terça-feira, 18 de maio de 2010

Tempo indeterminado

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ela merece uma homenagem...

Reset, please.


O XVIII governo eleito leva agora quase sete meses de navegação à vista, entre foguetórios efémeros, puxões de orelhas europeus e globais, deriva ao sabor de acontecimentos, momentos de desespero pontilhados aqui e ali por um optimismo forçado, contemplação inconfortável de factos, números e quadros meramente realistas mas muito desagradáveis, e um discurso em geral artificioso, ainda descolado da realidade.

Sócrates lidera um segundo mandato que ainda não exibe um governo capaz de reagir cabalmente - de forma organizada, clara, atempada, razoável e segura - face a uma situação que não antecipou, e que o parece ter largamente ultrapassado. É o que parece...

Espero que o governo finalmente reorganize e combata para aquilo que foi publicamente mandatado, ou então que abdique, e dê o lugar a outros.

Desenrascanço puro


Horripilante, é a única palavra que encontro para a variante cubista de castelhano com que hoje o Primeiro Ministro tentou cativar (?) uma audiência de empresários espanhóis.

Falar mal uma língua estrangeira, ou não a falar, não é vergonha nenhuma. É preferível saber falá-la bem, claro.

O que já entra no ridículo, e talvez no ofensivo e alvo de chacota, é assumir que o estrangeiro nos entende e nos respeita enquanto trinchamos alegremente a sua língua materna, talvez até convencidos de que lhe fazemos uma simpática homenagem por... "estar a tentar".

Teria sido entendido como ponto de honra, motivo de respeito, o escolher falar correctamente a sua língua materna - o que Sócrates faz muito bem, tirando alguma entoação - e apoiar-se ao mesmo tempo num intérprete ou na tradução simultânea.

"I told you so"

Depois de certo período de nojo, tivemos hoje direito ao momento "I told you so" de Medina Carreira. Para variar - mais um facto surpreendente do dia - avançou mesmo com algumas propostas de redução de despesa, de forma atabalhoada e às cambalhotas, mas lá avançou.

Só derrapou quando Mário Crespo o indagou sobre as diversas acumulações de pensões públicas, semi-públicas e semi-privadas que grassavam em Portugal (mencionando de passagem, se eu ouvi bem, o próprio Presidente da República)... Aí o "Adamastor" engasgou-se um bocado - quiçá pensando nas suas próprias reformas - e atropelou as palavras de Crespo, calando-o por fim, para rematar qualquer coisa do género "isso agora não interessa nada, porque são tostões"... pouco convincente...

Carreira contou igualmente a história da "sua avó", ou da sua "tia-avó" Virgínia, uma pessoa que nada percebia de política - segundo o próprio - e que se terá tornado salazarista convicta após atrasos sucessivos de pagamento de salários (supostamente essa "tia-avó" de Medina Carreira era funcionária pública).

Quanto a esse risco, o de viragem súbita à extrema-direita, fenómeno recorrente em épocas de grande crise, não duvido nada que ele esteja enganado... A seguir com atenção, muita atenção.

Terá Passos sido enganado?

A princípio ouviu-se e leu-se que as medidas do PEC 2.0, a que Passos deu a mão, dirigiam metade do pacote sobre a receita e a outra metade sobre a despesa.

As medidas lançadas sobre a receita do Estado já são de todos conhecidas... quanto às medidas a lançar sobre a despesa, pergunta-se a Passos (e a Sócrates): onde é que elas estão? Perderam-se a caminho das redacções, ou eram apenas para Inglês ver...ou...será que Passos se deixou enganar?

Mais uma nota de rodapé: alguns de nós estão preocupados e até indignados com a perda de soberania resultante de todo este processo de não antecipação e gestão engasgada da crise - um risco que registei e para o qual alertei ainda a tempo (já tarde, segundo outros).

Contudo, da observação do comportamento e resultados da acção (e inacção) dos nossos governantes nos últimos tempos, confesso que me passa pela cabeça ocasionalmente que essa perda de soberania (para o Conselho de Ministros das Finanças do Euro grupo) é talvez a única verdadeira boa notícia dos últimos meses.

Prémio Burritos


Poderia ser a propósito das poucas horas que separaram a notícia do espantoso crescimento português de 1,7% em termos homólogos durante o primeiro trimestre - cujas causas ainda não são inteiramente compreendidas - e o anúncio super optimista do Primeiro Ministro, repetido por diversas vezes ao longo da semana passada na rádio e televisão.

Observando a coisa a alguma distância fico, antes de mais, agradavelmente surpreso com o valor, o mais alto da zona Euro e da OCDE ao que parece, mas muito intrigado com o que o motiva. Apareceram algumas opiniões relacionando o resultado com algum crescimento das exportações, o que é possível e credível embora não inteiramente suficiente.

De facto, tenho outra tese menos optimista, que me coloca perante a hipótese de que o valor encontra melhor explicação no consumo interno, nomeadamente de bens duráveis. É, salvo erro, uma das coisas que acontece em momentos de ameaça de bancarrota, que corresponde ao ambiente que temos vivido desde finais de 2008, inícios de 2009, e se agravou por 2010 adentro.

Esperemos pelas explicações, se elas alguma vez chegarem aos jornais económicos.

פּאַזאַלז פון נאַטור


A princípio julguei que a comunicação de Cavaco, hoje marcada para as 20:15 seria para vetar a lei sobre o casamento homosexual, já que apontava nesse sentido a convicção do Presidente. Com alguma surpresa, descubro que foi para a promulgar, mas mostrando-se contrariado e excusando-se num conceito a la Vaticano de "ética da responsabilidade" não divisionista. Fica largamente por interpretar o significado de mais uma comunicação meio esquisita ao país.

domingo, 16 de maio de 2010

In Memoriam: Saldanha Sanches

Em memória dos inconformistas inteligentes e sábios, que infelizmente a ditosa pátria vai deixando morrer, e desperdiçando.

A barraca e Barroso

Por via da habitual pantomina muito teatral de que os congéneres europeus se devem por certo rir bastante, lá veio Barroso de novo ao palco, muito zangado, avisar os líderes europeus: "sejamos claros: não haverá união monetária, sem união económica!". Mais uma vez se enganou na sua deixa, que deveria ter sido: "sejamos claros: não haverá união monetária, sem união fiscal e política!". Ele pode ser cherne, mas não parece lá muito inteligente.

Luxos de Cavaco

É sempre bom receber um Papa. Mas caro. Custou qualquer coisa como 37 milhões de euro ao dia, o que em ano de austeridade tem um significado não desprezável. Sem prejuízo da generosidade protocolar devida à recepção de chefes de estado, e ainda mais grandes líderes religiosos, como o é Bento XVI, atrevo-me a dizer que achei tudo um bocado exagerado, para não me alargar mais. Bem sei que a vida não são (só) números, mas gastar em 4 dias quase 2x mais do que aquilo que vamos poupar num ano inteiro à custa dos cortes nos seguros de emprego (vulgo "subsídios" de desemprego) deixa-me algo indisposto e perplexo. Não há caridade, nem amor, nesta verdade.

"O povo, calado, será sempre enganado!"

PEC 2.0. Inevitável? Sim. Imprevisível? Não. Cada português terá agora que pagar entre algumas centenas a vários milhares de euros anuais a mais, entre aumentos de IVA, IRC e outros, como resultado da falta de antecipação política, da falta de visão, e da gestão danosa de várias gerações de governantes. É um regresso ao passado, um regresso ao clima de 1983, mas agora com menos esperança (passe a boa vontade da mensagem do Papa). Este fim de semana já ouvi um slogan dos bons: "O povo, calado, será sempre enganado!"... (vd. Homens da Luta).

terça-feira, 11 de maio de 2010

Euro: que solução?


E ao 10º dia de Maio a Europa deu a conhecer "o plano". Da reunião dos governantes máximos Europeus não resultou porém, ainda, nenhum compromisso em dar os primeiros passos para a necessária integração fiscal, ou sequer uma vaga promessa em direcção à Federação Europeia que já tantos apontam com a única solução de médio prazo para o projecto Europeu; não resultou igualmente - a priori - um mecanismo permanente de intervenção em casos de pré-bancarrota (suficientemente robusto a nível político).

Barroso alegrou-se cedo demais: ao segundo dia os mercados leram que o conjunto de garantias extra, linhas de financiamento e possível novo papel do BCE - medidas que no seu conjunto poderiam injectar entre 600 mil a 750 mil milhões de Euros - constitui algo que dificilmente alguém, alguma vez, quererá colocar plenamente em marcha, i.e. pode ser uma espécie de arma sem gatilho...

É interessante reflectir sobre a mais ou menos insuspeita opinião de Krugman, como elemento de análise sobre o que parece isto quando visto de fora por um economista experiente (via The Conscience of a Liberal, excertos do post "Shock and Uh?"):

"Now comes yesterday’s announcements.

Announcement #1, from the EU ministers, basically offered a larger version of the failing Greek plan. This, by itself, wouldn’t do much for Greece. Arguably, it might help Portugal and especially Spain, which are not in quite as bad shape and might (just possibly) be able and willing to endure years of deflation and fiscal austerity as long as they can avoid speculative attack. But that’s kind of a marginal thing. When the first announcement came, my reaction was to say that the EU was making the classic mistake, treating a solvency problem as if it were a liquidity problem."

"Announcement #2, from the ECB, changes things somewhat. It now seems that Trichet has been dragged kicking and screaming into becoming at least a semi-Bernanke, engaging in much more expansionary policies than before. (Yes, the ECB says that they’re only liquidity operations, and will be sterilized, yada yada — we can only hope that they don’t really mean it.)"

"So there’s something substantive here; it’s not just a matter of buying time during which nothing good will happen."

domingo, 9 de maio de 2010

In Memoriam: Aristides de Sousa Mendes


Em memória da lucidez, tenacidade e coragem de todos aqueles que, podendo escudar-se no estrito cumprimento de ordens, escolheram, escolhem, e escolherão sempre, resistir.

Europa: que futuro?

Cumprem-se hoje 65 anos do fim da segunda grande guerra. E no entanto, as divisões entre Europeus mantêm-se, como na lenda da torre de Babel. Se calhar, precisamos de mais uma guerra fria...

Which plan?

via Paul Krugman's blog:

And we’re still waiting for the rescue plan …

I’m not encouraged by the remarks of some of the leaders, who keep talking about protecting the euro as if speculation against the currency were the problem. Actually, a weak euro helps Europe. Speculation against the debt of weak nations is another matter; will they have any real answer to that problem?"

sábado, 8 de maio de 2010

Europe Under Siege

Mobilização Geral

Sarkozy, ontem:

“A zona euro atravessa sem qualquer dúvida a crise mais grave desde a sua criação"

Sarkozy apelou à mobilização geral, ontem, em reunião com os seus homólogos europeus.

Contudo, o ataque já grassa desde Janeiro, e vamos ver se não é demasiado tarde. Pode não ser ainda tarde, mas a Europa terá enfim de dar um significativo e convincente salto em frente, rapidamente.

Estamos a assistir a uma nova forma de guerra sem muitos precedentes históricos, para a qual só agora os fracos líderes Europeus se mobilizam, em emergência e sem qualquer preparação prévia.

A situação não é ainda desesperada, mas é inegavelmente muito grave, requerendo uma flexibilidade, rapidez e ousadia de movimento de que a até agora a Europa a 27 não deu mostras.

A semanas da Grécia?

O custo das obrigações de dívida soberana portuguesa atingiu os mesmos valores que afectaram a Grécia, há poucas semanas atrás (via Krugman). Um indicador de que a situação se pode precipitar com rapidez...

Taxas das obrigações de dívida soberana nacionais são agora as seguintes:
  • a 2 anos:   8,77%
  • a 5 anos:   6,44%
  • a 10 anos: 7,05%
Em comparação, as Espanholas, são:
  • a 2 anos:   3,38%
  • a 5 anos:   4,04%
  • a 10 anos: 4,60%
E as Suiças são as seguintes:
  • a 2 anos:   0,21%
  • a 5 anos:   0,72%
  • a 10 anos: 1,68%

Por fim, alguma razoabilidade

Sócrates:

“todos os investimentos que não foram ainda adjudicados, como é o caso por exemplo da terceira via, como é o caso do aeroporto, para que os possamos lançar num momento em que a estabilização financeira regresse aos mercados e possa haver maiores garantias de financiamento para que essas obras se possam desenvolver

“todas [as obras] que foram já financiadas, e que estão adjudicadas, essas devem continuar”

“não seria razoável que o governo lançasse concursos para os quais pode haver dificuldades no seu financiamento. É preciso esperar por boas condições de mercado”.

Isto acontece um dia depois das declarações de Ricardo Salgado ("há uma situação nova"...).

Quanto custa ao Estado a visita de Bento XVI?

Pontes, férias, condicionamentos de trânsito, segurança. A pergunta pode ser incómoda mas deve ser feita, sobretudo no tempo que vivemos.

Quanto custa ao erário público a visita de Bento XVI à Lusitânia?

Mais importante: porque é que cinco anos volvidos da intenção de taxar as actividades não-religiosas da Igreja Católica em Portugal, nem 1 cêntimo entrou nos cofres do Estado?

A visita de Bento XVI deveria ocorrer apenas após dessa questão estar resolvida, e não antes.

O TGV custa dinheiro no futuro, mas a Igreja custa dinheiro no presente, e é no presente que enfrentamos a segunda conjuntura financeira mais grave desde 1974.

A bridge too far


Excertos de "A Money Too Far", por PAUL KRUGMAN. Publicado a 6 de Maio no The New York Times:


(...) "The only thing that could seriously reduce Greek pain would be an economic recovery, which would both generate higher revenues, reducing the need for spending cuts, and create jobs. If Greece had its own currency, it could try to engineer such a recovery by devaluing that currency, increasing its export competitiveness. But Greece is on the euro.


So how does this end? Logically, I see three ways Greece could stay on the euro.


First, Greek workers could redeem themselves through suffering, accepting large wage cuts that make Greece competitive enough to add jobs again. Second, the European Central Bank could engage in much more expansionary policy, among other things buying lots of government debt, and accepting — indeed welcoming — the resulting inflation; this would make adjustment in Greece and other troubled euro-zone nations much easier. Or third, Berlin could become to Athens what Washington is to Sacramento — that is, fiscally stronger European governments could offer their weaker neighbors enough aid to make the crisis bearable.


The trouble, of course, is that none of these alternatives seem politically plausible.


What remains seems unthinkable: Greece leaving the euro. But when you’ve ruled out everything else, that’s what’s left."

segunda-feira, 3 de maio de 2010

União Europeia: "to be or not to be"


in FT (02-05-2010):

"Europe’s choice is to integrate or disintegrate.



The experiment of a monetary union without political union has failed. The EU is thus about to confront a historic choice."

domingo, 2 de maio de 2010

Comissão liquidatária (II)?

cartoon de Nelson

Segundo Rui Tavares, todo o trabalho de casa de Barroso - e também o seu próprio, digo eu - se deveria organizar para que se pudesse dizer, sem dúvidas ou ambiguidades:

“Não há economias periféricas nem centrais na zona euro; um ataque a um país da zona euro é um ataque ao euro enquanto todo; e não haverá nenhuma falência na eurolândia porque nós não o permitiremos; teria de falir a zona euro inteira, e isto só aconteceria a dois passos do apocalipse financeiro global, ou seja, não vai acontecer. Muito obrigado por terem ouvido.”

Países mais racionais



"Em Espanha, a opção, com escreve o El País, passa pela redução do número de altos cargos na Administração Pública e o desaparecimento ou fusão de uma série de empresas públicas."

in e.conomia.info

A lição "Europa" na agenda neoliberal?


The purpose of the speculative attacks - an opportunity left open by EU officials and provincial governments - may be to turn around the Obama tide after all, making of Europe a "lesson" for American liberals, through the use of big banks, big corporations and rating agencies activities.

The monster may come out any time soon, as I am picking up all kinds of strange signals:

"What you are hearing is the sound of the other shoe dropping. The demographics and long-term growth prospects of those countries are flat or shrinking. Their welfare states are unsustainable. I hope that what we are about to see in Europe will cure those who wish the USA could be more European."

also,

"I guess people didn't find Lehman fun enough. Now we're going to try countries. Hang on!"

Um problema maior que a dívida externa


"Even if the wages were the same I would still prefer to work abroad because, in my opinion, the ethics and work culture in Portugal are an obstacle to achieving results and producing quality work. There are too many people in the wrong positions and too many decisions based on friendships and self-interests. In this environment a lot of effort is needed to lobby our work, at the end it is more politics than engineering, it results in frustration and low quality results. A shift in work culture is needed, before it becomes a good option to work in Portugal."

Pedro M.