domingo, 31 de janeiro de 2010

O espírito que é necessário

O espírito de que precisamos pode ilustrar-se no discurso de Roosevelt de 1936, no Madison Square Garden:

"Tivemos de lutar contra os velhos inimigos da paz: o monopólio empresarial e financeiro, a especulação, a banca imprudente, o antagonismo de classes, o facciosismo, os lucros extraordinários arrecadados com a guerra.

Tinham começado por considerar o governo dos Estados Unidos um mero apêndice dos seus próprios negócios. Sabemos hoje que um governo regido pelo dinheiro organizado é tão perigoso como um governo regido pela máfia organizada.

Nunca antes em toda a nossa história estas forças se uniram tão ferrenhamente contra um candidato como se verifica hoje. São unânimes nesse ódio contra mim - e de bom grado aceito esse ódio."


Voltámos a 1936. Mas precisamos de, pelo menos, três Roosevelt.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Tardança...ou Combate?

Resolvido que foi o problema do orçamento para 2010 eis-nos chegados ao momento que será crucial para o futuro de Sócrates e do seu governo.

Será ele capaz de aproveitar o ano que nos separa de novas eleições, no quadro da UE e de Portugal, para agir com outros governos e o seu próprio em direcção a uma social democracia menos vassala de interesses corporativos de classe ou do grande capital?

É bom que Sócrates, e o PS, se recordem que não estamos em 1983. O eleitorado compreende razoavelmente bem as razões pelas quais as classes médias têm vindo a ser empobrecidas e exigem acção determinada, sem fait-divers.

Não lhe vai chegar taxar os bónus maiores que 27.500 Euros dos banqueiros - uma medida insignificante, se isolada, meramente paliativa no acerto de contas com um sistema moral e economicamente falido; dificilmente lhe será permitido embarcar em mais "leis de diversão" sem punição eleitoral.

Sócrates tem agora de escolher: ou luta decisivamente pelo futuro duma social democracia sustentável, ou se resigna à gestão do compromisso, à navegação à vista... esperando-o nesse caso o desaire, sem dúvida.

Relativamente à leitura política da situação, Alegre revela a vantagem exercida sobre um Sócrates que assumiu tardiamente as consequências da crise internacional sobre o país, para logo as ter de combater apressadamente num quadro eleitoral de atascanço e polarização radical.

Aquilo que Alegre sabe - e aí vimos um político em acção - é que Sócrates, por mais que se mexa (e tem de o fazer) estará sempre mais ou menos refém da situação em curso, do combate à crise, dos efeitos de algumas duras decisões que se espera que tome, do desgaste político do enfrentamento com os oligarcas do statu quo.

O PS não terá outra escolha senão apoiá-lo, quanto mais não seja para que sirva ao eleitorado de escape, de mediador entre o sonho e a realidade.

Coisas que me desagradam (retrospectiva)

O défice das contas públicas de 2009 é de facto feio - 9,3% - e superior (bem superior) ao que o governo estimava antes das eleições e mesmo antes do fim do ano.

Admito que seja plausível supor-se que poderá estar na base disso uma estratégia de adaptação progressiva da realidade negra dos números à opinão pública, sobretudo tendo-se atravessado uma época eleitoral e um último trimestre importante para o consumo privado.

Por outro lado, a turbulência sobre as contas públicas em 2009 foi de facto mais violenta e mais dinâmica do que aquilo que é costume em anos de crise "normais".

Quer isto dizer que é igualmente plausível assumir que a rápida deterioração do desemprego pode, quase por si só, explicar a situação dum défice real claramente superior ao antecipado pelo executivo, por via da inerente subida de custos sociais e simultânea diminuição de receitas.

Mas o problema não reside na relativa gestão de espectativas a que o governo se viu "obrigado" entre Agosto e Dezembro de 2009, que era de esperar da parte de qualquer governo não-suicidário e algo dependente de juízos externos ao país sobre o estado da sua economia; nem reside nos efeitos de distorção anómala que a degradação rápida da situação económica de 2009 gerou, com efeitos amplificados sobre quaisquer previsões por via do atraso estatístico na compilação final dos dados económicos relativos a 2009. Tudo isso é aceitável.

O problema reside antes na falta de perspectiva - ou excessivo calculismo político - do executivo entre Setembro de 2008 e Março de 2009, quando as consequências da crise internacional sobre o país já estavam à vista mas não eram ainda oficialmente admitidas; caso o tivessem sido, teria porventura sido possível uma acção mais atempada na prevenção de algumas situações de desemprego causadas por falências oportunistas, por exemplo; teria sido possível a introdução de medidas com maior recuo, mais imaginativas, capazes de mitigar alguns dos efeitos da verdadeira sangria de emprego a que assistimos durante o decurso de 2009.

Pode ser que isso tivesse inclusivé elevado o défice acima dos 9,3% - na pior das hipóteses -mas teria tido o mérito de ter dado um avanço precioso de seis a oito meses sobre o controlo da situação.

Nesta matéria o governo preferiu uma gestão à vista - coisa muito portuguesa - em vez da necessária reactividade estratégica, e dessa forma atrasou medidas anti-crise que, tendo sido tomadas tardiamente, anularam boa parte do seu próprio impacto potencial na manobra de inversão duma situação económica e social trágica.

A minha avaliação dessa reacção tardia não pode ser, como se depreende, positiva.

Martin Wolf

Do Financial Times:

"É um escândalo que o modelo de pagamento para as agências de notação de crédito não tenha sido mudado. Elas deviam ser pagas por agentes dos compradores, não dos vendedores. Mais importante, o papel regulador das notações deveria ser eliminado, pura e simplesmente. Elas não têm credibilidade nesta matéria. O meu ponto de vista é que, quando muito, elas são um persistente indicador do que está errado no mercado. Na pior das hipóteses, elas estão activamente a enganar."

Martin Wolf, Associate editor and chief economics commentator at the Financial Times

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

E se?

Se calhar não era má ideia os Ministros das Finanças dos países sob ataque especulativo reunirem-se em conferência de imprensa internacional e denunciarem o que urge ser denunciado sobre os diversos tipos de ogres com os quais nos confrontamos, incluíndo os que residem na nossa Europa.

Fitch: um nome a recordar

Outra coisa que os press release destes senhores não param de ventilar é que os governos europeus precisam de 2.2 biliões de Euros para financiar défices em 2010. A afirmação em si mesmo não tem surpresa nenhuma, o problema, a falta de vergonha, é denunciada pelo tom mestre-escola da Fitch, como se fosse a eles que os contribuintes devessem essas somas...

Estes tipos brincam com a vida das pessoas, especulam com o nosso futuro: são nossos inimigos. As acções da Fitch configuram um acto de guerra.

A resposta já aqui se deu: vão buscar os 2.2 biliões aos off-shore, às mais valias mobiliárias, ao movimento internacional de grandes valores, ao sistema bancário sombra e à imposição de maior parcimónia fiscal sobre os bancos, de forma alargada geograficamente. Sem apelo, nem agravo.

Under attack

Os maus agoiros da Fitch e da Standard & Poor's relativamente à Grécia - e a Portugal - embateram hoje na economia real do nosso país, permeando a imprensa económica internacional e arrastando as bolsas europeias e norte-americanas, bem como o Euro. Algumas barragens começam a ceder a partir de pequenas fissuras. No caso a pequena fissura foi a Grécia, mas a barragem em risco é já a Europa.

Quais abutres "ao serviço de interesses comerciais" (como afirmava hoje Teixeira dos Santos), algumas das agências de rating indicíam fazer parte da rede de influência do grande capital conservador (ou neoliberal) que procura por todos os meios desfazer economias - e países progressistas - para lucro exclusivo de um punhado de gente que nem sequer conhecemos pelo nome e que manobra hoje com muito mais poder que vários primeiros-ministros juntos.

Primeiro, esconderam do grande público ou ignoraram propositadamente a crise que se avizinhava, protegendo poucos à custa do engano de muitos; depois, quando grandes bancos de investimentos e seguradoras começaram a ruir, clamaram pela intervenção dos estados; finalmente, com o dinheiro dos contribuintes mundiais já metido nas brechas que esta rede ajudou a criar, escolhem agora as vítimas mais fáceis: na Europa, primeiro a Grécia, como teste, e agora Portugal, Espanha e Itália (apesar da situação dos 3 últimos países ser bem diferente da Grécia). A Áustria e a Irlanda também são candidatos, bem como a banca Inglesa e talvez num futuro não muito distante, a própria França.

Há cerca de dois meses registei aqui, pelo andar da carruagem que os preços dos CDS estavam a levar, que se estava a desenhar a oportunidade para mais uma bolha, desta vez jogada com o futuro de povos inteiros.

A reacção a isto não mais pode ser de apaziguamento, pois ultrapassaram-se já todas as marcas. É bom que os Governos dos países visados se unam e - com ou sem o apoio da União Europeia e instituições internacionais - comecem a agir muito duramente, primeiro nos bastidores e depois à vista desarmada.

Também é claro que se somos parte desta fenda, foi porque nos fomos pondo a jeito de o ser...

Contudo, é intolerável que a nossa economia seja telecomandada por um punhado de dementes escondidos algures, ou que a alguém seja permitida a leviandade de transformar uma situação de perigo para um povo numa catástofre a tempo presente.

Isto devia ser encarado, denunciado e tratado como uma ameaça à soberania nacional, pois de facto é de um ataque já em curso aquilo de que estamos a ser alvo. Que isso não sirva, porém, para distrair o governo, as empresas, e as famílias, do trabalho de casa que lhes compete.

Não há apaziguamento possível com os ogres. Lembrem-se de Neville Chamberlain e dos seus bons, mas errados, modos.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Oswiecim

Cumprem-se hoje 65 anos desde a chegada das primeiras tropas soviéticas a Auschwitz - Birkenau (Oswiecim em Polaco).

O maior complexo de campos nazi, o mais tristemente célebre após 1945, conta porém apenas uma pequena, embora especialmente horrível, parte da história da ignomínia humana.

Celebrar a libertação de Auschwitz é largamente incompleto, se calhar ofensivo, sem recordar as dezenas de outros campos nazis espalhados por toda a Europa (imagem acima), sem lembrar os Einsatzkommando ou, da mesma forma, os ghettos dessa época, de antes e depois da guerra, todos os Gulag, os prováveis e ainda secretos campos de concentração Chineses em operação no dia em que estas linhas se escrevem, ou até os países dos nossos dias transformados em campos de concentração não menos terríveis.

Lembremos igualmente que a 27 de Janeiro de 1945, as tropas soviéticas encontraram apenas cerca de 7.500 prisioneiros, parte dos quais viria a falecer nos dias subsequentes. Os restantes, ou já tinham sido eliminados, ou arrastavam-se a esse preciso momento em marchas forçadas brutais e mortíferas a caminho de outros campos nazis, como Bergen-Belsen.

Auschwitz é uma simplificação da epítome da capacidade para o mal, individual e colectiva, que existe em todos e cada um de nós; e como todas as simplificações, tem o seu quê de perigoso e redutor.

O perigo consiste em permitir-nos eventualmente pensar a capacidade para o mal "absoluto" como algo apenas inerente "aos outros", ou pior ainda "a certos povos" (como o Alemão...), quando na realidade essa capacidade é praticamente transversal a todos, tal como o seu inverso, a capacidade para fazer o bem. Os extremos mais não são do que desvios atípicos, que cristalizam a estupefação da maioria e a fazem facilmente esquecer que aquilo que a distrai é o espelho da sua própria natureza levada ao limite.

Auschwitz apresenta-nos um passado cada vez mais distante de uma memória terrível, hipnótica, surreal, através duma algo enganadora atmosfera de museu. A realidade mostra-nos eventos tão ou mais horrendos decorrendo a toda a hora, sob as mais diversas formas, perpretados por pessoas contra outras pessoas.

Sucede apenas ser-nos mais fácil julgar de forma quase absoluta um passado distante, do que reagir em tempo real às atrocidades do nosso próprio presente.

Auschwitz ainda existe, apenas se transfigurou; tenho dúvidas de que algum aspecto daquilo que representa possa ser algum dia verdadeiramente celebrado, ainda que se trate de uma "libertação".

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Shame on INSEAD


O INSEAD - pela pena de Theo Vermaelen - disseminou numa das suas mais recentes newsletters uma violentíssima crítica - disfarçada de raciocínio científico - a Harvard, por causa da escola de negócios desta última Universidade ter permitido aos seus estudantes MBA encetar um juramento ético.

O texto do juramento ético que alguns desses estudantes decidiram abraçar pode ser lido aqui: http://mbaoath.org/take-the-oath.

Um dos compromissos do juramento é o de que os futuros gestores "contribuam para o bem estar da sociedade" e também que "promovam um desenvolvimento económico sustentável, social e ambientalmente próspero". Não foi mais do que um tímido e incipiente começo em direcção ao senso comum e, ainda assim, corpos de escolas como o INSEAD ficaram aterrorizados ao ponto de se sentirem impelidos para críticas de carácter público. Só isso, já revela alguma coisa...

Duma forma simultaneamente cínica e falsamente ingénua, mas sobretudo cientificamente absurda, Theo apresenta-nos 3 razões para desconsiderar a iniciativa dos estudantes de Harvard (os gurus wanna be apresentam sempre 3 problemas, 3 razões ou 3 soluções, seja qual for a realidade que tratem):

1ª) Afirma que o juramento encerra desde logo um conflito de interesses de natureza "fiduciária e ética" (sic) para com os futuros empregadores e patrões;

2ª) Afirma depois que o juramento é apenas parte de uma resposta inadequada à crise, em jeito de efeito espúreo;

3ª) Finalmente, pura e simplesmente não acredita que os juramentos influenciem o comportamento humano;

O resto do texto é uma algaraviada de pouca vergonha e nenhum fundamento empírico, tentando no fundo justificar o injustificável: porque devem os estudantes de gestão resistir à ética e aos escrúpulos pessoais.

Theo Vermaelen, que talvez preencha o estereótipo de quem "ensine" por não saber fazer mais nada, pode também ser confundido com um cobarde. Afinal de contas, nunca experimentou na pele as consequências do que defende.

Com efeito, a grande diferença entre um cientista e um aprendiz de proxeneta é que o primeiro tem de arriscar procurar uma verdade escrutinável e verificável por instrumentos de medida de precisão, i.e. factos, enquanto o segundo se está nas tintas para quem fode, desde que corra o marfim. Sem nenhuma ofensa para a Filosofia, costumava a propósito dizer um bom amigo meu que a diferença entre um físico e um filósofo é que o segundo não entende o conceito de massa.

Através do seu texto - no mínimo, tacitamente aprovado pelo INSEAD - Theo também demonstra saber muito pouco do misto da arte e ciência de gerir. À luz do que defende, a gestão deve ser exclusivamente uma actividade de sacanas e ladrões, algo muito pouco adequado a seres humanos no sentido convencional do termo.
Sem que nos possamos admirar, na opinião eloquente de Theo as "externalidades" negativas com origem na iniciativa privada devem ser tratadas pelos estados (i.e. as asneiras dos gestores devem ser pagas pelos contribuintes; que o mesmo é pensar "é para isso que o gado serve").

A certa altura, diz Theo, um tal juramento até pode provocar comportamentos anti-éticos - chegado aqui, Theo serve-se da relativização e do falso silogismo, tão caros aos extremistas, para tentar virar a mesa ao contrário. E porquê "comportamentos anti-éticos"? Porque não é ético, para Theo, que um gestor decida usar o dinheiro dos seus accionistas para "promover causas" que destruam valor; "promover causas" é uma expressão que ele injectou e com um sentido muito preciso.

O sujeito também acha que é absolutamente falso que a crise subprime tenha sido causada por alguns MBAs ou até por banqueiros jogando com o dinheiro de outras pessoas (chega a proferir que quem defende tal coisa "ignora os factos", acestando ao professor Thomas Donaldson). Não me vou dar ao trabalho de comentar esta parte das afirmações de Theo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Conversas em família

A RTP vai finalmente acabar com as conversas em família (2.0) do professor Marcelo... Rebelo de Sousa, isto é.

Presidente, Presidencialista... Monárquico?

"O fraco Rei faz fraca a forte gente."
Luís de Camões

Relembrar José Gomes Ferreira


O poema de José Gomes Ferreira, brilhantemente musicado por Fernando Lopes Graça para música coral:

Acordai!


Acordai homens que dormis
A embalar a dor
Dos silêncios vis!
Vinde, no clamor
Das almas viris,
Arrancar a flor
Que dorme na raiz!

Acordai!
Acordai, raios e tufões
Que dormis no ar
E nas multidões!
Vinde incendiar
De astros e canções
As pedras e o mar
O mundo e os corações!

Acordai!
Acendei, de almas e de sóis
Este mar sem cais
Nem luz de faróis!
E acordai, depois
Das lutas finais,
Os nossos heróis
Que dormem nos covais!

Perplexidades...

Henrique Neto disse recentemente que "hoje ser empresário em Portugal é uma profissão de alto risco".

Acontece que respeito bastante a pessoa e o empresário Henrique Neto, mas é uma daquelas frases que não parece sua. Ficamos sem saber se ele deseja voltar ao corporativismo do antigamente ou se acha que ser empregado por conta de outrem será, no Portugal de hoje, risco muito menor que ser empresário.
Para além disso, ser-se empresário é o próprio reconhecimento acabado do risco como forma e estilo de vida, ou não será assim?
Sobretudo: Henrique Neto não precisa de imitar nenhum van Zeller...parece-me. Ou então, é melhor que explique bem qual a abrangência da palavra "empresário"... Um caso limite: quem corre mais riscos, os empresários duma qualquer Brisa, ou os seus portageiros?

Ulrich

"Se fosse oposição, só discutia depois de conhecer o Orçamento de Estado", disse Ulrich, o banqueiro. Acontece que o Sr. Ulrich não é oposição. Ou talvez seja, mas não queira dizer. Ou então é e não é, o que nos atira para os domínios da mecânica quântica que, contudo, não serve à escala macroscópica em que se move o Sr. Ulrich.

Vou-lhe perdoando as patacoadas que tem vindo a proferir, em perfeito desrespeito das suas funções, porque permaneço cliente do banco que dirige... por enquanto.

Mas era melhor ganhar juízo, Sr. Ulrich... Não aprendeu nada com o seu antecessor?

O Haiti, é aqui

Mais do que relatar os factos ou histórias humanas, alguns dos nossos jornalistas, redacções e directores de informação, usam e abusam do sofrimento alheio sem pudor, numa espécie de festim pornográfico de sede de sangue alimentado pela obscena saliva de vender, não importa o quê, não importa como, não importa a quem.


Faz lembrar a canção de Caetano Veloso, o "Haiti, é aqui".

Obama em retrocesso


Entretanto, do outro lado do Atlântico, em pleno "olho" da tempestade, a reforma do sistema de saúde parece agora novamente ameaçada, ao mesmo tempo que os democratas perdem terreno no Massachusetts, e perdem assim uma batalha crucial para a gestão política da sua nação.
Obama tem feito um grande esforço para evitar a divisão e federar apoios simultâneos no campo democrata e republicano. Mas a coisa não está a funcionar; não é possível fazer acordos com gente doida.
É tempo de endurecer a conversa, e depressa. This is not looking good...

Empobrecimento da classe média

Um estudo da Euromonitor de natureza privada a que tivemos acesso demonstra, no período 2004-2009, uma clara queda da percentagem de rendimento nacional disponível pela classe média, em várias nações ocidentais.
  • Holanda: de 35,5% (2004) para 34,5% (2009)
  • Japão: de 35% (2004) para menos de 34% (2009)
  • Suécia: de 35,4% (2004) para 33,5% (2009)
  • Noruega: de 34,8% (2004) para 33% (2009)
  • Canadá: de 33,5% (2004) para menos de 33% (2009)
  • Reino Unido: de 33,5% (2004) para 33% (2009)
  • EUA: de 30% (2004) para 29,5% (2009)
  • Portugal: de 32,1% (2004) para 31,6% (2009)

Numa admissão pouco vulgar, o estudo admite que quando comparadas as evoluções nominais de rendimentos das classes médias com as classes mais favorecidas, o crecimento é (em todas estas nações excepto no Reino Unido) significativamente maior para as classes mais favorecidas.

O próprio estudo aponta como causas a crescente liberalização das economias, o enfraquecimento dos sindicatos, o crescimento do trabalho temporário e das sub-contratações, a desindustrialização progressiva das economias, a subcontratação de indústria fora e deslocalização para as economias emergentes e a substituição gradual de postos de trabalho na indústria por outros nos serviços, com condições inferiores ou de cariz temporário.

O capitalismo descontrolado continua a esmagar a democracia... O que têm a dizer os neoliberais sobre isto? E, por outro lado, que medidas tomam contra isto os sociais-democratas europeus e americanos? Porque tardam a agir?

Contentamento descontente

A Ministra do Trabalho reconheceu publicamente que foram poucos os postos de trabalho que se criaram em 2009 por via dos programas de combate ao desemprego. É verdade.

Contudo, esta rara e positiva humildade de reportar a realidade como ela é teve logo direito a imensa chuva de críticas nos meios de comunicação. Em particular, revelou-se bastante ácido o aprendiz de economista Camilo Lourenço. Para ele, a Ministra deveria publicamente ter assumido que as medidas foram mal desenhadas, tout court. Ora o que a Ministra veio dizer era que tinham sido insuficientes, o que é coisa diferente.

40.000 postos de trabalho (42.839 para ser rigoroso) não é assim tão pouco como isso numa altura em que os privados criam praticamente zero postos de trabalho.

É uma coisa do tamanho da British Airways, Sr. Camilo Lourenço...

Empregos precários, incertos, mal pagos, quase todos eles. Provavelmente assim é, mas pelo menos essas 42.839 pessoas estão agora ocupadas, estão a trabalhar, a aprender, a adaptarem-se a novas realidades, estão inseridos na população activa.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Plutonomia

Recomenda-se o leitor avisado a procurar online - e a ler atentamente - o seguinte documento:
"Citygroup Mar 5 2006 Plutonomy Report Part 2"
O que o documento contém não é - nem era em 2006 - uma novidade. No entanto, existe nele algum valor enquanto peça de evidência documental de parte de uma realidade que nos últimos 30 anos tem sido discutida (?) de forma propositadamente pouco objectiva, camuflada por hipóteses filosóficas e para-ideológicas, dogmas disfarçados de ciência, falsos silogismos e axiomas sem fundamento; uma discussão sem qualquer alicerce na força dos factos.

O que os factos revelam, de forma consistente e indesmentível, é que a noção do "bem comum" emanada dos estados sociais tem sido deixada para trás nas sociedades ocidentais, com os EUA à cabeça, tardiamente mimetizados pela Europa. Sendo que o relatório em apreço se originou numa grande empresa beneficiária desses factos - e não numa organização explicitamente governamental - existe valor acrescentado no documento.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O "ânimo" de João César das Neves

O douto professor que ainda hoje nos diagnosticou um "desânimo" secular, inveterado e absolutamente incurável, é o mesmo que há pouco mais de uma semana atrás redigia assim:

Governo irresponsável

João César das Neves

DN, 2010-01-11

"Este é o Governo dos regulamentos, fiscais, inspectores. Qualquer pretexto é bom para nova portaria, da defesa do consumidor à protecção do ambiente passando pelo tabaco e a gripe. Por tudo e por nada temos exigências, imposições, despesas. Os propósitos são sempre excelentes, mas não se pensam as consequências. Tudo cai sempre sobre os contribuintes e empresas, com custos, limites, restrições. E mais os impostos, sempre os impostos. Depois não temos flexibilidade, produtividade, investimento. Que surpresa! Quando dizemos que o Governo é irresponsável, é isto que queremos dizer.

Uma evidência sucessivamente repetida é o grave endividamento externo de Portugal que se acumula há mais de dez anos. O Governo diagnosticou o problema em 2005 e anunciou medidas duras para controlar a situação. Mas em vez de verdadeira austeridade e redução da despesa pública, preferiu descarregar no contribuinte e maquilhar o défice com subidas de receitas. Isso aumentou a dívida total do País mesmo no curto período em que as finanças públicas pareciam melhorar. Inevitavelmente, no primeiro soluço económico, todos os ganhos orçamentais se evaporaram. Quando dizemos que o Governo é irrespon- sável, é isto que queremos dizer.

Perante a crise conjuntural, com origens externas agravadas pela delicada situação doméstica, anunciam-se medidas de recuperação. Mas em vez de escolher programas para aguentar as empresas nos meses difíceis, aliviar as regulamentações e reduzir carga fiscal, prefere-se centrar a discussão nas grandes obras públicas, muito mais mediáticas e populares. Mas esses projectos terão efeitos económicos só dentro de anos, quando a recessão tiver acabado. Nessa altura subirão ainda mais a dívida explosiva. Quando dizemos que o Governo é irresponsável, é isto que queremos dizer.

O pior da situação económica actual é sem dúvida o drástico aumento do desemprego que ultrapassou máximos históricos. Em particular os trabalhadores pobres e não especializados têm sido mais atingidos. Dado que ao mesmo tempo se verifica uma deflação, com descida de preços que só por si aumenta o valor dos rendimentos, o mais elementar bom- -senso recomenda moderação salarial para proteger os postos de trabalho que se mantêm. Em vez disso, o Governo decidiu a medida bombástica de aumentar o salário mínimo para 475 euros. Como vem na sequência de subidas anteriores, o nível é hoje 27% superior ao de 2005, mais de 17% em termos reais. É inacreditável que pessoas responsáveis apresentem essa medida como um esforço governamental de justiça social. De facto o Estado não paga um cêntimo desse salário mínimo. O que faz é apenas proibir os empregos que paguem menos. Para os trabalhadores que se mantêm a trabalhar há ganhos. Mas quantos vão ser forçados ao desemprego ou à clandestinidade por esta decisão supostamente benéfica? Em momento de recessão e deflação a proposta raia a loucura e fazer experiências com pessoas pobres é infâmia. A subida do salário mínimo constitui o maior atentado das últimas décadas às classes desfavorecidas. Quando dizemos que o Governo é irresponsável, é isto que queremos dizer.

Um líder respeita e compreende o povo que dirige e procura manter unido e empenhado para enfrentar as dificuldades que surgem a cada momento. Se pelo contrário o dirigente começa a impor os seus caprichos, gerando clivagens e divisões sociais, inverte a sua função e passa a ser o inimigo. Foram sempre assim os tiranos. A actual incarnação governamental do PS, ao sabor de brios ideológicos, tem adoptado medidas chamadas "fracturantes". Em nome de suposta "modernidade" desafia os princípios básicos da sociedade e gera polémicas artificiais. Isto, só por si, manifesta falta de sentido de Estado, incapacidade política e incompreensão das elevadas funções executivas. Mas quando temas civilizacionais são tratados de forma apressada, arrogante e atabalhoada entra-se no campo da desonestidade e da indignidade. Quando dizemos que o Governo é irresponsável, é isto mesmo que queremos dizer."

Os arautos da poupança

Depois de eras intermináveis a martelar o Governo por despesismo, é agora vê-los a tentarem aumentar o OE2010 em quase 400 milhões de Euros (mais dívida...), tentando impôr o fim do Pagamento Especial por Conta (que foram eles próprios, antes de 2005, a inventar), e sobretudo tentando sacar mais dinheiro para esse mago das finanças que é o Dr. Alberto João Jardim. Será que quem tanto prega - e parece desejar - o fim do país por excesso de dívida e despesismo não vê nisto nenhuma incongruência?

Trichet, o moderado


Num bom recado colateral a certa direita portuguesa (que defende o regresso ao "orgulhosamente sós"), Trichet deixou escapar: "Saída da Grécia do euro? Não comento hipóteses absurdas".

Trichet pode ser teimoso, obstinado, mas ainda anda longe de ser descaradamente parvo.

Imperdível


Uma entrevista notável ao pensamento contemporâneo dos banqueiros:

http://www.alexcartoon.com/index.cfm?section=play&action=view&id=30

O homem que sabe demais...

Mesmo sem que saibamos da missa a metade, é cada vez mais natural concluir que Santana deve saber muitas coisas que o baronato Cavaco-Ferreira Leite não gostaria nada de ver tornadas públicas. Depois de toda a espécie de humilhações a que foi submetido por ambos (e outros), Santana conseguiu, em primeiro lugar, negociar a sua integração nas listas de elegíveis de Ferreira Leite e, agora, ser condecorado por Cavaco com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo. Pode ser que me engane, mas alvitro que mais dia menos dia, vamos assistir a uma novela das boas...

Agora não se indignam?

Foi no passado dia 17 que o Banco de Portugal veio corrigir - desta vez em alta - as estimativas para a evolução da economia portuguesa em 2009. Em Outubro passado, o BdP previra uma contracção do PIB em 3,5%. Nessa altura, em Outubro, do batalhão de pessimistas ouviu-se o costumeiro "I told you so!!!". E agora? Não têm nada a dizer?

Talvez em puro desespero de causa, João César das Neves (um dos do batalhão da derrota) afirmava hoje na sua crónica no DN que há-de haver uma coisa da qual os portugueses nunca conseguirão escapar: o seu pessimismo militante (a que ele chama "desânimo"). Parece-me um exemplo prático do ditado popular "diz o roto ao nú"... Dir-se-ia que escreve para si mesmo ou, pior, que talvez sofra de esquizofrenia ou ainda, e mais provável, que se dedica a repetir o que "o vento" lhe diz ao ouvido.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Família? Valores?

Já aqui registei - há muitos meses - a tentativa de atentado do Parlamento Europeu cometido sobre milhões de famílias europeias, ao lançar a possibilidade legal de implementação de semanas de trabalho de 60 horas (doravante por aqui, "semana chinesa").

Em Dezembro passado, grupos distribuidores portugueses tentaram, talvez aproveitando a azáfama natalícia, forçar aos colaboradores a tal "semana chinesa". A ameaça de greve daí resultante e alguma cobertura mediática fizeram os promotores da dita recuar. Por enquanto...

Apesar disso, pergunto-me o que foi feito da preocupação com a "Família" dos moralistas habituais da nação por essa ocasião, alguns ainda devotos do "deus, pátria, família". Onde estavam eles nessa altura? E onde esteve grande parte da nossa Igreja, sem voz activa sobre o assunto mesmo depois da nova encíclica de Bento XVI?

Caritas in Veritate, recordam-se?

É que não me lembro - e peço desculpa se ando esquecido ou distraído - de nenhuma petição "espontânea" com 90.000 assinaturas entregue na Assembleia da República, da mais pequena exigência em referendar o assunto, do menor vestígio de resistência organizada no Facebook comandado por certas "elites", face a uma das mais despudoradas tentativas práticas de desagregação familiar e inversão de taxa de natalidade nos últimos 40 anos...

Mandar o "regimento dos costumes" para a "madre que lo parió" seria certamente deselegante, mal educado, ofensivo, insultuoso, temperamental e impessoal... Como "o povo é sereno", isso ainda não aconteceu. Por enquanto...

Brokeback Mountain 2


O casamento homosexual foi projecto de vários propósitos: eliminar uma desigualdade civil (importante, mas não a mais importante no país, nem de perto nem de longe), criar massa crítica à esquerda, fazer sair da toca e ver enterrarem-se per se moralistas arregimentados e, last but not least, embaraçar o Presidente (que tem feito por merecer).

Apesar do mérito desses propósitos, e mesmo apesar de ser verdade que o Governo consiga em simultâneo dar conta tanto de questões de primeira como de segunda linha (pelo menos em teoria), expresso os meus limites no apoio a esta iniciativa: por um lado, o limite definido pela discussão da adopção por casais homosexuais, que considero inaceitável; por outro, o de precedente de cedência utilitária a práticas políticas de moda.

Alguma coisa contra os homosexuais se poderem casar com direitos iguais a qualquer casal hetero? Absolutamente nada.
Equidade de direitos, e também transparência: da nova lei resultará, a prazo, uma atitude social menos hipócrita, talvez uma perspectiva social mais realista; iremos provavelmente aprender mais sobre o tema, e certamente de forma menos preconceituosa e condicionada que os nossos antepassados. Isso promete ser positivo.
No essencial, é assunto de vida e biologia privado das pessoas com esse tipo de orientação sexual.

No entanto, parece-me que a maioria de deputados que aprovou a lei do casamento homosexual na generalidade, herdará também a responsabilidade aumentada de zelar por muitas outras questões de desigualdade civil deixadas há muito em aberto.

Por exemplo, a possibilidade de legalização da prostituição. Matéria que afecta temas importantes de saúde pública, trabalho, imigração, receita fiscal, criminalidade organizada, tráfico de pessoas, coacção e dependência económica, e por aí fora...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Barclays fires back!

Em resposta à ameaça da Moody's (semelhante à da Fitch Ratings), o Barclays Capital afirmou que a situação de Portugal não tinha nada a ver com a da Grécia.

Uma troca de fogo não inocente (digo eu), que provavelmente sinaliza a intenção do Barclays de ganhar credibilidade sobre as cada vez mais mal-afamadas agências de rating.

No entanto, o mesmo Barclays Capital também advertiu que sobre a dívida portuguesa pendia a possibilidade duma classificação revista em baixa, caso o Governo não desse sinais claros de vontade política quanto à contenção do défice (uma forma mais elegante de dizer o mesmo que as outras marias).

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Economia telecomandada

A Moody's diz e... as focas amestradas abanam a cabeça, reverentemente e em obediência absoluta... (só é pena que a Moody's não tenha detectado a bolha imobiliária, como se calhar também seria de esperar).

Um simples aviso da agência para um possível corte do rating nacional e, hélas, sobe o risco da dívida portuguesa. Os americanos têm um termo para isto: chamam-lhe "self fulfilling prophecies".

Quem beneficia? Os bancos que emprestam dinheiro aos portugueses. Alguns deles os mesmos que os Estados que representam os contribuintes deste mundo tiveram de salvar...

"Money makes the world go 'round"

Racismo Institucional, Made in Italy

Com o que se passa em Itália, essa parte admirável do mundo pertencente ao que George Bush um dia chamou a antítese da "Velha Europa", a Comissão Europeia, aparentemente, não se preocupa nada...

Cartazes de agências imobiliárias que avisam "nem animais, nem estrangeiros", um futebolista - Mario Balotelli - apelidado de "preto de merda", imigrantes atacados e espancados na noite de Ano Novo, ou em pleno centro de Florença... Os incidentes sucedem-se e, pior, estão a ser promovidos pela vanguarda de direita no poder, a Liga do Norte, de Umberto Bossi. Berlusconi consente.

...E o "capo" Bossi não se coibe de, publicamente, qualificar os negros de "bingo bongo" (e não esqueçamos que não se trata apenas de intimidação a imigrantes, pois há dezenas de milhar de cidadãos italianos de cor negra).

É o regresso ao racismo institucional e de Estado.

Durão Barroso, entretanto, assobia para o ar... e a sua Comissão, aparentemente, bem como a maioria do Parlamento Europeu, também.

Capitulação Grega?


Os Estados Europeus - leia-se contribuintes - tiveram de socorrer bancos, seguradoras, boa parte de grandes indústrias, e com isso assistimos ao subir de dívidas externas, dívidas públicas e défices nacionais. Porquê? Por causa de décadas de ganância implícita suportada em fundamentalismo desregulador de mercado (iniciado por Reagan e Thatcher) em nome da obsessão quase paranóica da redução do papel do Estado em favor do mercado puro e duro (que em Inglaterra gerou, por exemplo, a quase total vulnerabilidade energética face ao exterior e um sistema de transportes ferroviário em franca decadência).

Em resultado, assistimos por um lado a conversa mole e dispersa sobre a necessidade de regular os mercados de forma diferente, mais preventiva e, por outro, a conversa dura que soa a renovado fundamentalismo neoliberal, ainda e sempre atento a esse garrote técnico chamado "pacto de estabilidade" (bom instrumento, mas apenas se aplicado q.b.), cujo resultado irá pelos vistos desembocar em menos Estado e mais privatizações, provavelmente apressadas e ao preço da uva mijona...
O que se passa na Grécia parece ser uma espécie de antevisão do que pode vir a acontecer noutras nações Europeias, nomeadamente em Portugal. Antes da crise, queria-se privatizar (não melhorar... mas essencialmente privatizar...) a Saúde e o Ensino; depois da crise assistimos à mesma receita com condimento reforçado (vd. por exemplo o já explícito Daniel Bessa).
De facto, a crise parece ser também um modo de condução política.
O desmantelamento impune do Estado Social continua a ter amigos em lugares muito influentes na Europa...

Novo Capitalismo?

Esta é a altura certa para a renovação do eixo Franco-Alemão na Europa, com a participação aberta às nações de menor dimensão. Por oposição ao excessivo laisser-faire britânico antes tão conveniente (e cujas pressões constantes para desregulação do sector financeiro se fizeram sentir com os efeitos conhecidos), é altura do velho continente se afirmar politicamente mais coeso.

É o sinal que parece ter aparecido com o Simpósio Internacional "Novo Mundo, Novo Capitalismo", organizado pelo Ministro da Emigração e da Identidade Nacional Francês, Eric Besson.

Sócrates presidiu à abertura.

Vai ser preciso muito maior sentido de união para que se passe das palavras à acção e vencer a inércia de décadas de regulação deficiente e asneiras diversas. Por outro lado, será necessário que exista vontade política rigorosa (e não apenas "show biz") o que ainda está largamente por demonstrar.

Insólito

Talvez evocando a burocracia numa emolução actual de "Os doze trabalhos de Asterix", eis que assistimos a uma Comissão Europeia que, ao mesmo tempo que quer abrir procedimentos contra a Grécia (e não só) por desequilíbrio orçamental (ignorando a crise 2007-?) quer, ao mesmo tempo, levar os Estados Europeus à justiça por aumentarem os funcionários públicos em 1,85% contra os 3,70% previstos na... legislação europeia (pasme-se!) .

Isto ao mesmo tempo que são capazes de pregar a "moderação salarial" querendo parecer sérios e muito graves.

Sem mais comentários...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A tragédia Grega

Não seria a primeira vez que a História da Europa nos colocaria frente a grandes ironias.
Foi na Grécia que (muito) do "nosso" mundo Ocidental começou. Será aí que começará a cair decisivamente?

Esta semana Jürgen Stark, membro da Comissão Executiva do BCE veio alertar que não haverá credores de última instância para o caso Grego (no seio da UE, claro...). Politicamente, disse o que tinha a dizer, mas todos sabemos que não será assim (espero) em caso de derrapagem mais séria.

Entretanto, não menos cínico, o PM Grego George Papandreou, veio afirmar que não precisava de ajudas para nada e que a Grécia resolveria os seus problemas sozinha... Mais uma vez, politicamente, reconheça-se que lhe competia talvez serenar ânimos aos mercados e às agências de rating, esses parasitas sofisticados que por estes dias mandam (muito) mais nas economias das nações do que os respectivos governos democraticamente eleitos.

A consumação trágica da crise Grega poderá também denunciar o carácter semi-oco e vão de boa parte da máquina burocrática da UE, que compila estatísticas sem que saiba chegar ao âmago de cada problema mais profundo; que dispende milhões em pormenores de decoração mas cuida cada vez menos das vigas do edifício, sem que consiga sequer evitar a concorrência dos agora 27 na espécie de mascarada em que se tornaram as criativas estatísticas nacionais, toleradas anos a fio, pior ou melhor, por essa enorme máquina de papelinhos instalada em Bruxelas.

O melhor é mesmo que a UE ganhe juízo, e depressa (terá de acelerar a formação de uma Federação Europeia, a chegada da harmonia fiscal e laboral, a temporária desvalorização do Euro, a Comissão Europeia e possível Presidência eleitas por plebiscito, em vez da investidura da teia de interesses e nomeações de conveniência obscura que reina, e por aí fora).

Por enquanto, dá-me para rir perante uma Comissão Europeia que adverte a Islândia de que, caso não honre os seus compromissos com Holandeses e Britânicos, poderá ver a sua entrada na União retardada... Ao mesmo tempo a que assisto a uma resoluta, em parte justificada, avareza (no plano financeiro), e desprezo incompetente (no plano político), em colocar na devida perspectiva o "problema Grego"...

Alguns burocratas de Bruxelas parecem não entender que morte de Atenas pode bem vir a ser a sua própria morte. Que saudades tenho dos políticos fundadores da CEE. Que triste é ver que os seus descendentes políticos não entenderam quase nada do seu propósito original...

Hitler, apesar de todos os seus crimes e aberrações de personalidade, era senhor de uma intuição fora de comum e percebeu (tal como Napoleão...) que o futuro da Europa teria de passar pela união política, fosse como fosse.

Quanto tempo mais se esconderá essa necessidade em Bruxelas, em Londres, em Paris, ou em Berlim? Entretanto, Pequim avança...

2009, o ano que passou

http://sendables.jibjab.com/originals/never_a_year_like_2009

Dia de Reis


Simbolicamente, o dia representa para os Cristãos a esperança em ver os Reis reconhecerem e abraçarem a oportunidade de mudança para melhor. É o que eu desejo, e sempre espero, dos "Reis" do meu tempo, que entendam o significado do "Venha a nós o Vosso Reino".
Ademais, e por razões especiais que não vou aqui apresentar, é uma data à qual a minha vida, e boa parte do meu sentir, está intrinseca e inexoravelmente ligada.