sexta-feira, 6 de março de 2009

Os limites dos "bailouts"

É bom estarmos conscientes dos riscos presentes e futuros dos salvamentos de empresas em curso. Deveriam ser mais claros os critérios, porque a negação ao estabelecimento de critérios é a negação da igualdade de oportunidades. Mas vamos aos riscos:

(i) Moral hazard: a ajuda constitui um incentivo para alguns privados perseguirem mais risco, com maior probabilidade de insucesso, nalgumas circunstâncias; cada acção de ajuda pode multiplicar os pedidos de "SOS" ao mesmo tempo que pode constituir um incentivo a mais faltas e actos de gestão danosos.

(ii) Risco político: não só a curto prazo, por intermédio do agravamento das condições sociais, como sobretudo a médio prazo; não se tenha a menor dúvida de que uma vez passada a tormenta com grande sacrifício de todos os contribuintes e em particular dos desempregados, os populismos neoliberais poderão avançar com o argumento de que se terá revertido demasiado ao estatismo, à burocracia predadora e à regulamentação compulsiva. Mário Soares é da opinião de que a partir de agora viraremos à esquerda. Pode ser que sim, mas não acredito que possa ser por muito tempo...

(iii) Risco para as finanças públicas: não apenas a contenção do défice - parece que andámos a trabalhar para o boneco - mas sobretudo a dívida pública nacional, e a capacidade de honrar as nossas obrigações externas e internas; aos riscos que grassam na Europa sobre a moeda única acrescem as nossas fragilidades de capital humano e físico para re-enfrentar a continuação de um processo de globalização sem grandes ajustes.

Sobretudo o que me preocupa são as ajudas públicas "cegas" (no sentido "no strings attached"), i.e. sem contra-partidas a curto ou a médio prazo de progressos sociais ao nível da formação, por exemplo.

Se o Estado for conivente, em vez de exigente neste último aspecto - se tudo der e nada exigir em troca - reunir-se-ão ingredientes para mais um desastre futuro.

Entretanto, prepara-se o sistema para mais um ciclo de enriquecimento de um pequeno punhado de gente. Ou será que estou demasiado pessimista hoje?

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