quarta-feira, 25 de março de 2009

Petição Dias Loureiro

Assine aqui a petição para a demissão de Dias Loureiro do Conselho de Estado. Vai agora com 2.200 assinaturas:

http://www.petitiononline.com/DLCE2009/petition.html

A indignação vale de pouco sem acção.

O choro dos crocodilos

Descobri recentemente que certos colégios privados (1º ciclo), apesar de manterem para pais e alunos um discurso de vítimas como se o Estado se tivesse dedicado à sua perseguição, recebem financiamentos nada pequenos do erário público (e anda tudo caladinho sobre o assunto).

Funciona assim: o Ministério paga-lhes o salário dos professores e, para despesas de funcionamento, mais 30% dessa massa salarial.

Claro que na prática esses colégios vão buscar professores mais caros, no topo da carreira, para receberem uns chorudos 30% sobre uma massa salarial "inflacionada".

Que gamanço, que descaramento!

É assim também que, a coberto do politicamente correcto, legisladores duvidosos vão encobrindo o esvaziamento de algum ensino público a favor dos "privados" (subsidiados aqui pelo "je").

Ideologicamente inaceitável?

O famoso plano do "trilião" adicional de Obama - para compra de hipotecas e outros activos "contaminados" pela crise - parece ter funcionado por pouco mais de um dia, a avaliar pelo comportamento recente das bolsas. Ainda assim, será preciso esperar mais algum tempo para tirar uma conclusão mais firme.

O que já é evidente é que a administração americana aparenta não ter ainda cedido a considerar a opção das nacionalizações (ainda que de carácter temporário), optando ao invés por todas as formas alternativas para "salvar" a economia (infelizmente, socialmente injustas).

Diz-se que é assim por questões de natureza ideológica, o que é bem ilustrativo do ponto a que chegou a América.

Pode vir-lhes a custar caro...

Uma luzinha ao fundo do túnel?

Soube-se hoje que existe alguma retoma recente no consumo de bens duráveis nos EUA e na compra de casas. Aparentemente podem ser sinais positivos. Como já não víamos há 20 meses...

No entanto, se a compra de casas terá explicação na descida dos preços em mais de 40%, pelo rebentamento progressivo da bolha no sector, já a retoma nos bens duráveis pode ter outra explicação: na verdade pode denotar por parte de quem poupa falta de confiança no sistema e investimento parcial em bens duráveis, just in case shit happens...

Veremos se será isso ou um indício de retoma real (o que duvido) dentro de 3 meses.

Dr. House

Se queremos melhorar o SNS, porque continuamos a ter um número tão limitado de vagas nas faculdades de Medicina e, sobretudo, porque deixamos que alguns médicos o esvaziem lentamente de eficiência e sentido empurrando progressivamente os utentes para suas próprias clínicas privadas e consultórios?

Para quando um incentivo sério à escolha do sector por vocação? De que têm de ter medo os médicos em ter de optar por servir o sistema público ou o privado?

domingo, 22 de março de 2009

Aquele país não é para "velhos"...

Washington prepara legislação para lançar um imposto de 90% sobre os prémios abusivos concedidos por empresas que beneficiaram de ajuda estatal. Legislação retroactiva e que há-de ir buscar as centenas de milhões de dólares atribuídos ainda recentemente sob a forma de prémios.

Adivinham-se longas batalhas judiciais pela posse da massa (esses prémios estavam contratualizados)... mas aqui está uma verdade que os anglo-saxónicos, sejam republicanos ou democratas, compreendem muito bem: a culpa não morre solteira para aquelas bandas.

Quando o público exige sinais de mudança, eles são para se dar e fazer acontecer (por aqui também, mas sempre com muitos anos de atraso).

Nos países de brandos costumes... é mais "wait and see".

Resultado frequente: absolutamente nenhum!

PS - Conversas em família: onde estava o professor Marcelo quando era preciso ter-nos avisado para esta crise? E o J. César das Neves?

Europa à deriva

De visita a Espanha, Krugman dedicou a sua mais recente crónica no NYT à Europa.

O balanço não é positivo. Para começar, ao nível monetário e fiscal:

I’m concerned about Europe. Actually, I’m concerned about the whole world — there are no safe havens from the global economic storm. But the situation in Europe worries me even more than the situation in America.

Just to be clear, I’m not about to rehash the standard American complaint that Europe’s taxes are too high and its benefits too generous. Big welfare states aren’t the cause of Europe’s current crisis. In fact, as I’ll explain shortly, they’re actually a mitigating factor.

The clear and present danger to Europe right now comes from a different direction — the continent’s failure to respond effectively to the financial crisis.

Europe has fallen short in terms of both fiscal and monetary policy: it’s facing at least as severe a slump as the United States, yet it’s doing far less to combat the downturn.

Krugman estende as críticas ao Banco Central Europeu:

The European Central Bank has been far less proactive than the Federal Reserve; it has been slow to cut interest rates (it actually raised rates last July), and it has shied away from any strong measures to unfreeze credit markets.

Finalmente, bate na liderança política (recentemente muito neoliberal, ainda que em jeito tardio):

Why is Europe falling short? Poor leadership is part of the story. European banking officials, who completely missed the depth of the crisis, still seem weirdly complacent.

E o diagnóstico que Soares já fez, mas sobre o qual Barroso não emite nada remotamente audível:

Europe’s economic and monetary integration has run too far ahead of its political institutions.

E enquanto o Krugman fala, meus amigos, os "burros pomposos" baixam as orelhas.

Perante a fractura exposta que é esta Europa, o directório dos países mais poderosos lá veio finalmente dizer que não deixava falir ninguém (a propósito da Grécia, da Irlanda e da Lituânia, para já).

Esperemos que assim seja, mas o a factura a pagar por todo o liberalismo exagerado dos últimos 30 anos não vai ser barata. Adivinhem quem vai pagar?

PS - Num post anterior perguntava eu o que fez de relevante o "nosso" presidente da Comissão Europeia nos últimos 5 anos? De repente só me lembro de uma coisa: terá sido alargar a Europa para além do razoável e sem ponta de caminho para a integração política. Talvez à boa maneira ultra-liberal a Comissão decidiu pela... bolha da Europa. Pourtant, ça ne va pas!


As rotativas começaram a funcionar

A Reserva Federal Americana decidiu no passado 18 de Março comprar 1 trilião de dólares de Obrigações do Tesouro e hipotecas.

Em português corrente, isto significa pouco menos que imprimir moeda! Ou melhor, um tsunami de moeda...

É uma medida que traduz duas coisas: desespero total e uma dramática hipoteca do futuro.

Tudo a bem do presente imediato (?)e de renimar uma economia cada dia mais zombie, tentando à força que os bancos reduzam as taxas de juro reais ao mercado.


Vai aumentar a confiança? Talvez, mas não por muito tempo, temo.

Poderá ser mais como o oxigénio em garrafa para quem sofre de efizema. E o pior é que pode não só fazer desvalorizar muito o dólar como semear um longo futuro período de inflação.

Comissão Europeia 2009: que resultados?

É provável que um nosso conhecido ex-primeiro-ministro se aproxime a passos largos da nomeação para mais 5 anos de mandato à frente da Comissão Europeia.

Pergunto: para quê?


Alguém conhece o que fez de monta o nosso português em Bruxelas? Porque ficará conhecido na história da Europa este nosso "Papa"?

Pessoalmente, ainda me custa aceitar que um homem eleito para o lugar de maior responsabilidade elegível no país tenha tido a habilidade de rumar a Bruxelas sem quaisquer explicações cabais ao país.

Não anda longe da deserção: "quem não é lobo, não lhe veste a pele".

E o que é que ele aceitou em troca do lugar elegível mais importante no país? Do lugar cimeiro da tenra democracia nacional? Um lugar quasi-político (não fora tão burocrático o seu enquadramento) a que se acede por nomeação de conveniência tripartida, e cujos poderes estão fortemente condicionados por outros PMs, para "liderar" uma das mais extensas burocracias do planeta, talvez da história.

Hitler, esse maníaco torcionário, teve ao menos a astúcia de se conseguir fazer eleger, para logo depois tentar unir politicamente a Europa pela força.

Com líderes fraquinhos como Barroso, os saudosistas desses tempo poderão regressar...

Hoje não só nos contentamos com eurocratas de fraca visão de fundo para a Europa, como ainda aceitamos que um directório de interesses mais ou menos obscuros (e nem todos Europeus) ditem a escolha para um lugar como a presidência da Comissão Europeia.

It's time to change? Talvez, mas pelos vistos não é neste continente...

Magalhães: um caso de má planificação?

O M.E. tem adquirido ao longo dos anos uma séria reputação para complicar aquilo que deveria ser simples, planificar confusamente, impor o impensável, etc, etc, etc...

O Magalhães, uma boa ideia, está a ser distribuido irregularmente pelas escolas: à hora a que escrevo será fácil encontrar inúmeras turmas em que uns têm, outros não (na mesma turma)...

Como pretende o M.E. explicar a crianças de tenra idade porque é que o colega do lado recebeu o Magalhães mais cedo, se ele o pediu ao mesmo tempo?


Depois de uma acção de marketing em que os jornalistas filmaram e escreveram sobre as entregas mas se esqueceram de reportar as retiradas... qual é a impressão que passa para as crianças da "autoridade" numa circustância como essa?

Por outro lado, e porque uns têm e outros não, torna-se impossível fazer actividades conjuntas de carácter pedagógico na sala de aula, recorrendo ao Magalhães.

De resto, e como interrogava um familiar meu professor: "conheces alguma sala de aula com vinte ou trinta tomadas para os Magalhães?" Assim de repente, confesso que não...

O Magalhães, sendo um boa ideia, tem uma autonomia energética de uma meia hora, ou pouco mais.

Conclusão: só pode ser usado para os T.P.C., o que não sendo pouco nem mau, anda muito longe do objectivo do M.E. para que seja utilizado de forma corrente em sala de aula.

Depois, em cima de todas estas questões - com certeza "pormenores" para os burocratas pomposos do M.E. - há a questão da internet... O Estado queria que fossem as escolas a pagar.

Estas não têm nem as infra-estruturas nem os recursos. Algumas câmaras pagam, outras não. É a confusão!


Enfim, é Magalhães, uma boa ideia que morrerá na praia por planificação mal feita e apressada.

quarta-feira, 18 de março de 2009

A terceira?

Ontem tive um sonho aterrador.

O dólar tinha caído a pique, os EUA tinham entrado em default de pagamentos, os Chineses tinham começado a ficar com muito do que hoje é americano, e os americanos foram então empurrados para uma guerra global com a China, que veio a envolver a Europa e a Rússia também.

Enfim, um pesadelo nada apetitoso.

O país do fait divers

Mais uma semana, e mais uma história sensacionalista tratada na rama: os alunos ciganos nos contentores.

Afinal parece que a escola estaria apenas a tentar fazer progredir mais e separadamente esses alunos, por forma a mais rapidamente os integrar em turmas regulares.

Uma escola que aceita tamanha responsabilidade com um mínimo de condições - reparem que se tivesse recusado esses alunos nada sairía nos jornais, provavelmente - não deveria ser tratada de forma tão acintosa pelos meios de comunicação social.

terça-feira, 17 de março de 2009

Consciência pesada...?

Uma recente corrente sobre a crise, difundida pelo Wall Street Journal, defendeu a tese de que a causa da crise esteve no intervencionismo do Estado (esta gente não existe!)... segundo a tese, terá sido o "Estado", através do Fed (na verdade uma instituição privada e independente, nos EUA) a reter as taxas de juro a níveis historicamente baixos durante demasiado tempo.

Total nonsense.

1º O Fed foi durante os anos da "taxa mínima" liderado por Alan Greenspan, uma "vaca sagrada" das teses neoliberais, o guru anti-intervencionista por natureza, um neoliberal educado, elegante e muito inteligente, mas ainda assim ideologicamente cego.

2º Dificilmente se pode ver na acção independente do Fed, e na sua construção, a mão de um Estado intrusivo e abusadoramente intervencionista. Sobretudo enquanto o Fed foi liderado por... um neoliberal.

3º Admitamos por absurdo, e divertimento, que assim fosse (desprezando com suprema suberba os efeitos da queda deliberada do Lehman...). Pergunta-se: onde estavam os "agentes racionais" no meio de tudo isto, os mesmos que supostamente deveriam ter salvaguardado a economia do colapso e descrédito? Onde os esconderam durante o fermentar da crise?

4º Antes da crise imobiliária rebentar (vários anos antes), o Sr. Greenspan foi avisado, com números, factos e tendências, directamente ou via meios da opinião pública, para os efeitos das suas baixas taxas sobre uma crescente bolha imobiliária.


Os "neocassetes" encontram explicações para tudo.

E assim nasceu mais um editorial rídiculo e baseado em falsas premissas no WSJ...

Link: http://online.wsj.com/article/SB123414310280561945.html



segunda-feira, 9 de março de 2009

A arca da aliança

Está na hora de prestar mais atenção às pessoas que nos alertaram ainda a tempo para esta e outras crises:

Aquelas cujas ideias melhor conheço:

Joseph Stiglitz (Nobel Economia 2001):
http://www.project-syndicate.org/series/11/description

Paul Krugman (Nobel Economia 2008):
http://krugman.blogs.nytimes.com/

Nouriel Roubini:
http://www.rgemonitor.com/

Noutro registo, vale a pena considerar também:

Dean Baker:
http://www.prospect.org/csnc/blogs/beat_the_press

Agradecimento ao Nuno Teles

Fica o agradecimento ao Ladrões de Bicicletas, que pela mão de Nuno Teles e a meu pedido acedeu a colocar este recém nascido blogue na lista da mais famosa bicicleta blogueira.

http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/

domingo, 8 de março de 2009

Area 51 "made in Portugal"

Alguém sabe o que é feito da enigmática proposta (ou ensaio de proposta) do nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros para... integrar Portugal no Conselho de Segurança da ONU?

Estou deveras intrigado...

Intocáveis?

Se para crimes financeiros, gestão danosa, fraude e corrupção temos de suportar - espero não por muito mais tempo - penas raquíticas e desadequadas, escapatórias vergonhosas e artifícios por medida, o mesmo se passa em relação à crescente criminalidade violenta, sobretudo a praticada por menores de idade.

Uma sociedade de direito democrática não tem, nem pode, ser branda nestas matérias. Tem de ensinar que a nossa liberdade acaba onde a do próximo começa e levar isso bem a sério. É preciso legislar mais adequadamente e fazer cumprir a lei sem hesitações.

Fica uma sensação de total impunidade quando se assiste à liberdade de dois menores que na região centro terão sequestrado, torturado e assassinado um homem de meia idade por encomenda, ou quando se assiste à liberdade do menor que incendiou uma série de automóveis e autocarros, ou ainda dos muitos que violentamente agridem colegas de escola e fazem gala de exibir essa barbaridade online.

São sinais inadmissíveis de degradação social que não se podem tolerar, que requerem resposta pública urgente e determinada, sem confusões.

Ensaio sobre a cegueira, take II?

Não deixo de difundir um comentário do recente Nobel da economia, Paul Krugman, que sigo desde há muito de perto todas as segundas e sextas-feiras através das suas crónicas no open-editorial do New York Times (www.nytimes.com):

Os media norte-americanos não fizeram eco das muitas vozes de peso que avisavam sobre os riscos duma intervenção de mudança de regime no Iraque, em 2003.

Agora, diz ele num dos seus posts, a coisa repete-se mas em relação ao segundo estímulo económico de vulto à economia norte-americana, da iniciativa da Administração Obama.

Ele é da opinião de que este novo estímulo - recentemente aprovado - não vai ser suficiente porque apenas representa qualquer coisa como 0,85% do PIB, quando a queda esperada para 2009 já é bem maior. É secundado nessa opinião por Nouriel Roubini (um dos poucos economistas que previu a crise em curso) e por vários outros nomes com alguma relevância.

Não tenho uma opinião firme sobre isto, até porque não há nenhum mapa seguro para sair de uma crise inédita como esta, mas é um facto que Krugman acerta muito frequentemente.

A sua posição é a de que perante a crise actual, mais vale errar por exagero, do que por defeito (relativamente ao grau de estímulo e intervenção estatal). Isso aplica-se, bem entendido, à economia norte-americana.

Pela forma simples mas profunda com que transmite as suas ideias vale a pena seguir: http://krugman.blogs.nytimes.com/

Vá para fora cá dentro? Hum...

Ao mesmo tempo que se gastam milhões em campanhas cujo objectivo é fomentar a procura interna no turismo (boa ideia se aplicada q.b.), verifica-se que boa parte das estradas do parque natural da Serra da Estrela, seus acessos e organização de território - só para dar um exemplo bem conhecido - continuam em estado lastimável.

Alguns dizem que é melhor assim, para se conservar a natureza, e eu digo que isso é um tremendo disparate.

Existem formas de conciliar desenvolvimento sustentado e turismo - para todas as bolsas - de maneira articulada e respeitadora da natureza. É possível fazê-lo e assi financiar a conservação da natureza, pelo menos em boa parte.

O que é ridículo, a toda uma escala nacional, é que cada vez que neve e isso seja noticiado na televisão, se verifiquem mega-engarrafamentos na Serra da Estrela, uma espécie de safaris non-stop na neve (apenas uma minoria tem incentivos para sair dos veículos e fazer de facto alguma coisa, simplesmente porque... não existe nada organizado que se possa fazer).

Não se fizeram - ou modernizaram - parques de lazer dignos desse nome, não se incentivaram as caminhadas, ou observações da natureza em percursos controlados, com zonas específicas de estacionamento a mais baixa alttitude e transportes colectivos funcionais para o parque natural, também ao serviço do turismo; não se fez quase nada com resultados visíveis na recuperação de aldeias da Serra e pouco ou nada se acrescentou para dignificar os produtos serranos, de que o queijo e suas profusas versões de má qualidade me fazem lembrar o vinho do Porto a martelo (pior a emenda que o soneto...).

As ligações à Extremadura espanhola, que fica mesmo ao lado e donde se poderiam atrair milhares de dormidas extra para toda a região são más e lentas, criando uma fronteira real que atira ainda mais para o interior toda uma região que interessa preservar com pessoas que valorizem a natureza.

Como se incentiva o turismo rural?...

Um conhecido meu na zona disse-me que precisou de 16 pareceres ministeriais e 8 anos de muita paciência (e recursos) para poder abrir ao público um estabelecimento de turismo rural...

Convenhamos que há muito poucos cidadãos com tanta paciência pelo que duas coisas acontecem mais frequentemente pelo meio: ou há corrupção, ou se desiste.

Quando isso acontece, sofre a iniciativa que poderia ajudar a resolver um dos grandes problemas da região (falta de emprego), sofre a recuperação de património, a oferta, a concorrência e, por conseguinte, o preço que pagamos se lá queremos ir.

Curiosamente, aprovam-se hotéis a mais alta altitude, bem como "bungalows" feios, ao mesmo tempo que se vai atraindo população e poluição, essa sim, a colocar em risco alguma natureza nessas zonas.

Infelizmente para Portugal, é muito mais barato, simpático e seguro fazer turismo tipo "bed&breakfast" na Escócia, nos Alpes Marítimos, na Floresta Negra ou na Bretanha do que nas nossas áreas de montanha, que ocupam ainda assim uma parte muito substancial - e muito bela - de território nacional.

Enche-me de pena porque conheço um bocadinho da Europa para saber que temos regiões interiores de uma originalidade única, de uma beleza muito grande, natural e humana, a que damos muito pouco valor.



sexta-feira, 6 de março de 2009

Os limites dos "bailouts"

É bom estarmos conscientes dos riscos presentes e futuros dos salvamentos de empresas em curso. Deveriam ser mais claros os critérios, porque a negação ao estabelecimento de critérios é a negação da igualdade de oportunidades. Mas vamos aos riscos:

(i) Moral hazard: a ajuda constitui um incentivo para alguns privados perseguirem mais risco, com maior probabilidade de insucesso, nalgumas circunstâncias; cada acção de ajuda pode multiplicar os pedidos de "SOS" ao mesmo tempo que pode constituir um incentivo a mais faltas e actos de gestão danosos.

(ii) Risco político: não só a curto prazo, por intermédio do agravamento das condições sociais, como sobretudo a médio prazo; não se tenha a menor dúvida de que uma vez passada a tormenta com grande sacrifício de todos os contribuintes e em particular dos desempregados, os populismos neoliberais poderão avançar com o argumento de que se terá revertido demasiado ao estatismo, à burocracia predadora e à regulamentação compulsiva. Mário Soares é da opinião de que a partir de agora viraremos à esquerda. Pode ser que sim, mas não acredito que possa ser por muito tempo...

(iii) Risco para as finanças públicas: não apenas a contenção do défice - parece que andámos a trabalhar para o boneco - mas sobretudo a dívida pública nacional, e a capacidade de honrar as nossas obrigações externas e internas; aos riscos que grassam na Europa sobre a moeda única acrescem as nossas fragilidades de capital humano e físico para re-enfrentar a continuação de um processo de globalização sem grandes ajustes.

Sobretudo o que me preocupa são as ajudas públicas "cegas" (no sentido "no strings attached"), i.e. sem contra-partidas a curto ou a médio prazo de progressos sociais ao nível da formação, por exemplo.

Se o Estado for conivente, em vez de exigente neste último aspecto - se tudo der e nada exigir em troca - reunir-se-ão ingredientes para mais um desastre futuro.

Entretanto, prepara-se o sistema para mais um ciclo de enriquecimento de um pequeno punhado de gente. Ou será que estou demasiado pessimista hoje?

Monopoly

A electricidade e os combustíveis fósseis, eis o que está a dar. Ainda bem que há empresas-oásis nesta crise!

O que já é mais estranho é ver nos media um rol de "cronistas do reino" quase a babarem-se perante as façanhas dessas empresas, "ignorando" que discorrem sobre quase monopólios e que os portugueses não ainda têm uma verdadeira liberdade de escolha...

Gerir monopólios e oligopólios é tão bom!

Ainda há portanto cultos de personalidade a grassarem em Portugal, mesmo depois desta crise provar que a era da fulanização...c'est fini.


Tarde é o que nunca acontece

A Jerónimo Martins anunciou hoje um prémio de 240 Euros para cada um dos seus cerca de 20.000 postos de trabalho. A confirmar-se, é de elogiar.

Não são muitas as empresas que reconhecem a importância do esforço colectivo para a produção de resultados e o reconhecem desta forma.

A seguir.

Iceberg dead ahaed!

Por enquanto fala-se de crise mas, entretanto, a avaliação de professores continua como antes, num impasse.

A minha opinião: o falhanço da concertação para a reforma, e a parafernália administrativo-burocrática da 5 de Outubro são uma ameaça para o Ensino Público. Põem antes de mais em causa a capacidade do Estado o administrar.

Os baluartes da burocracia e do eduquês têm primeiro de ser renovados e reformados, antes que se acredite que venha a existir luz ao fundo do túnel.

Até lá, avançaremos, mas mancos e de cabeça baixa.

Publish or Perish?

Há alguns jovens professores universitários que, embora não publiquem, passam alguma parte do tempo em conferências e seminários, sobretudo no estrangeiro. Nada tenho contra a actualização de conhecimentos necessária, mas bem sabemos todos que essa é muitas vezes uma meta secundária nestas coisas...

Não defendo que o erário público tenha de suportar turismo, ou mesmo networking social, face à ausência continuada de resultados académicos (produção de ciência).

Se é normal que esse tipo de apoio seja incondicional em início de carreira, deveria ser progressivamente indexado a resultados científicos e/ou publicações relevantes. É uma questão de princípio e de reconhecimento justo do mérito. E é uma questão estrutural se se quer vir a ter uma Academia digna desse nome, com suporte na investigação e no mérito, em vez de escolas de "burros pomposos".

Nas ciências, em particular, parece-me que professores que estejam mais de dois anos sem inserção em grupos de investigação ou sem publicações relevantes deveriam ver as verbas para "turismo científico" fortemente postas em causa, no mínimo indexadas a resultados. Se não há resultados, usem a internet que já não é mau.

Existem excelentes professores universitários no país, mas convenhamos que são raros, e que existindo excelentes, bons, maus e péssimos, deveriam ter carreiras mais diferenciadoras do mérito respectivo.

As renovações de contrato praticamente automáticas, o inbreeding, o pequeno tráfico de influências não deveriam ser omnipresentes.

Mais transparência e responsabilização precisam-se.

quinta-feira, 5 de março de 2009

O problema dos "brandos costumes"

Um dos sinais codificados que esta crise nos transmite é a de que se pode ter iniciado por um acumular de ausência de raciocínio crítico: elevou-se ao longo de 25 ou 30 anos o neoliberalismo à categoria de ciência exacta, sobretudo nos media económicos e entre alguns homens de negócios, com o visto tácito de muitos políticos.

Talvez uma parte dessa aceitação fosse inevitável, porque todo o mundo foi nessa direcção, mas foi-se longe demais, e nalguns aspectos continua a persistir-se no mesmo erro. Por vezes, fanaticamente.

Sempre que uma tese relativa se arroga de "ciência exacta", a humanidade depara-se com graves consequências. Olhemos a história que tantos exemplos contém.

Mas, se em termos práticos não temos sido dos países mais afectados (até ver...), talvez em virtude da nossa pequena dimensão, relativo conservadorismo, e algum distânciamento da inovação financeira mais feroz, em termos culturais mergulhámos em crise ainda mais profunda do que os nossos primos anglo-saxónicos.

A nossa tradição de país de "brandos costumes" diz-me que esperaremos provavelmente que esses países, onde a crise começou, tomem as suas medidas e alterem as suas regulações, até que tomemos posição alargada sobre a matéria (o que equivale a mais uma desistência de pensar).

A Europa, ultimamente, também não anda longe desta triste figura.

A questão é esta: por cultura os estados anglo-saxónicos respeitam a lei acima de qualquer outra coisa (lembrem-se que mesmo no tempo de Henrique VIII existia a preocupação de forjar acusações sobre as suas esposas sobre as quais a justiça do reino pudesse decidir pela morte; à época os italianos optavam pelo assassinato, pura e simplesmente).

Nós latinos, particularmente os portugueses, respeitamos a convivência pacífica acima de tudo e recusamos ou atrasamos todos os processos que visem apurar responsabilidades individuais.

É por isso que a nossa moldura penal relativa à corrupção é uma anedota, é por isso que não temos mão pesada perante o enriquecimento ilícito, é por isso que mantemos certas pessoas, durante tanto tempo, em conselhos de Estado, deixamos burlões em liberdade demasiado tempo, quase ignoramos a gestão danosa, etc, etc, etc...

Não me admiraria que durante esta crise os anglo-saxónicos acabem por ser os primeiros a corrigir tiro, a exorcizar os problemas estruturais que deram origem a isto. Enquanto nós poderemos correr o risco, tal como os maus alunos que copiam, de vir eventualmente a acertar também, mas sem que seja por nossa verdadeira iniciativa, antes por arrasto da corrente.

Temos pouco peso na arena internacional, certo; mas isso não nos tem que impedir a que debatamos as nossas próprias ideias e opções, porque neste último caso, quando se derem os ajustamentos legais devidos, estaremos mais preparados e menos sujeitos à trapaça dos juristas com interesses privados e às armadilhas do "copy-paste".

O pior de tudo para o futuro seria sair disto como entrámos: sem ter nenhuma noção de nada, de como ou porquê.

O valor das ideias

Agradeço ao professor Carlos Santos a amabilidade e prontidão com que acedeu a colocar este blogue na sua lista de blogues. O seu blogue é já conhecido:

www.ovalordasideias.blogspot.com

Impostos com melhor contra-parte

Afirmava recentemente A. Soares dos Santos à SIC Notícias que não discute que existam escalões de IRS progressivos mas que, ao mesmo tempo, é necessário que se exiga que os serviços públicos assegurados pelo Estado (em particular a Saúde, e a Educação) sejam prestados com qualidade.

Só posso estar 100% de acordo, mas já agora exigo também, que se desloque alguma perseguição a estes serviços públicos da sua privatização (que não me parece, neste país, resultasse em maior benefício público) para a sua melhoria de funcionamento dentro da esfera pública.

Também tocou outra questão que me parece fazer sentido: os médicos deveriam fazer opções de carreira; ou optam pelo público a 100% do tempo, ou pelo privado a 100% do tempo, em vez de alguma mistura dos dois; por seu turno o Estado deveria clarificar estas escolhas e criar as condições para que se tomassem de forma equilibrada.

BPP

Alguém percebe porque é que este banco se mantém aberto se os seus clientes não podem resgatar as suas aplicações? Não sou dos que persegue o regulador como o Santo Ofício os ricos de espírito. No entanto, parece-me evidente que há esclarecimentos a prestar e se precisa de maior transparência das entidades públicas sobre esta matéria.

Ainda na mesma semana em que um dos responsáveis máximos do banco publicava - nada imodestamente, diga-se de passagem - um livro sobre a "história do banqueiro que venceu nos mercados", que agora parece uma qualquer marca de papel higiénico, este banco pedia umas largas centenas de milhões ao Estado...

E depois de se saber, como parece estar a suceder, que centenas de clientes terão sido induzidos em erro quanto ao grau de risco das operações subscritas, depois de se saber que existiram contratos que afirmavam, de fachada, serem de capital garantido sem o serem, pergunto: o que mais é preciso para emissão de mandatos de captura?

Mais uma questão: o Banco de Portugal tinha, teve ou tem cópia desses contratos (como penso que obriga a lei)?

Se somos aqui da opinião de que todos sejam iguais perante a lei, não posso deixar de lutar para que ela seja do benefício de qualquer cidadão, seja ele cliente de que instituição for.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Finalmente!

Começam a discutir-se propostas mais consequentes de incentivos aos CEO, nomeadamente as suas remunerações variáveis serem pagas a prazo, e indexadas ao comportamento da empresa no médio prazo.

Já era tempo de enterrar o curto prazo, de substituir o reino da navegação à vista pela presidência da criação de valor sustentado.

Texas style

Fica uma tradução livre minha de um comentário do Presidente Republicano Americano Dwight Eisenhower, feito a 8 de Novembro de 1954:

"Caso algum partido tente eliminar a segurança social, o subsídio de desemprego, ou as leis de trabalho (...), não se ouvirá mais falar sobre esse partido na nossa história.

Existe um pequeno grupúsculo, claro, que acha que essas coisas se podem fazer. Entre eles estão uns quantos milionários Texanos, e uns quantos políticos e homens de negócios.

O seu número é negligível e é gente estúpida."

Dwight D. Eisenhower foi presidente dos EUA entre 1953 e 1961 e comandante supremo das forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial, a partir de 1943.

Uma verdade

Roubei a citação aos "ladrões de bicicletas", mas é mesmo assim:

Joan Robinson: «estudar economia não serve para aprender respostas prontas, mas sim para não se ser enganado por economistas».

O recado da Volkswagen

Não há muito tempo a Comissão Europeia voltou a ameaçar Portugal com um processo por causa da dupla tributação no sector automóvel (uma vergonha conveniente...).

A julgar pela efusiva cobertura dos media, até parece que os jornalistas andam todos de papa-reformas, ou então ganham tão bem que não se importam de pagar uma viatura familiar quase ao dobro do preço que qualquer outro Europeu.

Este seria um bom exemplo para um programa prós e contras debater o que é isso de "igualdade de oportunidades" neste país.

Num país onde se descuram os transportes públicos, as pessoas precisam de se deslocar, portanto estamos também a falar, até certo ponto, do acesso a um bem essencial.

Hoje, em jeito de aviso e na Alemanha, o DG da VW de Portugal avisava que não compreendia esta dupla tributação portuguesa. Para bom entendedor...

Aqui está um exemplo que uma oposição com um QI mais elevado poderia usar sistematicamente para pedir projectos de lei que compensassem na redução da despesa corrente a passagem a um sistema mais "Europeu" de tributação simples no sector automóvel, pelo menos até ao segmento C (pequenos familiares), para começar...

Mas não, eles não têm ideias...

Entalados...

As garantias dos Estados ocidentais ao serviço da banca, embora indesejadas, continuarão a ser inevitáveis para prevenir o corte abrupto e desastroso do financiamento da economia.

O lado negativo está na dificuldade de controlo do uso que será dado a essas garantias, podendo gestores menos sérios abusar da margem extra para incorrer em mais riscos de forma camuflada.

Para além disso trata-se de uma desagradável transferência em massa do risco da esfera privada (até agora sempre coroada de glória quanto à sua capacidade de gestão) para a esfera pública, no fundo uma verdadeira socialização de prejuízos e efeitos de gestão imprudente. Isto não pode deixar de vir a ter os devidos efeitos políticos.

No entanto, e citando Rui Tavares: o "não há dinheiro para nada", é apenas mais uma forma fácil e demagógica de populismo. Completamente oca de qualquer visão de saída da crise.

Escrevia ele que "No próximo ano, eu e mais um par de milhões de portugueses não vamos votar em quem nos disser que não há dinheiro para nada. Vamos votar em quem nos disser onde gastar o pouco dinheiro que há".

Melhor, é possível

O Expresso de 18 de Outubro de 2008 noticiava um exemplo raro, que talvez até tenha uma ponta de marketing mas não deixa de ser um resultado importante:

O grupo Jerónimo Martins entregou aos seus colaboradores os primeiros 245 diplomas de equivalência ao 9º ano de escolaridade, no âmbito de um programa interno resultante de colaboração com entidades públicas.

O governo deveria equacionar incentivar e multiplicar estes poucos casos, por exemplo com deduções em IRC ligadas à obrigatoriedade de formação de qualidade, acreditada externamente (que vão para além da lei das 35 horas por ano, que muitos ignoram).

As garantias do Estado à Banca & os Jarheads

Um dos desafios anexos às garantias do Estado português à banca - que na essência asseguram a continuidade de financiamento externo da economia portuguesa em 2009, ainda que a preço mais elevado - reside na necessidade absoluta de controlo (regulação) mais apertado sobre a qualidade do crédito concedido pela banca aos agentes de mercado.

Pelo caminho, tem de ficar vedada a tentação de conceder crédito fácil que empole lucros de curto prazo mas mine os de médio e longo prazo, congeladas temporariamente as operações de fusão e aquisição bancárias; têm de se exigir sistemas de controlo de risco mais transparentes, possivelmente a descontinuidade de operações em off-shores (que fogem aos impostos que todos pagamos "a dobrar" nas garantias), e por aí fora.

No mundo, os Ingleses estão aparentemente a tomar a liderança nas propostas de redesenho dos sistemas financeiros (Gordon Brown reuniu-se com Barack Obama para o discutir ao mais alto nível).

Cá em casa, e mesmo sabendo que a solução terá de se concertar globalmente, não há debate público sobre o assunto: as autoridades de supervisão estudam o que fazem os vizinhos, os banqueiros não falam do assunto, os sindicatos pouco ou nada acrescentam, o governo idem aspas, o parlamento está mudo e distraído com comissões de inquérito (provavelmente inconclusivas), a oposição está sem propostas (como de costume), e os media também não promovem nenhum debate, antes preferindo perseguir do que ajudar a pensar. Alguns académicos - muito poucos - afloram o tema, mas apenas suavemente e quase a medo.

Resignar-nos-emos ainda antes do tempo, e uma vez mais, ao mero "copy-paste" acrítico?

Que espécie de povo nos tornámos que sem hesitar importa tudo feito e pensado lá fora mas se recusa a usar a sua própria cabeça?

terça-feira, 3 de março de 2009

Catch 22

"Catch 22" é a expressão americana para qualquer coisa como "preso por ter cão, preso por não ter", i.e. um dilema entre duas opções perdedoras.

Assim parece estar entalada a Europa, quando sai de uma cimeira onde responde nem sim, nem não à possibilidade de ajuda ao Leste:

Oficiosamente, altos responsáveis dizem que essa ajuda será dada e é inevitável, mas oficialmente a resposta é não, para não encorajar o inevitável(!!?).

Por vezes a política é mesmo teatro... do mau.

Uma tese sobre a (falta de) confiança

Uma tese pessoal, é a de que enquanto os agentes micro-económicos mais numerosos (os cidadãos em geral, as famílias, e a classe média em particular), não voltarem globalmente a adquirir algum sentimento de que vivem numa sociedade estável, a actual crise não passará.

A tese é de que a falta de confiança não diz apenas respeito ao sistema financeiro, mas a todo um modo de vida progressivamente mais "selvático" e humanamente difícil de aceitar.

Os indícios para tal são diversos e numerosos: a relativa insatisfação social e individual - infelicidade - típica às sociedades mais consumistas, a falha sucessiva da taxa de natalidade nos países industrializados, as sucessivas e tendencialmente excessivas transferências de risco de um sistema de responsabilidade colectivo (Estado) para cada indivíduo, as distorções às funções do Estado motivadas por grandes interesses económicos multi-nacionais, a entrega de grandes fatias da economia não ao serviço da concorrência mas ao enriquecimento de uma minoria, a falha progressiva dos valores sociais, o desmembramento crescente das famílias, o aumento da criminalidade sóciopata, o abandono dos idosos à sua sorte, a defesa cega e repetitiva de um estado de coisas obviamente insustentável (sobretudo pelos media, como sucede nas ditaduras); no fundo, a tentativa de extinção dos comportamentos cooperativos na sociedade - o sentido de comunidade - a favor de uma tremenda pressão para o individualismo, eufemisticamente designado por "liberdade".

Não se sabe ao certo porque durou tanto tempo a recessão japonesa (agora reeditada globalmente) mas poderá ter algo a ver com esta desilusão colectiva, com a degradação dos valores sociais básicos que o "homo economicus" nos vem impondo com cada vez mais peso.

Embora o gatilho da crise tenha muito mais a ver com "ilusão", o desânimo colectivo com o viver em permanente instabilidade pode ser o que está a motivar o seu arrastamento.

A espiral desdendente que só será realmente invertida se aos "pensos rápidos" se vier progressivamente juntar uma economia mais regulada, e sobretudo uma sociedade em regresso a valores éticos partilhados pela maioria e também permeados para os negócios.

Suponho que não seja um processo rápido, mas o caminho faz-se andando...

A "balela" dos centros de decisão nacionais...

Nestes tempos de "apocalipse" (revelação) tivemos ontem o experimentado Silva Lopes, na RTP, a dizer que "isso dos centros de decisão nacionais é uma balela" (...) "só serve para enriquecer algumas pessoas".

E disse.

Não que se possa generalizar a "denúncia", mas percebe-se bem o alcance da revelação.

Basta pensar na novela relativa ao Banco Totta&Açores ou mesmo, mais recentemente, à Compal.

Sinais dos tempos

E eis que o presidente Obama se prepara para reformular o sistema de cuidados de saúde (vd. apresentação para o orçamento do sistema para a próxima década), no sentido da ampliação da cobertura pública e da retracção do processo de privatização até agora em curso (e com maus resultados).

Uma luz ao fundo do túnel para a liberdade de escolha.




Melhor diplomacia económica? Como?

  • Pequenas equipas de prospecção e facilitação de negócios integrando as missões diplomáticas (em vez duma acumulação de institutos e agências), com formação, motivação e perfil para compreender o tecido de serviços, cultura e indústria nacionais e no país onde estivessem colocados.
  • Suporte de transportes e comunicações às equipas de prospecção e facilitação (em vez da postura armchair strategists+feirantes de ocasião) dentro dos países de colocação e em Portugal.
  • Atitude proactiva e gosto pelos negócios; formação preferencial em engenharia, gestão, inovação, economia ou marketing.
  • Suporte jurídico, administrativo e de infra-estruturas aos agentes nacionais em internacionalização / exportadores.
  • Obrigatoriedade de promoção de produtos e serviços nacionais.
  • Orçamentos de trabalho progressivamente indexados a resultados, quando em "velocidade de cruzeiro".
  • Na escolha do perfil, preferir o mérito e a capacidade de trabalho às meras redes de conhecimentos, que são sempre mais "aparência" do que "conteúdo"...

Alguém quer sugerir outras ou mais coisas?

Diplomacia económica

Seria importante encetar uma mais vincada promoção de produtos portugueses no estrangeiro, nas embaixadas, consulados e bases do Aicep, recorrendo a uma parte dos seus actuais orçamentos locais de funcionamento.

O que se faz hoje é melhor do que aquilo que se fazia há algum tempo mas está a anos luz do que necessitamos.

Exceptuando países em relação aos quais existam outros interesses estratégicos de monta, os orçamentos das delegações diplomáticas deveriam estar muito ligados aos interesses e resultados económicos portugueses.

Por vezes clama-se por falta de meios, mas pergunto: onde está a racionalização de custos com pessoal, privilégios e infra-estruturas? Onde está a redução da despesa pública pouco produtiva, no sector diplomático?

Existe, claro, mas está muito longe de fazer escola... e era preciso que se visse isso acontecer.

segunda-feira, 2 de março de 2009

A fonte e o propósito de alguns neo-liberais

Para que não existam confusões deve-se explicar que este blogue é "liberal" no sentido norte-americano do social liberalism - o único globalmente relevante - e não no sentido Europeu continental da palavra "liberal", mais associada aos sociais conservadores e frequentemente ao flanco direito das ideias políticas.

Seguindo e Wikipedia (googlar "liberalism wikipedia") e traduzindo livremente (itálico):

O liberalismo enfatiza os direitos individuais, a igualdade de oportunidades e a igualdade como os objectivos políticos mais importantes.

Em Portugal os quadrantes políticos mais conservadores (mas por vezes confusamente apelidados de "liberais") não defendem explicitamente a igualdade de oportunidades. E como em política o que parece é (dizia Churchill...) isso significa que não pugnam por isso, essencialmente porque receiam colocar em causa o status quo social.

Existem várias correntes de pensamento que competem pelo uso do termo "liberal" (...) mas mais ou menos todas defendem a liberdade de pensamento e expressão, a limitação dos poderes governamentais, o estado de direito, a propriedade privada e a transparência governativa. (...)

Todos os liberais defendem alguma variante da democracia liberal, baseada em eleições justas e livres, onde todos os cidadãos são iguais perante a lei.

E agora a parte mais importante para o esclarecimento:

O liberalismo aparece em duas grandes correntes: o liberalismo clássico, que enfatiza a importância da liberdade individual, e o liberalismo social, que enfatiza alguma forma de re-distribuição de riqueza.

Os que se identificam liberais clássicos, distinguem-se dos liberais sociais por se oporem a qualquer forma de regulação dos negócios e da economia, com a excepção das leis anti-fraude, e suportam o capitalismo laissez-faire.

Na Europa o termo "liberalismo" é próximo daquilo que defendem os conservadores americanos (o partido Republicano).

Nos Estados Unidos o termo "liberal" é mais frequentemente usado associando-se ao liberalismo social, que defende alguma forma de regulação económica e algumas formas de intervencionismo de interesse público (o partido Democrata).

Percebe-se portanto que com a necessidade absoluta de intervenção estatal para salvar as economias globais saímos, por exclusão de partes e quase à força, de um liberalismo clássico radical e extremo (neoliberalismo) para entrar numa forma mais social de liberalismo.

O liberalismo tem as suas raízes no Iluminismo. (...)

O que é então a essência dos "neo-liberais"?

Neo-liberal = Liberal Clássico (componente política) + Economista neo-clássico (componente económica).

O problema: desde o início da década de 90 que boa parte dos liberais clássicos têm mostrado querer abandonar parte da componente política em que acreditavam, se bem que apenas de uma forma progressiva, nascendo então os neo-conservadores.

Neo-conservador = Liberal Clássico a 10% + Economista neo-clássico fundamentalista a 60% + Proto-ditador a 30%

Esta última classe de seres herdam o plano económico dos liberais clássicos (embora re-interpretando, abusando e adulterando o valor da "liberdade individual", reduzindo-a à liberdade de escolher preços) mas já não acreditam com tanta veêmencia nos valores políticos de que todos os cidadãos tenham que ser iguais perante a lei (vd. Guantanamo), de que o poder dos governantes tenha que ser limitado (vd. Bush quando afirmou que as escutas ilegais seriam legais porque ele assim determinava, ignorando por completo todas as instituições necessárias à validação do processo), de que o Estado não deva proclamar uma religião oficial (a administração Bush sempre defendeu oficiosamente os "evangélicos", defendendo e incentivando o ensino do criacionismo nas escolas em vez da teoria da evolução de Darwin, e assim contrariando os melhores conhecimentos científicos disponíveis, o que nega a essência do Iluminismo).

Se observarem bem, a tendência a que escapámos por agora com Obama e para que chamo a atenção é esta:

Liberalismo clássico -> Neo-conservadorismo -> Regime totalitário oligarca ?

Se para vós isto são lérias, reconheçam que todos os nossos gestos quotidianos - à excepção dos de ordem biológica - são fruto das ideias de alguém.

As ideias não são um detalhe, são o fulcro das questões.

Se o Iluminismo é a corrente moderna que deu eco à democracia que hoje conhecemos (apesar de todos os seus defeitos), o neoliberalismo e em especial o neoconservadorismo são o seu arcanjo caído...

Eles andam aí...

Para os que ainda dúvidam que sequer exista uma corrente neo-liberal (que nada tem a ver com o liberalismo económico e político original, e que é mais neo-conservadora do que outra coisa), vão os meus excertos preferidos da muy recente última crónica de Miguel Angel Belloso para o Diário Económico.

O que vão ler não foi escrito em 1998, ou em 2003 nem mesmo em 2006, foi escrito em Fevereiro de 2009:

"Apenas... até breve!

(...)
Em todos os textos que escrevi, o meu objectivo final, para além do tema do mesmo, foi a defesa sem rodeios, rotunda e por vezes deliberadamente exagerada, do liberalismo e da economia de mercado.

(...) Sou dos que pensam que a única possibilidade para que o mundo prospere e melhore, principalmente para os mais pobres, assenta no capitalismo puro e duro. Mas também sou dos que refutam a ideia – que a esquerda tão bem conseguiu vender em nome da rentabilidade sobre a base do vitimismo –, de que estamos inundados pelo neoliberalismo.

(...) Espanha e Portugal são pacientes do pensamento socialista. Na minha opinião, ambos precisam de uma imersão no liberalismo caso pretendam desempenhar algum papel de destaque no panorama internacional durante os próximos anos.

(...) Para que vejam como sou imparcial dir-lhes-ei que tudo o que digo acerca de Portugal se aplica, em boa parte, a Espanha. Neste momento, o meu país atravessa uma situação crítica. E a minha opinião já é mais do que conhecida: os quatros anos de Zapatero foram, pura e simplesmente, nefastos."

Comentar, para quê?

domingo, 1 de março de 2009

TV Pimba internacional


É um tanto triste que o principal canal público nos condene a "emissões baiónicas" todos os dias úteis à tarde, num registo infalivelmente pimba.

Os nossos impostos poderiam servir em lugar disso para promover o turismo e a gastronomia regionais, reforçar a componente das tradições, a mistura do antigo com o que de inovador vai surgindo, mas parece que os nossos produtores públicos não conseguem entender isso fora de uma lógica provinciana e parola (reveladora do nível intelectual que grassa na capital que temos), que aposta na teoria da estupidificação anestesiante, como nos tempos da outra senhora.

O mesmo sucede, porventura com consequências tão ou mais graves, com a componente internacional principal de radiodifusão pública televisiva.

Um bom exemplo comum aos dois canais: a "Volta a Portugal"!

Poderia existir o bom senso - como sucede em França, Espanha e Itália - de aproveitar a "Volta" como elemento de promoção das paisagens naturais do país, das estradas que são bem melhores do que há 20 anos, do património histórico... enfim, de aspectos razoáveis e interessantes que promovessem uma imagem mais moderna ou original do país e o tornassem mais atractivo para visita ou investimento.

Em vez disto, temos de assistir a um desporto interessante polvilhado de pimbalhice, por vezes mesmo feito em estradas esburacadas que parece serem escolhidas a dedo.

Já era tempo de mudar isto, porque pagamos todos a dobrar: primeiro no custo directo e depois na ausência de resultados do pimba.

Se queremos apostar na língua portuguesa, internacionalmente, usando nessa vantagem competitiva uma melhor ponte para outros povos e mercados, não podemos, ao mesmo tempo, escolher patinar no registo do garrafão de 5 litros de tintol.