sábado, 11 de abril de 2009

A agenda escondida dos "sociais-democratas"

É notável que a seis meses de eleições este partido ainda não tenha um programa digno desse nome. Há quem pense que isto é por desleixo e falta de ideias concretas, e talvez o seja (existe no oportunismo alguma preguiça), mas talvez apenas em parte tenham razão.

Não ter programa é, na verdade, extremamente conveniente: pode apresentar-se a cada momento a posição mais popular (ou mesmo populista), sem que isso indique a menor incorência. O caos é coerente com o caos.

Outra conveniência, poderá ser esconder dos portugueses uma agenda que estes nunca apoiaram, não desejam apoiar, e nunca apoiarão (a menos que sejam enganados). Nisto já existiria uma subversão considerável do fundamento democrático.

Ressabiamento e dissumulação. Noite e nevoiero. Nacht und Nebel.

Na minha intrepretação - e até melhor prova que me convença em contrário - eis parte dessa agenda:


-A privatização progressiva da segurança social (aqui intervém o negócio dos seguros de saúde)

-A privatização progressiva do sistema nacional de saúde (aqui intervém o negócio dos hospitais privados e dos seguros de saúde)

-A promoção progressiva da privatização da educação, começando pelo cheque ensino, uma ideia Republicana (EUA), como as anteriores (aqui intervém o negócio dos colégios e universidades privadas)

- Promover a liberalização dos despedimentos (tem a ver com a base de apoio que sempre têm tido, sobretudo no interior norte e centro do país)

- Quiçá, substituir algumas das empresas no fornecimento ao Estado, por outras (uma continuação de negociatas, mas com outras mãos)

- Contribuir para manter o país num certo nível de atraso cultural (promover a cultura como um custo e os intelectuais como um resíduo)

- Manter o que resta do status quo do país corporativista, em parte herdado do Estado Novo (que defendem frequentemente em privado), durante o máximo tempo possível e vender isso às massas em golfadas de populismo fácil

- Last but not least: considerar sair do Euro e desenterrar - talvez - a aliança com a velha Albion, agora no plano monetário

O teste derradeiro da memória e da coerência será o da tentativa de eleição de um nosso ex-primeiro ministro à CML. Uma vez ultrapassado esse ponto, tudo será possível.

É, sem sombra de dúvida, um partido de jogadores, um "saco de gatos", como alguém já disse.

Os que mandam efectivamente no partido parecem ser de raiz neo-liberal mal assumida, na melhor das hipóteses, e oportunistas natos, na pior. Sente-se desses um último bafo de primavera Marcelista.

Pessoalmente, sinto uma profunda tristeza em constatar aquilo em que se tornou o partido de Sá Carneiro. Precisávamos de melhor alternativa.

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