segunda-feira, 2 de março de 2009

A fonte e o propósito de alguns neo-liberais

Para que não existam confusões deve-se explicar que este blogue é "liberal" no sentido norte-americano do social liberalism - o único globalmente relevante - e não no sentido Europeu continental da palavra "liberal", mais associada aos sociais conservadores e frequentemente ao flanco direito das ideias políticas.

Seguindo e Wikipedia (googlar "liberalism wikipedia") e traduzindo livremente (itálico):

O liberalismo enfatiza os direitos individuais, a igualdade de oportunidades e a igualdade como os objectivos políticos mais importantes.

Em Portugal os quadrantes políticos mais conservadores (mas por vezes confusamente apelidados de "liberais") não defendem explicitamente a igualdade de oportunidades. E como em política o que parece é (dizia Churchill...) isso significa que não pugnam por isso, essencialmente porque receiam colocar em causa o status quo social.

Existem várias correntes de pensamento que competem pelo uso do termo "liberal" (...) mas mais ou menos todas defendem a liberdade de pensamento e expressão, a limitação dos poderes governamentais, o estado de direito, a propriedade privada e a transparência governativa. (...)

Todos os liberais defendem alguma variante da democracia liberal, baseada em eleições justas e livres, onde todos os cidadãos são iguais perante a lei.

E agora a parte mais importante para o esclarecimento:

O liberalismo aparece em duas grandes correntes: o liberalismo clássico, que enfatiza a importância da liberdade individual, e o liberalismo social, que enfatiza alguma forma de re-distribuição de riqueza.

Os que se identificam liberais clássicos, distinguem-se dos liberais sociais por se oporem a qualquer forma de regulação dos negócios e da economia, com a excepção das leis anti-fraude, e suportam o capitalismo laissez-faire.

Na Europa o termo "liberalismo" é próximo daquilo que defendem os conservadores americanos (o partido Republicano).

Nos Estados Unidos o termo "liberal" é mais frequentemente usado associando-se ao liberalismo social, que defende alguma forma de regulação económica e algumas formas de intervencionismo de interesse público (o partido Democrata).

Percebe-se portanto que com a necessidade absoluta de intervenção estatal para salvar as economias globais saímos, por exclusão de partes e quase à força, de um liberalismo clássico radical e extremo (neoliberalismo) para entrar numa forma mais social de liberalismo.

O liberalismo tem as suas raízes no Iluminismo. (...)

O que é então a essência dos "neo-liberais"?

Neo-liberal = Liberal Clássico (componente política) + Economista neo-clássico (componente económica).

O problema: desde o início da década de 90 que boa parte dos liberais clássicos têm mostrado querer abandonar parte da componente política em que acreditavam, se bem que apenas de uma forma progressiva, nascendo então os neo-conservadores.

Neo-conservador = Liberal Clássico a 10% + Economista neo-clássico fundamentalista a 60% + Proto-ditador a 30%

Esta última classe de seres herdam o plano económico dos liberais clássicos (embora re-interpretando, abusando e adulterando o valor da "liberdade individual", reduzindo-a à liberdade de escolher preços) mas já não acreditam com tanta veêmencia nos valores políticos de que todos os cidadãos tenham que ser iguais perante a lei (vd. Guantanamo), de que o poder dos governantes tenha que ser limitado (vd. Bush quando afirmou que as escutas ilegais seriam legais porque ele assim determinava, ignorando por completo todas as instituições necessárias à validação do processo), de que o Estado não deva proclamar uma religião oficial (a administração Bush sempre defendeu oficiosamente os "evangélicos", defendendo e incentivando o ensino do criacionismo nas escolas em vez da teoria da evolução de Darwin, e assim contrariando os melhores conhecimentos científicos disponíveis, o que nega a essência do Iluminismo).

Se observarem bem, a tendência a que escapámos por agora com Obama e para que chamo a atenção é esta:

Liberalismo clássico -> Neo-conservadorismo -> Regime totalitário oligarca ?

Se para vós isto são lérias, reconheçam que todos os nossos gestos quotidianos - à excepção dos de ordem biológica - são fruto das ideias de alguém.

As ideias não são um detalhe, são o fulcro das questões.

Se o Iluminismo é a corrente moderna que deu eco à democracia que hoje conhecemos (apesar de todos os seus defeitos), o neoliberalismo e em especial o neoconservadorismo são o seu arcanjo caído...

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