O INSEAD - pela pena de Theo Vermaelen - disseminou numa das suas mais recentes newsletters uma violentíssima crítica - disfarçada de raciocínio científico - a Harvard, por causa da escola de negócios desta última Universidade ter permitido aos seus estudantes MBA encetar um juramento ético.
O texto do juramento ético que alguns desses estudantes decidiram abraçar pode ser lido aqui: http://mbaoath.org/take-the-oath.
Um dos compromissos do juramento é o de que os futuros gestores "contribuam para o bem estar da sociedade" e também que "promovam um desenvolvimento económico sustentável, social e ambientalmente próspero". Não foi mais do que um tímido e incipiente começo em direcção ao senso comum e, ainda assim, corpos de escolas como o INSEAD ficaram aterrorizados ao ponto de se sentirem impelidos para críticas de carácter público. Só isso, já revela alguma coisa...
Duma forma simultaneamente cínica e falsamente ingénua, mas sobretudo cientificamente absurda, Theo apresenta-nos 3 razões para desconsiderar a iniciativa dos estudantes de Harvard (os gurus wanna be apresentam sempre 3 problemas, 3 razões ou 3 soluções, seja qual for a realidade que tratem):
1ª) Afirma que o juramento encerra desde logo um conflito de interesses de natureza "fiduciária e ética" (sic) para com os futuros empregadores e patrões;
2ª) Afirma depois que o juramento é apenas parte de uma resposta inadequada à crise, em jeito de efeito espúreo;
3ª) Finalmente, pura e simplesmente não acredita que os juramentos influenciem o comportamento humano;
O resto do texto é uma algaraviada de pouca vergonha e nenhum fundamento empírico, tentando no fundo justificar o injustificável: porque devem os estudantes de gestão resistir à ética e aos escrúpulos pessoais.
Theo Vermaelen, que talvez preencha o estereótipo de quem "ensine" por não saber fazer mais nada, pode também ser confundido com um cobarde. Afinal de contas, nunca experimentou na pele as consequências do que defende.
Com efeito, a grande diferença entre um cientista e um aprendiz de proxeneta é que o primeiro tem de arriscar procurar uma verdade escrutinável e verificável por instrumentos de medida de precisão, i.e. factos, enquanto o segundo se está nas tintas para quem fode, desde que corra o marfim. Sem nenhuma ofensa para a Filosofia, costumava a propósito dizer um bom amigo meu que a diferença entre um físico e um filósofo é que o segundo não entende o conceito de massa.
Através do seu texto - no mínimo, tacitamente aprovado pelo INSEAD - Theo também demonstra saber muito pouco do misto da arte e ciência de gerir. À luz do que defende, a gestão deve ser exclusivamente uma actividade de sacanas e ladrões, algo muito pouco adequado a seres humanos no sentido convencional do termo.
Sem que nos possamos admirar, na opinião eloquente de Theo as "externalidades" negativas com origem na iniciativa privada devem ser tratadas pelos estados (i.e. as asneiras dos gestores devem ser pagas pelos contribuintes; que o mesmo é pensar "é para isso que o gado serve").
A certa altura, diz Theo, um tal juramento até pode provocar comportamentos anti-éticos - chegado aqui, Theo serve-se da relativização e do falso silogismo, tão caros aos extremistas, para tentar virar a mesa ao contrário. E porquê "comportamentos anti-éticos"? Porque não é ético, para Theo, que um gestor decida usar o dinheiro dos seus accionistas para "promover causas" que destruam valor; "promover causas" é uma expressão que ele injectou e com um sentido muito preciso.
O sujeito também acha que é absolutamente falso que a crise subprime tenha sido causada por alguns MBAs ou até por banqueiros jogando com o dinheiro de outras pessoas (chega a proferir que quem defende tal coisa "ignora os factos", acestando ao professor Thomas Donaldson). Não me vou dar ao trabalho de comentar esta parte das afirmações de Theo.
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