terça-feira, 29 de setembro de 2009

Grave momento

Pessoalmente, já intuía que a noite pudesse vir a ser aziaga. Já o tinha escrito no post de ontem.

Por onde começar?

Talvez pelo fim: “Estará a informação confidencial contida nos computadores da Presidência da República suficientemente protegida?” perguntou Cavaco Silva, que afirmou que "hoje, só hoje" teriam sido feitas consultas sobre a segurança informática da PR que, como se deduz, foram quase inconclusivas: qualquer sistema informático possui "vulnerabilidades" (até o do Pentágono). Mas nenhuma "vulnerabilidade" constitui por si só prova de "intrusão". Daí à questão citada (que aparentemente interliga as "vulnerabilidades" com uma ocorrência implícita de "intrusão") vai uma distância para a qual Cavaco não apresentou nenhum fundamento.

Pergunto: com que espécie de ligeireza Cavaco investiga em um só dia, e conclui nesse próprio dia, que não só existem "vulnerabilidades" como poderão ter existido intrusões de segredos através dessas "vulnerabilidades", associando tudo isso a pretensas manipulações do PS?

Ainda mais espantoso: como é que num só dia - hoje - Cavaco elimina as hipóteses de que essa intrusão implícita se possa ter originado a partir de corporações não-governamentais ou até, porque não, por parte de outro Estado?

Admirável e inédito, pela negativa, de qualquer investigação séria de contra-espionagem que fosse susceptível e admissível realizar a pedido de um Presidente da República que se sentisse vigiado (e que requereria um absoluto segredo desde a primeira suspeita, exactamente ao contrário de tudo o que temos vindo a assistir).

De novo: que factos fazem supor qualquer tipo de intrusão? Que ligação tem isso com os factos já conhecidos desta história? Com o PS em particular? Nada, zero, o deserto absoluto: nenhum esclarecimento concreto.

Outra questão reveladora de Cavaco Silva: "Como é que aqueles políticos [do PS] sabiam dos passos dados por membros da Casa Civil da Presidência da República?”

Tive dificuldade em acreditar no que estava a ouvir de Cavaco Silva, o nosso PR, 48 horas após as eleições: a mesma tola questão que ouvimos de muitos elementos do PSD em campanha eleitoral...

A resposta para esta "questão" é sobejamente simples: essa informação já tinha sido publicada na imprensa antes dos políticos visados do PS a terem referido, e o próprio site de campanha do PSD a noticiava, sem sombra para quaisquer dúvidas. Ver aqui a confirmação dada pelo próprio PSD no seu sítio (enquanto não for retirada): "Ferreira Leite faz o programa com Catroga e assessores de Belém", http://www.politicadeverdade.com/?idc=1102&idi=4447

Novamente admirável.

Porque sendo o caso da pergunta de Cavaco não fazer sentido, então o seu objectivo só pode ser o de intoxicar ainda mais aquela parte da opinião pública que não está ou não quer estar ao corrente dos factos. Resta saber com que objectivo último...

Para Cavaco, “foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência”. Também concordo: já chega de jogar à Esfinge!

Por que razão absurda, com que objectivos, monta tão tarde Cavaco uma acusação com tamanha gravidade a "personalidades destacadas do partido do Governo", lançando mesmo a suspeita sobre o próprio Governo no seu todo, baseado tão somente no facto de 4 elementos do PS se terem referido, em campanha, a um facto público que logo a seguir ele classifica na sua comunicação de hoje como normal?

Cavaco Silva, ou terá argumentos mais sólidos e inteligíveis, ou simplesmente nunca os teve nem terá; nem para explicar o seu longo silêncio, nem para explicar as suas mais recentes afirmações...

Como irá acabar esta tragédia de erros?

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