sábado, 31 de outubro de 2009

As perguntas de Saramago

Indiscutivelmente, a forma como Saramago olha o mundo não é fácil. Podemos discordar dela, mas para isso é preciso conhecê-la. É preciso que nos coloquemos a nós próprios as perguntas que nos lança. Saramago, como qualquer escritor maior, é um conversador-pensador que por contingências da vida se foi isolando ou decidiu isolar-se, sem que tenha abdicado de pensar ou de querer aprender.

Gosto de alguns dos seus livros, embora não os ache especialmente originais. "Caim" não é excepção; outras figuras maiores da literatura já se aventuraram nos mesmos mistérios, mesmo sem ter de descer às profundezas do Antigo Testamento. Norman Mailer, por exemplo (para mim, muito acima de Saramago nesta matéria).

Ainda assim, as interrogações de Saramago não devem, nem podem, ser ignoradas. Não penso que a sua intenção tenha sido a de alvejar por prazer ou impulso um conjunto de textos com 2.000 anos. Bem pelo contrário, acho que Saramago presta homenagem à espiritualidade humana, ao desafiá-la a questionar-se mais profundamente sobre a dureza da letra bíblica.


Pode ser que o faça como uma criança, à letra e zangado, ou como alguém disse: "com ingenuidade".

Mas é nessa "ingenuidade" que reside provavelmente a sua proposição artística relativamente ao tema, bem como a origem das suas legítimas questões.

O grande fardo


O problema português - a nossa crise estrutural - nada tem de absolutamente peculiar à luz dos desafios e problemas que se colocam, ao mesmo nível e duma forma geral, à maioria das economias abertas de pequenas nações, sobretudo na Europa.

É verdade que estamos num caminho de algum risco, possivelmente mesmo da insustentabilidade. É verdade que temos tido Executivos erráticos, pouco determinados, voláteis, esbanjadores e irresponsáveis. É verdade que continuamos a ter demasiados empresários analfabetos, ou quase. É verdade que nos sobre-endividámos, muito embora a convite de certos banqueiros que agora criticam esse endividamento. É verdade que possuímos um défice na balança de transacções comerciais nefasto. E também é verdade que o nosso endividamento externo é um problema sério, de resolução lenta e muito difícil.

Mas tudo isto passa também a ser um problema estrutural Europeu, sempre que Bruxelas paga para que não produzamos tomate ou para abater navios de pesca, ou sempre que permite a importação quase livre de toda a espécie de bens Chineses, mesmo que sejam contrafeitos ou produzidos por mão-de-obra escrava, por exemplo (uma estimativa recente aponta a contrafacção Chinesa como a causa para menos 100.000 postos de trabalho, só na Europa).

Não deixo por isso de ficar intrigado com algumas "coincidências" a que vamos assistindo, em particular uma ligando dois factos recentes:

- Logo no primeiro dia após as legislativas revelarem um PS ainda vitorioso, a abertura de novo processo contra Portugal por défice excessivo (que um sorridente Durão Barroso recentemente frisava "ter sido necessário").

- A revisão em baixa da qualidade da dívida pública portuguesa que passou esta semana de "estável" para "negativo", pela mão da Moody's (os mesmos tipos que classificavam de AA investimentos colossais que se viriam a revelar ruinosos).

Hum...

Mário David: homem de Durão e... Berlusconi

À boa pergunta,

"E quem é Mário David, um obscuro deputado europeu do PSD, que queria que Saramago renunciasse à nacionalidade portuguesa e que o Governo português fosse declarado inimigo da liberdade de imprensa no Parlamento Europeu, por causa do caso "Jornal de Sexta", da TVI, ao mesmo tempo que não acha que Berlusconi represente qualquer ameaça nesse campo?"

Vimos na Wikipedia:

"Mario Henrique de Almeida Santos David (Angola, 20 de Agosto de 1953), médico e político português.
A exercer o mandato de
Deputado à Assembleia da República, pelo Círculo de Leiria, onde coordena a bancada social-democrata na Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros, foi Secretário de Estado dos Assuntos Europeus do XVI Governo e Assessor Político do Primeiro-Ministro do XV Governo, José Manuel Durão Barroso, cujo Gabinete de Transição para a Comissão Europeia foi coordenador, indigitado por aquela estrutura.
Mário David foi ainda Vice-Presidente do
Partido Popular Europeu e Secretário-Geral do Grupo dos Liberais Democratas e Reformistas do Parlamento Europeu. É ainda Secretário-Geral-Adjunto da Internacional Democrata do Centro.
No dia 20 de Outubro de 2009, Mário David ganhou alguma notoriedade ao afirmar publicamente que se envergonhava de ser compatriota do escritor
Prémio Nobel da Literatura José Saramago, a propósito da publicação do seu livro Caim."

Mário David, um homem ao "serviço público" que não hesita em convidar um ilustre compatriota (goste-se ou não de Saramago) ao exílio mais completo. Poderia - apetecia-me - adjectivar. Fica para outra altura.

Face Oculta

O caso que envolve o senhor Vara encaixa naquela classe de casos plausíveis que em nada dignifica o PS ou a coisa pública. Depois de uma ascensão meteórica dificilmente assente em brilhantismo académico ou profissional, já se previa que alguma coisa, um dia, viesse a acontecer.

Da Wikipedia:

"Armando António Martins Vara (Vilar de Ossos, Vinhais, 19 de Fevereiro de 1954) é um político português e administrador bancário. Estudou Filosofia na Universidade Nova de Lisboa, tendo abandonado a universidade sem obter o diploma de licenciatura. Mais tarde obteve o diploma de licenciatura no Curso de Relações Internacionais na agora defunta Universidade Independente, três dias antes da sua nomeação para a Administração da Caixa Geral de Depósitos, cargo que deixou de exercer para assumir a presidência do Banco Comercial Português.
Um mês e meio depois de ter abandonado a Caixa Geral de Depósitos para assumir a vice-presidência do Banco Comercial Portugal foi promovido no banco público ao escalão máximo de vencimento, o nível 18, o que terá reflexos para efeitos de reforma.
"


Do rol de irregularidades relacionadas com Vara surge mesmo a certa altura um suposto recurso a técnicos que dele dependiam para um projecto de moradia pessoal (sem comentários).

É forçoso que mesmo antes de transitar em julgado, o PS e o BCP e o Banco Central façam as suas própias averiguações e não primem pela inacção.

A confirmar-se a veracidade do teor das escutas da PJ (provas de corrupção), Vara deveria, no mínimo, ser suspenso das suas funções bancárias (ainda que a Lei o não exiga) e afastado de qualquer cargo público.

Sem qualquer margem para dúvidas, este caso (que nada tem a ver com a poeira e intentonas de outros "casos" surgidos contra Sócrates no último ano e meio) será uma dura prova para o XVIII Governo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Perdoar, mas não esquecer

Eduardo Catroga, em Julho de 2009, já tinha dado uma pista para aquilo que viria a motivar o que ficou conhecido como "inventona":

Este achado não deve ser visto como mero acaso, antes como evidência de algo bem premeditado.
A tese da necessidade de um Governo de "inspiração" Presidencial desenvolveu-se ao mais alto nível no PSD depois do trauma mal digerido que foi a vitória do PS com maioria absoluta, em 2005. Foi a resposta que encontraram plausível para vingar a dissolução da Assembleia pelo Presidente Sampaio (olho por olho...); se necessário fosse, propunham-se mesmo alterar a Constituição.

Tive oportunidade de assistir pessoalmente a algumas dessas efabulações - não sem algum riso - logo após a eleição de Cavaco. A teoria entretanto esmoreceu, perante o êxito relativo de Sócrates em diversos campos, mas veio a renascer a ano e meio das legislativas.

O Presidente e as suas amigas e amigos da brigada do reumático, e a triste tentativa de mexicanizar o país, são condimentos de episódio a não esquecer por muitos e bons anos.

Rendimento Máximo Garantido

Enquanto por cá, num país em que a fome aumenta com o desemprego, o CDS-PP faz bandeira (acompanhado do PSD), da necessidade absoluta de intensa fiscalização ao Rendimento Mínimo Garantido (RSI), nos EUA o Internal Revenue Service, o original e muy temido "IRS", criou uma unidade especial de investigação com foco em rendimentos superiores a 30 milhões de dólares.

A nova unidade alargou as suas investigações ao Panamá, a Sydney e a Pequim, abrindo aí escritórios especiais, à semelhança dos que já existiam em Barbados e Hong Kong.

O IRS americano revelou que os americanos que aceitaram de moto próprio revelar a existência de contas off shore - para beneficiar duma amnistia parcial em vigor até meados deste mês - permitiram a descoberta de várias contas de valor superior a 100 milhões de dólares... Ao todo, cerca de 7.500 americanos decidiram-se por esta opção.

Na Europa medra ainda - salvo poucas excepções - um silêncio perturbador sobre este assunto.

Rajoy, o perdido

Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades... o ditado popular parece adaptar-se na perfeição ao recente escândalo que grassa em Espanha e abala os Populares. O PP espanhol, pela mão de Rajoy, aproveita para fazer uma espécie de purga, tendo começado pelos Populares de Valência, a propósito do recente esquema de corrupção em que se suspeitam envolvidos diversos altos dirigentes do partido (uma história que ainda vai dar muito que falar, suspeito). Não sem antes se fazerem ouvir acusações contra o Governo, a Justiça e os meios de investigação envolvidos. Que outra coisa se podia esperar de franquistas envergonhados?

domingo, 25 de outubro de 2009

O mártir Berlusconi...



O prémio vai para Burlesconi, oh... perdão, Berlusconi, o PM italiano.
Recentemente afirmou à CNN:

"Faço o que faço por sacrifício, mas não gosto nada do que faço, mesmo nada"

Vaticano persiste no erro

Em vez de discutir os fundamentos - na minha opinião absurdos - dos votos de celibato a que obriga a esmagadora maioria dos seus representantes (ainda que perante a mais terrível falta de "vocações" de todos os tempos), o Vaticano parece entricheirar-se cada vez mais no seu bunker ideológico (mais por escolha própria do que por inspiração nos Evangelhos).

Há menos de uma semana propôs uma espécie de fusão com a ala dura dos Anglicanos (os Anglicanos tradicionalistas), que se sente desconfortável com a nomeação de sacerdotes femininas e com a admissão de sacerdotes homosexuais.

Isto não me parece ecumenismo. Parece-me mais uma estratégia desesperada de negação da realidade, à mistura com uma certa ânsia de unificação de poder, à maneira medieval.

A hora da verdade: teoria neoclássica



Pelo menos 2000 economistas já subscrevem algo com que concordo há muito tempo: o facto da teoria neoclássica conduzir, no essencial, a muitas tolices. No entanto, a minha opinião difere num aspecto importante: não foi propriamente por uma devoção cega à matemática que os neoclássicos se deixaram iludir por uma teoria com tantos problemas; terá antes sido por uma certa cegueira ideológica de base combinada com falta de observação da realidade, ao que se somou muita inabilidade matemática (a matemática é perfeitamente capaz de dar conta das fraquezas da teoria neoclássica, o que sucede é que a maioria dos economistas neoclássicos nunca foram bons matemáticos, daí resultando aproximações absolutamente pavorosas e imbecis).
Há ainda a questão metodológica: como se pôde tornar aceitável que esse bando de seres confundisse uma teoria de valor relativo (e continue a confundir) com uma verdade indiscutível ?

O texto português da petição (in Valor das Ideias) é este:

"Poucos economistas perceberam a emergência da crise actual, mas essa falha de previsão foi o menor dos problemas. O mais grave foi a cegueira da profissão face à possibilidade de existência de falhas catastróficas numa economia de mercado. O papel da economia perdeu-se porque os economistas, enquanto grupo, se deixaram ofuscar pela beleza e elegância vistosa da matemática. Porque os economistas da verdade caíram de amores pela antiga e idealizada visão de uma economia em que os indivíduos racionais interagem em mercados perfeitos, guiados por equações extravagantes. Infelizmente, esta visão romântica e idílica da economia levou a maioria dos economistas a ignorar que todas as coisas podem correr mal. Cegaram perante as limitações da racionalidade humana, que conduzem frequentemente às bolhas e aos embustes; aos problemas das instituições que funcionam mal; às imperfeições dos mercados - especialmente dos mercados financeiros - que podem fazer com que o sistema de exploração da economia se submeta a curto-circuitos repentinos, imprevisíveis; e aos perigos que surgem quando os reguladores não acreditam na regulação. Perante o problema tão humano das crises e depressões, os economistas precisam abandonar a solução, pura mas errada, de supor que todos são racionais e que os mercados trabalham perfeitamente."

Composição do XVIII Governo da III República


Uma avaliação preliminar, das escolhas e do perfil, de 0 a 20 a valores:


Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros – Luís Amado, 10 valores

Ministro de Estado e das Finanças - Fernando Teixeira dos Santos, 19 valores

Ministro da Presidência – Pedro Silva Pereira, 15 valores

Ministro da Defesa Nacional - Augusto Santos Silva, 10 valores

Ministro da Administração Interna – Rui Pereira, 12 valores

Ministro da Justiça - Alberto Martins, 12 valores

Ministro da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento - Vieira da Silva, 19 valores

Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas - António Manuel Soares Serrano, pendente de observação

Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações - António Augusto da Ascensão Mendonça, pendente de observação

Ministra do Ambiente e do Ordenamento do Território - Dulce dos Prazeres Fidalgo Álvaro Pássaro, pendente de observação

Ministra do Trabalho e da Solidariedade Social - Maria Helena dos Santos André, 14 valores

Ministra da Saúde - Ana Maria Teodoro Jorge, 15 valores

Ministra da Educação - Isabel Alçada, pendente de observação

Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - Mariano Gago, 18 valores

Ministra da Cultura - Maria Gabriela da Silveira Ferreira Canavilhas, 16 valores

Ministro dos Assuntos Parlamentares - Jorge Lacão, 15 valores

Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros - João Tiago Silveira, 15 valores

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Se nada mudar...

Se nada mudar - ao nível da mentalidade vigente no empresariado tradicional - será este o futuro provável de boa parte da indústria portuguesa:

Há quem lhe chame arte... certamente por amor ao eufemismo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Obama: gloves off!!!

O presidente Obama chama finalmente os bois pelos nomes, e põe fim à política de apaziguamento com os grandes interesses das seguradoras relativamente ao sistema de saúde norte-americano:

"This is the unsustainable path we’re on, and it’s the path the insurers want to keep us on. In fact, the insurance industry is rolling out the big guns and breaking open their massive war chest – to marshal their forces for one last fight to save the status quo. They’re filling the airwaves with deceptive and dishonest ads. They’re flooding Capitol Hill with lobbyists and campaign contributions. And they’re funding studies designed to mislead the American people (...)
It’s smoke and mirrors. It’s bogus. And it’s all too familiar. Every time we get close to passing reform, the insurance companies produce these phony studies as a prescription and say, “Take one of these, and call us in a decade.” Well, not this time. The fact is, the insurance industry is making this last-ditch effort to stop reform even as costs continue to rise and our health care dollars continue to be poured into their profits, bonuses, and administrative costs that do nothing to make us healthy – that often actually go toward figuring out how to avoid covering people. And they’re earning these profits and bonuses while enjoying a privileged exception from our anti-trust laws, a matter that Congress is rightfully reviewing."

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Hitler reage a Maitê


Por causa de um video tolo, inócuo e de 2007, que alguém se lembrou de desenterrar e até já motivou uma declaração da Embaixada do Brasil...

Hitler reagiu!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Por falar em fanáticos...

Para a posteridade, ficamos com esta pérola que ilustra muito claramente a faceta democrática do intelectual sem fundilhos que é o Dr. Vasco Graça Moura. Um homem de receitas bem montadas no erário público, Cavaquista convicto, eminência correlegionária do uso e abuso do falso silogismo, carácter sem qualquer pingo de respeito pela res pública e pelo seu verdadeiro e único patrono de quase sempre: o povo de Portugal.

"MAIS DO MESMO por Vasco Graça Moura - 30 Setembro 2009
O povo português acaba de demonstrar a sua fatal propensão para viver num mundo às avessas. Não há nada a fazer senão respeitá-la. Mas nenhum respeito do quadro legal, institucional e político me impede de considerar absolutamente vergonhosa e delirante a opção que o eleitorado acaba de tomar e ainda menos me impede de falar dos resultados com o mais total desprezo.
Só o mais profundo analfabetismo político, de braço dado com a mais torpe cobardia, explica esta vitória do Partido Socialista.
Não se diga que tomo assim uma atitude de mau perdedor, ou que há falta de fair play da minha parte. É timbre das boas maneiras felicitar o vencedor, mas aqui eu encontro-me perante um conflito de deveres: esse, das felicitações na hora do acontecimento, que é um dever de cortesia, e o de dizer o que penso numa situação como aquela que atravessamos, que é um dever de cidadania.
Opto pelo segundo. Por isso, quando profiro estas e outras afirmações, faço-o obedecendo ao imperativo cívico e político de denunciar também neste momento uma situação de catástrofe agravada que vai continuar a fazer-nos resvalar para um abismo irrecuperável.
Entendo que o Governo que sair destes resultados não pode ter tréguas e tenciono combatê-lo em tudo quanto puder. Sabe-se de antemão que o próximo Governo não vai prestar para nada!
É de prever que, dentro de pouco tempo, sejamos arrastados para uma situação de miséria nacional irreversível, repito, de miséria nacional irreversível, e por isso deve ser desde já responsabilizado um eleitorado que, de qualquer maneira, há-de levar a sua impudência e a sua amorfia ao ponto de recomeçar com a mais séria conflitualidade social dentro de muito pouco tempo em relação a esta mesma gente inepta a quem deu a maioria.
O voto nas legislativas revelou-se acomodatício e complacente com o status quo. Talvez por se tratar, na sua grande maioria, de um voto de dependentes directos ou indirectos do Estado, da expressão de criaturas invertebradas que não querem nenhuma espécie de mudança da vidinha que levam e que se estão marimbando para o futuro e para as hipotecas que as hostes socialistas têm vindo a agendar ao longo do tempo. O que essa malta quer é o rendimento mínimo, o subsídio por tudo e por nada, a lei do menor esforço.
Mas as empresas continuarão a falir, os desempregados continuarão a aumentar, os jovens continuarão sem ter um rumo profissional para a sua vida. Pelos vistos a maioria não só gosta disso, como embarcou nas manipulações grosseiras, nas publicidades enganosas, nas aldrabices mediáticas, na venda das ilusões mais fraudulentamente vazias de conteúdo.
A vitória foi dada à força política que governou pior, ao elenco de responsáveis que mais incompetentemente contribuiu para o agravamento da crise e para o esboroar da sustentabilidade, ao clube de luminárias pacóvias que não soube prevenir o desemprego, nem resolver os problemas do trabalho, nem os da educação, nem os da justiça, nem os da segurança, nem os do mundo rural, nem nenhuma das demais questões relevantes e relativas a todos os aspectos políticos, sociais, culturais, económicos e cívicos de que se faz a vida de um país.
Este prémio dado à incompetência mais clamorosa vai ter consequências desastrosas. A vida dos portugueses é, e vai continuar a ser, uma verdadeira trampa, mas eles acabam de mostrar que preferem chafurdar na porcaria a encontrar soluções verdadeiras, competentes, dignas e limpas. A democracia é assim. Terão o que merecem e é muitíssimo bem feito. O País acaba de mostrar que prefere a arrogância e a banha de cobra. Pois besunte-se com elas que há-de ter um lindo enterro.
A partir de agora, só haverá mais do mesmo. Com os socialistas no Governo, Portugal não sairá da cepa torta nos próximos anos, ir-se-á afundando cada vez mais no pântano dos falhanços, das negociatas e dos conluios, e dentro de pouco tempo nem sequer será digno de ser independente. Sejam muito felizes."

Mensagem a Maitê Proença

É preciso perceber de onde partiram as reacções ao inocente video de Maitê. O que alguns "botas" (de elástico) não gostaram, meia dúzia de energúmeros que gostaríamos de ver no pólo Sul, terá sido apenas e somente o facto de se ventilar no Brasil que alguns portugueses, num concurso orquestrado por idiotas, fossem capazes do ridículo supremo de "eleger" ao título de "melhor português de sempre" um dos maiores opressores públicos da sua história: o "botas-mor", Salazar.
A minha tese é a de que essa "eleição" visou sondar e preparar o eleitorado - à época, 2007 - para a possível vitória e exercício de poder duma direita ideologicamente radical, falsamente democrática, através duma manobra multi-media (que combinou jornais, novelas, blogues, opinion makers a até esse curioso concurso); de uma campanha de inspiração afecta a um partido político cada vez mais inconsequente, mas virulento e atrasado, desenhada para branquear não apenas o nome do ditador como também o próprio conceito de ditadura em Portugal; uma campanha elaborada por gente sem escrúpulos que se agitou por fanatismo, alienação ou corporativismo económico, na senda da anti-utopia do "ditador benevolente".

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Olho neles, rapazes!

http://www.transnationale.org/countries/prt.php

O vazio PSD ultrapassou fronteiras!

Do Telegraph:



"Mrs Ferreira Leite, 68, the first woman to lead a major political party in Portugal, has accused the Socialists of "handing debts to future generations" but failed to outline specific cuts to rein in the growing public deficit. Portugal's unemployment rate has risen to 9.1 per cent, its highest level in 20 years, and is predicted to keep rising, while the public deficit is expected to hit nearly 6 per cent of output this year. Analysts said the absence of concrete proposals from the PSD and Mrs Ferreira Leite's lack of charisma made it difficult for the party to capitalise on the economic woes. "By focusing her entire strategy on criticism of the government without making alternative proposals, Ferreira Leite failed to excite the electorate," said Antonio Costa Pinto, a politics professor at the University of Lisbon. "

Inglorious Basterds?

Um daqueles recentes questionários do jornal Público (uma das prováveis fontes do "ouvimos os portugueses") pretendia uma maioria de votos à resposta "governar em minoria", relativamente à questão sobre como deve governar o próximo executivo:


Governar em minoria: 1455 votos, 61% [Resultado provável: eleições antecipadas]

Fazer coligação PCP+BE: 419 votos, 18% [Missão Impossível]

Aliar-se ao CDS/PP: 269 votos, 11% [Solução menos impossível]

Formar um bloco central com o PSD: 243 votos, 10% [Pequeno pormenor: qual PSD?]

Parece-me que a maioria dos votos captados pelo Público expressa o desejo de eleições antecipadas. Confesso que não é o meu caso...

Go Nova, Go!



Excerto de artigo de Ana Rute Silva, in Público:


"Programa de gestão internacional oferecido pela Universidade Nova conseguiu o primeiro lugar entre 50 analisados pelo Financial TimesO nome da universidade não está lá. Nem sequer o país. Mas há uma escola pública portuguesa que oferece o melhor mestrado do mundo em gestão internacional e ocupa o primeiro lugar do ranking que o Financial Times(FT) hoje publica: a Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. O programa do CEMS (uma rede internacional de escolas) que a Nova passou a oferecer desde Agosto foi considerado o melhor pelo jornal económico britânico e ultrapassou o mestrado da HEC Paris (École des Hautes Études Commerciales) que ocupava, desde 2007, o primeiro lugar. O terceiro ficou reservado à ESCP Europe, fundada em 1819 e comcampus em França, Reino Unido, Alemanha, Espanha e Itália. Há cerca de dois anos, e depois de uma competição renhida entre as escolas de gestão portuguesas, o CEMS seleccionou a Faculdade de Economia da Nova para integrar esta espécie de "liga de honra" internacional do ensino da gestão, composta por 28 instituições académicas de topo e apoiada por 57 empresas. O MIM, sigla para Masters in International Management, é a imagem de marca do CEMS, com reconhecimento à escala global. E, por isso, o director da Faculdade de Economia não esconde a satisfação. "Obter o primeiro lugar no rankingdoFT é o culminar de uma estratégia de anos. Somos uma escola pública e esta é a melhor forma de servir o país. Para que os estudantes portugueses tenham acesso a uma formação igual à das melhores escolas do mundo", diz José Ferreira Machado, que desvaloriza o facto de não estarem explícitos os nomes da faculdade ou do país. O prestígio é alcançado com a possibilidade de acesso, justifica. E o que interessa "é um estudante português poder fazer em Lisboa um dos mestrados de maior fama internacional". Na competição mundial pelos melhores talentos, vence o país que consegue projectar os seus quadros. "Os estudantes portugueses podem, com esta formação, trabalhar no mundo e mostrar o talento da juventude portuguesa. Isso é muito importante para o país", considera. A turma que começou o programa a 31 de Agosto tem 34 alunos; para o próximo ano já há 45 admissões. Depois da publicação do ranking, a Nova espera receber mais candidaturas mas não tem capacidade para aumentar o número de estudantes. "No total dos mestrados recebemos 200 alunos e este é o limite que podemos aceitar tendo em conta as instalações. Espero ter melhores estudantes [no mestrado em gestão internacional], mas não vamos admitir mais. Somos uma escola pública sem PIDDAC (Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central) há sete anos", desabafa. As empresas EDP e Millennium bcp, parceiras do CEMS, estão envolvidas directamente na selecção dos candidatos. Falar duas línguas e ter capacidade para trabalhar em ambientes multiculturais são os principais critérios de admissão. Para frequentar o MIM, que custa 14.400 euros, os alunos têm primeiro de ser aceites num mestrado da Nova em Economia, Finanças ou Gestão, que frequentam durante um ano. Só depois integram o MIM, ficando no final com dois graus académicos. A Faculdade de Economia da Nova - que foi também a primeira universidade criar um MBA em Portugal em 1980 - factura com os mestrados cerca de dois milhões de euros, o mesmo que com as licenciaturas. "

Educação, Texas style


Um dos maiores problemas que os norte-americanos enfrentam prende-se com a educação que, afinal de contas, o sistema liberal não está a produzir - à excepção das melhores Universidades do mundo.

Aconselho a leitura, de novo, de uma recente crónica de Paul Krugman:

http://www.nytimes.com/2009/10/09/opinion/09krugman.html?_r=2&th&emc=th



segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Autárquicas 2009: Vitória política do PS

PS
37,66%
2.083.833 votos
921 mandatos

PPD/PSD
22,95%
1.269.821 votos
666 mandatos

domingo, 11 de outubro de 2009

Obrigado, Sr. Presidente!

Tal como já tinhamos escrito, a declaração do PR apenas serviu, entre outras coisas más, para promover ameaças à segurança nacional:

(...) "De acordo com Alexandre Caldas, que lidera o Centro de Gestão da Rede Informática do Governo (CEGER), mantém-se o "aumento exponencial" de tentativas para entrar no sistema informático. Este responsável diz, no entanto, não ter ainda uma quantificação, dado que o CEGER está agora a analisar os dados estatísticos. No passado fim-de-semana, a Presidência do Conselho de Ministros (PCM) emitiu um comunicado onde referia a existência de "12 tentativas graves de intrusão entre os dias 27 e 29 de Setembro, tendo esse número mais do que duplicado (32 tentativas graves de intrusão) entre os dias 30 de Setembro e 2 de Outubro".(...)"

excerto de texto de Susete Francisco

Herta Müller, prémio Nobel

Um prémio inesperado, e bem merecido. Devemos recordar e aprender os contornos e consequências das ditaduras, tanto as de direita, como as de esquerda. Os extremos andam de mãos dadas no desrespeito pelas liberdades básicas dos seres humanos.

Uma questão de bom senso

“I’m also fairly conventional on how economies should be run. Self-interest is still the best motivator we know – or more accurately, the only consistent motivator. So I’m for market economies. But I’m for market economies with strong safety nets, with adult supervision in capital markets, with public provision of goods the private sector does badly (like basic research and much of education.) An idealized New Deal is about as far as I go.”

P. Krugman

O homem mais perseguido do mundo

Depois de declarada inconstitucional a lei que previa a sua imunidade judicial e a de três outros altos cargos do Estado Italiano, Berlusconi afirmou, um tanto irado:

"Sou um perseguido. O maior da história, dado que sempre me absolveram (...) Gastei mais de 200 milhões em juízes... perdão, em advogados".

Há que convir que Il Cavaliere, dentro do seu género, ainda consegue ser cómico.

sábado, 10 de outubro de 2009

Pacheco Pereira, o invejoso?

Depois não te admires que te chamem o "pobre Pacheco"...
Uma tua pergunta pública:

"O que é que fez Obama a favor da paz, ou melhor, da Paz com letra grande? Nada"

Alguma vez te perguntaste, Pacheco, o que é que fez a Manuela Ferreira Leite em prol do que quer que fosse de interesse público?
Obama ainda só começou, e é verdade que todos esperamos mais dele, mas vamos lá ver:
  1. Correu da Casa Branca com os conservadores radicais, gente fanática, assumidamente pró-guerra, fundamentalmente anti-democrática e completamente despegada de quaisquer bases éticas, competência, honestidade intelectual.
  2. Ao contrário das (vossas) expectativas, tem sabido fornecer os instrumentos, e colocar as peças chave a jeito de se vencer a maior crise económica e social de que temos memória viva.
  3. Está a contribuir para extingir de forma responsável a acrimónia absurda que Bush vinha a acalentar em relação à Rússia, bem como a divisão que acalentava em relação à própria Europa (lembras-te da história da "velha Europa" vs. "nova Europa"? sabes o que se passa na Polónia?).
  4. Tem uma visão positiva para o mundo, construtiva, mais pacífica, mais responsável, mais dialogante, menos arrogante, mais respeitadora do ser humano. O homem inspira o melhor de nós.
  5. Já começou a inverter a posição pesadelo dos EUA em relação a Quioto.

Obama luta pela implementação de um sistema de saúde universal nos EUA, contra o que ainda lá vigora, enfrentando lobbies gigantescos cujo comportamento tem sido uma autêntica vergonha a céu aberto e contra os quais tu, meu filósofo da Marmeleira, nunca abriste o pio ao longo de todo este tempo (e podias tê-lo feito).

O comité Nobel não se enganou: em pouco mais de seis meses Obama restaurou alguma da tranquilidade de espírito e confiança no futuro ao mundo Ocidental. Lembra-te que é a primeira vez que tal sucede desde 2001. Não será isso uma forma importante de Paz, depois de um reinado de trevas que durou 8 anos e que tu raramente, ou nunca, enfrentaste com vigor?

O caminho faz-se andando. Cresce, Pacheco!...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

"A crise acabou", parte IV


Curiosamente, Krugman, a relatar do coração da máquina que ainda são os EUA, diz que não:


Quem é MFL ao pé de um prémio Nobel para afirmar, sem o mínimo comentário dos seus consignatários, o contrário?
Tratar-se-á de alguém que cegou de arrogância, obstinação infundada e vetustice mental?

O fanatismo, inflexibilidade, azudume e ressabiamento desta gente tem analogias históricas profundas. É-nos servido menos violentamente, mas os traços de personalidade estão todos lá.

"A crise acabou", parte III

Está-se mesmo a ver que sim:

"As dívidas de crédito dos portugueses à banca não param de aumentar, atingindo em Agosto o valor mais alto desde há 12 anos, ou seja, desde que há séries estatísticas. São 3,7 mil milhões que os particulares têm em malparado nos bancos, um crescimento absoluto de 34% face a igual mês de 2008 e mais 100 milhões de euros que no mês anterior, de acordo com os últimos dados divulgados ontem on-line pelo Banco de Portugal."


excerto de artigo de Paula Cordeiro do DN de 7 de Outubro, 2009

"A crise acabou", parte II


Todos sabemos que o desemprego sofre de alguma "inércia" relativamente às crises económicas, perdurando no tempo após o anti-climax das depressões como a que atravessamos. Ainda assim, irresponsavelmente, o PSD apostará em breve na derivação da tese de MFL: "A crise acabou".

É o que se vê e ouve já também a outros dirigentes do PSD (alguns deles economistas!), como Rui Rio, que acusou Sócrates de estar a criar um país de subsídio-dependentes por causa do número de pessoas que recebe o Rendimento Social de Inserção (RSI) ter aumentado de algumas dezenas de milhar de pessoas.

Lembro ainda, em relação a essa prodigiosamente cega afirmação, o que propagandeava um dos cartazes recentes da outra senhora. Rezava assim: ouvimos os portugueses: "ajudem quem mais precisa".

Justamente num ano como o que atravessamos o que poderia um cidadão normal esperar do seu Governo? Que reduzisse o número de recipientes do RSI, quando se sabe que o desemprego mais que duplicou e se tem consciência das graves dificuldades sociais de algumas famílias portuguesas? Seria isso "natural"?

Que Rio defenda que essas pessoas deveriam integrar forças de trabalho comunitário em part time enquanto recebem o RSI, é razoável. Que critique por criticar, e acuse de falsários e preguiçosos, às cegas, muitos dos que passaram a receber o RSI, é populista, irresponsável e absurdo.
Que se documente primeiro, e abra a boca depois.

"A crise acabou", afirmou MFL


MFL resiste no posto, enquanto a sua retaguarda procura desesperadamente uma solução que assegure o statu quo da linha de Cascais (será o gasto Marcelo, outra vez?).

Mas entretanto, MFL, que parece não ter aprendido nada com as últimas eleições, já voltou aquela linguagem esquisita e sem nexo: são frequentes nas suas curtas declarações à mestre-escola termos como "exigo", "jamais", "aviso", "medo", e outros indiciativos de grande dificuldade em aceitar e interpretar o sentido do voto popular.

No fim de semana passado, na sua inenarrável crónica do Expresso, MFL vertia assim:

"A crise, esse conceito abrangente que justifica todos os males económicos e sociais que nos rodeiam, acabou. É o que se lê nas declarações políticas e nas análises económicas."

Que maravilha!
Decretar o fim da crise logo depois de ter perdido as eleições, i.e. quando mais lhe dá jeito (a crise mundial, que ela tanto se esforçou por esconder numa campanha feita de ignomínias em nome da "Verdade). Chama-se a isto ter o mundo a seus pés (com honras de primeira página) ou, mais verdadeiramente, o rei na barriga.

Mais para o final da sua missiva, derrama a confissão inevitável:

"Sem se poder continuar a invocar a crise para justificar as nossas dificuldades, há que criar uma outra figura mítica que desempenhe este papel - talvez as 'consequências da crise'."

Por outras palavras, agora que a crise acabou, venha a próxima inventona! Será que não há nenhum editor que a notifique do ridículo a que se expõe?

Creio que a chave para a compreensão deste absurdo reside num provérbio inglês: "what can you expect from a pig but a grunt?"

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Viva!

Como costuma dizer o padre e professor Resina Rodrigues, "ainda bem que o ser humano é inconformista"

Má gestão, stress e suicídios: France Telecom

Segundo Christian Larose, suicidam-se em França entre 300 a 400 trabalhadores por ano, em consequência de pressão nos respectivos locais de trabalho.

Em 2007, ano de reorganizações para várias empresas automóveis, suicidaram-se numa semana 3 trabalhadores da Peugeot, em Mulhouse (um deles foi encontrado enforcado dentro da instalação). Também nesse ano suicidaram-se 4 trabalhadores do Renault Technocentre em Guyancourt (que já tinha por média um suicídio por ano).

Numa das situações, uma acção de solidariedade de colegas motivou repreensões explícitas (Peugeot).

Agora vem a lume a história mais trágica da France Telecom: 23 suicídios em apenas ano e meio!

Como é possível a gestão de pessoas ter chegado a este ponto tão baixo?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Que patrões tão queridos!



O descalabro social em pormenor, relatado pela Lusa:

"A empresa Supercamiseiros, de Guimarães, pediu a insolvência e despediu 51 trabalhadoras a quem ainda deve dois meses de salário e 200 horas extraordinárias, disse hoje à Lusa fonte sindical."É uma empresa que pôs sempre as trabalhadoras a fazer horas extraordinárias, que tinha encomendas e matéria-prima e, mesmo assim, ficou a dever dois meses de salário às funcionárias e não lhes pagou nem um cêntimo das horas extra", referiu Adão Mendes, coordenador da União de Sindicatos de Braga. A empresa Supercamiseiros, Confecções Ldª, em Brito, Guimarães, apresentou hoje de manhã o pedido de insolvência e entregou às 51 trabalhadoras a documentação necessária para que possam solicitar o pagamento do subsídio de desemprego. "Nunca nos faltou trabalho e, este Verão, adiámos as férias para Setembro para poder terminar algumas encomendas na data prevista", explicou Esmeralda Martins, funcionária da Supercamiseiros. A empresa de confecção de camisas e blusas foi fundada em 1997 e apresentava um capital social no valor de oitenta mil euros. Depois das férias, as trabalhadoras deslocaram-se à fábrica para iniciar funções, mas encontraram a porta da empresa fechada e um advogado à sua espera. "Disseram-nos que a fábrica ia fechar porque não tinha encomendas", afirmou Esmeralda Martins. "Numa altura em que os políticos tanto falam nas pequenas e médias empresas [PME], é mais uma que pede insolvência e que não paga dois meses de salário às trabalhadores", salientou Adão Mendes. Sem trabalho e sem salário, as funcionárias não acreditam que lhes sejam pagas as horas extraordinárias. "A administração pediu-nos para assinar um documento onde dizia que a empresa não nos devia nada e que nos tinha pago as horas extra e nós assinámos", frisou Esmeralda Martins. Em causa, segundo a trabalhadora, estaria uma possível coima aplicada pela Autoridade para as Condições de Trabalho que os responsáveis pela empresa não queriam pagar. "Ficámos sem o dinheiro e sem o direito de reclamar o dinheiro que nos devem", finalizou a costureira. A administração da empresa esteve indisponível para falar com a Lusa."

Espírito de contradição...

Clicar para ver melhor.

O efeito Esfinge

O jornal "Público" tinha hoje online um questionário (uma das fontes do "ouvimos os portugueses" nos cartazes da senhora) com a seguinte questão:

Considera-se esclarecida/o com a comunicação de Cavaco Silva sobre a alegada vigilância a Belém?

Das 1729 respostas até à altura em que captei o resultado, 81% tinha respondido "não".

É favor remeter o resultado ao PR.

Um número que dá que pensar

Segundo o INE, 75% das pensões portuguesas tem um valor igual ou inferior ao salário mínimo nacional.
O avanço de uma sociedade não é feito sem se perceber como o colectivo trata os seus mais velhos membros.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Uma paródia!

A maioria dos portugueses ignora que toda esta estória de suspeita de "escutas" e "vulnerabilidades" no sistema informático da Presidência da República será, sem a menor dúvida, alvo certo da chacota de todos os serviços de informação na Europa e para lá dela. Pensar que ninguém, a esse nível, queira saber do que se passa em Portugal é de uma grande ingenuidade.

De uma penada, todos ficaram a saber pela voz do próprio Presidente português, que deve ser uma brincadeira de crianças comprometer e violar informação confidencial do Estado, ainda que ao mais alto nível. Não é admissão pública que se possa fazer sem os devidos fundamentos, as devidas despistagens e o devido decoro e discreção.

Cavaco não se deve admirar que nos seus próximos encontros bilaterais apanhe com alguns sorrisos sardónicos.

Nunca, mas nunca, uma suspeita de vigilância foi tratada desta forma aberrante e infantil num Estado de Direito que se preze. Mesmo que hipoteticamente existissem - ou existam - indícios de vigilância do Governo sobre a PR, o caso merecia outro tipo de tratamento.

Assim, a declaração de terça-feira do senhor Presidente da República não só compromete a estabilidade política entre as mais altas instituições portuguesas, como também coloca a nu matérias sérias que intersectam o espaço da segurança nacional. Isso acontece por iniciativa do próprio Chefe Supremo das Forças Armadas, que é Cavaco.

Mais esquisito, só mesmo a publicação acidental de agentes da secreta portuguesa, há uns anos atrás.