domingo, 19 de julho de 2009

Caritas in Veritate: uma lição para a CIP


Bento XVI, apesar de líder de uma instituição compreensivelmente conservadora, parece decididamente progressista ao pé de personagens como Manuela F. Leite (MFL), ou mesmo revolucionário ao pé de outras como F. van Zeller.

Tive oportunidade de ler a pequena crónica de MFL a propósito desta nova encíclica Papal, publicada pelo Expresso no passado 11 de Julho.

Como de costume, MFL mostrou-se mais preocupada em tentar passar uma aparente e superficial compreensão do tema, do que em contribuir para uma muito necessária transposição portuguesa da mensagem explícita do Papa.

Ficou-me da leitura da sua crónica meio-amorfa uma vaga impressão de que MFL terá chegado a horas à mesa, revelando-se porém incapaz de saborear a sopa com alegria; parecia antes fingir engoli-la apressadamente, para a regurgitar adulterada noutra ocasião.

Há contudo pelo menos três pontos importantes na Caritas in Veritate que não é demais frisar, ainda que tenham sido menos merecedores da reflexão de MFL (ela optou por focar a necessidade por "novos estilos de vida"...):

O primeiro, sendo um lugar comum, não deixa de ser importante: o texto propõe que o principal capital a ser salvaguardado e valorizado seja a pessoa humana na sua integridade, vendo o Homem como o autor, o centro e o fim de toda vida económica e empresarial. Por outras palavras, a economia deve estar ao serviço do Homem, e não ao contrário; a economia enquanto meio, e não como fim.

Um segundo ponto foca directamente as questões de falta de ética que o modelo económico actual não anula e antes promove, por intermédio de abusos individuais e institucionais que vinham sendo cada vez mais tolerados. Por outras palavras, é urgente a regulação do colectivo sobre certas partes da economia, q.b., e uma justiça social mais equilibrada e envolvendo todos, empresas incluídas, para além dos "mínimos éticos".

Por último, a encíclica alude ainda directamente ao progressivo distanciamento humano entre os chefes de empresa e aqueles que para si trabalham, naquilo que constituí uma alienação desumana e perigosa. Afirma que “É fácil desvincularem-se quando não têm um contacto diário com as equipas de colaboradores e se esquecem que o capital humano é formado por pessoas com nome e apelido, com aspirações, potencialidades, famílias e sonhos e cuja contribuição para o seu trabalho diário é único e valioso. Para que uma empresa seja altamente produtiva, tem que ser também plenamente humana e socialmente responsável”.

De volta à realidade, atente-se no recente e mau exemplo da CIP, quando se pronunciou a propósito dos problemas levantados por uma eventual pandemia de gripe. Foi sobretudo a forma literal e radical como colocou a questão, ingnorando propositadamente a Lei, mas sem que se notasse a mínima preocupação de chegar a um compromisso socialmente justo com o Governo, que revelou a falsidade da sua "responsabilidade social".

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