Horripilante, é a única palavra que encontro para a variante cubista de castelhano com que hoje o Primeiro Ministro tentou cativar (?) uma audiência de empresários espanhóis.
Falar mal uma língua estrangeira, ou não a falar, não é vergonha nenhuma. É preferível saber falá-la bem, claro.
O que já entra no ridículo, e talvez no ofensivo e alvo de chacota, é assumir que o estrangeiro nos entende e nos respeita enquanto trinchamos alegremente a sua língua materna, talvez até convencidos de que lhe fazemos uma simpática homenagem por... "estar a tentar".
Teria sido entendido como ponto de honra, motivo de respeito, o escolher falar correctamente a sua língua materna - o que Sócrates faz muito bem, tirando alguma entoação - e apoiar-se ao mesmo tempo num intérprete ou na tradução simultânea.
Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
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