Tenho assistido a cada vez menos televisão - dieta zero, para ser franco - e ando mais virado para a rádio, talvez contra tendência. Pouco importa. Mas também na rádio, e em termos de qualidade e diversidade hertziana, o que se nos oferece em Portugal é confrangedor. Com excepção de uma ou duas emissoras, a oferta, qualidade e diversidade de assuntos em debate é de uma pobreza miserável, o que revela o maçador e irritante conformismo nacional. O mesmo pode dizer-se duma maioria de programas musicais (se é que se podem chamar "programas"), que me dão a impressão de serem os mesmos há pelo menos dez anos, repetindo-se ad nauseum. Sinais inequívocos da pequenez, provincianismo, amadorismo e falta de imaginação nacionais, também na rádio.
Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
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