terça-feira, 9 de março de 2010

O vício da crise

Não estava à espera que fosse possível ver um PEC que não se apoiasse em parte nas classes médias; mas também não estava à espera que víssemos um PEC que fosse apenas, mais uma vez, pela via fácil, no sentido em que vai este. Se alguma coisa me suscitou o atraso da sua apresentação, foi a falsa esperança de assistir ainda a algum rasgo político bem guardado. Pura ilusão.

Este, este e não outro, é o pior momento de sempre de Sócrates e do PS nos últimos 5 anos e meio de governação.

As palavras de Sócrates relativamente a repor a justiça fiscal - um escalão a mais no topo já deveria ter sido introduzido há muito mais tempo - apenas me confirmam o à vontade com que se vende demagogia num momento tão grave.

Vamos assistir a mais 3 ou 4 anos de sacrifício para, provavelmente, quase nada. Não será apenas por colocar as contas públicas em dia que vamos exportar mais, crescer melhor. Sobretudo não será assim se, pelo meio, se der cabo de mais gente nas classes médias, minando a procura interna.

Se isto criar um ciclo vicioso na economia nacional, daqui por três anos o PIB poderá muito bem ser inferior ao de hoje, a valor actualizado, e estaremos a precisar de outro PEC, ou talvez de outro...PREC. Como o próprio governo sabe isto muito bem, é óbvio que a forma actual do PEC é, tão somente, para Inglês ver.

O plano actual tem uma forma vincadamente política e marcadamente não estrutural, e não foi desenhado a pensar na vida dos portugueses ou no futuro do país, tão somente na continuidade de uma certa forma de fazer política e de exercer o poder...

Que se desiludam se pensam que a direita baixará a guarda apenas porque este bem podia ser o seu PEC. Este PEC, nesta forma, com os seus abusos e sobretudo as suas estridentes omissões, é claudicar a toda a linha, como temo que muito em breve Sócrates venha a perceber.

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