"Durante a campanha eleitoral foram produzidas dezenas de declarações e notícias sobre escutas, ligando-as ao nome do Presidente da República. E, no entanto, não existe em nenhuma declaração ou escrito do Presidente, qualquer referência a escutas ou a algo com significado semelhante. Desafio qualquer um a verificar o que acabo de dizer.
E tudo isto sendo sabido que a Presidência da República é um órgão unipessoal e que só o Presidente fala em nome dele ou então os seus chefes da Casa Civil ou da Casa Militar. Porquê toda esta manipulação?"
E tudo isto sendo sabido que a Presidência da República é um órgão unipessoal e que só o Presidente fala em nome dele ou então os seus chefes da Casa Civil ou da Casa Militar. Porquê toda esta manipulação?"
Ao usar a palavra "manipulação" Cavaco deve esclarecer se se refere ao PS, a elementos do PS, ao Governo ou simplesmente aos órgãos de comunicação social.
"Durante o mês de Agosto, na minha casa no Algarve, quando dedicava boa parte do meu tempo à análise dos diplomas que levei comigo para efeitos de promulgação, fui surpreendido com declarações de destacadas personalidades do partido do Governo, exigindo do Presidente da República que interrompesse as férias e viesse falar da participação de membros da sua Casa Civil na elaboração do programa do PSD, o que, de acordo com informação que me foi prestada, era mentira."
Se era mentira porque é que já estava a essa mesma data - como continua a estar - no site de campanha do PSD:http://www.politicadeverdade.com/?idc=1102&idi=4447?
"Considerei graves aquelas declarações: um tipo de ultimato ao Presidente da República."
Se considerou aquelas declarações como um ultimato, porque não lhes reagiu imediatamente?
"Pretendia-se, quanto a mim, alcançar dois objectivos, com aquelas declarações: primeiro, puxar o Presidente para a luta político-partidária, encostando-o ao PSD, apesar de todos saberem que eu, pela minha maneira de ser, sou particularmente rigoroso na isenção em relação a todas as forças partidárias; segundo, desviar as atenções do debate eleitoral das questões que realmente preocupavam os cidadãos."
Quem acusa o PR de querer alcançar esses dois objectivos? Os 4 elementos do PS implicitamente visados, todo o PS, o Governo?
Desviar as atenções do debate eleitoral das questões que realmente preocupavam os cidadãos? E o que fez durante toda a campanha o próprio PSD? Ou o próprio Cavaco com o seu silêncio enquanto medrava toda este enredo?
"A mesma leitura fiz da publicação num jornal diário de um mail, velho de 17 meses, trocado entre jornalistas de um outro diário sobre um assessor do gabinete do primeiro-ministro, que esteve presente durante a visita que efectuei à Madeira em Abril de 2008. Desconhecia totalmente a existência do conteúdo do referido e-mail e, pessoalmente, tenho sérias dúvidas, repito, tenho sérias dúvidas da veracidade das declarações nele contidas."
A impressão que fica é a de que o PR não se importou que se falasse de escutas ou vigilâncias enquanto isso serviu para lançar a dúvida sobre o comportamento do Governo.
Já quando se divulga [DN] um facto concreto ligando a forma, origem de insinuações e pedidos de averiguações (para não empregar a palavra vigilância) a Belém, o Presidente sente-se indignado...
"Não conheço o assessor do primeiro-ministro nele referido, não sei com quem falou, não sei o que viu ou ouviu na visita à Madeira. Se disso fez ou não relatos a alguém. Sobre mim próprio teria pouco a revelar, que não fosse de todo explícito e, por isso, não atribui qualquer importância à sua presença quando soube que tinha acompanhado a minha visita à Madeira."
Mas ficou por demonstrar porque é que o seu assessor tinha tanta curiosidade nele. E já agora, se não tinha, porquê exonerá-lo das suas funções?
"Liguei imediatamente a publicação do e-mail aos objectivos visados pelas declarações produzidas em meados de Agosto. "
Esta parece ser uma acusação implícita ao PS: no mínimo, de organização da divulgação de factos inconvenientes ao Presidente da República.
Relembro que o início da comunicação do PR emprega o termo "manipulação".
"Ninguém está autorizado a falar em nome do Presidente da República, a não ser os seus chefes da Casa Civil e Militar. E embora me tenha sido garantido que tal não aconteceu, eu não podia deixar que a dúvida permanecesse. Foi por isso, e só por isso, que procedi a alterações na minha Casa Civil."
Se o Presidente procedeu às "alterações da sua Casa Civil" apenas pelas razões que expõe, então cometeu um erro político da maior ingenuidade.
Será plausível pensar que foi apenas isso que se passou, tratando-se de um político tão experimentado?
"A segunda interrogação que a publicação do referido e-mail me suscitou foi a seguinte: será possível alguém do exterior entrar no meu computador e conhecer os meus e-mails?"
Chegado a este ponto o PR começa realmente a afundar-se: que relação tem tudo o que disse antes com esta questão? Qual é o fundamento da suspeita de vigilância, quando o email que refere nem sequer partiu de Belém?
"Agora, passada a disputa eleitoral, e porque considero que foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência, espero que os portugueses compreendam que fui forçado (...) a partilhar convosco, em público, a interpretação que fiz sobre um assunto que inundou a comunicação social (...)"
Foi forçado a partilhar a sua interpretação? Por quem?
Se atentarmos ao que disse, tudo o que haveria a explicar seria que a demissão de Fernando Lima das funções que ocupou se deveu exclusivamente ao não-benefício da dúvida que o Presidente da República sentiu dever exercer, nada mais.
Sem comentários:
Enviar um comentário