quinta-feira, 4 de março de 2010

Sobre Passos Coelho, Rangel e Aguiar Branco


Há quem considere Rangel o candidato mais preparado intelectualmente para tomar conta do PSD (talvez), bem como do país (certamente que não). Rangel é o candidato à liderança do PSD de espírito mais ofensivo - ainda que frequentemente as ofensivas sejam fundadas em areias movediças; o candidato com atoardas mais "musicais", que diz coisas que ficam no ouvido - embora duma forma excessivamente demagógica e inconsistente; claramente o candidato mais populista - o que é fácil de confundir com capacidade de liderança. Fosse ele muito rico, e seria um perfeito Berlusconi à portuguesa.
Do debate com Pedro Passos Coelho e Aguiar Branco, fica-me a percepção de um advogado combativo, mas a quem falta precisamente a devida preparação intelectual de fundo, mais rigor, e sobretudo uma experiência de vida consistente, que prometa verter para a realidade algo mais do que mera habilidade para conquistar poder, ou retórica eleitoral boa-de-cama.
Paulo Rangel não me parece o nome da ruptura, nem tão pouco um sinónimo de vitórias consequentes (rápido repúdio de uma responsabilidade para a qual foi recentemente eleito...).
Sob aquela capa de falsa ruptura, parece-me antes homem de mais do mesmo, representante duma cínica, gananciosa, vendida e esbanjadora forma de fazer política, simplesmente agora munida da falsa vitalidade que a juventude lhe concede. Rangel parece querer imitar o conservador britânico Cameron, mas sai-lhe uma coisa marreca e tosca. A única ruptura a que Rangel pode agarrar-se - ser o antípodas acabado de Sócrates - é, no mínimo, muito pouco inteligente.
Aguiar Branco têm-se mostrado bem mais consistente, reflectido, preciso e informado do que julguei em primeira análise, mas falta-lhe alguma combatividade, espírito de iniciativa e convicção - ao contrário de Rangel que parece sempre convicto, ainda que fale do que não domina. Sente-se em Aguiar Branco um homem leal ao partido, mas não um líder por mérito próprio. Não se pressente nele, nem sequer sob a superfície, uma verdadeira vontade de vencer - como exibe Rangel - , ou uma linha persistente de acção - como tem Passos Coelho.
Passos Coelho que, por sua vez, tem muito para poder alcançar a liderança do PSD, inclusivé a magna vantagem de não precisar do estilo hardcore de Rangel; foi na verdade o único a propor uma ruptura credível no tempo que se impunha, pecando no entanto por alguma insegurança no discurso - que se manifesta por via da defesa tíbia de algumas opções políticas - e por excesso de reverência para com os mais paternalistas no partido. Passos Coelho tem sido, de longe, o que exibe mais medo em vir a perder esta corrida. Essa fraqueza revela a presença de uma permeabilidade fatal a pressões externas.
Fica-me igualmente a impressão, desta segunda série de debates entre candidatos à liderança do PSD, que se deve perder ou nenhum ou demasiado tempo no partido em volta de tudo e em torno de nada. Fica-se sem perceber se, na realidade, este partido ainda existe de facto.
Foi ridículo o tempo que os candidatos em debate hoje esbanjaram - Branco e Rangel - competindo entre si no apuramento de quem mais tinha interpelado e contestado Sócrates; essa foi a melhor evidência prática de que Sócrates é melhor líder que qualquer um dos dois e, talvez, que qualquer um dos três candidatos principais à liderança do PSD.

Sem comentários:

Enviar um comentário