sexta-feira, 26 de junho de 2009

PSD: Vitória de Pirro nas Europeias


Demorei algum tempo a anotar algo sobre os resultados portugueses das mais recentes eleições para o Parlamento Europeu, em parte porque julgo ter sido mais merecedora de nota a vitória da direita à escala Europeia.
Tenho para mim que os resultados na Europa podem ter resultado da falta de reflexão e conhecimento dos cidadãos das raízes políticas desta enorme crise do (neo)liberalismo.
Desconhecedores das origens da coisa, a maioria dos cidadãos - muitos deles bem desligados do debate e das ideias políticas contemporâneas - terão optado por castigar o centro social-democrata mais à mão, e procurar refúgio alternativo nos contra-poderes do momento, ora muito à esquerda ora demasiado à direita, com isso abrindo uma brecha à continuidade efectiva da direita à frente dos destinos da Comissão Europeia.
O resultado destas eleições oferece mais evidências de que a Europa segue efectivamente com atraso o que acontece nos EUA, mas agora com mais do que um mandato de atraso. Não esqueçamos que são as pessoas da "Cimeira das Lajes", já banidas do poder nos EUA, que ficarão à frente da coisa máxima Europeia, durante uma época turbulenta que é crítica à sua continuidade de projecto.
Não esqueçamos também que ao centro-esquerda por essa Europa fora ainda não se vislumbram quaisquer personagens à altura sequer do cão de água português de Obama.
Em Portugal, quem votou refugiou-se igualmente nas margens e puniu duramente o Executivo.
Estranho é que o PSD veja na sua escassa vantagem, perante uma abstenção diluviana, a legitimidade suficiente para colocar o Governo em cheque ou, sobretudo e mais tristemente, para alentar sequiosamente uma nova onda de arrogância populista que já se vai fazendo sentir.
É preciso que o PSD se lembre que, apesar de tudo e ao contrário do que sucedeu na Europa, a esquerda ganhou em Portugal por uma larga margem, o que representa um veto efectivo à maioria das teses (neo)liberais na forma tentada do PSD.
Seria sensato que o PSD reconhecesse que agora que o Executivo foi castigado, é possível que o voto útil à esquerda se venha a reforçar, pelo menos nas legislativas. E seria de esperar, portanto, muito mais bom senso do que a continuidade da novela politiqueira de fraca qualidade a que temos vindo a assistir, apesar dos erros do PS e do Governo.
É absolutamente lamentável que o PSD não só se recuse a apresentar um programa governativo claro aos portugueses - sinal de que navega à vista - como sobretudo se defina apenas e somente pela negativa, pela demolição "dos outros".
Em pouco ou nada do que vai propondo o PSD se sente um rumo claro, uma coerência de pensamento capaz de gerar uma governação capaz e com propósito; em quase nada do que diz se sente ânimo, alento, superação, fé na capacidade dos portugueses, alegria de viver, positivismo, vontade de construir e de desenvolver...
A propagação do medo, a perseguição a pessoas e instituições, a obcessão na crítica a acções isoladas ou meras declarações desta ou daquela personagem, os valores "ocos", eis a prática da sua doutrina que nos é oferecida diariamente.
É certo que comparando com as Europeias de 2004 o PS, ao perder cerca de 600.000 votos foi sem dúvida castigado, mas o PSD ganhou zero votos (teve mais 171 votos do que nas Europeias de 2004, para ser rigoroso), e isso representa igualmente - a meu ver - uma derrota enorme, porque seria de esperar mais daquilo que se apresenta como a pricipal alternativa de poder.
Por outro lado, a diferença efectiva entre os dois maiores partidos foi inferior a 183.000 votos, o que não deveria permitir ao PSD, em boa verdade, sentir-se avalizado pela nação para travar a legitimidade de um Governo eleito por quase mais 1.000.000 de votos do que o PSD (em 2005).
Será portanto apenas sensato, à luz dos factos, que o PSD se remeta ao seu devido lugar.
Ganhou as Europeias, é certo, mas conseguiu apenas uma vitória de Pirro.

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