Mais do que relatar os factos ou histórias humanas, alguns dos nossos jornalistas, redacções e directores de informação, usam e abusam do sofrimento alheio sem pudor, numa espécie de festim pornográfico de sede de sangue alimentado pela obscena saliva de vender, não importa o quê, não importa como, não importa a quem.
Faz lembrar a canção de Caetano Veloso, o "Haiti, é aqui".
Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
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