quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A tragédia Grega

Não seria a primeira vez que a História da Europa nos colocaria frente a grandes ironias.
Foi na Grécia que (muito) do "nosso" mundo Ocidental começou. Será aí que começará a cair decisivamente?

Esta semana Jürgen Stark, membro da Comissão Executiva do BCE veio alertar que não haverá credores de última instância para o caso Grego (no seio da UE, claro...). Politicamente, disse o que tinha a dizer, mas todos sabemos que não será assim (espero) em caso de derrapagem mais séria.

Entretanto, não menos cínico, o PM Grego George Papandreou, veio afirmar que não precisava de ajudas para nada e que a Grécia resolveria os seus problemas sozinha... Mais uma vez, politicamente, reconheça-se que lhe competia talvez serenar ânimos aos mercados e às agências de rating, esses parasitas sofisticados que por estes dias mandam (muito) mais nas economias das nações do que os respectivos governos democraticamente eleitos.

A consumação trágica da crise Grega poderá também denunciar o carácter semi-oco e vão de boa parte da máquina burocrática da UE, que compila estatísticas sem que saiba chegar ao âmago de cada problema mais profundo; que dispende milhões em pormenores de decoração mas cuida cada vez menos das vigas do edifício, sem que consiga sequer evitar a concorrência dos agora 27 na espécie de mascarada em que se tornaram as criativas estatísticas nacionais, toleradas anos a fio, pior ou melhor, por essa enorme máquina de papelinhos instalada em Bruxelas.

O melhor é mesmo que a UE ganhe juízo, e depressa (terá de acelerar a formação de uma Federação Europeia, a chegada da harmonia fiscal e laboral, a temporária desvalorização do Euro, a Comissão Europeia e possível Presidência eleitas por plebiscito, em vez da investidura da teia de interesses e nomeações de conveniência obscura que reina, e por aí fora).

Por enquanto, dá-me para rir perante uma Comissão Europeia que adverte a Islândia de que, caso não honre os seus compromissos com Holandeses e Britânicos, poderá ver a sua entrada na União retardada... Ao mesmo tempo a que assisto a uma resoluta, em parte justificada, avareza (no plano financeiro), e desprezo incompetente (no plano político), em colocar na devida perspectiva o "problema Grego"...

Alguns burocratas de Bruxelas parecem não entender que morte de Atenas pode bem vir a ser a sua própria morte. Que saudades tenho dos políticos fundadores da CEE. Que triste é ver que os seus descendentes políticos não entenderam quase nada do seu propósito original...

Hitler, apesar de todos os seus crimes e aberrações de personalidade, era senhor de uma intuição fora de comum e percebeu (tal como Napoleão...) que o futuro da Europa teria de passar pela união política, fosse como fosse.

Quanto tempo mais se esconderá essa necessidade em Bruxelas, em Londres, em Paris, ou em Berlim? Entretanto, Pequim avança...

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