Penso porém que assistimos ao último estertor de mentalidades fora de época, poderosas mas decadentes.
Pode ser que a outra senhora governe o próximo mandato; se assim for será provavelmente o seu último em muitos anos a vir - nisso reside, suspeito, a fonte de todo o grande ressabiamento desta época.
Nunca esperei viver, no meu próprio país, realidade tão próxima ao "double speak", a linguagem do regime totalitário imaginado por George Orwell no seu "1984".
É na incerteza dessa convolução, no fumo dessa não-proposta, desse não-futuro por tempo incerto, que reside parte da neurose colectiva em que estamos imersos. Ainda assim haverá vida após um tal mandato.
19 de Setembro, ontem: passou mais uma sexta-feira que deu cabo de qualquer clima civilizado de campanha e debate da coisa pública.
Precisamente o dia em que a mais recente sondagem - e logo da Católica! - mostrou uma vantagem de mais 4 pontos do PS face ao PSD, depois de duas semanas em que a vida tem corrido muito mal à principal oposição - muito por culpa de tiros nos próprios pés - e de Sócrates ter reafirmado uma boa preparação e superioridade política em quase todos os frente a frente.
Para silenciar a ausência de propostas, de conhecimento, de debate dos factos, ideias ou pespectivas, de vontade, de civismo, de justo confronto de valores, de escândalos mais plausíveis como a compra de votos, eis ressuscitada a intriga, que Louçã bem cataloga de "novela mexicana". As "escutas em Belém".
O dia eliminou em mim, por completo e em definitivo, qualquer benefício da dúvida que ainda reservasse relativamente a Aníbal Cavaco Silva. Sou da mesma opinião que João Marcelino [DN de hoje]: "Um PR não se pode prestar a estes papéis [alimentar insinuações sem apresentar fundamento]. Ou tem certezas e age, com coragem; ou não tem certezas, e averigua calado".
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