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O governo, ao segundo dia de reacção ao mais violento ataque externo das últimas décadas, insiste em manter o TGV (talvez para se tentar distanciar do PSD).
Como qualquer português, também eu gostaria que o meu país dispusesse de uma rede de alta velocidade mais cedo, em vez de mais tarde. Mas insistir neste ponto a esta altura ou é orgulho, ou é cegueira, ou é demasiada burrice junta.
Há um nó górdio que não pode ser esquecido em toda esta história, um momento de definição à luz do qual o governo tem a obrigação de reavaliar e readaptar toda a sua acção governativa.
Esse momento teve o seu início em afirmações de que Portugal não iria ser tão afectado pela crise como outros países (2007). Logo aí, a suspeita de um erro de avaliação muito sério, mas que ainda poderia ser descontado supondo que a intenção tivesse sido acalmar o ambiente económico, trabalhando o governo nos bastidores em medidas de contingência profundas, incluindo medidas defensivas contra ataques a uma soberania vulnerabilizada por uma alta dívida externa e uma expectativa de crescimento quase nulo (que já se verificava antes de 2007). Não foi feito.
O arrastamento do estado de negação do governo atingiu o seu climax em período pré-eleitoral, e mesmo após as legislativas de 2009, com Teixeira dos Santos a anunciar então que o défice previsto para esse ano andaria pelos 5,6%, um valor "abaixo da média europeia", i.e. mais uma dose de anestesia geral.
Depois, o que se sabe: um défice de 9,4%!
A responsabilidade política de tal erro deveria ter sido assacada de imediato, assim que se "descobriu" um défice de 9,4%, mas o mea culpa que se impunha não ocorreu, optando o governo pelo silêncio, pelas meias palavras e meias tintas ou escudando a sua inacção numa maioria relativa atacada pelo PSD.
A simples falta de admissão pública desse crasso e inadmissível erro de previsão (estimativa do valor do défice de 2009) justifica, em parte, as reavaliações negativas do rating de dívida nacional a que temos assistido.
Agora, não há mais volta a dar-lhe: o governo tem de agir responsavelmente nas medidas que vem propor; tem de reavaliar toda a sua linha de acção política, cortar onde tem evitado cortar e afrontar o que é difícil de afrontar, em clima de demagogia zero.
Alguns dos nossos governantes parecem contudo preferir continuar a comportar-se de forma incompreensível, não admitindo as consequências dos seus próprios erros de avaliação; o mesmo é dizer não estando disponíveis para corrigir tudo o que os veio a originar ou o que pode ainda derivar desses erros.
Bento de Jesus Caraça deixou-nos um legado importante sobre a posição mais simples, mas mais sábia e correcta, a adoptar face ao erro:
"Se não receio o erro, é porque estou sempre pronto a corrigi-lo".
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