domingo, 31 de janeiro de 2010
O espírito que é necessário
"Tivemos de lutar contra os velhos inimigos da paz: o monopólio empresarial e financeiro, a especulação, a banca imprudente, o antagonismo de classes, o facciosismo, os lucros extraordinários arrecadados com a guerra.
Tinham começado por considerar o governo dos Estados Unidos um mero apêndice dos seus próprios negócios. Sabemos hoje que um governo regido pelo dinheiro organizado é tão perigoso como um governo regido pela máfia organizada.
Nunca antes em toda a nossa história estas forças se uniram tão ferrenhamente contra um candidato como se verifica hoje. São unânimes nesse ódio contra mim - e de bom grado aceito esse ódio."
Voltámos a 1936. Mas precisamos de, pelo menos, três Roosevelt.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Tardança...ou Combate?
Será ele capaz de aproveitar o ano que nos separa de novas eleições, no quadro da UE e de Portugal, para agir com outros governos e o seu próprio em direcção a uma social democracia menos vassala de interesses corporativos de classe ou do grande capital?
É bom que Sócrates, e o PS, se recordem que não estamos em 1983. O eleitorado compreende razoavelmente bem as razões pelas quais as classes médias têm vindo a ser empobrecidas e exigem acção determinada, sem fait-divers.
Não lhe vai chegar taxar os bónus maiores que 27.500 Euros dos banqueiros - uma medida insignificante, se isolada, meramente paliativa no acerto de contas com um sistema moral e economicamente falido; dificilmente lhe será permitido embarcar em mais "leis de diversão" sem punição eleitoral.
Sócrates tem agora de escolher: ou luta decisivamente pelo futuro duma social democracia sustentável, ou se resigna à gestão do compromisso, à navegação à vista... esperando-o nesse caso o desaire, sem dúvida.
Relativamente à leitura política da situação, Alegre revela a vantagem exercida sobre um Sócrates que assumiu tardiamente as consequências da crise internacional sobre o país, para logo as ter de combater apressadamente num quadro eleitoral de atascanço e polarização radical.
Aquilo que Alegre sabe - e aí vimos um político em acção - é que Sócrates, por mais que se mexa (e tem de o fazer) estará sempre mais ou menos refém da situação em curso, do combate à crise, dos efeitos de algumas duras decisões que se espera que tome, do desgaste político do enfrentamento com os oligarcas do statu quo.
O PS não terá outra escolha senão apoiá-lo, quanto mais não seja para que sirva ao eleitorado de escape, de mediador entre o sonho e a realidade.
Coisas que me desagradam (retrospectiva)
Admito que seja plausível supor-se que poderá estar na base disso uma estratégia de adaptação progressiva da realidade negra dos números à opinão pública, sobretudo tendo-se atravessado uma época eleitoral e um último trimestre importante para o consumo privado.
Por outro lado, a turbulência sobre as contas públicas em 2009 foi de facto mais violenta e mais dinâmica do que aquilo que é costume em anos de crise "normais".
Quer isto dizer que é igualmente plausível assumir que a rápida deterioração do desemprego pode, quase por si só, explicar a situação dum défice real claramente superior ao antecipado pelo executivo, por via da inerente subida de custos sociais e simultânea diminuição de receitas.
Mas o problema não reside na relativa gestão de espectativas a que o governo se viu "obrigado" entre Agosto e Dezembro de 2009, que era de esperar da parte de qualquer governo não-suicidário e algo dependente de juízos externos ao país sobre o estado da sua economia; nem reside nos efeitos de distorção anómala que a degradação rápida da situação económica de 2009 gerou, com efeitos amplificados sobre quaisquer previsões por via do atraso estatístico na compilação final dos dados económicos relativos a 2009. Tudo isso é aceitável.
O problema reside antes na falta de perspectiva - ou excessivo calculismo político - do executivo entre Setembro de 2008 e Março de 2009, quando as consequências da crise internacional sobre o país já estavam à vista mas não eram ainda oficialmente admitidas; caso o tivessem sido, teria porventura sido possível uma acção mais atempada na prevenção de algumas situações de desemprego causadas por falências oportunistas, por exemplo; teria sido possível a introdução de medidas com maior recuo, mais imaginativas, capazes de mitigar alguns dos efeitos da verdadeira sangria de emprego a que assistimos durante o decurso de 2009.
Pode ser que isso tivesse inclusivé elevado o défice acima dos 9,3% - na pior das hipóteses -mas teria tido o mérito de ter dado um avanço precioso de seis a oito meses sobre o controlo da situação.
Nesta matéria o governo preferiu uma gestão à vista - coisa muito portuguesa - em vez da necessária reactividade estratégica, e dessa forma atrasou medidas anti-crise que, tendo sido tomadas tardiamente, anularam boa parte do seu próprio impacto potencial na manobra de inversão duma situação económica e social trágica.
A minha avaliação dessa reacção tardia não pode ser, como se depreende, positiva.
Martin Wolf
"É um escândalo que o modelo de pagamento para as agências de notação de crédito não tenha sido mudado. Elas deviam ser pagas por agentes dos compradores, não dos vendedores. Mais importante, o papel regulador das notações deveria ser eliminado, pura e simplesmente. Elas não têm credibilidade nesta matéria. O meu ponto de vista é que, quando muito, elas são um persistente indicador do que está errado no mercado. Na pior das hipóteses, elas estão activamente a enganar."
Martin Wolf, Associate editor and chief economics commentator at the Financial Times
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
E se?
Fitch: um nome a recordar
Estes tipos brincam com a vida das pessoas, especulam com o nosso futuro: são nossos inimigos. As acções da Fitch configuram um acto de guerra.
Under attack
Quais abutres "ao serviço de interesses comerciais" (como afirmava hoje Teixeira dos Santos), algumas das agências de rating indicíam fazer parte da rede de influência do grande capital conservador (ou neoliberal) que procura por todos os meios desfazer economias - e países progressistas - para lucro exclusivo de um punhado de gente que nem sequer conhecemos pelo nome e que manobra hoje com muito mais poder que vários primeiros-ministros juntos.
Primeiro, esconderam do grande público ou ignoraram propositadamente a crise que se avizinhava, protegendo poucos à custa do engano de muitos; depois, quando grandes bancos de investimentos e seguradoras começaram a ruir, clamaram pela intervenção dos estados; finalmente, com o dinheiro dos contribuintes mundiais já metido nas brechas que esta rede ajudou a criar, escolhem agora as vítimas mais fáceis: na Europa, primeiro a Grécia, como teste, e agora Portugal, Espanha e Itália (apesar da situação dos 3 últimos países ser bem diferente da Grécia). A Áustria e a Irlanda também são candidatos, bem como a banca Inglesa e talvez num futuro não muito distante, a própria França.
Há cerca de dois meses registei aqui, pelo andar da carruagem que os preços dos CDS estavam a levar, que se estava a desenhar a oportunidade para mais uma bolha, desta vez jogada com o futuro de povos inteiros.
A reacção a isto não mais pode ser de apaziguamento, pois ultrapassaram-se já todas as marcas. É bom que os Governos dos países visados se unam e - com ou sem o apoio da União Europeia e instituições internacionais - comecem a agir muito duramente, primeiro nos bastidores e depois à vista desarmada.
Também é claro que se somos parte desta fenda, foi porque nos fomos pondo a jeito de o ser...
Contudo, é intolerável que a nossa economia seja telecomandada por um punhado de dementes escondidos algures, ou que a alguém seja permitida a leviandade de transformar uma situação de perigo para um povo numa catástofre a tempo presente.
Isto devia ser encarado, denunciado e tratado como uma ameaça à soberania nacional, pois de facto é de um ataque já em curso aquilo de que estamos a ser alvo. Que isso não sirva, porém, para distrair o governo, as empresas, e as famílias, do trabalho de casa que lhes compete.
Não há apaziguamento possível com os ogres. Lembrem-se de Neville Chamberlain e dos seus bons, mas errados, modos.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Oswiecim
O maior complexo de campos nazi, o mais tristemente célebre após 1945, conta porém apenas uma pequena, embora especialmente horrível, parte da história da ignomínia humana.
Celebrar a libertação de Auschwitz é largamente incompleto, se calhar ofensivo, sem recordar as dezenas de outros campos nazis espalhados por toda a Europa (imagem acima), sem lembrar os Einsatzkommando ou, da mesma forma, os ghettos dessa época, de antes e depois da guerra, todos os Gulag, os prováveis e ainda secretos campos de concentração Chineses em operação no dia em que estas linhas se escrevem, ou até os países dos nossos dias transformados em campos de concentração não menos terríveis.
Lembremos igualmente que a 27 de Janeiro de 1945, as tropas soviéticas encontraram apenas cerca de 7.500 prisioneiros, parte dos quais viria a falecer nos dias subsequentes. Os restantes, ou já tinham sido eliminados, ou arrastavam-se a esse preciso momento em marchas forçadas brutais e mortíferas a caminho de outros campos nazis, como Bergen-Belsen.
Auschwitz é uma simplificação da epítome da capacidade para o mal, individual e colectiva, que existe em todos e cada um de nós; e como todas as simplificações, tem o seu quê de perigoso e redutor.
O perigo consiste em permitir-nos eventualmente pensar a capacidade para o mal "absoluto" como algo apenas inerente "aos outros", ou pior ainda "a certos povos" (como o Alemão...), quando na realidade essa capacidade é praticamente transversal a todos, tal como o seu inverso, a capacidade para fazer o bem. Os extremos mais não são do que desvios atípicos, que cristalizam a estupefação da maioria e a fazem facilmente esquecer que aquilo que a distrai é o espelho da sua própria natureza levada ao limite.
Auschwitz apresenta-nos um passado cada vez mais distante de uma memória terrível, hipnótica, surreal, através duma algo enganadora atmosfera de museu. A realidade mostra-nos eventos tão ou mais horrendos decorrendo a toda a hora, sob as mais diversas formas, perpretados por pessoas contra outras pessoas.
Sucede apenas ser-nos mais fácil julgar de forma quase absoluta um passado distante, do que reagir em tempo real às atrocidades do nosso próprio presente.
Auschwitz ainda existe, apenas se transfigurou; tenho dúvidas de que algum aspecto daquilo que representa possa ser algum dia verdadeiramente celebrado, ainda que se trate de uma "libertação".
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Shame on INSEAD
domingo, 24 de janeiro de 2010
Conversas em família
Relembrar José Gomes Ferreira
Perplexidades...
Ulrich
Vou-lhe perdoando as patacoadas que tem vindo a proferir, em perfeito desrespeito das suas funções, porque permaneço cliente do banco que dirige... por enquanto.
Mas era melhor ganhar juízo, Sr. Ulrich... Não aprendeu nada com o seu antecessor?
O Haiti, é aqui
Faz lembrar a canção de Caetano Veloso, o "Haiti, é aqui".
Obama em retrocesso
Empobrecimento da classe média
- Holanda: de 35,5% (2004) para 34,5% (2009)
- Japão: de 35% (2004) para menos de 34% (2009)
- Suécia: de 35,4% (2004) para 33,5% (2009)
- Noruega: de 34,8% (2004) para 33% (2009)
- Canadá: de 33,5% (2004) para menos de 33% (2009)
- Reino Unido: de 33,5% (2004) para 33% (2009)
- EUA: de 30% (2004) para 29,5% (2009)
- Portugal: de 32,1% (2004) para 31,6% (2009)
Numa admissão pouco vulgar, o estudo admite que quando comparadas as evoluções nominais de rendimentos das classes médias com as classes mais favorecidas, o crecimento é (em todas estas nações excepto no Reino Unido) significativamente maior para as classes mais favorecidas.
O próprio estudo aponta como causas a crescente liberalização das economias, o enfraquecimento dos sindicatos, o crescimento do trabalho temporário e das sub-contratações, a desindustrialização progressiva das economias, a subcontratação de indústria fora e deslocalização para as economias emergentes e a substituição gradual de postos de trabalho na indústria por outros nos serviços, com condições inferiores ou de cariz temporário.
O capitalismo descontrolado continua a esmagar a democracia... O que têm a dizer os neoliberais sobre isto? E, por outro lado, que medidas tomam contra isto os sociais-democratas europeus e americanos? Porque tardam a agir?
Contentamento descontente
Contudo, esta rara e positiva humildade de reportar a realidade como ela é teve logo direito a imensa chuva de críticas nos meios de comunicação. Em particular, revelou-se bastante ácido o aprendiz de economista Camilo Lourenço. Para ele, a Ministra deveria publicamente ter assumido que as medidas foram mal desenhadas, tout court. Ora o que a Ministra veio dizer era que tinham sido insuficientes, o que é coisa diferente.
40.000 postos de trabalho (42.839 para ser rigoroso) não é assim tão pouco como isso numa altura em que os privados criam praticamente zero postos de trabalho.
É uma coisa do tamanho da British Airways, Sr. Camilo Lourenço...
Empregos precários, incertos, mal pagos, quase todos eles. Provavelmente assim é, mas pelo menos essas 42.839 pessoas estão agora ocupadas, estão a trabalhar, a aprender, a adaptarem-se a novas realidades, estão inseridos na população activa.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Plutonomia
O que os factos revelam, de forma consistente e indesmentível, é que a noção do "bem comum" emanada dos estados sociais tem sido deixada para trás nas sociedades ocidentais, com os EUA à cabeça, tardiamente mimetizados pela Europa. Sendo que o relatório em apreço se originou numa grande empresa beneficiária desses factos - e não numa organização explicitamente governamental - existe valor acrescentado no documento.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
O "ânimo" de João César das Neves
Governo irresponsável
João César das Neves
DN, 2010-01-11
"Este é o Governo dos regulamentos, fiscais, inspectores. Qualquer pretexto é bom para nova portaria, da defesa do consumidor à protecção do ambiente passando pelo tabaco e a gripe. Por tudo e por nada temos exigências, imposições, despesas. Os propósitos são sempre excelentes, mas não se pensam as consequências. Tudo cai sempre sobre os contribuintes e empresas, com custos, limites, restrições. E mais os impostos, sempre os impostos. Depois não temos flexibilidade, produtividade, investimento. Que surpresa! Quando dizemos que o Governo é irresponsável, é isto que queremos dizer.
Uma evidência sucessivamente repetida é o grave endividamento externo de Portugal que se acumula há mais de dez anos. O Governo diagnosticou o problema em 2005 e anunciou medidas duras para controlar a situação. Mas em vez de verdadeira austeridade e redução da despesa pública, preferiu descarregar no contribuinte e maquilhar o défice com subidas de receitas. Isso aumentou a dívida total do País mesmo no curto período em que as finanças públicas pareciam melhorar. Inevitavelmente, no primeiro soluço económico, todos os ganhos orçamentais se evaporaram. Quando dizemos que o Governo é irrespon- sável, é isto que queremos dizer.
Perante a crise conjuntural, com origens externas agravadas pela delicada situação doméstica, anunciam-se medidas de recuperação. Mas em vez de escolher programas para aguentar as empresas nos meses difíceis, aliviar as regulamentações e reduzir carga fiscal, prefere-se centrar a discussão nas grandes obras públicas, muito mais mediáticas e populares. Mas esses projectos terão efeitos económicos só dentro de anos, quando a recessão tiver acabado. Nessa altura subirão ainda mais a dívida explosiva. Quando dizemos que o Governo é irresponsável, é isto que queremos dizer.
O pior da situação económica actual é sem dúvida o drástico aumento do desemprego que ultrapassou máximos históricos. Em particular os trabalhadores pobres e não especializados têm sido mais atingidos. Dado que ao mesmo tempo se verifica uma deflação, com descida de preços que só por si aumenta o valor dos rendimentos, o mais elementar bom- -senso recomenda moderação salarial para proteger os postos de trabalho que se mantêm. Em vez disso, o Governo decidiu a medida bombástica de aumentar o salário mínimo para 475 euros. Como vem na sequência de subidas anteriores, o nível é hoje 27% superior ao de 2005, mais de 17% em termos reais. É inacreditável que pessoas responsáveis apresentem essa medida como um esforço governamental de justiça social. De facto o Estado não paga um cêntimo desse salário mínimo. O que faz é apenas proibir os empregos que paguem menos. Para os trabalhadores que se mantêm a trabalhar há ganhos. Mas quantos vão ser forçados ao desemprego ou à clandestinidade por esta decisão supostamente benéfica? Em momento de recessão e deflação a proposta raia a loucura e fazer experiências com pessoas pobres é infâmia. A subida do salário mínimo constitui o maior atentado das últimas décadas às classes desfavorecidas. Quando dizemos que o Governo é irresponsável, é isto que queremos dizer.
Um líder respeita e compreende o povo que dirige e procura manter unido e empenhado para enfrentar as dificuldades que surgem a cada momento. Se pelo contrário o dirigente começa a impor os seus caprichos, gerando clivagens e divisões sociais, inverte a sua função e passa a ser o inimigo. Foram sempre assim os tiranos. A actual incarnação governamental do PS, ao sabor de brios ideológicos, tem adoptado medidas chamadas "fracturantes". Em nome de suposta "modernidade" desafia os princípios básicos da sociedade e gera polémicas artificiais. Isto, só por si, manifesta falta de sentido de Estado, incapacidade política e incompreensão das elevadas funções executivas. Mas quando temas civilizacionais são tratados de forma apressada, arrogante e atabalhoada entra-se no campo da desonestidade e da indignidade. Quando dizemos que o Governo é irresponsável, é isto mesmo que queremos dizer."Os arautos da poupança
Trichet, o moderado
Imperdível
http://www.alexcartoon.com/index.cfm?section=play&action=view&id=30
O homem que sabe demais...
Agora não se indignam?
Talvez em puro desespero de causa, João César das Neves (um dos do batalhão da derrota) afirmava hoje na sua crónica no DN que há-de haver uma coisa da qual os portugueses nunca conseguirão escapar: o seu pessimismo militante (a que ele chama "desânimo"). Parece-me um exemplo prático do ditado popular "diz o roto ao nú"... Dir-se-ia que escreve para si mesmo ou, pior, que talvez sofra de esquizofrenia ou ainda, e mais provável, que se dedica a repetir o que "o vento" lhe diz ao ouvido.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Família? Valores?
Em Dezembro passado, grupos distribuidores portugueses tentaram, talvez aproveitando a azáfama natalícia, forçar aos colaboradores a tal "semana chinesa". A ameaça de greve daí resultante e alguma cobertura mediática fizeram os promotores da dita recuar. Por enquanto...
Apesar disso, pergunto-me o que foi feito da preocupação com a "Família" dos moralistas habituais da nação por essa ocasião, alguns ainda devotos do "deus, pátria, família". Onde estavam eles nessa altura? E onde esteve grande parte da nossa Igreja, sem voz activa sobre o assunto mesmo depois da nova encíclica de Bento XVI?
Caritas in Veritate, recordam-se?
É que não me lembro - e peço desculpa se ando esquecido ou distraído - de nenhuma petição "espontânea" com 90.000 assinaturas entregue na Assembleia da República, da mais pequena exigência em referendar o assunto, do menor vestígio de resistência organizada no Facebook comandado por certas "elites", face a uma das mais despudoradas tentativas práticas de desagregação familiar e inversão de taxa de natalidade nos últimos 40 anos...
Mandar o "regimento dos costumes" para a "madre que lo parió" seria certamente deselegante, mal educado, ofensivo, insultuoso, temperamental e impessoal... Como "o povo é sereno", isso ainda não aconteceu. Por enquanto...
Brokeback Mountain 2
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Barclays fires back!
Uma troca de fogo não inocente (digo eu), que provavelmente sinaliza a intenção do Barclays de ganhar credibilidade sobre as cada vez mais mal-afamadas agências de rating.
No entanto, o mesmo Barclays Capital também advertiu que sobre a dívida portuguesa pendia a possibilidade duma classificação revista em baixa, caso o Governo não desse sinais claros de vontade política quanto à contenção do défice (uma forma mais elegante de dizer o mesmo que as outras marias).
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Economia telecomandada
Um simples aviso da agência para um possível corte do rating nacional e, hélas, sobe o risco da dívida portuguesa. Os americanos têm um termo para isto: chamam-lhe "self fulfilling prophecies".
Quem beneficia? Os bancos que emprestam dinheiro aos portugueses. Alguns deles os mesmos que os Estados que representam os contribuintes deste mundo tiveram de salvar...
"Money makes the world go 'round"
Racismo Institucional, Made in Italy
Cartazes de agências imobiliárias que avisam "nem animais, nem estrangeiros", um futebolista - Mario Balotelli - apelidado de "preto de merda", imigrantes atacados e espancados na noite de Ano Novo, ou em pleno centro de Florença... Os incidentes sucedem-se e, pior, estão a ser promovidos pela vanguarda de direita no poder, a Liga do Norte, de Umberto Bossi. Berlusconi consente.
...E o "capo" Bossi não se coibe de, publicamente, qualificar os negros de "bingo bongo" (e não esqueçamos que não se trata apenas de intimidação a imigrantes, pois há dezenas de milhar de cidadãos italianos de cor negra).
É o regresso ao racismo institucional e de Estado.
Durão Barroso, entretanto, assobia para o ar... e a sua Comissão, aparentemente, bem como a maioria do Parlamento Europeu, também.
Capitulação Grega?
Novo Capitalismo?
É o sinal que parece ter aparecido com o Simpósio Internacional "Novo Mundo, Novo Capitalismo", organizado pelo Ministro da Emigração e da Identidade Nacional Francês, Eric Besson.
Sócrates presidiu à abertura.
Vai ser preciso muito maior sentido de união para que se passe das palavras à acção e vencer a inércia de décadas de regulação deficiente e asneiras diversas. Por outro lado, será necessário que exista vontade política rigorosa (e não apenas "show biz") o que ainda está largamente por demonstrar.
Insólito
Isto ao mesmo tempo que são capazes de pregar a "moderação salarial" querendo parecer sérios e muito graves.
Sem mais comentários...
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
A tragédia Grega
Foi na Grécia que (muito) do "nosso" mundo Ocidental começou. Será aí que começará a cair decisivamente?
Esta semana Jürgen Stark, membro da Comissão Executiva do BCE veio alertar que não haverá credores de última instância para o caso Grego (no seio da UE, claro...). Politicamente, disse o que tinha a dizer, mas todos sabemos que não será assim (espero) em caso de derrapagem mais séria.
Entretanto, não menos cínico, o PM Grego George Papandreou, veio afirmar que não precisava de ajudas para nada e que a Grécia resolveria os seus problemas sozinha... Mais uma vez, politicamente, reconheça-se que lhe competia talvez serenar ânimos aos mercados e às agências de rating, esses parasitas sofisticados que por estes dias mandam (muito) mais nas economias das nações do que os respectivos governos democraticamente eleitos.
A consumação trágica da crise Grega poderá também denunciar o carácter semi-oco e vão de boa parte da máquina burocrática da UE, que compila estatísticas sem que saiba chegar ao âmago de cada problema mais profundo; que dispende milhões em pormenores de decoração mas cuida cada vez menos das vigas do edifício, sem que consiga sequer evitar a concorrência dos agora 27 na espécie de mascarada em que se tornaram as criativas estatísticas nacionais, toleradas anos a fio, pior ou melhor, por essa enorme máquina de papelinhos instalada em Bruxelas.
O melhor é mesmo que a UE ganhe juízo, e depressa (terá de acelerar a formação de uma Federação Europeia, a chegada da harmonia fiscal e laboral, a temporária desvalorização do Euro, a Comissão Europeia e possível Presidência eleitas por plebiscito, em vez da investidura da teia de interesses e nomeações de conveniência obscura que reina, e por aí fora).
Por enquanto, dá-me para rir perante uma Comissão Europeia que adverte a Islândia de que, caso não honre os seus compromissos com Holandeses e Britânicos, poderá ver a sua entrada na União retardada... Ao mesmo tempo a que assisto a uma resoluta, em parte justificada, avareza (no plano financeiro), e desprezo incompetente (no plano político), em colocar na devida perspectiva o "problema Grego"...
Alguns burocratas de Bruxelas parecem não entender que morte de Atenas pode bem vir a ser a sua própria morte. Que saudades tenho dos políticos fundadores da CEE. Que triste é ver que os seus descendentes políticos não entenderam quase nada do seu propósito original...
Hitler, apesar de todos os seus crimes e aberrações de personalidade, era senhor de uma intuição fora de comum e percebeu (tal como Napoleão...) que o futuro da Europa teria de passar pela união política, fosse como fosse.
Quanto tempo mais se esconderá essa necessidade em Bruxelas, em Londres, em Paris, ou em Berlim? Entretanto, Pequim avança...