O XVIII governo eleito leva agora quase sete meses de navegação à vista, entre foguetórios efémeros, puxões de orelhas europeus e globais, deriva ao sabor de acontecimentos, momentos de desespero pontilhados aqui e ali por um optimismo forçado, contemplação inconfortável de factos, números e quadros meramente realistas mas muito desagradáveis, e um discurso em geral artificioso, ainda descolado da realidade.
Sócrates lidera um segundo mandato que ainda não exibe um governo capaz de reagir cabalmente - de forma organizada, clara, atempada, razoável e segura - face a uma situação que não antecipou, e que o parece ter largamente ultrapassado. É o que parece...
Espero que o governo finalmente reorganize e combata para aquilo que foi publicamente mandatado, ou então que abdique, e dê o lugar a outros.
Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
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