No curto e sardónico discurso mais marcante da rentrée pós-eleitoral da direita, Manuela Ferreira Leite voltou ao terrorismo político, desta feita em versão parlamentar.
Aplaudida de pé por toda a bancada do PSD, incluindo, lamento apontá-lo, pessoas que deviam saber melhor (como Paulo Mota Pinto), a Senhora voltou à apelar à política de bordel mexicano.
Destaco, entre outros disparates, as soberbas próprias da "dona da verdade":
“cabe, sem sombra de dúvidas, ao senhor primeiro-ministro um esclarecimento" [a propósito das escutas de que foi alvo, cujo teor ignora em detalhe, e que estão supostamente sob segredo de justiça]
“Não é sustentável em nenhum país que haja um primeiro-ministro que esteja sob suspeita. E é esta contribuição que eu gostaria de dar para que o primeiro-ministro ajudasse a eliminar essa suspeição” [que rica contribuição...; sobre o boato que circula em conversas de café sobre alegadas trocas de impressões de Sócrates com Vara acerca do negócio de tomada da TVI pela Prisa, teor que ninguém (?) conhece porque está sob segredo de justiça; teor que nada tem a ver - ainda que seja acertado - com os motivos pelos quais a PJ escutou Vara]
“Já que a justiça não ajuda a resolver o problema de forma célere e eficaz, a forma que tinha de resolver o problema era eu própria tomar a iniciativa de esclarecer a opinião pública sobre aquele ponto que a justiça não consegue esclarecer” [o caso veio a lume há pouco mais de 15 dias mas ela já invoca o atraso da Justiça... aparentemente, a velha Senhora quer que Sócrates seja juiz em causa própria ou se sobreponha ao sistema judicial, convidando-o, sibilina e insinuantemente, como as cobras, a que dê o passo em frente para o abismo; claro que ela o faria, mas é exactamente por isso que a Senhora não foi eleita Primeiro-Ministro]
"Não é ficando calado, não é destruindo provas” [Provas, provas de quê? PM sob suspeita? De quem?]
Sobre o motivo insofismável deste convite inquisitorial ao suicídio político por tuta e meia, à promiscuidade institucional, e ao arrepio da separação de poderes, Manuela, a velha Senhora, diz que Socrates deve explicar-se publicamente porque... isto é tema de converseta em todos os cafés e restaurantes, locais públicos, empresas e... "autocarros" (sic).
Portanto, meu caro leitor, se decidir um destes dias lançar um boato sobre o fim do mundo em cuecas e ele por acaso pegar entre a populaça como tema de café e autocarro, apresse-se a pedir a esta prestimosa parlamentar de plantão que exiga que venha a terreiro o Primeiro-Ministro pronunciar-se sobre o dito, se necessário for às cinco da manhã e em pijama!
O lado trágico - ou melhor, sórdido - da insinuação do PSD (já ontem tentada na SIC por Paulo Mota Pinto frente a um António José Seguro que serenamente o demoliu) reside no simples facto de não nos ser credível que a Senhora alguma vez se pudesse pronunciar sobre um qualquer boato sem um mínimo de rigor.
Disso logicamente decorre que a Senhora soubesse algo sobre o que falava, ainda que o tivesse propositadamente distorcido, para atingir um Primeiro-Ministro indefeso (as escutas não estão em seu poder e não paira nenhuma acusação concreta sobre a sua pessoa que tenha a ver com o caso Prisa - TVI).
Quer isto também dizer que para a velha Senhora abrir a boca em uníssono com o seu coro, não se pode aceitar outra tese que não tenha por base o conhecimento prévio, ilegal, do teor de facto de conversas telefónicas entre dois amigos, ainda que sobre o negócio Prisa - TVI.
Uma conversa a dois (entre Vara e Sócrates) sobre um qualquer negócio, dificilmente prefigura um crime.
Por outro lado, discorrer no parlamento - rigorosa ou distorcidamente - sobre o teor de escutas ordenadas pelo Ministério Público, implica a presunção de cumplicidade com uma violação de segredo de Justiça.
E isso sim, meus amigos: é crime! E do grave!
Não é a primeira vez que percebemos que o PSD vasculha - e provavelmente manda pagar - quaisquer petit pieces informativas que visem o Primeiro-Ministro.
No entanto, é a primeira vez que se pode inferir logicamente que existiu cumplicidade do PSD no aproveitamento de uma violação grave de segredo de Justiça.
Na outra hipótese - ou seja, a Senhora não fazer realmente ideia alguma do que estava a falar - então retiraria outra conclusão: não restariam dúvidas de que seria pessoa imbecil e totalmente nula no cumprimento de quaisquer funções de serviço público, incluindo a de tribuna da nação, coisa em que também não acredito (embora pouco falte...).
Em suma, e pegue-se por onde se pegue: esta Senhora e o que lhe subjaz são uma vergonha.
Começo a interrogar-me se os Budistas não terão alguma razão ao acreditar na reincarnação e se esta mulher não será o Tomás de Torquemada pós-moderno...
Respondeu-lhe bem Francisco Assis: “Tentou aproveitar violações - que infelizmente ocorrem, de facto, de maneira sistemática no nosso país - do segredo de justiça para a partir daí fazer insinuações, lançar suspeitas e proferir gravíssimas insinuações de ordem política. E, por isso, eu devolvo-lhe a acusação”.
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