domingo, 8 de março de 2009

Vá para fora cá dentro? Hum...

Ao mesmo tempo que se gastam milhões em campanhas cujo objectivo é fomentar a procura interna no turismo (boa ideia se aplicada q.b.), verifica-se que boa parte das estradas do parque natural da Serra da Estrela, seus acessos e organização de território - só para dar um exemplo bem conhecido - continuam em estado lastimável.

Alguns dizem que é melhor assim, para se conservar a natureza, e eu digo que isso é um tremendo disparate.

Existem formas de conciliar desenvolvimento sustentado e turismo - para todas as bolsas - de maneira articulada e respeitadora da natureza. É possível fazê-lo e assi financiar a conservação da natureza, pelo menos em boa parte.

O que é ridículo, a toda uma escala nacional, é que cada vez que neve e isso seja noticiado na televisão, se verifiquem mega-engarrafamentos na Serra da Estrela, uma espécie de safaris non-stop na neve (apenas uma minoria tem incentivos para sair dos veículos e fazer de facto alguma coisa, simplesmente porque... não existe nada organizado que se possa fazer).

Não se fizeram - ou modernizaram - parques de lazer dignos desse nome, não se incentivaram as caminhadas, ou observações da natureza em percursos controlados, com zonas específicas de estacionamento a mais baixa alttitude e transportes colectivos funcionais para o parque natural, também ao serviço do turismo; não se fez quase nada com resultados visíveis na recuperação de aldeias da Serra e pouco ou nada se acrescentou para dignificar os produtos serranos, de que o queijo e suas profusas versões de má qualidade me fazem lembrar o vinho do Porto a martelo (pior a emenda que o soneto...).

As ligações à Extremadura espanhola, que fica mesmo ao lado e donde se poderiam atrair milhares de dormidas extra para toda a região são más e lentas, criando uma fronteira real que atira ainda mais para o interior toda uma região que interessa preservar com pessoas que valorizem a natureza.

Como se incentiva o turismo rural?...

Um conhecido meu na zona disse-me que precisou de 16 pareceres ministeriais e 8 anos de muita paciência (e recursos) para poder abrir ao público um estabelecimento de turismo rural...

Convenhamos que há muito poucos cidadãos com tanta paciência pelo que duas coisas acontecem mais frequentemente pelo meio: ou há corrupção, ou se desiste.

Quando isso acontece, sofre a iniciativa que poderia ajudar a resolver um dos grandes problemas da região (falta de emprego), sofre a recuperação de património, a oferta, a concorrência e, por conseguinte, o preço que pagamos se lá queremos ir.

Curiosamente, aprovam-se hotéis a mais alta altitude, bem como "bungalows" feios, ao mesmo tempo que se vai atraindo população e poluição, essa sim, a colocar em risco alguma natureza nessas zonas.

Infelizmente para Portugal, é muito mais barato, simpático e seguro fazer turismo tipo "bed&breakfast" na Escócia, nos Alpes Marítimos, na Floresta Negra ou na Bretanha do que nas nossas áreas de montanha, que ocupam ainda assim uma parte muito substancial - e muito bela - de território nacional.

Enche-me de pena porque conheço um bocadinho da Europa para saber que temos regiões interiores de uma originalidade única, de uma beleza muito grande, natural e humana, a que damos muito pouco valor.



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