Vítor Bento tem continuado a publicar as crónicas do apocalipse anunciado da economia portuguesa. Eventualmente, mesmo pessoas como ele têm razão, porque não há nada na Terra que sempre dure...
No entanto, os seus repetitivos retratos de situação têm um problema grave: são feitos de lamentações.
Os problemas da economia portuguesa não se resolvem com lamentações. Resolvem-se assumindo-os e depois discutindo-se e implementando-se as soluções.
E é quanto às soluções que eu discordo seriamente do que implicitamente propõe Bento e o seu colégio de amigos.
Esse grupo de economistas, não só apoiou a tentativa de tomada de poder pela via populista da insinuação e da suspeição - sempre sem propostas claras - como ao mesmo tempo se tem preparado para tomar as rédeas do Banco de Portugal - e atacado Vítor Constâncio sempre que pode - com o intuito de vir a poder liderar a nossa saída do Euro.
O leitor acha isto demasiado rebuscado para ser verdade?
Então reflicta se existe mais alguma coisa para além da saída de Portugal do Euro que de uma penada pudesse explicar as três intenções comuns a este grupo:
1. A redução imediata dos custos salariais portugueses a metade.
2. As exportações como "novo" motor principal português (estava no programa do PSD, que não explicava "como").
3. A promoção de uma visão nacional miserabilista.
Apenas a saída do Euro poderia conseguir realizar os 3 intentos em poucos meses, em benefício daqueles que detêm acções não cotadas que valorizam 145% ao ano, e de poucos mais.
Uma saída do Euro equivaleria a transformar Portugal numa "pequena China", fazendo regressar a população e o Estado a um escudo (muito) desvalorizado e, nessa altura, dependente de dívidas astronómicas denominadas em Euros.
Duma perspectiva económica, resolveria isso os problemas apontados por Bento?
Apenas alguns e apenas temporariamente (alguns anos), porque nesse caso o incentivo para os empresários seria o da continuidade da aposta em mão-de-obra não qualificada e barata, da produção de bens de baixo valor acrescentado, do curto prazo que essa política implica, em vez da aposta na inovação, na criatividade, na tecnologia, na produtividade, na formação, no investimento e na qualidade da gestão.
Sobretudo, uma tal estratégia estaria contaminada de alguma estupidez ao julgar que um pequeno país de 11 milhões de habitantes, na Europa, se pudesse tornar concorrente duma Índia ou duma China, ou de parte do Leste Europeu (que está como está por falta de determinação política da Comissão Europeia, e do seu Presidente).
A saída do Euro seria, isso sim, a consagração de todos os medos e uma via para de imediato se justificar uma regressão de direitos sociais de 40 ou mais anos; e este é um aspecto que agrada, e muito, a certa direita.
Para além de colocar o povo imediatamente a mendigar e de fazer desaparecer mais uma boa fatia da classe média - que se tornou incómoda e demasiadamente consciente - um tal programa apenas poderia levar a uma agonia verdadeiramente amarga do país, e a um novo isolamento político.
É verdade que o Euro tem muitos problemas de fundo, sendo um deles a divergência das economias do Sul da Europa; mas sair do Euro sem antes preparar devidamente o país e, sobretudo, sem antes lutar por uma zona Euro mais coesa a nível político e fiscal (onde está Barroso quando precisamos dele?), seria uma loucura.
E porque digo serem estes economistas contra a democracia?
A opção de saída do Euro para "resolver todos os nossos problemas" nunca foi assumida explícitamente, ou seriamente discutida, pelo programa do partido que alimenta e faz crescer estas figuras, embora elas o repitam à boca cheia nos seus encontros, no seu dia-à-dia. Isto é desonestidade.
Em vez de explicitarem o que realmente fariam, e porque os portugueses já não se deixam enganar com a facilidade de outrora mas ainda gostam de novelas, foi muito mais fácil inventar casos, insinuações sem fundamento e mesmo mentiras, para tentar tomar o poder.
A fraqueza política da Europa, a inércia do BCE em ajudar determinadamente os estados membros a combater os efeitos da crise financeira (o que faria desvalorizar o Euro mas faria subir as exportações Europeias como um todo), e a falta de convergência para uma Europa mais homogénea fiscalmente, criaram o pretexto ideal para uma extrema direita mascarada se tentar apossar do poder em Portugal.
O seu verdadeiro objectivo não é servir o melhor interesse público - temo - mas tão somente manter Portugal num espartilho de forças conservadoras que os auto-legitime e perpetue.
Isto não é mais do que o conceito de conquista do poder a que chamaram "Política de Verdade".
Da Wikipedia:
"Vítor Bento é um economista português, tendo sido presidente do Conselho Directivo do Instituto de Gestão do Crédito Público, director-geral do Tesouro, director do Departamento de Estrangeiro do Banco de Portugal, vogal no Conselho de Administração do Instituto Emissor de Macau e presidente do Conselho de Administração da SIBS - Sociedade Interbancária de Serviços, S.A.[1]
É licenciado em Economia e exerce desde Junho de 2000. Foi nomeado pelo presidente da República Português, Cavaco Silva, membro do Conselho de Estado de modo a ocupar o lugar deixado vago por Dias Loureiro, que renunciou ao cargo depois do seu nome ter sido envolvido no caso BPN."
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