É sempre bom receber um Papa. Mas caro. Custou qualquer coisa como 37 milhões de euro ao dia, o que em ano de austeridade tem um significado não desprezável. Sem prejuízo da generosidade protocolar devida à recepção de chefes de estado, e ainda mais grandes líderes religiosos, como o é Bento XVI, atrevo-me a dizer que achei tudo um bocado exagerado, para não me alargar mais. Bem sei que a vida não são (só) números, mas gastar em 4 dias quase 2x mais do que aquilo que vamos poupar num ano inteiro à custa dos cortes nos seguros de emprego (vulgo "subsídios" de desemprego) deixa-me algo indisposto e perplexo. Não há caridade, nem amor, nesta verdade.
Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
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