem fortalecer-se, em vez de cair na tentação de cederem. O eleitorado não perdoria nem a Sócrates nem ao PS (mais) um caso de desistência por suposta "ingovernabilidade".

O Governo deve apostar em continuar o seu rumo, tal como o apresentou ao país, não só para prosseguir com as reformas necessárias como para corrigir aquelas que foram menos bem desenhadas ou pior implementadas. Deve fazê-lo com a Assembleia, bastando que assuma uma posição de pragmatismo político, e uma postura de comunicação regular com os portugueses sobre o que vai acontecendo e porquê (sem que o faça pela comunicação em si...).

O que não pode acontecer - e que tem sido uma tendência recente - é o PS provocar o aborto da sua própria governação na conjuntura que o país enfrenta. Deve, ao contrário, viver e fazer pela vida do país, com determinação, flexibilidade e convicção.

Será isso que os portugueses irão avaliar: a boa fé, e os resultados, de (querer) fazer Portugal avançar.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Alerta!

Esta é a previsão de ventos da Intellicast para daqui a 12 horas (mapa de ventos a 12.000 metros de altitude; previsão até 29 de Dezembro às 12 horas; zona vermelha com velocidades de cerca de 270 Km/h).

Porque razão não ouvimos nenhum alerta especial do IMG? Pouco adaptada à "guerra climática, a política de alertas do IMG roça o ridículo - do tipo "é capaz de não ser nada" somado a "já passou"; peca claramente por moleza de costumes e, pior, por omissão de informação que permita acautelar melhor pessoas, bens.


Idem - ou quase - para a Protecção Civil (ANPC); estão em alerta "azul"... O IMG apresenta por seu turno algumas zonas do país com alerta "amarelo". Sem mais comentários...

Há 3 coisas que os deviam motivar a agir: a) péssimo tempo na Madeira (já foi), b) Previsões internacionais de ventos acima de 150 Km/h (que existem) e c) Descida de temperaturas a Noroeste (que já se registam).

"Cautela e caldo de galinha, nunca fizeram mal a ninguém"

Se quer estar informado, consulte http://www.intellicast.com/ e www.ssd.noaa.gov./PS/TROP/trop-atl.html .

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Manuela, a Pia


Sempre muito preocupada com os portugueses (yak!), a Senhora vem reiterar o seu argumento de sempre perante a hipótese de casamento dos homosexuais. Trata-se, segundo a própria em alusão indirecta, a mais um "ataque à família".

O mesmo argumento hipócrita foi utilizado antes e após a lei do aborto e aquando da nova lei do divórcio (aí com melhor fundamento, diga-se).

Mas que fez ela, ou alguns dos que como ela pensam, pela defesa da família? A que "famílias" abstractas se referem?

Cuidaram de assegurar direitos especiais para as mães grávidas de famílias sem recursos? Preocuparam-se em criar apoios sociais de relevo para as mães solteiras? Defenderam investimentos públicos de monta em creches e infantários, ou sequer uma política de alojamento familiar condigna para famílias carenciadas? Incentivaram os lares de idosos ou as institituições de acolhimento de idosos de famílias sem outros recursos? Criaram alguma vez uma linha de primeiros socorros a abortos que correram mal? Alguma vez perseguiram quem os promovia, na sombra, matando fetos e mães?
Que fizeram, do alto da sua tribuna? Da tribuna em que pensam existir para apenas perguntar e nunca responder?

"The reports of my death are greatly exagerated"

Apesar de ser notório o desejo geral de fim da crise - atentem aos títulos de certos jornais económicos na sua ânsia pelo aumento das taxas de juro - é bom que não se esqueçam de olhar às taxas de desemprego.

Para além disso, ainda há poucos dias o Governo Austríaco teve de salvar mais um banco.

Ears Wide Shut


Soubemos recentemente que o BCE não irá ajudar a Grécia a ultrapassar a crise nas suas finanças nacionais.

Que outra coisa se poderia esperar deste BCE?...

Portugal, que futuro?

Era bom que se entendessem sobre alguma coisa. A não ser assim, o despiste - dos dois - é absolutamente inevitável.

Nem Sócrates deve procurar o buraco da estrada que lhe permita escapulir-se da motoreta, nem Cavaco deve continuar a fingir ser bom condutor.

Acordai!

No sense of direction

Aparentemente, a Comissão Europeia avança... sem saber para onde. A Croácia e os representantes da UE realizaram recentemente mais uma "conferência de adesão", que prevê a entrada da Croácia na UE em 2012 (se nessa altura ainda existir UE...).

O mandato de Barroso tem sido pródigo em deitar mão a novos mercados (e até aí, tudo bem). O problema é que pouco ou nada tem sido feito em prol da união política que a UE precisa. A entrada em vigor - atribulada - do Tratado Europeu, uma espécie de constituição hiper-densa e mais ou menos impenetrável, parece ser a excepção que confirma a regra.

Porque ao nível fiscal, por exemplo, tudo continua (quase) na mesma. Tenho a sensação que a Comissão ainda se move como se estivéssemos em 2006 - construindo pontes sem cuidar de colocar os devidos pilares - mas estamos já quase em...2010.

Em vez de ser gerida como um bloco, a Europa é ainda um continente de capelinhas... que corre sérios riscos de esfrangalhamento a partir de dentro, com Barroso à cabeça.

Para onde emigrará ele nessa altura?

Tornados e Neve

Uma semana após a terra ter tremido, o país foi sacudido na madrugada de 23 de Dezembro por ventos entre os 140 Km/h e, nalguns pontos, os 200 Km/h (!!). Fenómeno invulgar - mas cada vez mais recorrente em Portugal - que causou desta vez milhões em prejuízos um pouco por todo o país, sobretudo na região Oeste e Centro.

Entre outras coisas foram derrubadas 22 torres de alta tensão da Rede Eléctrica Nacional que deixaram dezenas de milhares de pessoas sem electricidade durante mais de 24 horas.

Ao mesmo tempo, nevões sucessivos atingiram toda a região de Trás-os-Montes, isolando lugares e impedindo o tráfego rodoviário em várias vias principais durante horas.

Natal Chique

Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.

Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado...
Só esse pobre me pareceu Cristo.

Poema de Vitorino Nemésio

sábado, 19 de dezembro de 2009

Sismo, III

Mapa de atenuação da intensidade em função da distância ao epicentro (fonte USGS, a partir de dados recolhidos do sismo de 17 de Dezembro passado).

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Sismo, II

Sentido em todo o país e arredores.

Sismo, I

Já dormia quando fui sobressaltado pelo ruído das janelas a serem sacudidas e pela cama a vibrar e deslocar-se ligeiramente. Foi pela madrugada de hoje, à 1:37 da manhã. Não o senti durante muito tempo - talvez 3 ou 4 segundos - mas foi o suficiente para me levantar da cama.

A magnitude terá sido entre os 5,5 e os 6,9 na escala de Richter (USGS, INMG), mas à distância a que me encontrava do epicentro (330 Km) a magnitude sentida, atenuada da distância, terá sido cerca de 3,4. Um pouco assustador, mesmo assim.

Foi o sismo mais forte sentido em Portugal Continental desde 12-02-2007, e o primeiro que senti dentro de casa.

O site do US Geological Survey disponibiliza informação muito completa (na forma gráfica, pelo menos), ao contrário da disponibilizada pelo Instituto de Metereologia e Geofísica.

Na foto, o mapa de perigosidade sísmica apresentado pelo USGS.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A Gaiola da Loucas

Podia ser uma uma expressão alternativa para aquela que já pegou para descrever o PSD actual (o "saco de gatos"), mas é afinal o título do mais recente espectáculo de Filipe La Féria.

Ora se fosse uma rábula política da S. Caetano à Lapa aí sim, tinhamos arte pop da boa em estilo agent provocateur, topas Francisco?

P.S. - Fui recentemente supreendido - mas não muito - quando percebi que o conceito de PSD "à portuguesa" já se internacionalizara e que certo belo país Europeu possui um partido que também dá pelo nome de PSD, e também é dominado por uma espécie de aglomerado viscoso de oportunistas de interesses privados, na verdade ex-comunistas recém-engravatados e bem vestidos, muitos deles ligados ao extinto aparelho geopolítico da URSS; um bando com gente de poucos escrúpulos e muita falta de vergonha, grandes amigalhaços de oligarcas de nordeste e verdadeiros entreguistas. Felizmente, lá como cá, perderam as eleições.

Cores para um ditador de pretos e brancos


A ideia de Francisco Moita Ferreira e dos seus bustos coloridos de Salazar foi enfiada num conceito artístico agent provocateur à mistura com alegado estilo pop art, diz ele.

A coisa evoca o fenómeno dos santinhos de Fátima (que Deus me perdoe), e fico um bocado curioso em perceber que raio de clientes terá o Francisco - serão dos que frequentam a Moda Lisboa, a colecção Berardo, será malta das juntas de freguesia de Santa Comba, talvez nostálgicos da S. Caetano à Lapa, o Filipe La Féria, a Paula Bobone, quem?
Cada um é pimba como lhe apetece, e eu sou a favor da liberdade de expressão. A minha curiosidade tem a ver apenas e somente com o estudo de comportamentos de consumo.
O Francisco parece que disse ao "Público" que a coisa tem sido um corropio e que os bustos até fazem uma rica prenda de Natal - eu também acho que sim, e se fossem acendalhas, ainda era mais divertido...sempre dava para atear a lareira! Fica a sugestão.
atelierdofmf.blogspot.com

How big is "too big to fail"?


Há algumas evidências de que podemos aprender alguma coisa sobre assuntos mundanos com a natureza.
Os dinossauros tiveram a sua grande época e extinguiram-se, tal como os mamutes, os sabres e muitos outros animais de grande porte. A natureza parece querer dizer que "grande" não equivale sempre a "melhor". Na verdade "grande", no reino animal, tem sido frequentemente significado de enormes necessidades "energéticas", e isso não é bom porque tende a ser instável num mundo de fauna diversificada em que existe competição por recursos limitados.

Na Europa, três dos grandes bancos que não precisaram de dinheiro dos contribuintes para se aguentarem - segundo a Bloomberg - possuem hoje activos próprios de valor igual ou superior ao PIB dos países onde se situam as respectivas sedes (mesmo descontando o valor das carteiras de activos que entretanto desvalorizaram, esses bancos e muitos outros aproveitaram para ir às compras e crescer ainda mais).

Os casos mais destacados são o Barclays PLC, o Santander e o BNP Paribas.

Talvez seja bom saber que houve bancos que se aguentaram sozinhos perante a maior tormenta financeira das últimas décadas, mas imaginar todas as trocas económicas dum grande país europeu como a França a decorrer durante um ano a fio, e somá-las a todas para chegar à conclusão de que valem menos do que o conjunto de activos de uma única instituição bancária, é uma evidência que deveria suscitar algumas questões pertinentes (nomeadamente sobre quem governa quem e como, na realidade, ou se não estaremos a permitir a germinação das sementes de novos problemas económicos de ainda maior dimensão).

Ainda assim, uma larga maioria de "teólogos de mercado", não vê nisso nenhuma luz de alarme...É espantoso.

Das torres e dos camelos


Para uma parte do empresariado português e do meio político, o Dubai também era, ainda até há bem pouco tempo, um mercado exuberante e de fazer salivar, um expoente dos "milagres económicos" do grande capital. Tal como a Irlanda, e a Espanha...
Descoberta afinal a causa das coisas, desfaz-se o encanto e muda-se o discurso - esses grandes milagres económicos resultaram, tal como o primeiro deles todos (o milagre Alemão) quase inteiramente duma só coisa: construção até cair para o lado e...muitas dívidas.

Envoltos no tradicional misto de burrice pomposa, mania de "ter mundo" e abundante falta de curiosidade verdadeira, preferiram a forma e, em geral, o que ia de modas para formar opinião - não era infrequente ouvi-los desejar, planear ou contar histórias de visita a esse "maravilhoso" altar de mercado rodeado de camelos.
O mais intrigante nem é a falta atroz de percepção de existência de algo de profundamente esquisito no crescimento exuberante dum país como o Dubai; é que alguns deles são capazes de ser os mesmos que, cá em casa, gostariam de ver Sócrates crucificado por andar a sonhar com um túnel no Marão e pouco mais de 200 Km de vias ferroviárias de alta velocidade.
Se isso não é provincianismo, o que será?

Dubai: era uma vez +1 "milagre económico"

Era uma vez uma torre que ajudou a consumir um país, fundos de investimento e, quiçá, vizinhos próximos e outros nem por isso tão próximos.

Nas histórias de Astérix "os Romanos são loucos"... Mas... o que dizer destes Árabes, hum?
São... 818 metros de provável insanidade mental !
Como não podia deixar de ser a AICEP tem um centro no Dubai, ou melhor, um "Portuguese Trade Center". Sempre gostava de saber se aquilo que para lá vendemos dá para pagar a renda da coisa...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Uma Vida (texto de António Gomes Mota)


Texto de António Gomes Mota


"O Manuel era, aos 12 anos, meu colega no 3º ano do liceu, um bom companheiro e um bom aluno.Fez por estes dias 40 anos que o pai, escriturário numa empresa de transportes se suicidou. E o Manuel saiu da escola. O gesto do pai cortara qualquer hipótese de pensão à mãe, doméstica e, tendo apenas uma irmã mais nova, ele arcou com as despesas da casa. Empregou-se como ajudante numa mercearia, entregando cabazes volumosos das compras da clientela. Foi com o sorriso que me contou a novidade, já tinha salário e até lhe sobravam uns trocos para ir ao futebol.Dois anos depois conseguiu entrar para paquete de uma pequena empresa comercial. Teve um aumento de ordenado e um horário certo o que o levou a pensar voltar à escola, à noite, ideia que o 25 Abril num ápice matou, com a falência da empresa.Teve sorte e logo se empregou, com pior salário e horário mais duro, numa carpintaria. E, aos 16 anos, apaixonou-se pelas serras, pelo polimento e pelo verniz. Sentia que nascera para aquilo. E ali ficou 10 anos, no fim dos quais já era o braço direito do patrão, até que este aceitou uma proposta de compra da carpintaria. O Manuel depressa percebeu que o preço passara a comandar tudo e o seu saber deixara de contar. Saiu. Entretanto, a irmã licenciara-se em História, iniciando-se como professora de liceu, o Manuel casou-se e a mãe ficou a viver com ele.Na década seguinte, teve vários empregos, dois filhos, recuperou o sonho de voltar à escola e completou, já na linguagem de hoje, o 9º ano. Há 10 anos ingressou na secção de armazém de uma multinacional, onde ainda está hoje. Foi progredindo até chefe de secção e mudou-se para uma pequena vivenda, para lá de Loures, onde foi construindo na garagem, a troco de prescindir de ter carro, pelo espaço e pelo dinheiro, a sua carpintaria.Hoje tem como maior aspiração chegar ao dia em que, reformado com pensão completa, passe todos os dias na sua carpintaria, à volta dos móveis, o que já faz nas horas vagas trabalhando para os amigos, incapaz de cobrar preços decentes, mas sentindo-se feliz sempre que entra na garagem.Há 40 anos que desconta para a Segurança Social e terá de continuar a trabalhar para ter a reforma completa e assegurar que os filhos terminem os estudos.O Manuel foi solidário com a família, quando mais ninguém o foi, ofereceu sem uma queixa, o final da sua infância, a adolescência e juventude. Seria justo que pudesse em breve ter o tempo para realizar um sonho tão simples, o de entrar todos os dias, com um sorriso aberto, na sua garagem.Terá que esperar, porque na parte final da sua vida tem de ser outra vez solidário, trabalhar e descontar mais tempo, para outros viverem melhor. Há leis e reformas que, sendo necessárias, deveriam respeitar nas entrelinhas a vida de pessoas como o Manuel."

(Im)paridades noutros tempos


terça-feira, 24 de novembro de 2009

Cogumelos Venenosos



São bonitos, não muito caros, e prometem saber bem... o problema é que é por vezes quase impossível distingi-los dos outros, daqueles que matam devagarinho (ou nem por isso...).

Sobre outras intoxicações de alto nível o comunicado abaixo é muito esclarecedor.

"O Conselho Superior de Magistratura informa [de] que o juiz de instrução criminal de Aveiro António Costa Gomes comunicou que é falsa a notícia veiculada pela comunicação social no passado fim de semana, segundo a qual aquele juiz se teria recusado a cumprir a decisão do presidente do Supremo Tribunal de Justiça no âmbito do chamado processo Face Oculta", disse hoje aos jornalistas o vice-presidente do Conselho Superior da Magistratura (CSM), Ferreira Girão."~

Eu também não acredito nelas, pero que las hay...

Da Verdadeira Insustentabilidade


Um indicador utilizado para aferir do risco de incumprimento de países soberanos (o vulgar risco de "bancarrota"), é a medição do preço-aposta dos CDS (Credit Default Swaps), emitidos pelas entidades credoras para segurar o risco dos empréstimos que fazem aos estados nacionais.

Quanto mais cara uma unidade de seguro sobre 10.000 $USD (a unidade e moeda empregue acima), mais provável o risco de incumprimento.

Da tabela podem imediatamente retirar-se algumas conclusões:
  • Os dois países com maior risco de incumprimento são a Venezuela (em 2º lugar) e a Argentina (em 1º lugar); o caso da Argentina deveria fazer pensar todos aqueles que defendem a hipótese de saída de Portugal do Euro como uma espécie de "ovo de Colombo"
  • Há apenas dois países cujo risco desceu este ano: o Líbano e a Argentina (este último ainda em estado crítico, mas menos mal do que há um ano atrás)
  • O risco de incumprimento subiu, em maior ou menor medida, para todos os outros países analisados, entre Julho de 2008 e Julho de 2009
  • A Alemanha permanece com a dívida mais segura do mundo
  • Dos países da UE com mais risco do que Portugal, salientam-se a Espanha, a Áustria, a Eslováquia, a Itália, a Irlanda, a Polónia, a Grécia, e a Bulgária (8 países)

Pode imediatamente apreciar-se também que - e não é um consolo - o problema da eventual insustentabilidade das finanças públicas, ou melhor, o risco de incumprimento do estado português, está longe de ser um exclusivo na Europa.

Na verdade - e sobretudo para os que respeitam o mercado - a tabela emite uma mensagem muito clara: as finanças dos estados soberanos do mundo estão, por assim dizer, todas "lixadas".

E sabendo que a economia mundial tem - à excepção dos últimos anos - vindo a crescer durante décadas, arrisco 3 causas, combinadas em maior ou menor grau consoante o país:

1º) A falta de regulação sobre os mercados financeiros que tem permitido desnatar - pelos sistemas financeiros em primeiro lugar e pelas grandes corporações "não-financeiras", por outro - as economias nacionais e os sistemas de gestão do colectivo, os próprios estados. Numa palavra: neoliberalismo.

2º) Más decisões e escolhas políticas, falta de vontade ou visão política, desperdícios de natureza variada nas máquinas estatais, e desequilíbrios fiscais profundos, intra e entre nações.

3º) A falta de coordenação internacional na antecipação e combate ao problema - muito por culpa dos "teólogos de mercado" a la Greenspan, mas também da diversidade ainda grande de blocos económicos em competição profunda.

Em suma:

  • As finanças públicas mundiais estão agora num estado lastimável em quase todos os países do mundo, sem grandes excepções.
  • Em muitos países o "lado fácil da colecta" está no limite (a taxação excessiva directa e indirecta dos contribuintes efectivos, saíndo como grandes prejudicados as classes médias, os pequenos e médios empresários e os novos empresários)
  • O bolo que resta por colectar e que podia - e deveria - equilibrar os países e aliviar a pressão sobre o "lado fácil da colecta" requer grandes reformas políticas e de regulação, que ainda quase não tiveram lugar (as grandes fortunas pessoais e colectivas que fogem ao controlo de todos os estados, os off-shore, as lavagens de dinheiro que nunca foram combatidas a sério, e por aí fora - quase tudo resultado da excessiva liberdade na circulação de capitais).

Hoje, grandes interesses económicos demasiado poderosos e demasiado ocultos, bem como legiões de faltosos, criminosos, terroristas profissionais e outros "artistas", representam uma séria ameaça à soberania e liberdade política de muitas nações (noutros tantos casos a ameaça reside no próprio seio dos governos); esta ameaça não se limita ao mero poderio económico que compra ocasionalmente este ou aquele, mas que infiltra profundamente - ou já infiltrou - as instituições das democracias e a sua opinião pública.

A ameaça é credível e séria: é difusa, está oculta em grande parte, acumulou demasiado poder, e é atravessada por um interesses ultra-egoístas e sem escrúpulos: acumular mais dinheiro, comprar mais pessoas, mais opiniões, mais negócios e mais governos (sem que seja preciso, em muitos casos, recorrer à ilegalidade).

É verdade que a democracia associada ao mercado tem sido uma fonte de prosperidade social.

Mas só assim poderá continuar a ser, se à palavra mercado, se acrescentar o termo "regulado" (regulação eficaz, eficiente e fiscalizada, e não burocracia avulso de interesse encapotado).

Fora desse ponto de equilíbrio político-económico, percebe-se - exemplos no mundo não faltam - que o capitalismo desregrado e selvagem é compatível com qualquer sistema político, com excepção do comunismo (e mesmo nesse caso, temos a China).

O poder económico excessivo e o poder político entretanto já corrompido por esse pode ser a mais formidável ameaça à liberdade individual que paira sobre os povos de nações ainda tidas por "livres", ou "democráticas".

Estamos a entrar num momento de clarificações, de oportunidade para a mudança e, não obstante, num momento de perigo máximo.

Deste panorama, e após mais ou menos conflitos, tanto podem resultar mantas de retalhos de democracias "musculadas", e mais ditaduras, sempre e quando não exista o cuidado da liderança e de união contra uma ameaça global; ou um mundo um pouco melhor se se regular bem e a tempo; se se lutar contra a corrupção de interesses fora e dentro das máquinas públicas; se pelo menos os povos mais poderosos, mais interessados num certo ideal de civilização, estiverem ainda dispostos a recorrer ao "uso da força" para fazer valer as suas boas leis e expulsar ou derrotar a "má moeda" do seu seio.

Se se escolher ignorar a trajectória que leva a ameaça para se apostar em detê-la a tempo; se não emergirem líderes suficientemente corajosos; se os interesses económicos de poucos se tornarem tão poderosos que minem os interesses da maioria; então desembocaremos talvez numa nova era de trevas.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Mais impostos? Hum...

Tenho muito apreço pessoal e profissional pelo Doutor Vítor Constâncio. Mas até ele deve saber que aquilo que alvitrou - que vai ser necessário aumentar impostos, outra vez, para equilibrar contas - não pode ser já dito apenas com essa fórmula simples - de que aí vem trovoada para todos - em jeito de panaceia geral para resolver os males portugueses dos últimos 20 anos.

Não há mais margem, nem política nem real, para que a classe média pague mais impostos em Portugal.

Taxem os bancos, os off-shore, as mais valias mobiliárias, os (muito) ricos. Desta vez cabe muito ao Estado - e a todos os que mais têm subtraído liquidez à nossa economia - reduzirem desperdícios e fugas à contribuição para a sociedade em que também vivem.

Por um lado, cortar na despesa com a Administração Pública (partes dela; porque outras precisam de reforços) e, por outro lado, chamar à pedra quem se tem sempre furtado a contribuir da forma justa e proporcional. Eis o que é preciso: determinação e parcimónia, e desta vez a sério.

O que ao povo se pediu, ele já contribuiu; É preciso que se tenha a noção do que é excessivo e do que é absurdo. A falta de bom senso neste domínio pode levar à mais completa ruptura social ainda antes da efectiva, e eventual, ruptura financeira do país.

sábado, 21 de novembro de 2009

Caça Vampiros

São quatro simples conselhos de João Bernardo Soares, da Bain & Company (abaixo, in Jornal de Negócios). É preciso que se fale muito disto - do que podemos e devemos fazer para melhorar as empresas - em vez de escutar os lamentos cada vez mais parolos do coro do costume, os Bentos, Borges, Fraquinhos... hum, Frasquilhos, e Carreiras.

"1. Ofereça proactivamente a sua perspectiva ponderada do que seria necessário para a sua organização duplicar de tamanho. Arrojado? Não está no manual de funções? Paciência. Estamos cada vez mais pequenos em termos relativos: a forma de sair é crescer, apoiar as "grandes" empresas Portuguesas a serem grandes empresas europeias ou mundiais e as famigeradas nano-mini-micro-pequenas-e-médias empresas a saírem desta toponímia. Com certeza que algumas - muitas - ficarão pelo caminho, mas na base das ideias fundamentadas dos gestores estará a génese do crescimento futuro. É útil seguir uma linha de raciocínio de: "O que é que sabemos fazer bem? (ou seja, qual é o nosso core business?); "Como obter o máximo rendimento desse core business"?; "Que negócios adjacentes devemos explorar?"; "Em Portugal ou noutros sítios?".
2. Vá falar com os seus clientes. Pergunte-lhes se recomendariam a sua empresa, e pergunte-lhes porquê. Pergunte-lhes o que é que poderia fazer para que a sua experiência melhore, e tente aprofundar as verdadeiras razões das respostas (para além do politicamente correcto, que tantas vezes enviesa a procura de mercado primária e as sondagens eleitorais). Essa é a essência de "A Pergunta Definitiva", que documenta de forma científica a melhor forma de compreender os seus clientes e, consequentemente, crescer de forma orgânica.
3. Ajude a "limpar" a complexidade na sua organização. Saber quem faz o quê ajuda a fazer as coisas acontecer e a tornar a vida mais fácil a quem trabalha consigo. A "Harvard Business Review" publicou há uns anos um artigo chamado "Quem tem o "D"?", que apresenta uma metodologia à prova de bala desenvolvida pela Bain, identificando claramente para cada processo-chave da organização: quem tem a responsabilidade pela decisão (o "D"), quem tem que fazer a recomendação sobre a qual se toma a decisão (o "R"), quem tem que dar o seu acordo - ou, inversamente, quem pode vetar - (o "A"), quem tem que ser ouvido para dar o seu input (o "I") e quem tem que executar (o "P" de "perform"). A metodologia foi baptizada como "RAPID". Nos casos em que foi implementada, a simplificação e eficácia da tomada de decisão cresceram exponencialmente.
4. Reconheça e premeie o mérito na sua equipa. Costuma ler-se que "em Portugal a culpa morre solteira" (expressão notável). Ora, o reverso da medalha também é verdadeiro - existe a tendência para não destacar ninguém, para não ferir susceptibilidades (recorde-se o exemplo recente da avaliação dos funcionários públicos, em que todos eram bons e muito bons). Por essa razão, e porventura outras, não se sabe quem inventou a "Via Verde" ou o "Multibanco" como o conhecemos: temos muito orgulho destas inovações, mas o mérito também parece morrer solteiro. Este reconhecimento passa por começar a ponderar sistemas de incentivos, tangíveis e intangíveis, que se liguem às variáveis de negócio e que permitam conhecer e premiar os bons desempenhos."

A essência do mal


Marcus Tullius Cicero:
"A forma mais perversa da corrupção é a demagogia. É impossível corromper com dinheiro um homem honrado, mas é possível corrompê-lo com a oratória."

J.C. Trichet & Folies Bergère



Os relatos da época afirmam que o Primeiro Oficial do RMS Titanic, que ouviu e viu a massa de gelo na direcção do navio, ordenou ao timoneiro Robert Hitchens "tudo a estibordo", e à casa de máquinas, "máquinas a ré toda a força". O navio, o maior e mais pesado do seu tempo, terá embatido de raspão, ao longo de dezenas de metros, no gelo. Os rombos causados afectaram 5 compartimentos estanques, mais 1 do que havia sido projectado para poder conter uma grande inundação. Em consequência, o navio afundou. Tivesse a decisão sido a de embate frontal, e possivelmente o navio não teria afundado. O Primeiro Oficial aplicara o que sempre conhecera do comportamento de outros navios, mas o RMS Titanic era um pouco maior.

Por seu turno, Trichet continua demasiado preocupado com "pressões inflaccionárias", normais em estados correntes da economia (acima da armadilha de liquidez), mas de efeitos praticamente nulos para os próximos anos:

“Qualquer medida, não convencional, cujo prolongamento ameace a manutenção da estabilidade dos preços, tem de ser descontinuada inequivocamente”, disse Trichet esta semana em Frankfurt.

Trichet disse-o para justificar a retirada de liquidez do mercado, aludindo aos "perigos de inflação".

Uma peça do contraditório pode ser vista aqui:

http://krugman.blogs.nytimes.com/2009/11/16/the-madness-of-the-inflation-hawks/

Europa: isto começa mal

Com que autoridade se escolhe para Presidente Europeu um quase desconhecido que, não obstante poder ter tido um papel conciliatório positivo na multicéfala Bélgica, parece desprovido do espírito dos primeiros estadistas que deram início ao projecto Europeu?

"Herman Van Rompuy born Herman Achille Van Rompuy, 31 October 1947 in Etterbeek) is a Belgian Flemish politician and member of the Christen-Democratisch en Vlaams. He has been the Prime Minister of Belgium since 30 December 2008 succeeding Yves Leterme.

On 19 November 2009, under the new Treaty of Lisbon, he was designated the first permanent President of the European Council, a position he takes up on 1 December 2009."

(...) A trained economist, Van Rompuy worked at the Belgian central bank from 1972 to 1975 before going into politics, where he had "A trained economist, Van Rompuy worked at the Belgian central bank from 1972 to 1975 before going into politics, where he had stints in government in the 1980s and 1990s. As budget minister, he helped drive down Belgium’s debt from a peak of 135 percent of gross domestic product in 1993. It fell to below 100 percent of GDP in 2003." in government in the 1980s and 1990s. As budget minister, he helped drive down Belgium’s debt from a peak of 135 percent of gross domestic product in 1993. It fell to below 100 percent of GDP in 2003."

O homem toma posse a 1 de Dezembro, i.e. depois de apenas um ano de serviço cumprido como PM Belga.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ainda as escutas: a dúvida, duma perspectiva jurídica


"(...) Uma outra e complementar evidência soa assim: as escutas podem configurar, no contexto do processo para o qual foram autorizadas e levadas a cabo, um decisivo e insuprível meio de prova. E só por isso é que elas foram tempestivamente autorizadas e realizadas. Mas elas podem também configurar um poderoso e definitivo meio de defesa. Por isso é que, sem prejuízo de algumas situações aqui negligenciáveis, a lei impõe a sua conservação até ao trânsito em julgado. Nesta precisa medida e neste preciso campo, o domínio sobre as escutas pertence, por inteiro e em exclusivo, ao juiz de instrução do localizado processo de origem. Que, naturalmente, continua a correr os seus termos algures numa qualquer Pasárgada, mais ou menos distante de Lisboa. Um domínio que não é minimamente posto em causa pelas vicissitudes que, em Lisboa, venham a ocorrer ao nível de processos, instaurados ou não, aos titulares da soberania. Não se imagina - horribile dictum - ver as autoridades superiores da organização judiciária a decretar a destruição de meios de prova que podem ser essenciais para a descoberta da verdade. Pior ainda se a destruição tiver também o efeito perverso de privar a defesa de decisivos meios de defesa. Por ser assim, uma vez recebidas as certidões ou cópias, falece àquelas superiores autoridades judiciárias, e nomeadamente ao presidente do STJ, legitimidade e competência para questionar a validade de escutas que, a seu tempo, foram validamente concebidas, geradas e dadas à luz. Não podem decretar retrospectivamente a sua nulidade. O que lhes cabe é tão-só sindicar se elas sustentam ou reforçam a consistência da suspeita de um eventual crime do catálogo imputável a um titular de órgão de soberania. E, nesse sentido e para esse efeito, questionar o seu âmbito de valoração ou utilização legítimas. E agir em conformidade. 0 que não podem é decretar a nulidade das escutas: porque nem as escutas são nulas, nem eles são taumaturgos. O que, no limite e em definitivo, não podem é tomar decisões (sobre as escutas) que projectem os seus efeitos sobre o processo originário, sediado, por hipótese, em Pasárgada, e sobre o qual não detêm competência. (...)"


Manuel da Costa Andrade, Professor de Direito Penal na Universidade de Coimbra

Cão de Sócrates sob vigilância


"Primeiro foi a família. Agora, são os amigos. Falta, evidentemente, o cão. Parece óbvio que vai ser o bicho a protagonizar o próximo escândalo. Se Sócrates tem um cão, sugiro que o submeta a vigilância apertada. Parece óbvio que vai ser o bicho a protagonizar o próximo escândalo. Ninguém sabe se fez um desfalque nas latas de ração, se alçou a pata para uma árvore protegida, se foi visto a cheirar o rabo do cão do Presidente. Mas alguma coisa terá feito. E a justiça há-de deixar no ar a ideia de que se trata de qualquer coisa grave, ideia à qual a comunicação social dará o eco devido. E, no final, o caso terá um desfecho terrivelmente inconclusivo."


Ricardo Araújo Pereira, in Visão

Mais transparência? Porque não?

Pela primeira vez desde há muito tempo Manuela Ferreira Leite fez um pergunta que merece ser respondida: perante uma necessidade acrescida de financiamento do Estado em mais de 4.000 milhões de Euros este ano, penso que é direito de qualquer cidadão perceber em que programas e em que rubricas concretas foi empregue o dinheiro do Tesouro em 2009 (possivelmente bem empregue já que se começa a registar algum crescimento Keynesiano).
Não surpreende que o défice se atire para uns prováveis 8% - existem poucos países no mundo que não apresentem défice em 2009 - mas é preocupação que conheçamos mal como pretende o Executivo equilibrar progressivamente desvios que se acumulam de forma insustentável.
Para quando regulação sobre os off-shores? Para quando taxas de IRC mais justas sobre os bancos? Para quando a taxação progressiva - a coordenar com a Europa - sobre mais valias mobiliárias? Que objectivos concretos de redução de despesa corrente e onde - à custa de quê?

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Os esclarecimentos que a situação exige

Quando algo aparentemente tão grave e extenso como o "Face Oculta" impende sobre a gestão de empresas públicas, são de exigir melhor investigação, melhor controlo e esclarecimentos dessas empresas e das respectivas tutelas ao Parlamento e à nação sobre como, em concreto, pretendem implementar medidas anti-corrupção (e quais, em detalhe).

http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?contentid=BD18F1E4-8E89-48FD-BDC7-D116D5F25BE0&channelid=00000181-0000-0000-0000-000000000181

Faces Ocultas vs. caso Dreyfus


É óbvio, no mínimo, que este caso veio revelar teias de interesse muito duvidosas - senão deploráveis e inaceitáveis - envolvendo empresas públicas ou de actividade directamente relacionada com decisões públicas. Embora não tenha muitas dúvidas que essas, bem como outras teias desconhecidas têm permeado vários governos, partidos e interesses, é no entanto extremamente negativo que um Estado de Direito (Parlamento...) se permita ainda não se preocupar suficientemente em aplicar formas de transparência e controlo que evitem, ou sancionem seriamente, tais redes de interesses.


É também muito negativo - e este caso pode ser reflexo indirecto disso - que se tenham ainda recentemente restringido os recursos de investigação sobre a criminalidade complexa (pública, privada ou mista).

Sobre Sócrates, e em especial depois da notícia do Correio da Manhã de 7 de Novembro, sendo embora plausível discutir da (i)legalidade das escutas e da (in)justiça na sua ocultação, bem como absolutamente inevitável não reflectir sobre mais um acto radical de violação de Segredo de Justiça, pairam porém dúvidas não desprezáveis.

É difícil imaginar pior situação: o que pode um PM esclarecer que não ajude a fomentar ainda mais suspeição? Como evitar o erro de Cavaco e, ao mesmo tempo, esclarecer de facto? É isso possível?

Por um lado, se Sócrates quiser esclarecer, correrá sempre o risco que se afirme que afinal sempre havia matéria passível de esclarecimento, ou que não esclareceu tudo, ou que ocultou ainda isto e aquilo, e isso será visto (também) como cedência política, para além de prolongar a novela, tenha ela fundamento ou não.

Por outro lado, se não se explica, deixar-se-ão talvez sem resposta interrogações de monta na atmosfera.

Haverá solução? Deve o caso ser unicamente deixado no campo da Justiça quando essa já perdeu (quase) toda a confiança da população?

Divulgar-se o teor das escutas, e averiguar da justeza de toda a tempestade de insinuações sem (aparente) fundamento, poderá ser solução?

Será politicamente viável? Como fazê-lo sem passar um atestado de óbito ao sistema Judicial?

Sobretudo, não se percebe muito bem o porquê do impasse sobre o caso durante 3 ou 4 meses.

Porque terão ficado certidões sem menção na PGR? Por se recearem consequências políticas sobre a instituição caso tudo viesse a lume antes de eleições, ou por alguém querer guardar uma espécie de "reserva de acção" para um período pós-eleitoral do género que vivemos?

Esta mania tão portuguesa de centrar todas as "culpas" no PM - seja qual for o PM - e desleixar a observância de responsabilidades e deveres de outros órgãos do Estado de Direito (cujo funcionamento independente é tão importante e critíco) só pode ser, ainda, um reflexo da ditadura, em que realmente todo o poder estava essencialmente nas mãos de um só indivíduo.

A divulgar-se o teor das escutas, e a provar-se a sua ilegalidade e/ou inocuidade legal potencial - uma linha de acção não isenta de riscos - deviam (devem, em todo o caso) ser tomadas providências legislativas, legais e técnicas, que impeçam futuros casos de contornos semelhantes:

a) Ao nível da segurança das comunicações dos órgãos de soberania (todos os órgãos de soberania, para evitar de vez novelas de "escutas", "contra-escutas", "diz-se que disse");

b) Ao nível do controlo, sobre quem pode escutar quem, quando e por ordem de que orgão(s);

c) Ao nível da salvaguarda do Segredo de Justiça e sobre quando pode, ou não, ser aplicável a sua abertura e inspecção por motivos legítimos, ou por motivos excepcionalmente legítimos;

d) Ao nível técnico-processual que envolve a manipulação de Segredos de Justiça (i.e. ou acabar parcialmente com o Segredo de Justiça, ou matar tecnicamente a hipótese da sua violação sistemática);

e) Ao nível da melhor separação do que se considere esfera privada, pública, em Segredo de Justiça ou em Segredo de Estado (matérias confundidas nesta questão de escutas "passivas" ao PM);

f) Ao nível da clarificação mais exacta do papel e das responsabilidades de órgãos como o STJ e PGR.

Aquilo a que continuamos a assistir é por enquanto fumo sobre fumo, que a vários atinge directamente e sobre muitos lança suspeitas (de ambos os lados da contenda).

É um caldo indesejável e demasiado perigoso para a Democracia.

Notícia do Correio da Manhã:

http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?channelid=00000181-0000-0000-0000-000000000181&contentid=76DDEBAC-EFFF-4685-A132-93B9A0D4445D

domingo, 15 de novembro de 2009

Dos Muros, II

Texto de Jacques Sapir:

"A l'Est, l'amertume est montée d'un cran.


Mais dans la crise, ces devises se sont effondrées vis-à-vis de l’Euro : les investisseurs et au premier chef les banques occidentales ont en effet massivement délaissé la zone pour rapatrier leurs avoirs à l’ouest déclenchant la chute des monnaies de l’Est. Du coup, les particuliers et les entreprises se sont retrouvés étranglés, obligés de rembourser leurs prêts en euro alors que leurs salaires étaient en forints hongrois ou en lei roumains… Facteur aggravant : les mesures prises à l’Ouest pour garantir les dépôts, soutenir les banques… ont encore accéléré la fuite des capitaux hors des PECO. Et quand nombre de ces pays – Hongrie, pays baltes, Roumanie…- se sont retrouvés au bord de la faillite, l’Union, quasiment dépourvue de budget, s’est révélée incapable de les aider : il a fallu faire appel au Fonds monétaire international comme s’il s’agissait de vulgaires pays en développement et non d’une partie intégrante d’un des continents les plus riches du monde… Moyennant quoi l’amertume à l’Est est encore montée d’un cran et ces pays ne manqueront pas, au cours des prochaines années, de donner libre cours à leur ressentiment. Nous n’en avons pas encore fini avec les séquelles du « rideau de fer »…
"

Os Economistas contra a Democracia

Vítor Bento tem continuado a publicar as crónicas do apocalipse anunciado da economia portuguesa. Eventualmente, mesmo pessoas como ele têm razão, porque não há nada na Terra que sempre dure...

No entanto, os seus repetitivos retratos de situação têm um problema grave: são feitos de lamentações.

Os problemas da economia portuguesa não se resolvem com lamentações. Resolvem-se assumindo-os e depois discutindo-se e implementando-se as soluções.

E é quanto às soluções que eu discordo seriamente do que implicitamente propõe Bento e o seu colégio de amigos.

Esse grupo de economistas, não só apoiou a tentativa de tomada de poder pela via populista da insinuação e da suspeição - sempre sem propostas claras - como ao mesmo tempo se tem preparado para tomar as rédeas do Banco de Portugal - e atacado Vítor Constâncio sempre que pode - com o intuito de vir a poder liderar a nossa saída do Euro.

O leitor acha isto demasiado rebuscado para ser verdade?

Então reflicta se existe mais alguma coisa para além da saída de Portugal do Euro que de uma penada pudesse explicar as três intenções comuns a este grupo:

1. A redução imediata dos custos salariais portugueses a metade.
2. As exportações como "novo" motor principal português (estava no programa do PSD, que não explicava "como").
3. A promoção de uma visão nacional miserabilista.

Apenas a saída do Euro poderia conseguir realizar os 3 intentos em poucos meses, em benefício daqueles que detêm acções não cotadas que valorizam 145% ao ano, e de poucos mais.

Uma saída do Euro equivaleria a transformar Portugal numa "pequena China", fazendo regressar a população e o Estado a um escudo (muito) desvalorizado e, nessa altura, dependente de dívidas astronómicas denominadas em Euros.

Duma perspectiva económica, resolveria isso os problemas apontados por Bento?

Apenas alguns e apenas temporariamente (alguns anos), porque nesse caso o incentivo para os empresários seria o da continuidade da aposta em mão-de-obra não qualificada e barata, da produção de bens de baixo valor acrescentado, do curto prazo que essa política implica, em vez da aposta na inovação, na criatividade, na tecnologia, na produtividade, na formação, no investimento e na qualidade da gestão.

Sobretudo, uma tal estratégia estaria contaminada de alguma estupidez ao julgar que um pequeno país de 11 milhões de habitantes, na Europa, se pudesse tornar concorrente duma Índia ou duma China, ou de parte do Leste Europeu (que está como está por falta de determinação política da Comissão Europeia, e do seu Presidente).

A saída do Euro seria, isso sim, a consagração de todos os medos e uma via para de imediato se justificar uma regressão de direitos sociais de 40 ou mais anos; e este é um aspecto que agrada, e muito, a certa direita.

Para além de colocar o povo imediatamente a mendigar e de fazer desaparecer mais uma boa fatia da classe média - que se tornou incómoda e demasiadamente consciente - um tal programa apenas poderia levar a uma agonia verdadeiramente amarga do país, e a um novo isolamento político.

É verdade que o Euro tem muitos problemas de fundo, sendo um deles a divergência das economias do Sul da Europa; mas sair do Euro sem antes preparar devidamente o país e, sobretudo, sem antes lutar por uma zona Euro mais coesa a nível político e fiscal (onde está Barroso quando precisamos dele?), seria uma loucura.

E porque digo serem estes economistas contra a democracia?

A opção de saída do Euro para "resolver todos os nossos problemas" nunca foi assumida explícitamente, ou seriamente discutida, pelo programa do partido que alimenta e faz crescer estas figuras, embora elas o repitam à boca cheia nos seus encontros, no seu dia-à-dia. Isto é desonestidade.

Em vez de explicitarem o que realmente fariam, e porque os portugueses já não se deixam enganar com a facilidade de outrora mas ainda gostam de novelas, foi muito mais fácil inventar casos, insinuações sem fundamento e mesmo mentiras, para tentar tomar o poder.

A fraqueza política da Europa, a inércia do BCE em ajudar determinadamente os estados membros a combater os efeitos da crise financeira (o que faria desvalorizar o Euro mas faria subir as exportações Europeias como um todo), e a falta de convergência para uma Europa mais homogénea fiscalmente, criaram o pretexto ideal para uma extrema direita mascarada se tentar apossar do poder em Portugal.

O seu verdadeiro objectivo não é servir o melhor interesse público - temo - mas tão somente manter Portugal num espartilho de forças conservadoras que os auto-legitime e perpetue.

Isto não é mais do que o conceito de conquista do poder a que chamaram "Política de Verdade".

Da Wikipedia:

"Vítor Bento é um economista português, tendo sido presidente do Conselho Directivo do Instituto de Gestão do Crédito Público, director-geral do Tesouro, director do Departamento de Estrangeiro do Banco de Portugal, vogal no Conselho de Administração do Instituto Emissor de Macau e presidente do Conselho de Administração da SIBS - Sociedade Interbancária de Serviços, S.A.[1]
É licenciado em
Economia e exerce desde Junho de 2000. Foi nomeado pelo presidente da República Português, Cavaco Silva, membro do Conselho de Estado de modo a ocupar o lugar deixado vago por Dias Loureiro, que renunciou ao cargo depois do seu nome ter sido envolvido no caso BPN."

Jacques Sapir

http://www.marianne2.fr/La-crise-un-an-et-toutes-ses-dents-1-3_a182098.html

sábado, 14 de novembro de 2009

Mariano Gago

Longe da ribalta e de grandes polémicas, discretamente, este homem tem realizado um dos maiores, mais profundos e consistentes esforços alguma vez encetados pela República Portuguesa para mudar a super-estrutura futura do país.

Por enquanto pouco se nota, mas com alguma sorte muito será já diferente dentro de 10 anos.

Porque não se pode ter tudo ao mesmo tempo e é preciso assentar prioridades, isto pode estar a ser feito, em parte, a expensas das ciências humanas (uma vertente a rever).

"(...) O ministro da Ciência e do Ensino Superior, Mariano Gago, assegurou, esta sexta-feira, que Portugal atingiu resultados históricos no que respeita à investigação e ao desenvolvimento. Mariano Gago revelou que Portugal tem, nesta altura, mais investigadores do que a média da União Europeia. [...]«Uma despesa total em investigação e desenvolvimento que atinge um e meio por cento do PIB em 2008, que supera os níveis de Espanha e da Irlanda, um número de investigadores que, neste momento em Portugal, atinge sete por cada mil activos, e que supera pela primeira vez na história a média europeia», sublinhou. (...)"

TSF --- 13.11.2009

Goldmine Sachs

Um aperitivo ao artigo de Maureen Dowd no NYT:

"As many Americans continue to struggle, Goldman, Morgan Stanley and JPMorgan Chase, banks that took government bailout money after throwing the entire world into crisis, have said they will dish out $30 billion in bonuses — up 60 percent from last year.

The saying used to be, whatever happens, the lawyers win. Now, it’s whatever happens, the bankers win."

Vacina anti H1N1

Ainda que seja de esperar que a vacina H1N1 fique obsoleta em consequência da rápida evolução do vírus, a verdade é que ela pode ser um bom instrumento para salvar vidas.

Há países na Europa, supostamente com menos recursos que Portugal, que a distribuem gratuitamente e a pedido individual, como é o caso da Hungria.

Por cá, fico com a impressão de que a limitação de recursos ou outras razões convergiram na estratégia de "saturação mediática preventiva" do assunto.

Durante a primeira fase de contágio a Ministra Ana Jorge fazia conferências de imprensa diárias; eram examinadas todas as pessoas em contacto mais estreito com a pessoa contagiada. Os meios de comunicação saturaram-nos com tanto cuidado e tão poucos contágios.

Agora, que começamos de facto a ter surtos e vítimas mortais, a distância e o cuidado parecem extinguir-se: já não se fazem testes a não ser em casos julgados graves (não poderá ser isso tarde de mais?), já se pede a algumas pessoas que evitem comparecer nos Hospitais... a vacina tarda em estar disponível de forma alargada...

O principal problema do SNS parece ser o seu serviço diferencial, tipo 8 ou 80: se o caso é ligeiro ou falso alarme, pode de facto "resolver-se" via Saúde 24, se o caso é mais grave, recorre-se à urgência... mas para tudo o que sucede a meio da escala, que tanto se pode "resolver por si" como transformar-se rapidamente em casos graves, como é?

Porque razão ainda não ouvimos a Ministra tomar por exemplo a medida - preventiva, mas necessária - de dotar (ao menos durante o Outono e Inverno) os Centros de Saúde de capacidades aumentadas de diagnóstico, horário de funcionamento, e resposta concreta à gripe?

Uma escolha acertada


Tive oportunidade de ouvir a entrevista que deu à TSF a actual Ministra do Trabalho (Helena André). Não me pareceu nada que ela venha a defender políticas tipo PREC (como tirou ao ar um van Zeller receoso); por outro lado pareceu-me suficientemente formada, conhecedora e inteligente para escapar às eventuais armadilhas do poder (como alertou o líder da CGTP).
Será necessário muito engenho e arte para renovar o arcaico clima de concertação social em que nos encontramos mergulhados.
De um lado temos um patronato frequentemente mal formado, excessivamente preconceituoso e cientificamente "quadrado"; do outro temos sindicalistas à antiga, de discurso obsoleto e crispado, por vezes cristalizados num passado cujo entendimento não chega para enfrentar os desafios que o século coloca.

Do que ouvi, parece-me no entanto que temos mulher! Teremos de aguardar pela acção.

Sócrates

Apesar dos "indícios", das "suspeições" e das escutas (desta vez reais mas sobre o PM), Sócrates manteve-se digno, objectivo e cuidadoso nas declarações que fez:

"Com certeza que o caso Face Oculta merece ser apoiado por parte das autoridades políticas no seu desenvolvimento de investigação. Já disse o quanto me entristece esse caso pelo facto de um amigo meu estar nele envolvido, mas o meu dever é incentivar as autoridades a prosseguir no combate à corrupção. E vejo neste caso um evidente sinal de combate à corrupção, que é preciso apoiar"

"Outra coisa muito diferente - e esse é o ponto e importa não confundir as coisas - é saber se durante meses a fio eu fui escutado - porque isto está a passar todas as marcas -, se essas escutas foram legais e se é possível fazê-las num Estado de Direito. Eu tenho o maior interesse em ser esclarecido sobre isso"

"Desconheço as escutas, não estou a par de nada e sei apenas o que vem nos jornais. Espero que o senhor procurador [Pinto Monteiro], com o esclarecimento que prometeu, possa esclarecer-nos a todos. A questão mais importante para mim é saber se, durante meses a fio, fui escutado, com as conversas a serem transcritas e gravadas, e se isso é legal e possível de ser feito num Estado de Direito"

Um bom comandante tem de saber conduzir uma batalha enfrentando o nevoeiro de batalha (fog of war). Sócrates tem vários bons talentos, e esse é um deles.

A trapalhada

A trapalhada que veio pôr a descoberto a investigação "Face Oculta" exige que o Executivo endereçe de forma determinada e em definitivo o problema da corrupção. Medidas mais apertadas, mais fiscalização, maior defesa da idoneidade das instituições e, sobretudo, mais meios de investigação criminal anti-corrupção.

Obrigatório será exercer maior cuidado e controlo sobre o Segredo de Justiça.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Diktat


O excerto é a propósito do que se passava na RDA antes da queda do muro, mas bem podia ser um retrato do que também cá temos, nalgumas empresas:


"Todas as pessoas com quem contactei, fossem do partido ou não, tinham uma posição extremamente crítica em relação à burocracia e à incapacidade do sistema", afirma Mário Vieira de Carvalho, explicando que "a falta de liberdade de expressão não deixava reflectir a realidade e o criticismo não passava". Pormenoriza: "Nas reuniões debatiam e criticavam, mas não passava para cima. A corrente não era de baixo para cima, era de cima para baixo." Uma atitude de comando que era "a expressão de uma falsa consciência sobre a realidade"

in Público

Será que van Zeller sabe que nas grandes e bem sucedidas empresas alemãs, as comissões de trabalhadores têm normalmente um membro na administração? E aquilo funciona! Já quando se quer fazer as coisas apenas e somente de cima para baixo, bom... é esperar pela pancada.