Pedro Guerreiro na sua crónica de hoje no Jornal de Negócios, começa por admitir que a EDP, a Sonae e a Novabase já tinham aderido voluntariamente à boa prática da transparência sobre os rendimentos dos seus gestores, para depois dizer - com recurso a explicações rebuscadas - que há outras empresas cotadas que ainda recorrem a um expediente da CMVM para ocultar esses rendimentos através das cortinas de fumo em que permitimos tornarem-se as redes de subsidiárias e as holding.
A crónica vira-se depois contra o estado, em tom algo ressabiado, para confundir uma difusa crítica aos "boys" (relevante), com uma assumpção implícita da injustiça - ou do perigo - da transparência agora exigida pela CMVM a todas as empresas cotadas em bolsa (tentando contudo ensaiar o tom de quem defende a coisa).
O objectivo velado de Guerreiro parece ser a certa altura ser o de exercer uma pressão opinativa sobre a CMVM, para que se reflicta sobre algum afã regulador...
A Pedro Guerreiro escapa-lhe o essencial: que essa transparência - que, já agora, deveria ser exigida a todas as empresas, cotadas ou não, públicas ou privadas - destina-se a proteger as próprias empresas e os seus accionistas (e muito bem).
Esse tipo de regulação é nada menos que essencial para travar aquilo a que há muito vimos assistindo, com a conivência simplista da imprensa económica, via fulanização: um sequestro progressivo e coordenado de muitas empresas pelos seus gestores, frequentemente mais em benefício próprio do que das empresas, dos seus trabalhadores e dos seus accionistas.
Acredito que os accionistas e a gestão são elementos que devem existir com separação clara de funções e papéis, mas isso não significa que ache que as empresas tenham de cair no extremo oposto e se transformar em meros instrumentos de culto de personalidade, como vimos assistindo desde meados dos anos 80 a esta parte, também em Portugal.
Moçambique pós-Natal
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