Poderia ser a propósito das poucas horas que separaram a notícia do espantoso crescimento português de 1,7% em termos homólogos durante o primeiro trimestre - cujas causas ainda não são inteiramente compreendidas - e o anúncio super optimista do Primeiro Ministro, repetido por diversas vezes ao longo da semana passada na rádio e televisão.
Observando a coisa a alguma distância fico, antes de mais, agradavelmente surpreso com o valor, o mais alto da zona Euro e da OCDE ao que parece, mas muito intrigado com o que o motiva. Apareceram algumas opiniões relacionando o resultado com algum crescimento das exportações, o que é possível e credível embora não inteiramente suficiente.
De facto, tenho outra tese menos optimista, que me coloca perante a hipótese de que o valor encontra melhor explicação no consumo interno, nomeadamente de bens duráveis. É, salvo erro, uma das coisas que acontece em momentos de ameaça de bancarrota, que corresponde ao ambiente que temos vivido desde finais de 2008, inícios de 2009, e se agravou por 2010 adentro.
Esperemos pelas explicações, se elas alguma vez chegarem aos jornais económicos.
Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
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