
Gosto de alguns dos seus livros, embora não os ache especialmente originais. "Caim" não é excepção; outras figuras maiores da literatura já se aventuraram nos mesmos mistérios, mesmo sem ter de descer às profundezas do Antigo Testamento. Norman Mailer, por exemplo (para mim, muito acima de Saramago nesta matéria).
Ainda assim, as interrogações de Saramago não devem, nem podem, ser ignoradas. Não penso que a sua intenção tenha sido a de alvejar por prazer ou impulso um conjunto de textos com 2.000 anos. Bem pelo contrário, acho que Saramago presta homenagem à espiritualidade humana, ao desafiá-la a questionar-se mais profundamente sobre a dureza da letra bíblica.
Pode ser que o faça como uma criança, à letra e zangado, ou como alguém disse: "com ingenuidade".
Mas é nessa "ingenuidade" que reside provavelmente a sua proposição artística relativamente ao tema, bem como a origem das suas legítimas questões.