sábado, 31 de outubro de 2009

As perguntas de Saramago

Indiscutivelmente, a forma como Saramago olha o mundo não é fácil. Podemos discordar dela, mas para isso é preciso conhecê-la. É preciso que nos coloquemos a nós próprios as perguntas que nos lança. Saramago, como qualquer escritor maior, é um conversador-pensador que por contingências da vida se foi isolando ou decidiu isolar-se, sem que tenha abdicado de pensar ou de querer aprender.

Gosto de alguns dos seus livros, embora não os ache especialmente originais. "Caim" não é excepção; outras figuras maiores da literatura já se aventuraram nos mesmos mistérios, mesmo sem ter de descer às profundezas do Antigo Testamento. Norman Mailer, por exemplo (para mim, muito acima de Saramago nesta matéria).

Ainda assim, as interrogações de Saramago não devem, nem podem, ser ignoradas. Não penso que a sua intenção tenha sido a de alvejar por prazer ou impulso um conjunto de textos com 2.000 anos. Bem pelo contrário, acho que Saramago presta homenagem à espiritualidade humana, ao desafiá-la a questionar-se mais profundamente sobre a dureza da letra bíblica.


Pode ser que o faça como uma criança, à letra e zangado, ou como alguém disse: "com ingenuidade".

Mas é nessa "ingenuidade" que reside provavelmente a sua proposição artística relativamente ao tema, bem como a origem das suas legítimas questões.

1 comentário:

  1. Devo, por honestidade com os demais leitores deste blog, começar por dizer que não sou um particular admirador das criações literárias do Sr. Saramago.

    No que diz respeito ao seu último livro, o assunto que aqui me traz, e do qual devo confessar apenas li excertos, a única coisa que posso dizer é que, mais uma vez, não há excepção que infirme a regra.

    É pena que o Sr. Saramago não consiga pôr o seu indiscutível talento literário ao serviço da causa que pretende defender. Provocações de mau gosto nunca conseguiram elevar qualquer discussão que seja ao nível de um diálogo frutífero. Com a sua tão habitual ausência de tacto, o Sr. Saramago só consegue erguer os clamores vociferantes dos extremistas (o seu incluído).

    Do que Nós temos desesperadamente necessidade são de vozes que nos incitem, com respeito,
    abnegação e humildade, a um olhar benevolente para uma extraordinária criação do génio
    humano e para com os muitos, talvez demasiados, que a reverenciam.

    As técnicas do "bater no velhinho" não são algo com o qual eu, pessoalmente, me possa sentir cómodo.

    Quão fácil seria devolver o troco ao Sr. Saramago, referindo-nos ao outro ópio do povo, apelando-o a devolver o cartão do partido e a utilizar a sua notoriedade pública para denunciar as falsas premissas e os crimes cometidos em nome dos seus ideais políticos.

    A História não registará este panfleto como algo que mereça ser transmitido às gerações vindoiras. Ou assim o espero...

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