A princípio julguei que a comunicação de Cavaco, hoje marcada para as 20:15 seria para vetar a lei sobre o casamento homosexual, já que apontava nesse sentido a convicção do Presidente. Com alguma surpresa, descubro que foi para a promulgar, mas mostrando-se contrariado e excusando-se num conceito a la Vaticano de "ética da responsabilidade" não divisionista. Fica largamente por interpretar o significado de mais uma comunicação meio esquisita ao país.
Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
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