quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Torpedo in the water!


É certo que a justiça deve seguir o seu rumo independentemente de calendários eleitorais.
Contudo, em alturas críticas, como a que se vive, deveria existir todo o cuidado do MP em fundamentar quaisquer buscas com a Lei. Não vi esse cuidado reflectido na comunicação social, acerca das buscas aos escritórios de advogados envolvidos na assistência contratual à aquisição de submarinos, caso que pode vir a envolver Paulo Portas.
Marinho Pinto já apontara, a propósito de outras buscas, à ilegalidade.
Porque é que o MP não esclarece a opinião pública sobre os fundamentos legais que justificam e autorizam semelhantes acções-relâmpago?

Lembram-se do "monstro"?

Se agência Lusa noticiava hoje um decréscimo de 42.837 funcionários públicos nos últimos 4 anos, fixando-se o número total global nos 523.119 funcionários a finais de Junho (fonte: Ministério das Finanças).

Se bem me lembro, foi Sócrates quem pediu o elenco completo de funcionários públicos, após 2005 (número que nunca foi conhecido com rigor antes dele). E se bem me lembro também, o número total já andou perto dos 700.000 durante os anos Guterres (o tempo do "monstro").

Podem existir muitas razões de fundo para isto, nem todas necessariamente boas, mas é forçoso incluir nesse elenco a reforma da Administração Pública que o Governo de Sócrates encetou para explicar este resultado algo inimaginável há apenas 4 anos.

Cortar o mal pela raíz

Da declaração de resposta do PS às declarações do PR de 29 de Setembro.

Sobre as suspeitas de escutas:

“absurdas e totalmente infundadas” ; “grave manipulação da verdade, com o objectivo de prejudicar o Governo e o PS”

Sobre o tom da comunicação:

“o momento que o País vive e o quadro político da nova legislatura exige um esforço redobrado de todos os responsáveis políticos perante os desafios que têm pela frente

Sobre a parte importante do enredo de Verão:

"a chamada polémica das escutas que supostamente teriam sido promovidas no Palácio de Belém pelo Governo não teve origem em nenhuma declaração de deputados do PS nem na publicação de qualquer email pelo DN”

“Teve origem, isso sim, em duas notícias do ‘Público’, invocando expressamente um membro da casa civil do Presidente da República (PR), dando conta de suspeitas que elementos ao serviço do PR estariam sob escuta a mando do Governo. Essa suspeição, a ser levada a sério, seria obviamente de extrema gravidade”

Sobre a continuação do clima de suspeição:

“não só não referiu nenhum facto susceptível de conferir o mínimo de razoabilidade a essa suspeição como expressamente recordou que ele próprio nunca proferiu tais suspeitas”

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Opiniões...

"Decididamente, o desatino tomou conta o Palácio de Belém. A comunicação de Cavaco Silva há-de ficar nos anais do nonsense político entre nós. Lembremos os factos. Em Agosto, o Público relata que uma fonte da Presidência da República informa que Belém suspeita de estar a ser "vigiada" pelo Governo. A história é logo transformada num caso de "escutas" a Belém. Cavaco Silva não desmente nem esclarece a acusação, dando a entender que concorda com a grave alegação. O PSD e explora longamente essa estória contra o Governo e o PS, construindo a teoria da "asfixia democrática", com largo apoio da comunicação social. Cavaco Silva nem se demarca nem se distancia, deixando que a questão renda politicamente ao PSD. Em Setembro o Diário de Notícias publica um email entre jornalistas do Público -- cuja genuinidade não foi posta em causa --, onde se relata que a fonte da tal noticia era um conhecido assessor de Belém, e que este terá dito que estava a actuar a pedido do Presidente. Nem o dito assessor nem Cavaco Silva desmentiram nem esclareceram os factos relatados no email, apesar do clamor geral nesse sentido.É evidente que pelo seu silêncio ruidoso, Cavaco Silva deixou que uma história inventada em Belém fosse aproveitada politicamente pelo PSD. Vir agora acusar o PS de ter tentado "arrastá-lo para a luta política" é o cúmulo da hipocrisia e do farisaísmo.Algo não está bem com o Presidente da República."

Vital Moreira, in http://causa-nossa.blogspot.com/

Será?



"Cavaco estará a entender que a Constituição lhe dá margem para não indigitar José Sócrates como PM. E preparar-se para convidar o PSD+CDS a formar governo. Minoritário, mas com mais deputados que o PS. É um atentado à democracia? É. Tenho a certeza que o fará? Não. Mas porque escolheu então este momento para reforçar suspeitas sobre o PM e o Governo, com base num assunto que nem estava em discussão? Nunca ninguém pensou em computadores vigiados na presidência porque os emails revelados não eram daí.
Há algo de bizarro no comportamento e no discurso do PR. E a eventual golpada constitucional pode ser a explicação plausível."


Perguntas sobre as declarações do PR


"Durante a campanha eleitoral foram produzidas dezenas de declarações e notícias sobre escutas, ligando-as ao nome do Presidente da República. E, no entanto, não existe em nenhuma declaração ou escrito do Presidente, qualquer referência a escutas ou a algo com significado semelhante. Desafio qualquer um a verificar o que acabo de dizer.
E tudo isto sendo sabido que a Presidência da República é um órgão unipessoal e que só o Presidente fala em nome dele ou então os seus chefes da Casa Civil ou da Casa Militar. Porquê toda esta manipulação?"


Ao usar a palavra "manipulação" Cavaco deve esclarecer se se refere ao PS, a elementos do PS, ao Governo ou simplesmente aos órgãos de comunicação social.


"Durante o mês de Agosto, na minha casa no Algarve, quando dedicava boa parte do meu tempo à análise dos diplomas que levei comigo para efeitos de promulgação, fui surpreendido com declarações de destacadas personalidades do partido do Governo, exigindo do Presidente da República que interrompesse as férias e viesse falar da participação de membros da sua Casa Civil na elaboração do programa do PSD, o que, de acordo com informação que me foi prestada, era mentira."
Se era mentira porque é que já estava a essa mesma data - como continua a estar - no site de campanha do PSD:http://www.politicadeverdade.com/?idc=1102&idi=4447?

"Considerei graves aquelas declarações: um tipo de ultimato ao Presidente da República."

Se considerou aquelas declarações como um ultimato, porque não lhes reagiu imediatamente?

"Pretendia-se, quanto a mim, alcançar dois objectivos, com aquelas declarações: primeiro, puxar o Presidente para a luta político-partidária, encostando-o ao PSD, apesar de todos saberem que eu, pela minha maneira de ser, sou particularmente rigoroso na isenção em relação a todas as forças partidárias; segundo, desviar as atenções do debate eleitoral das questões que realmente preocupavam os cidadãos."

Quem acusa o PR de querer alcançar esses dois objectivos? Os 4 elementos do PS implicitamente visados, todo o PS, o Governo?


Desviar as atenções do debate eleitoral das questões que realmente preocupavam os cidadãos? E o que fez durante toda a campanha o próprio PSD? Ou o próprio Cavaco com o seu silêncio enquanto medrava toda este enredo?


"A mesma leitura fiz da publicação num jornal diário de um mail, velho de 17 meses, trocado entre jornalistas de um outro diário sobre um assessor do gabinete do primeiro-ministro, que esteve presente durante a visita que efectuei à Madeira em Abril de 2008. Desconhecia totalmente a existência do conteúdo do referido e-mail e, pessoalmente, tenho sérias dúvidas, repito, tenho sérias dúvidas da veracidade das declarações nele contidas."


A impressão que fica é a de que o PR não se importou que se falasse de escutas ou vigilâncias enquanto isso serviu para lançar a dúvida sobre o comportamento do Governo.
Já quando se divulga [DN] um facto concreto ligando a forma, origem de insinuações e pedidos de averiguações (para não empregar a palavra vigilância) a Belém, o Presidente sente-se indignado...


"Não conheço o assessor do primeiro-ministro nele referido, não sei com quem falou, não sei o que viu ou ouviu na visita à Madeira. Se disso fez ou não relatos a alguém. Sobre mim próprio teria pouco a revelar, que não fosse de todo explícito e, por isso, não atribui qualquer importância à sua presença quando soube que tinha acompanhado a minha visita à Madeira."


Mas ficou por demonstrar porque é que o seu assessor tinha tanta curiosidade nele. E já agora, se não tinha, porquê exonerá-lo das suas funções?


"Liguei imediatamente a publicação do e-mail aos objectivos visados pelas declarações produzidas em meados de Agosto. "


Esta parece ser uma acusação implícita ao PS: no mínimo, de organização da divulgação de factos inconvenientes ao Presidente da República.
Relembro que o início da comunicação do PR emprega o termo "manipulação".

"Ninguém está autorizado a falar em nome do Presidente da República, a não ser os seus chefes da Casa Civil e Militar. E embora me tenha sido garantido que tal não aconteceu, eu não podia deixar que a dúvida permanecesse. Foi por isso, e só por isso, que procedi a alterações na minha Casa Civil."

Se o Presidente procedeu às "alterações da sua Casa Civil" apenas pelas razões que expõe, então cometeu um erro político da maior ingenuidade.
Será plausível pensar que foi apenas isso que se passou, tratando-se de um político tão experimentado?


"A segunda interrogação que a publicação do referido e-mail me suscitou foi a seguinte: será possível alguém do exterior entrar no meu computador e conhecer os meus e-mails?"


Chegado a este ponto o PR começa realmente a afundar-se: que relação tem tudo o que disse antes com esta questão? Qual é o fundamento da suspeita de vigilância, quando o email que refere nem sequer partiu de Belém?


"Agora, passada a disputa eleitoral, e porque considero que foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência, espero que os portugueses compreendam que fui forçado (...) a partilhar convosco, em público, a interpretação que fiz sobre um assunto que inundou a comunicação social (...)"


Foi forçado a partilhar a sua interpretação? Por quem?
Se atentarmos ao que disse, tudo o que haveria a explicar seria que a demissão de Fernando Lima das funções que ocupou se deveu exclusivamente ao não-benefício da dúvida que o Presidente da República sentiu dever exercer, nada mais.

Grave momento

Pessoalmente, já intuía que a noite pudesse vir a ser aziaga. Já o tinha escrito no post de ontem.

Por onde começar?

Talvez pelo fim: “Estará a informação confidencial contida nos computadores da Presidência da República suficientemente protegida?” perguntou Cavaco Silva, que afirmou que "hoje, só hoje" teriam sido feitas consultas sobre a segurança informática da PR que, como se deduz, foram quase inconclusivas: qualquer sistema informático possui "vulnerabilidades" (até o do Pentágono). Mas nenhuma "vulnerabilidade" constitui por si só prova de "intrusão". Daí à questão citada (que aparentemente interliga as "vulnerabilidades" com uma ocorrência implícita de "intrusão") vai uma distância para a qual Cavaco não apresentou nenhum fundamento.

Pergunto: com que espécie de ligeireza Cavaco investiga em um só dia, e conclui nesse próprio dia, que não só existem "vulnerabilidades" como poderão ter existido intrusões de segredos através dessas "vulnerabilidades", associando tudo isso a pretensas manipulações do PS?

Ainda mais espantoso: como é que num só dia - hoje - Cavaco elimina as hipóteses de que essa intrusão implícita se possa ter originado a partir de corporações não-governamentais ou até, porque não, por parte de outro Estado?

Admirável e inédito, pela negativa, de qualquer investigação séria de contra-espionagem que fosse susceptível e admissível realizar a pedido de um Presidente da República que se sentisse vigiado (e que requereria um absoluto segredo desde a primeira suspeita, exactamente ao contrário de tudo o que temos vindo a assistir).

De novo: que factos fazem supor qualquer tipo de intrusão? Que ligação tem isso com os factos já conhecidos desta história? Com o PS em particular? Nada, zero, o deserto absoluto: nenhum esclarecimento concreto.

Outra questão reveladora de Cavaco Silva: "Como é que aqueles políticos [do PS] sabiam dos passos dados por membros da Casa Civil da Presidência da República?”

Tive dificuldade em acreditar no que estava a ouvir de Cavaco Silva, o nosso PR, 48 horas após as eleições: a mesma tola questão que ouvimos de muitos elementos do PSD em campanha eleitoral...

A resposta para esta "questão" é sobejamente simples: essa informação já tinha sido publicada na imprensa antes dos políticos visados do PS a terem referido, e o próprio site de campanha do PSD a noticiava, sem sombra para quaisquer dúvidas. Ver aqui a confirmação dada pelo próprio PSD no seu sítio (enquanto não for retirada): "Ferreira Leite faz o programa com Catroga e assessores de Belém", http://www.politicadeverdade.com/?idc=1102&idi=4447

Novamente admirável.

Porque sendo o caso da pergunta de Cavaco não fazer sentido, então o seu objectivo só pode ser o de intoxicar ainda mais aquela parte da opinião pública que não está ou não quer estar ao corrente dos factos. Resta saber com que objectivo último...

Para Cavaco, “foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência”. Também concordo: já chega de jogar à Esfinge!

Por que razão absurda, com que objectivos, monta tão tarde Cavaco uma acusação com tamanha gravidade a "personalidades destacadas do partido do Governo", lançando mesmo a suspeita sobre o próprio Governo no seu todo, baseado tão somente no facto de 4 elementos do PS se terem referido, em campanha, a um facto público que logo a seguir ele classifica na sua comunicação de hoje como normal?

Cavaco Silva, ou terá argumentos mais sólidos e inteligíveis, ou simplesmente nunca os teve nem terá; nem para explicar o seu longo silêncio, nem para explicar as suas mais recentes afirmações...

Como irá acabar esta tragédia de erros?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

As opções de Sócrates

Descobrir o "melhor caminho" a seguir neste mandato será tudo menos trivial para o PS, e no entanto é bem possível que Sócrates surpreenda de novo, mostrando-se adaptado às novas - e esperadas - circunstâncias. Foi isso que sinalizou Sócrates já no discurso de ontem (ele tem um mandato de avanço sobre esta situação que agora acontece e por isso é lícito esperar algum grau de preparação).
À esquerda do Governo quase todos os possíveis compromissos se revelam muito complicados. Quer o PC quer o BE rejeitaram de antemão todas as hipóteses de possível entendimento e sabem agora que não serão individualmente culpabilizados por uma eventual falta de governabilidade do país, nesta ou naquela situação. Espera-se por essa razão, e por um certo radicalismo inerente a essas forças que é a sua "raison d'être", a continuação de feroz oposição à esquerda.
À direita do CDS-PP - no PSD versão "brigada do reumático" - só haverá possibilidades de algum diálogo depois das declarações do PR, amanhã, e sobretudo se a liderança mudar, o que não sendo impossível também não se espera que aconteça imediatamente. Se a liderança se mantiver, não é de esperar qualquer tipo de entendimento com o PS. O PSD de hoje em dia (aqueles que nele mais mandam) não dista muito do PC em matéria de inflexibilidade e fanatismo.
A direita de Portas surge assim como a única possibilidade real que se apresenta a Sócrates para alcançar a estabilidade numa maioria de situações, sobretudo enquanto a liderança do PSD não mudar. Portas será muita coisa, menos estúpido; não me parece que aceitasse que sobre ele viessem a cair acusações de que tivesse escolhido ser apenas mais um "partido de protesto"; por outro lado, perante parte do seu eleitorado (sobretudo a parte agora ex-PSD), Portas dificilmente poderá deixar escapar mais uma oportunidade de ser parte integrante deste Governo, sobretudo sabendo que mesmo que as coisas corram menos bem conseguirá provavelmente escapar aos principais focos de culpabilização ainda com imagem de dever cumprido. Portas é inteligente, mas também já demonstrou saber ser errático. Veremos para que lado pende.
Presumo que a negociação PS-CDS, a ocorrer, não seja rápida nem fácil, convergindo no entanto para um entendimento mais ou menos inevitável. O efeito colateral será a indisposição amplificada da ala esquerda do PS, sobre o que o BE só capitalizará se moderar as suas posições, o que por convir a Sócrates se revela improvável.
Uma aliança parcial com o CDS-PP, sendo um mal necessário, pode também ser uma conveniência estratégica para desnatar os neoliberais conservadores e fazer face ao principal eventual adversário futuro - um PSD de liderança refrescada e ainda mais sedento de poder.
Por outro lado, para quem acha grave um entendimento PS-CDS, não me parece forçoso que o PS tenha que abdicar do essencial do seu programa se conceder alguns ministérios a Portas...
Outra opção de Sócrates será ainda apostar na diversidade parcial para o seu Governo, num multi-partidarismo contido - que faria algum sentido político num momento em que é necessária união interna - escolhendo para algumas pastas figuras próximas ao PSD (se já pós-Ferreira Leite), outras próximas ao CDS-PP, numa manobra a la Sarkozy / Obama.
Na impossibilidade de algum tipo de arranjo de forças que confira estabilidade à governação, o último recurso será Socrates seguir o seu caminho, o que se afigura razoavelmente mais arriscado, sobretudo se o PSD entretanto encetar um verdadeiro movimento de renovação de lideranças para melhor (o que não parece provável no curto prazo, mas veremos). Ao invés, se o PSD não se souber renovar devidamente, de forma credível, e se o PS se vir impossibilitado de contar com o apoio de quaisquer outros partidos no parlamento e apostar em manter o seu rumo, cairá, abrindo-se então a possibilidade de regresso à maioria absoluta.
Mas aguardemos, antes de mais, o que diz o PR amanhã. Não auguro nada de bom.

domingo, 27 de setembro de 2009

Resultados Eleitorais


O resultado mais importante terá sido, em circustâncias muito adversas, a lucidez do eleitorado nacional na rejeição da pequena política, da política de casos, da política do vazio, do oco neoliberalismo conservador à portuguesa.


O segundo resultado mais importante consiste simultaneamente na perda de maioria absoluta do PS, e na clara vitória da esquerda, como de costume dividida e clivada, incapaz de convergir, coisa que seria do interesse da governabilidade do país.


O terceiro resultado que os resultados abrem é a da possibilidade de entendimento mais ou menos formal nalgumas áreas com um partido que poderá (veremos) estar aberto ao compromisso, em nome do interesse da governabilidade do país e do seu futuro político, o CDS-PP. Espera-se portanto que mais ou menos formalmente (se mais, melhor), possa existir alguma convergência com o programa do partido escolhido pelos portugueses para governar, em áreas como a Justiça, a Defesa, a Agricultura e Pescas ou, eventualmente, a Educação.

Vitória, Vitória, Vitória!

E assim começa aquilo que pode vir a ser a nossa mais nobre hora.

Contra a insídia e o cinismo, contra a perfídia e a mentira, contra os velhos fariseus.

Pelo futuro sem sombras, que o caminho se faz caminhando, sem medos, sem asfixias.

Vitória! Vitória! Vitória!
Nobre povo! Vivas tu!

sábado, 26 de setembro de 2009

Porquê votar PS


Texto de Filipe Moura:

"Numa notável música intitulada O Estrangeiro, em 1989, Caetano Veloso remata anunciando:

Some may like a soft brazilian singer but I’ve given up all attempts at perfection.

Não defendo que esqueçamos a perfeição. A perfeição deve permanecer como o objectivo, os objectivos devem ser claros e devemos lutar por eles. Mas devemos ter a noção de que a perfeição nunca é atingível por métodos democráticos, e os métodos antidemocráticos (para além de serem isso mesmo – antidemocráticos) conduziram a resultados que ninguém, nem mesmo o mais fanático, considera perfeitos. Ou seja: devemos tentar aperfeiçoar-nos, conscientes das nossas imperfeições. A perfeição é algo que se tenta atingir, e não algo que se estabelece. Finalmente, há limites à perfeição que queremos atingir (à esquerda: a Igualdade e a Liberdade), provenientes da nossa condição humana de animais sociais, que podemos aprender com a História, mas também com a Segunda Lei da Termodinâmica. São totalmente irrealistas as propostas baseadas na “imaginação”, no “sonho”, no “ideal” e na “utopia”, que tantas vezes se ouve falar à esquerda, e que devemos rejeitar em nome da verdade. (Belo slogan, o do PSD: Política de Verdade. Pena que não tenha nada a ver com o partido que o usa.) Mais valem avanços concretos que tacticismos suicidas que preferem levar a direita ao poder em nome da “pureza ideológica”, na esperança que a revolução fique mais próxima e mais fácil. É em nome destes avanços concretos, é por causa destes avanços concretos, que voto no PS nestas eleições legislativas. Porque sou de esquerda e, relativamente aos outros partidos, o Bloco de Esquerda não consegue (ou não conseguiu, até hoje) assumir nenhum tipo de responsabilidades, e o PCP, se não tiver uma posição hegemónica (que o povo português nunca entendeu dar-lhe), prefere conservar a sua pureza como partido puramente de protesto. Esta minha rejeição poderia motivar-me a procurar uma outra alternativa, ou a votar no PS simplesmente porque era o mal menor. Não é esse o caso: voto no PS nestas eleições com convicção: estou firmemente convencido de que é o melhor para Portugal."

Para Reflexão: 4 anos Sócrates

Acima: em termos diferenciais, a evolução do crescimento do PIB per capita português foi superior, entre 1980 e 2006, ao de Espanha, ao da Grécia, ou mesmo ao de Irlanda.

Abaixo: é possível ver que a dívida externa portuguesa em percentagem do PIB aumentou essencialmente durante os mandatos em que o PSD esteve no Governo.


Abaixo: desde 2005 que o número de processos que transitam de ano diminui, sinal de possível maior produtividade na justiça, a ver:

Abaixo: o índice que mede as desigualdades sociais melhorou sob Sócrates. O risco de pobreza, também:

Abaixo: ao contrário do que nos dizem todos os dias, a despesa pública em percentagem do PIB subiu com Cavaco, com Durão e com Santana. Tem vindo a reduzir-se desde 2005, i.e. desceu sob Sócrates:














For the record: bons resultados sobre os quais a oposição a Sócrates se cala, cinicamente.
fontes: INE, Jornal de Negócios

Lima não foi demitido, Cavaco está comprometido!


Afinal, a noticia da demissão de Fernando Lima era mentira para acalmar o fel da comunicação social, descoberta a carapuça da Presidência da República. Porque Fernando Lima não foi demitido mas apenas transferido de funções.

A um dia de eleições o PR comprometeu-se ainda mais com o seu resultado, ao mesmo tempo que alguns jornais ainda noticiavam que a PR mantinha as suas suspeitas de escutas e de que existia material e fundamento para essas suspeitas (suprema irresponsabilidade). O caso começa a ter algumas semelhanças com a suspeita de que Saddam teria armas de destruição maciça, inventada pelo pessoal Bush.

Tudo isto parece cada vez mais ser fruto de um Presidente desesperado, depois do Diário de Notícias o ter confrontado com a Verdade.

Foi mais um exemplo desse desespero o PR ter divulgado a visita do Papa a Portugal para 2010 como se fosse obra exclusiva sua, o que irritou e bem o Cardeal Patriarca, D. José Policarpo.
Tratou-se de mais um episódio de instrumentalização da religião. Não me esquecerei.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O próximo episódio da intriga? Mais medo!


Por certo existirá uma central organizada de difusão de contra-informação no PSD, de lixo informativo, deturpação de factos e intriga pública, estou quase certo disso. Gostaria de ver elencados publicamente os nomes dessas maçãs podres. Não me admiraria muito que se encontrassem no seu cerne alguns elementos de ligação à parte má do G.O.P. norte-americano, tal é a semelhança das técnicas e argumentos empregues.

Alguns "associados" a esta forma de estar tentavam hoje espalhar a dúvida, o medo e a incerteza, noutros semelhantes, com a alusão velada de que aí vinha um possível Governo PS-BE (hipótese que pelo menos Louçã já refutou categoricamente, e por mais de uma vez).

Os mini-propagandistas tentavam frear incautos e indecisos com o "vem aí a ditadura do proletariado", saltando num ápice e sem remorso, sobre as agruras do fruto da já longa série de intrigas completamente alheias à qualidade da gestão da coisa pública (freeport, tgv, jornal de sexta da tvi, escutas...).

O próximo "papão" parece pois ser espalhar mente a mente o "terror" que seria viver sob um Governo PS-BE (não que eu o deseje, note-se), dando isso como certo e firmado por "pactos secretos" a la Molotov-Ribbentrop.

Àqueles que ainda prezam as origens mais nobres do PSD: ponham a descoberto, desmantelem, denunciem essa quinta coluna negra do partido, que tanto tem deturpado, e tanto dano tem causado a um partido que poderia e merecia estar na política de forma mais séria.

Por este caminho é possível que venhamos a assistir a mais um golpe de opereta lá para sexta-feira...

You got some explaining to do!


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

E agora, senhor engenheiro?


Como é? Vai deixar ficar JMF até depois das eleições? Olhe que isso é capaz de ser uma má decisão de negócios... Quem o avisa, seu amigo é.

Era uma vez um jornal...


A asfixia democrática é um fenómeno que ocorre quando assessores presidenciais, provavelmente "bem mandados", são apanhados a plantar notícias baseadas em boatos paranóicos e insidiosos.

Será que é o PSD que organiza escutas?


"enquanto se queixa de suspeitas de 'vigilância' à presidência por parte do governo, fernando lima, na versão do mail publicado no dn, entrega a um jornalista um dossier sobre um adjunto do primeiro-ministro. em qualquer parte do mundo excepto nas partes das pessoas que vivem noutro mundo (e são tantas, aparentemente) esse dossier seria a prova de uma vigilância: a da presidência sobre o governo ou, pelo menos, sobre o gabinete do primeiro ministro. e, como luís delgado lembrou ontem na sic-not, era giro, sei lá, saber que serviços do presidente ou a mando/pedido do presidente fazem dossiers sobre adjuntos governamentais."

uma pergunta legítima e óbvia (excepto para o Público), texto de Fernanda Câncio, in Jugular

Dia Horribilis para Cavaco Silva


Confirma-se o cenário de que o centro de muitos equívocos reside em Belém. Grassa ali uma enorme embrulhada; ou o PR explica rapidamente todo o assunto, ou a coisa vai fazer muito estrilho.
Admite-se que o PR tenha demitido Fernando Lima porque:
a) Este não teria sido autorizado a ventilar suspeições sobre o receio, fundado ou nem por isso, de escutas (existindo estas ou não).
b) Por contenção de estragos sobre um mal entendido de mau gosto, comentado com ligeireza, na sequência duma pirueta mal calculada por parte de alguém em Belém.
c) Por admissão de culpa, própria ou alheia.
Porque demite o PR Fernando Lima poucos dias após ter dito publicamente que estava interessado em pedir mais explicações sobre a segurança de Belém, mas apenas para depois das eleições?
Seja como for, como irá agora o PR destacar-se, como parte independente e presidente de todos os portugueses, dos resultados eleitorais, quaiquer que estes venham a ser?

domingo, 20 de setembro de 2009

Berlusconi e as orgias; o Vaticano

A 2 de Setembro:

"O padre Federico Lombardi, director da sala de imprensa da Santa Sé, publicou um comunicado na edição de 2 de setembro do L’Osservatore Romano, depois de um ataque pessoal contra Dino Boffo, director do jornal Avvenire, da Conferência Episcopal Italiana, por parte de Il Giornale, da família do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.

“Não existe motivo para a surpresa quando há diferenças de posição entre os diferentes meios de comunicação do Vaticano e os do mundo católico ao tratar temas ou debates na sociedade e na política italiana, dados os diferentes fins e a diferente atenção prioritária destes meios de comunicação”, esclarece Lombardi."

A 17 de Setembro:

Uma publicação Católica anunciava (talvez especulativamente...) que o Papa tinha "freado a intervenção dos sacerdotes na vida política". Contudo, tudo o que Bento XVI disse foi apenas e somente no sentido de alertar contra a "secularização dos sacerdotes e a clericalização dos leigos", nada mais.

O Vaticano, em eras diferentes é certo, criou acerca da sua participação na política enormes faltas numa só direcção: a direita (foi assim com Mussolini e até certo ponto com Hitler, e também nas relações com Franco e Salazar; ou mesmo com o simpatia do Papa J. Paulo II por certo tipo de práticas norte-americanas na América Latina, levadas a cabo durante os anos 70 e 80).

A verdade é que o Vaticano está metido na política até aos píncaros da Catedral de S. Pedro, mas o mais interessante é que isso pode começar a ser invertido, precisamente por quem alguns menos esperavam. Sê-lo-á?
Algo se move no Vaticano? Seria interessante constatar que sim.

Krugman sobre o plano Baucus


Outro artigo a não perder, sobre o plano Baucus, e que traduz o estado actual do debate da Saúde Pública nos EUA:

A Batalha da Saúde


Alguns bastiões neoliberais da nossa praça, que chegaram a elogiar o sistema de saúde norte-americano e a cruxificar o francês - sobretudo antes de Psicho - continuam a fazer-se ouvir em ataques aos sistemas de saúde Europeus de índole pública ou, pelo menos, de controlo preponderantemente público, enquanto aguardam pelo desfecho da enorme batalha política em torno deste tema que grassa agora nos EUA (uma batalha absolutamente crucial).

Ultimamente os neolibs andam mais caladinhos - baixar a "juba" só lhes faz bem de vez em quando - mas ainda assim gostaria que tentassem refutar os números mais flagrantes conhecidos, como por exemplo aqueles a que aludiu na sexta-feira passada Roger Cohen, em "op-ed" do "New York Times".
Havia de ser engraçado, mas se não refutam a razão é simples: é que o argumentário deles quanto à Saúde não se baseia nos factos, nem em números, mas apenas e somente nas redes do conluio com interesses privados de enorme dimensão e poder que por algum tempo dominaram e intoxicaram todo o debate duma forma que teria envergonhado a competência de qualquer Goebbels.



Agradecimento


Carlos Santos, do "Valor das Ideias" (http://ovalordasideias.blogspot.com/), distingiu este blogue com o prémio "Vale a pena ficar de olho nesse blogue".

Agradeço-lhe sinceramente a atenção e a amabilidade.

sábado, 19 de setembro de 2009

Líderes futuros do PSD



Tentando ver além da actual bagunça política, intelectual, de premissas e valores em que se encontra o actual PSD, arrisco três futuros líderes com hipóteses de sucesso na sua reforma e desenvolvimento.

Qualquer um dos três, cada um à sua maneira, já faria muito mais sentido hoje como líder do que MFL: Paulo Mota Pinto, Paula Teixeira da Cruz ou Pedro Passos Coelho.
Porém, e até agora, o PSD só tem mostrado uma quase total incapacidade da renovação efectiva de liderança, e sobretudo em saber associar a necessidade de renovação com competência política assente em bases mais sólidas que a mera intriga, o mexerico, o mete-nojo, o mete-medo e o amen de letra minúscula.
Não fosse o PSD um partido hoje sem visão e que apenas pensa no curtíssimo prazo, e as coisas já poderiam ser diferentes.

Mercado de arrendamento em alta

Segundo Luísa Pinto, do Público, "O estrangulamento no acesso ao crédito, que se mantém apesar da baixa das taxas de juro, está a fazer mais pela reanimação do mercado de arrendamento do que as alterações legislativas que estão no terreno há mais de três anos. Mas fê-lo de uma forma tão rápida e eficaz que não deu tempo ao mercado para se ajustar à procura que agora existe."

Esta é uma boa notícia, não só porque sinaliza o reajustamento entre parte da população e o emprego como porque, a manter-se a tendência de crecimento do mercado de arrendamento, dar-se-ão a prazo efeitos positivos ao nível do mercado de trabalho e do endividamento das famílias.

"Empresas não devem procurar o favor do Estado", alerta Cavaco Silva


Claro que não.

E os orgãos de soberania, PR incluído, também não devem procurar o favor de certas empresas.

Do BPN, por exemplo.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

1 imagem = 1000 palavras

Do Le Soir; neste blogue graças a http://esquerda-republicana.blogspot.com/

Alta Velocidad en Portugal?

in Inimigo Público (inimigo.publico.pt)

Double Speak - Política de Verdade?

Tenho quase a idade da III República. Não me recordo, desde que me lembro de existir, de viver um clima político e social simultaneamente tão crispado e ausente da esperança; um tempo tão incerto e bipolar de luta entre "luz" e "trevas", em melancólicos tons de cinzento.

Penso porém que assistimos ao último estertor de mentalidades fora de época, poderosas mas decadentes.
Pode ser que a outra senhora governe o próximo mandato; se assim for será provavelmente o seu último em muitos anos a vir - nisso reside, suspeito, a fonte de todo o grande ressabiamento desta época.

Nunca esperei viver, no meu próprio país, realidade tão próxima ao "double speak", a linguagem do regime totalitário imaginado por George Orwell no seu "1984".
É na incerteza dessa convolução, no fumo dessa não-proposta, desse não-futuro por tempo incerto, que reside parte da neurose colectiva em que estamos imersos. Ainda assim haverá vida após um tal mandato.
19 de Setembro, ontem: passou mais uma sexta-feira que deu cabo de qualquer clima civilizado de campanha e debate da coisa pública.
Precisamente o dia em que a mais recente sondagem - e logo da Católica! - mostrou uma vantagem de mais 4 pontos do PS face ao PSD, depois de duas semanas em que a vida tem corrido muito mal à principal oposição - muito por culpa de tiros nos próprios pés - e de Sócrates ter reafirmado uma boa preparação e superioridade política em quase todos os frente a frente.
Para silenciar a ausência de propostas, de conhecimento, de debate dos factos, ideias ou pespectivas, de vontade, de civismo, de justo confronto de valores, de escândalos mais plausíveis como a compra de votos, eis ressuscitada a intriga, que Louçã bem cataloga de "novela mexicana". As "escutas em Belém".

O dia eliminou em mim, por completo e em definitivo, qualquer benefício da dúvida que ainda reservasse relativamente a Aníbal Cavaco Silva. Sou da mesma opinião que João Marcelino [DN de hoje]: "Um PR não se pode prestar a estes papéis [alimentar insinuações sem apresentar fundamento]. Ou tem certezas e age, com coragem; ou não tem certezas, e averigua calado".

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Um livro que não vou comprar: "A vida é um minuto"

Hoje por volta das cinco da tarde, hora de emissões baiónicas, lá estava a Judite de Sousa sendo "entrevistada" sobre o seu novo livro.

Desta mulher, de quem assistimos a algumas das mais superficiais, quase-servis, e tendenciais entrevistas em canal de televisão público, eis que surje o último projecto de carreira: o livro da tanga que faltava.

Mas não é o livro em si que me indigna.

Não contente com a óbvia falta deontológica de fazer o principal canal público, seu empregador e para quem presta um cargo de direcção, conceder-lhe tempo de antena para actividades lucrativas de índole privada (ou mesmo de índole política), a senhora não se cansou de referir e aludir à "Verdade", a que tem gostado de se associar sem pudor, esquecendo o seu papel de moderadora, entrevistadora e, porque não dizê-lo: funcionária pública, ou quase.

Ficámos também a perceber que ela e as emissões baiónicas se associam com facilidade...

Sente-se neste livrinho provavelmente carreirista, a motivação de alguma inconfessada esperança num convite para um cargo mais elevado, protegido à direita (penso eu).

Quanta tristeza!


Depois dos argumentos patéticos a que recorreu para toscamente amparar uma mentalidade insustentável e de levantar o ridículo internacional contra si e contra o país, é natural que a líder do PSD venha agora dizer que já não é a sua posição anti-TGV que está no centro do seu programa (disse-o em Santarém, salvo erro). Que tremendo embaraço! Que tremenda propensão natural para se enterrar a gusto...

"Manuela “acusó a "los españoles" de intromisión en la política portuguesa, y proclamó que Portugal "no es una provincia de España". El motivo es la construcción de la red ferroviaria de Alta Velocidad acordada por los dos Gobiernos y que conectará Madrid con Lisboa en 2 horas y 45 minutos a precios competitivos con el avión.”

Link para o artigo do El Pais: