Durão Barroso apareceu esta semana determinado a fingir ser um líder. Veio proclamar o que toda a gente já sabe há muito - o falhanço da estratégia de Lisboa - e anunciar um esforço renovado da comissão para levar os países a investir mais em I&D e inovação.
E mesmo assim, Barroso apressou-se logo a justificar um possível falhanço neste objectivo, retirando credibilidade a si mesmo e ao que disse: "se os países não quiserem, isto não se fará"
Com este discurso Barroso escolheu passar ao lado de problemas que uma liderança séria e capaz jamais deixaria para segundo plano ou apenas entregue ao sabor dos acordos de conveniência entre 27 entidades distintas:
- Federação: é uma das poucas vias que pode vir a garantir maior união política e resolver, ao mesmo tempo, os problemas a que assistimos nos países do sul, que fragilizam a moeda única e o projecto europeu. Durão deveria falar nisto semana sim, semana sim, mas nada... eu não quero que o projecto europeu se desfaça entre as guerras de interesses, crises e falta de visão face ao que a europa no seu conjunto enfrenta.
- Simplificação: Barroso alargou a UE mas pouco ou nada fez para simplificar o funcionamento da máquina de papelinhos de Bruxelas; eu não quero uma europa super burocrática.
- Democracia: eu não quero em Bruxelas uma máquina de acordos corporativos dirigida por políticos que não conheço; quero lá os melhores, e quero que sejam eleitos pelos povos europeus de forma equitativa e representativa; quero que os políticos europeus façam pela vida e nos mostrem a todos quem são e o que fizeram para merecer a tribuna. Para quando, senhor Barroso?
- Tranparência e igualdade de oportunidades: eu não quero uma comissão europeia cheia de projectos e projectinhos e subsídios para apoiar tudo e tudo resultar em (quase) nada, nem me apetece, tão pouco, pagar mais impostos para que esses projectos beneficiem grupos de interesses especiais nos diversos países europeus; eu quero uma comissão com um programa sufragado, dirigido às linhas de acção mais importantes e fundamentais que, sem nunca perder de vista uma progressiva integração política, estimule o que o futuro precisa e aquilo de que o presente mais carece, na europa.
- Regulação dos mercados e agentes financeiros: o que está a fazer a comissão para combater o sistema bancário sombra, para endurecer o castigo aos que prevaricam a grande escala com o dinheiro dos outros, para matar a gestão danosa? o que está a fazer a comissão para regular os offshore e perseguir lavagens de dinheiro dentro das suas próprias fronteiras? o que está a fazer a comissão para reduzir as desigualdades e taxar a mobilidade de capitais e os lucros financeiros duma forma mais justa? o que está a fazer a comissão para ajudar Obama a fazer o mesmo do outro lado do atlântico e em toda a esfera de influência ocidental?
Barroso não pugna à máxima força por nada disto. Os seus discursos talvez sejam ouvidos, no máximo, por tecnocratas e espiões. Para mudar este apático e mortal estado de coisas, Barroso precisaria de três coisas que ainda não mostrou ter: paixão, inteligência e determinação.
Se fosse um líder inteligente e apaixonado saberia ao menos cativar as multidões que precisa para se libertar dos arreios que lhe impuseram, contribuindo dessa forma para avançar a Europa.
O seu discurso desta semana, isolado, com sabor a usado e desviando o foco das atenções para uma verdade universal - a de que é preciso investir mais em I&D e inovação - é um discurso de um líder fraco, perdido, uma fuga para a frente de uma intenção talvez desenhada para falhar, uma manobra de diversão que poderia até resultar no seu país, mas que dificilmente convencerá as capitais principais da europa, e seus povos, do que quer que seja.
Barroso falou para não continuar calado. Se quer começar a ser líder - o que eu aconselho vivamente - pense bem no que diz, como diz e onde diz, antes de falar.
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